Capítulo Onze - Você está em mim

Capa:

Na manhã seguinte, Gina acordou às sete horas e foi cambaleando até o quarto de Mel para acordá-la. As aulas começavam às oito, e o curso não era perto. Mel provavelmente estava tendo um sonho bom, já que dormia sorrindo. "Até dormindo ela não deixa de sorrir", pensou Gina enquanto a balançava delicadamente na tentativa de acordá-la.

Sabia que era inútil, pois Mel era a pessoa que tinha o sono mais pesado que ela conhecia. Não tendo mais alternativas por conta da hora, ela foi até o banheiro, encheu as mãos com um pouco de água e jogou na cara da amiga. Mel acordou atordoada olhando para os lados sem entender nada.

- O quê? - perguntou nervosa. - O que houve? - quando passou as mãos no rosto, notou a água. Olhou para Gina e viu que ela estava vermelha de tanto segurar a risada. - Parabéns, Srta. Weasley! Você me paga!

- Mel, a gente ta atrasada. E você tem o sono muito pesado. Fiquei sem alternativa. - ela justificou tentando não rir.

- Ok. Anda logo, vai trocar de roupa.

Meia hora depois elas estavam na calçada do prédio acenando para um táxi que ia passando. Demorou exatamente quinze minutos para chegarem no curso, felismente o motorista tomou o caminho mais rápido, o que era um milagre.

As duas primeiras aulas tinham sido maravilhosas. Eram aulas práticas, em que elas testavam feitiços muito interessantes em coisas e animais. Já a terceira tinha sido horrível, "A história da evolução dos Feitiços". Na aula, estudavam pessoas que inventaram ou aperfeiçoaram feitiços. Liam depoimentos de pessoas que, por saber tal feitiço, saíram de confusões. Enfim, era algo chato. Tão chato ou até mais que a aula do Prof. Binns.

O sistema do curso era três aulas, intervalo, duas aulas. A primeira começava às oito e a última terminava ao meio dia e quarenta. Depois da aula chata elas foram até a galeria comer alguma coisa, já que como acordaram atrasadas, não tinham comido nada. Foram até a lanchonete do curso.

- O que você quer, Gi? - perguntou Mel.

- Nada. - respondeu com a mão na cabeça como se tivesse sentindo alguma dor.

- Está sentindo alguma coisa? - perguntou Mel preocupada. - Você ta suando frio, Gi. - virou-se para o atendente e pediu: - Senhor, por favor, um copo de água. Minha amiga não está passando bem.

- Só um momento, senhorita. - respondeu o senhor de cabelos brancos. Ele não demorou a trazer a água. - Aqui está.

- Obrigada. - disse Mel sorrindo. - Bebe tudo, Gina. - ela tomou uns dois goles apenas.

- Não agüento mais, depois eu bebo. Mel, relaxa, ok? A dor passou. Peça seu lanche.

- E o seu. Você anda se alimentando mal, Gina. Hoje mesmo a gente pede para o Ryan nos deixar sair mais cedo e vamos ao hospital.

- Não é pra tanto. Eu como, ok? Mas nada de hospitais.

- Se você tiver mais uma tontura, a gente vai ao hospital sim.

- Tudo bem. - disse dando uma olhada no que tinha para comer. - Eu quero aquele sanduíche com salsicha. - as comidas de lá eram iguais aos dos trouxas, pois os bruxos americanos viviam em sua maioria como trouxas. Não era tão dividido como na Inglaterra, onde o mundo bruxo era bem separado do trouxa. Um grande exemplo disso era Josh, que apesar de ser bruxo, trabalhava em uma empresa trouxa e ainda estudava Direito.

- Senhor, dois cachorros-quentes, por favor.

- Agora nada de dar duas mordidas e dizer que não agüenta mais. Vai comer tudo. Estamos entendidas?

- Sim, senhora. - disse dando o primeiro sorriso após a tontura.

O pedido chegou uns cinco minutos depois, e elas comeram um pouco apressadas, pois só tinham mais dez minutos. Gina fazia cara feia ao comer, e Mel inspecionava se ela comia tudo ou não. Faltando três minutos para entrarem na sala, elas retornaram ao prédio. Já estavam chegando à sala quando Gina saiu correndo para o banheiro, e Mel a acompanhou.

- O que houve? - perguntou Mel assustada. Mas ao ouvir o barulho, concluiu que a amiga estava devolvendo o que tinha comido. - Ai, Deus! Você não está bem, Gina. E hoje mesmo a gente vai ao hospital. E sem mas.

Gina saiu de dentro do banheiro com uma cara péssima. Parecida com a do Rony no dia que vomitou lesmas. E também estava bastante suada.

- Você quer ir pra casa? - perguntou Mel, dessa vez mais calma.

- Não. A gente tem o trabalho para apresentar na quinta aula. Eu agüento. Vamos, se não a Sra. McKenzie não nos deixará mais entrar.

A professora fez cara feia quando elas entraram atrasadas. Mel foi até ela e explicou a situação. A professora rapidamente esboçou um sorriso bondoso para Gina e continuou a dar sua aula sobre um feitiço muito complicado, o Feitiço Fidelius.

Na quinta aula elas pediram para serem as últimas a apresentarem o trabalho. Os primeiros foram Daniel Field e Matthew Goldman, o trabalho deles não estava muito completo, e a Sra. McKenzie não tinha gostado pela cara que fizera. Depois foi a vez de Tami Freeman e Justin Gardner, os trabalho deles estava excelente. E assim as outras quatro duplas se apresentaram e, para cada uma delas, a Sra. McKenzie tinha uma expressão diferente.

- Virgínia Weasley e Melissa Conner. - chamou ela. - Queiram apresentar seus trabalhos, por favor.

As duas levantaram e foram apresentar o trabalho. Gina estava com dificuldade em falar, pois além de suar frio, tinha esquecido algumas coisas e gaguejava. Mel estava preocupada com a amiga, afinal ela jamais tinha tido problemas em apresentar qualquer coisa, muito menos sobre feitiços. Ela também notou o suor pelo rosto dela, e a sala era extremamente fria, ou seja, Gina estava passando mal. Devia estar sendo horrível ter que falar em público naquelas condições. De repente ela virou para Mel com uma cara péssima.

- Mel... eu não tou bem... - ela só conseguiu dizer isso. Sentia as pernas fracas, sentiu-se totalmente sem força e só não caiu porque Mel foi mais rápida e a segurou. Todo mundo correu para socorrer, mas a Sra. McKenzie mandou-os sentar e saiu da sala apenas com Mel.

Elas correram apressadas até o pequeno hospital que ficava na escola. Uma enfermaria, assim como a de Hogwarts. Lá eles tinham curso para medi-bruxos também, e era naquela enfermaria que eles tinham aulas práticas. A Sra.Martin, que não estava dando aula para nenhuma turma no momento, logo se apressou em colocá-la numa das muitas camas, e então começou com os exames. Pediu gentilmente para que Mel e a Sra. McKenzie saíssem, ela parecia com Madame Pomfrey nesse sentido.

Mel obedeceu e ficou esperando num banquinho que ficava de frente à porta da enfermaria. A professora pediu licença para voltar à aula e disse que não se preocupasse quanto à nota, iria avaliar apenas o trabalho escrito por conta do ocorrido. A enfermeira demorou mais do que Mel esperava, e ela foi até a diretoria pedir para telefonar. Tinha que avisar a Ryan.

- Alô. - disse a voz dele do outro lado da linha.

- Ryan. É a Mel. Olha, a gente não vai poder chegar cedo aí, ok? - ela não queria dizer nada a ele. Tinha suas suspeitas e preferia que ele não estivesse por lá.

- O que houve? Algo com a Gina? - perguntou ele nervoso.

- Foi. Ela passou mal... - foi só o que conseguiu dizer.

- Já tou indo ai. - disse ele e desligou.

- Ah, ótimo! Desligue na cara da Mel. Ela faz o favor de avisar e recebe isso!

- É sempre assim, querida. - disse a veela coordenadora.

Mel nada respondeu. Voltou para o banquinho e ficou esperando a boa vontade da enfermeira em deixá-la entrar. Um pouco depois a mulher saiu.

- Eu dei uma poção pra ela dormir. Está em repouso. Quer ficar com ela?

- Quero sim. - disse Mel um tanto fria. Ela tinha esperado aquele tempo todo pra ficar do lado de fora?!

- Por favor, sem barulho. Quando ela acordar me chame que preciso dizer o que ela tem.

- Não pode me dizer? - perguntou ela com raiva. - Olha, eu sou a única e melhor amiga dela. Eu vou saber de qualquer jeito. Dá pra me contar?

- Desculpe. - disse a mulher, dessa vez mais bondosa. Ela contou tudo que estava acontecendo e o que Gina tinha detalhadamente. Mel não sabia o que dizer. Como!? Quer dizer... ela sabia como. Mas aquilo seria a pior notícia que ela poderia dar à Gina. Não que aquilo fosse uma coisa ruim, uma maldição. Longe disso! Mas Gina não estava preparada. Não mesmo.

Ryan chegou lá totalmente nervoso e, depois de tentar convencer a bruxa de que era namorado dela, ela o deixou entrar. Mel logo pediu silêncio, e ele perguntou se ela sabia o que Gina tinha. Ela logicamente respondeu que não, Gina era quem deveria contar a ele, não ela. Ainda mais um assunto delicado como aquele.

Duas horas depois Gina acordou. Ryan não estava mais lá para o alívio de Mel. Ele disse que infelizmente tinha um compromisso, mas que de noite iria ao apartamento delas ver como ela estava.

- Nossa. - disse Gina, sentando na cama. - Por quanto tempo eu dormi?

- Três horas e meia, mais ou menos, contando do desmaio.

- Que horas são?

- Duas e quarenta. - respondeu ela olhando no relógio.

- O Ryan. Você o avisou? Ele deve estar preocupado.

- Relaxa. Eu avisei, ele veio até aqui. Foi embora há meia hora. Tinha um compromisso inadiável e disse que mais tarde passa lá em casa pra ver como você está.

- Menos mal. - disse ela aliviada. - Mel, o que eu tenho? Ela te falou?

Mel estava com medo de contar. Sabia que a amiga iria sofrer, não era justo ela sofrer mais ainda. Não era justo mesmo. Mas ela sabia que tinha que falar, era sua obrigação. E era melhor ela saber pela amiga do que pela enfermeira.

- Falou sim, Gi. - disse docemente.

- O que é, Mel? É algo sério? Por favor, me conte tudo. - Mel pôde ver medo nos olhos dela. Talvez ela já suspeitasse. E estivesse com medo que a amiga apenas confirmasse.

- Gina, você... Você... - Mel estava de cabeça baixa. Mas levantou e olhou bem nos olhos dela pra dizer o resto. - Você está grávida.

Como esperado, a primeira reação foi de chorar. Quando ela tinha resolvido esquecer Harry, quando tinha aparecido outra pessoa na vida dela... Por quê? Ela estava feliz com o Ryan, mas agora... Agora ele não iria querer continuar com o relacionamento. E o que ela faria? Iria atrás dele? Alegando que ele tinha um filho e que não se casasse com a Chang? Talvez já tivesse casado, do jeito que ela era apressada...

- Calma, Gi. - disse Mel abraçada a ela. - Eu sinto muito que isso tenha acontecido. Mas vocês não se preveniram. Sinto muito, mesmo.

- Mel. Eu não sei o que fazer. - disse ela entre soluços. - Meu Deus! Por que comigo? Por que sempre é comigo? A lambisgóia da Gabrielle dormia com todos, e ela nunca engravidou. Eu só fiz isso uma vez e olha no que dá.

- Gi, eu disse antes da gente partir. - Gina logo lembrou da cena no dia que elas estavam mostrando o vestido da formatura uma pra outra. Lembrou das palavras dela.

"Gina, não me pergunte como ou por quê, mas vocês nunca irão se separar. Eu sinto. Não sei como, mas sinto."

- Eu sei. - disse tristemente. - Agora todo aquele esforço para esquecê-lo... Foi tudo em vão. Nunca mais poderei esquecer ele... Ele está em mim... - essa última frase ela disse olhando a barriga.

- Olha, eu não vou te bombardear com perguntas, ok? Vamos para casa, você toma banho e pensa um pouco antes de agir. Vamos. - disse ela ajudando Gina a se levantar.

Nenhuma palavra foi dita entre elas até chegarem em casa. Gina fez como Mel tinha aconselhado e ficou trancada no quarto pelo resto da tarde. Quando Ryan foi até lá, ela pediu para Mel dizer que ela estava dormindo e continuou trancada no quarto. Sabia que chorar não era a solução para os seus problemas, mas ela não sabia o que fazer.

Tudo tem um preço. E esse estava sendo o preço de ela ter ido embora. "Estava muito bom pra ser verdade", pensou ela. Agora, aos dezoito anos, ela seria mãe. Agora ela teria mais alguém com quem se preocupar. Toda vez que olhasse para a filha, a enfermeira tinha dito o sexo antes delas saírem, iria lembrar dele. Tudo em vão.

Ela nem soube a que horas adormeceu, acordou no outro dia às nove da manhã. Mel estava na sala vendo TV, ainda de pijamas e devorando uma caixa de chocolate, sozinha.

- Bom dia. - disse ela.

- É. - disse Gina desanimada. - Bom dia só pra você.

- Você dormiu bastante. - comentou. - O Ryan já ligou duas vezes, e nem precisei mentir, você realmente estava dormindo.

- Eu não sei como vou contar a ele. Ai, Deus. Tava tudo tão bem, Mel. Eu estava feliz por estar com ele, estava feliz com essa vida.

- Gi, as coisas acontecem assim mesmo. Sem mais nem menos. Quando você menos espera, bum! Aconteceu. Eu nunca esperei a morte da minha avó, o Ryan nunca esperou a morte do avô dele. Aconteceu de repente. E sempre nos pega da pior maneira.

- Eu sei. - disse com um olhar triste.

- Você pensou sobre contar ou não ao Harry?

- Não vou contar. - Ela não teria coragem, tinha medo de voltar. Tinha medo de enfrentar todos. Mesmo sabendo que eles a receberiam de braços abertos. Tinha medo de ele estar casado. Não queria atrapalhar a vida dele. - Quero dizer, ele deve estar casado com a Chang. Se não está, próximo mês estará. Não vou atrapalhar a vida dele.

- Você não vai atrapalhar nada, Gina. É melhor você contar. Você vai criar essa criança sozinha? Tudo bem, você tem a mim, ao Josh, ao Ryan...

- O Ryan não vai me aceitar mais. Ninguém aceita uma mulher grávida de outro.

- Na América sim. Ele irá entender, Gi. Ele sabe o que você passou pra decidir sair de lá e vim morar aqui. E essa criança não é sua culpa.

- A gente ta falando dela como se fosse uma coisa ruim. - disse ela acariciando a barriga. - Não é uma coisa ruim, mas não era pra ser agora.

- É. Eu sei. - disse Mel com um sorriso enviesado. - Mas me responde, você vai contar, não vai?

- Não. Eu tenho medo de voltar, Mel. Eu tenho medo. Não me peça pra voltar lá, não agora. Eu não tenho forças pra olhá-los nos olhos outra vez. Além do mais, eu sou muito orgulhosa para fazê-lo.

- Ok. - disse ela se rendendo. Quando um Weasley decide algo, não tente contestar. Gina não mudaria de opinião. - Agora vou preparar um lanchinho nutritivo pra senhorita. Você tem a obrigação de alimentar essa criança. Nossa! Eu amo crianças... Desculpa, sei que era para estar abalada, mas eu não estou!

- Tudo bem, Mel. - disse Gina sorrindo pela primeira vez desde que recebera a notícia. - Tem que ser algo muito ruim pra te deixar realmente triste. Eu já esperava por sua felicidade.

- Eu quero ser a madrinha. Claro. - disse ela empolgada. - E o nome...

- Depois. - finalizou Gina acabando com a alegria de Mel. Mas ela entendia que a amiga não estava com ânimo de escolher nomes e padrinhos. Ela ainda estava tentando entender toda aquela confusão e organizar os pensamentos sobre o que fazer.

Gina sabia que mais cedo ou mais tarde teria que ter uma conversa séria com Ryan. Não tinha como esconder aquilo dele. Resolveu não adiar. Quando chegaram no Friend's ela deu um breve beijo nele e disse que teriam que conversar após o expediente. Ele não entendeu o porquê, mas disse que iria levá-la a um lugar calmo, já que pelo visto a coisa era séria.

Quando o relógio marcou cinco horas, eles deixaram Mel em casa e foram até o parque que ficava em frente ao prédio delas. Ela sentia o coração bater muito acelerado e tentava não transparecer o quão nervosa estava. Mas era impossível, qualquer um que olhasse para ela naquele momento notaria.

- Você quer que eu compre uma água? - perguntou ele gentilmente. - Você vai acabar tendo um ataque.

- Tudo bem. - ele num minuto comprou a água e voltou. Ela tomou tudo em um gole só e respirou fundo antes de começar a falar. - Ryan. O que eu vou te falar é muito sério. E está sendo horrível ter que falar isso olhando pra você. Eu me sinto envergonhada e constrangida.

- Calma, Gina. - disse ele a abraçando. - Seja o que for, eu não vou terminar com você se é isso que tanto teme. Pode ficar tranqüila.

- Ryan. Não é qualquer bobeira, é muito sério. - disse ela olhando seriamente para ele. - Pode mudar tudo. Na verdade... Vai mudar tudo.

- Você não pode saber até me contar.

- Ok. Eu não vou mais enrolar. Bem... Na noite anterior à nossa viagem para cá, houve a minha formatura em Hogwarts, escola de magia em que eu estudava. - ele acenou com a cabeça. Já tinha lido algo sobre. - E minha mãe não compareceu. Claro. Ela jamais iria me ver. Mas então, eu saí no meio da festa pra ficar sozinha e fui até o lago que ficava nos terrenos da escola. Por acaso, o Harry também teve a idéia de sair para pensar e me encontrou lá.

"A gente se beijou e... é... a gente não só se beijou. A gente fez amor. Foi a primeira vez de ambos e foi como uma despedida, entende? Eu deixei uma carta para ele e fui embora. Achei que nunca mais o veria, que nunca iria ter que lembrar dele. Eu dei as costas para a coisa que mais amava. E aqui eu te conheci. Achei que a partir daquele momento o Harry tinha ficado totalmente no passado. Eu estava decidida a esquecê-lo. Mas então ontem eu descobri que... que... que eu estou grávida, Ryan."

Ryan nunca esperava que fosse algo daquele tipo. Ele não sentia raiva dela porque tinha sido algo no passado. Na verdade ele sentia pena dela. Pena por ela ter que sofrer mais ainda. E se ela pensara que ele iria acabar tudo, ela não o conhecia mesmo. Ele jamais a deixaria sozinha numa situação dessa. Jamais.

- Gina. - disse ele enxugando as lágrimas dela. - Eu jamais irei te deixar, ok? Jamais. E se o fizesse, não seria por isso. Eu sinto que isso tenha acontecido. Mas agora você vai ter que se preocupar com essa vida que está dentro de você. E eu estarei do seu lado todo o tempo. - essa não era a reação que ela imaginara que ele teria. Mas de longe tinha sido muito melhor. E como agradecimento ela o abraçou forte.

- Obrigada. - disse ainda chorando. - Obrigada, Ryan.

- Nada de choro. - disse ele sorrindo. - Agora que uma criança está por vir, quero te ver feliz. Sabia que sua tristeza o afeta?

- A afeta. - ela corrigiu. - É uma menina.

- Ah, você já sabe. Mas,Gina, você não vai contar a ele? Não vai voltar para a Inglaterra?

- Não, Ryan. Eu não tenho mais coragem. Vou embora e depois volto grávida do Harry e acabo com o casamento dele. Não.

- Bem... Você é quem sabe o que é melhor para você mesma. - disse ele segurando uma das mãos dela. - Vamos pensar em coisas melhores pra te animar... - pensou um pouco e perguntou: - Já tem algum nome em mente?

- Você escolhe. - disse ela sorrindo.

- Mas eu não tenho esse direito. - disse ele confuso. - Quero dizer, infelizmente, não sou o pai dela.

- Você será o único pai que ela conhecerá. - falou séria.

- Então... - começou ele inseguro. - Eu posso considerá-la minha? Quero dizer... Não pretendo tomar o lugar do pai dela...

- Você não vai tomar, Ryan. Eu não vou voltar pra Inglaterra, já disse. E ela precisa de um pai. - ela sabia que não tinha direito de negar isso a Harry. Mas não tinha outro jeito. Ela não iria voltar, não iria estragar a vida de outra pessoa. Nem sabia se Harry a amava, foi apenas uma noite. E ele sempre mostrara amor pela Chang. Não, ela iria ficar. E agora que Ryan concordava em ser como um pai para sua filha, ela não iria dizer não. Ryan era uma pessoa muito especial, um pai ideal.

- Agora é minha vez de agradecer. - disse ele a beijando. - E já que eu tenho que dar um nome... - ele pensou alguns instantes antes de decidir. - Stephanie.

- Eu adorei. - disse ela sorrindo. - E você não sabe o peso que está me tirando ao não me julgar e acabar tudo. - ela passou as mãos pelo rosto dele e olhou em seus olhos. - Eu te amo.

- Eu também. - disse ele a beijando calorosamente. Depois passou a mão na barriga dela. - Ela pode não ser minha filha de sangue, mas será minha de todo coração.

- Ela nunca saberá que não é sua filha de sangue. - disse ela feliz ao sentir a mão dele em sua barriga. - É melhor assim.

Mel ficou muito feliz ao saber da conversa deles. Mas ficou sentida por ele ter dado o nome, ela preferia que a menina se chamasse Clarissa. Gina não comentou, mas preferia Stephanie mesmo. Mel agora vivia falando que faltava pouco para os dois casarem, afinal iriam ter uma filha, mesmo que essa filha fosse apenas de Gina. Isso mostrava o caráter dele, a conhecia há tão pouco tempo e confiava tanto nela.


Já era começo de Outubro, mais precisamente no dia do aniversário de Sirius. Rachel e Harry tinham organizado uma festinha surpresa, e Arthur tinha se encarregado de tomar a tarde dele com trabalho para que ele não percebesse nada.

Molly, logo após o almoço, foi até lá para ajudar nos preparativos. Hermione só podia comparecer à festa, pois estava dando aulas. Os gêmeos, Katie e Angelina não podiam largar a loja. Rony tinha conseguido uma folga naquele dia e ficou ajudando os três. Elizabeth e Richard estavam muito ocupados no consultório.

- Meninos. - chamou Rachel. Eles não gostavam de serem chamados de meninos, mas... - Faço bolo de quê? Vocês escolhem já que estão nos ajudando tanto.

- Nada de chocolate. - falou Harry. - Só se come bolo de chocolate nessa casa.

- Faz uma torta de alguma fruta. - falou Rony. - Mamãe, aquela fruta muito usada pelos trouxas que você fez uma torta um dia. Lembra?

- Maracujá? - perguntou ela.

- Essa mesmo. - confirmou Rony. - Fica deliciosa.

- Obrigada pela ajuda. - disse Rachel sorrindo. - O Sirius vai gostar de algo diferente. Ele e o Harry andam reclamando porque eu só faço de chocolate. Mas eu faço porque eu gosto. Os senhores não têm que reclamar.

- Dois contra um, Rach. - disse Harry sorrindo. - Estamos em vantagem.

- Esses dois, hein? - comentou Molly separando os ingredientes para começar.

Até as três horas eles só prepararam as comidas. As mulheres cozinhavam e faziam os doces e os dois colocavam nas fôrminhas. Depois de tudo pronto, foram para a decoração. A primeira coisa que fizeram foi encher balões. Não com a boca, é claro. Com feitiço, e não demorou nada para todos estarem prontos. Prenderam em barbantes e penduraram nas paredes.

Depois foram preparar um cartaz com os dizeres: "Feliz Aniversário, Almofadinhas. Nós te amamos". A escolha do texto tinha sido de Rachel, e nessa hora os meninos subiram para o quarto de Harry já que não levavam jeito com cartazes.

- Ansioso para ser papai? - perguntou Harry já sabendo da resposta.

- Muito. - respondeu ele. - Já não agüento mais esperar, demora muito. Ainda faltam três meses.

- Falta muito pouco. - comentou Harry. - Três meses passam num instante.

- É. - ele se conformou e, de repente, lembrou de algo. - Harry! Papai falou com Mundungo e perguntou se você podia trabalhar comigo lá no Departamento. Ele disse que tudo bem. Então?

- Nossa, obrigado, Rony. Já estava cansado de não fazer nada. - confessou Harry sorrindo. Isso era o que ele precisava, trabalhar. - Mas de manhã eu tenho o curso.

- É. Eu falei isso para ele, e ele me respondeu que tudo bem. Você fica trabalhando apenas de tarde.

- Então ta. Eu aceito. Quando eu começo?

- Próxima segunda. Ou seja, daqui a quatro dias. - Rony começou a falar sobre o Departamento e sobre em quem se podia confiar. Os dois davam boas risadas juntos, enquanto Rony descrevia a secretária. - Você não tem noção. Ela é a pessoa mais hilária que eu conheço. - o papo deles continuou por um bom tempo. Mas logo começou a escurecer, e eles resolveram tomar banho, Sirius logo chegaria.

Enquanto isso, lá embaixo as duas já tinham feito o cartaz e arrumado a mesa do bolo. Estava tudo pronto e, vendo escurecer, ambas foram tomar banho. Rachel no quarto dela, e Molly no quarto de hóspedes.

Sirius chegou perto das seis e meia e encontrou tudo escuro. Já estavam todos lá. Hermione, Arthur, Fred, Angelina, Katie, Jorge, Harry, Rachel, Molly, Elizabeth e Richard. Estavam todos esperando ele acender as luzes. E quando ele o fez, todos gritaram "Parabéns" e o abraçaram. Ele nem esperava por aquilo, já que Rachel disse que teria muito trabalho e que chegaria tarde. Também tinha imaginado que Harry estaria na casa de Cho.

- Obrigado. - falava ele toda hora e sorria pra todos. Estava muito feliz por ter tanta gente que gostava dele. - Arthur, você é um ótimo ator.

- Sou mesmo? - perguntou o amigo sorrindo. - Bom saber.

- Obrigado, meu amor. - disse ele beijando a esposa. - Não sei o que seria de mim sem vocês.

- Nem nós. - respondeu carinhosamente.

- E aí, moleque? - perguntou ele abraçando o afilhado.

Rachel o forçou junto com Harry a pôr um chapeuzinho na cabeça e cantaram parabéns de novo. Dessa vez na mesa do bolo. Tiraram algumas fotos, e ele soprou trinta e nove velas enquanto fazia um pedido. Depois cortou um pedaço do bolo um tanto sem jeito.

- O primeiro pedaço vai pra mulher mais maravilhosa do mundo. - disse ele sorrindo pra Rachel. - Eu te amo. - cochichou no ouvido dela.

- O segundo vai pra o meu - ele olhou um pouco constrangido para Harry. Este sorriu em resposta, e ele concluiu a frase. - filho.

Depois Rachel se encarregou de distribuir os pedaços. Cho chegou um pouco depois, cumprimentou a todos e sentou-se junto a Harry no sofá.

- Quantos meses, Hermione? - perguntou Cho.

- Seis. - respondeu ela forçando um sorriso.

- Deve ser maravilhoso estar grávida. - comentou Katie.

- É a melhor fase de toda minha vida. Saber que tem algo meu e do Rony dentro de mim. É fantástico. - disse ela sorrindo sincera.

- Concluíram o serviço do quarto? - perguntou Fred. - Semana passada já estava acabando.

- Ainda não. - respondeu Rony. - Os pedreiros resolveram tirar folga por conta própria e faltaram por três dias.

- Você ainda os quis? - perguntou Jorge. - Eu hein...

- O problema é que o Rony queria que eles chegassem de manhã cedinho e só saíssem tarde da noite. Claro que eles acharam ruim e se deram folga. - contou Hermione.

- Eu só queria ver o quarto da nossa filha pronto. - defendeu-se ele. - Não agüento mais esperar.

- Mas essas coisas demoram um pouco. - comentou Angelina. - Se forem feitas muito rápidas, ficam ruins, entende?

- Viu? - perguntou Hermione sorrindo. - Não seja tão apressado, Sr. Weasley.

- Ok, Srta. Granger. - riu-se ele.

- Sra. Weasley. - corrigiu ela.

A festa estava muito animada, e logo começou o show de piadas Weasley e Black. Mas, como no dia seguinte todos iriam trabalhar, não ficaram lá até tarde. Hermione aparatou em Hogsmeade e foi de carruagem ao castelo, agora que estava com seis meses, preferia não viajar via flu. Na verdade, ela também odiava ter de aparatar, mas não tinha outro meio rápido de chegar a Hogwarts.

Rony, Molly e Arthur aparataram na Toca. Os gêmeos e as esposas, em suas casas, e logo a casa ficou vazia. Cho decidiu dormir por lá mesmo.

- Boa noite. - falou Rachel já subindo as escadas com Sirius.

- E juízo. - disse ele piscando para Harry.

- Pode deixar. - respondeu sorrindo.

- Você está com sono? - perguntou Cho. - Eu não tou.

- Nem eu. - disse ele sorrindo e puxando ela pela mão para que fossem até o quarto.