Capítulo Quatorze - Um dia para o amor
Já estava quase no meio de Fevereiro. Dali a um mês Stephanie nasceria, e Gina estava, um tanto quanto, estressada. Claro que estar grávida era maravilhoso, e ela estava muito feliz com tudo aquilo. Mas fazia meses que ela não saía de frente da TV, não que não pudesse, mas se sentia totalmente indisposta.
Tinha trancado o curso, Mel também fizera o mesmo. Essa última estava trabalhando na empresa de Josh. Ryan estava quase sem tempo para cuidar do restaurante, já que passava maior parte do dia com Gina.
Aquele dia, em especial, ele iria dormir lá. Mel e Josh iriam curtir o primeiro Dia dos Namorados juntos. Então, às sete horas, Josh veio buscá-la e os dois ficaram sozinhos em casa. Para variar assistiriam TV.
- O que vamos assistir hoje? - perguntou entediada. - Série de comédia, vampiros ou detetives?
- Nada disso. - disse ele sorridente. - Vamos alugar um filme. Não agüento mais ver séries de TV.
- Ok, muito diferente. - disse ela tentando se levantar. - Vou trocar de roupa.
- Pelo menos veremos novas caras. - falou ajudando-a a levantar-se. - E você escolhe o filme.
- Ação não, por favor. Vamos à seção de romance, depois em drama. - disse ela andando no meio das muitas seções da locadora.
Eles olharam vários títulos, mas todos pareciam sem graça para Gina. Na verdade, ela não estava a fim de ficar de frente à TV. Tinha enjoado daquilo.
- Vou passar anos sem assistir televisão depois que a Stephanie nascer. - disse ela entediada.
- Já sei! - falou ele de repente. - Não vamos ficar em casa num dia como hoje. Vamos ao zoológico do Central Park ver seu querido urso, e depois vamos a qualquer cinema em algum shopping em Yorkville. O que acha?
- Obrigada. - falou Gina o abraçando. - Eu realmente preciso disso.
- O que eu não faço pra te ver sorrindo? - perguntou beijando-lhe delicadamente.
Da locadora até o Central Park levou trinta minutos de carro. E eles não demoraram a entrar no zoológico, só teriam vinte minutos para ver os animais antes que este fechasse.
Gina foi direto ao espaço do urso e ficou namorando-o por alguns minutos. Ele estava recolhido para dormir, mas quando os viu começou a fazer gracinhas.
- Está feliz agora? - perguntou Ryan beijando-lhe o pescoço.
- Totalmente. - disse ela sorrindo.
- Que tal vermos os pingüins? Eu os adoro. - ele sugeriu.
- Ok, mas passaremos pouco tempo por lá. Você sabe que eles não cheiram muito bem.
Faltando dez minutos para as oito eles saíram de lá, foram ao shopping mais próximo e compraram as entradas para o cinema. Foram numa lanchonete, compraram pipoca e refrigerante, e entraram na sala. Essa estava cheia de outros casais.
- Da próxima vez que a gente for ao zoológico eu vou tirar fotos. Adoro fotos, e tirei poucas desde que cheguei aqui. - ela comentou. - Pena que as fotos trouxas não se mecham, ficam tão sem graça.
- Amanhã eu tiro umas fotos de você grávida. A gente vai à galeria do Curso. Lá deve ter máquinas bruxas para vender. - falou ele. - Acho as fotos de vocês muito legais, tenho alguns álbuns do meu avô lá em casa.
- Quando eu for lá quero que você me mostre. - falou ela animada. - Também adoro ver as fotos dos outros.
- Mostro sim. São muitas fotos, desde a infância dele. Por aí você tira, não? - perguntou ele divertido. - Tem algumas do meu pai, da minha mãe, - ao falar nela ele mostrava-se muito magoado. - e minhas também.
- Hoje não é dia pra lembrarmos de coisas ruins, Sr. Hawkins. - disse ela acariciando-lhe a face. - Vamos apenas assistir ao filme e pensar nas coisas boas que passamos desde que nos conhecemos.
- Que não foram poucas apesar de não fazer tanto tempo que nos conhecemos. - ele completou.
- Não mesmo. - ela confirmou rindo.
O filme era muito bonito. Falava de um garoto judeu de 12 anos que se esconde dos nazistas com família de camponeses católicos durante a Segunda Guerra Mundial. Era bem dramático e no fim da sessão muita gente saiu chorando. Gina, que estava muito sensível por conta da gravidez, foi uma dessas pessoas.
- Sua boba. - falou ele passando o braço pela cintura dela enquanto saíam do cinema.
- Sempre choro em filmes assim. - defendeu-se ela. - Não tenho culpa de ser tão sensível. - completou rindo.
Eles andaram um pouco de carro pela cidade, mas quando deu dez e meia decidiram ir para casa. As ruas de Nova York não eram seguras, e, de qualquer modo, eles não tinham mais nada para fazer na rua.
Tomaram café conversando na varanda. Gina adorava aquela varanda, era bem espaçosa e ventilada. Tinha um conjunto de sofás azul escuro com algumas almofadas brancas e amarelas, era muito confortável. E de lá se tinha uma vista belíssima da ilha. À noite Manhattan era maravilhosa.
- Sabia que esse era o local favorito do pai da Mel? - perguntou Gina levantando um pouco a cabeça para poder vê-lo.
- Sério? - perguntou ele. - Ela deve vir para cá direto então.
- Todo tempo que está em casa. Às vezes ela até dorme aqui, no verão claro. Porque no inverno é impossível dormir aqui e não ter hipotermia.
- Onde será que eles estão uma hora dessas? - perguntou ele curioso.
- Nem queira saber. - riu ela. - Do jeito que aqueles dois são. Adoram uma aventura. E com certeza não estão fazendo nada que já tenham feito.
- Mente poluída a da senhorita. - disse ele marotamente.
- Ué! Eu não disse nada demais. - defendeu-se indignada. - A sua mente pervertida que pensou em outras coisas.
- Não, você insinuou. - explicou Ryan. - Eu apenas entendi a sua mensagem.
- Fico a imaginar o que eles ainda não fizeram. - falou ela rindo em seguida.
- Viu? A mente pervertida não é a minha. - falou vitorioso.
- Não vale. Eu apenas falei o que você estava pensando. Afinal, você quem começou a perguntar onde eles estavam. - argumentou ela.
- Seus argumentos são inválidos. Você perdeu. - concluiu ele. - Um a zero.
- Tudo bem. Vamos ver até quando o senhor vai ganhar. - falou ela fingindo-se brava.
- Não fica brava não. - disse a beijando. - Eu te amo.
- Lindo. - falou acariciando os cabelos dele enquanto se olhavam nos olhos. - Também te amo.
- Eu sei. - brincou ele. - Quem não me amaria?
- Idiota. - falou ela jogando uma almofada na cara dele. - Um a um. Você não pode revidar.
- Dois e a um. Te dei um fora. - falou ele vitorioso outra vez.
Josh pegou Mel às sete horas e eles foram a uma pizzaria no Village. Mais precisamente a mesma pizzaria que Mel tinha ido com Ryan e Gina alguns meses atrás.
Ela estava muito bonita, deixara os cabelos soltos e vestia um vestido azul escuro de tecido leve. Josh estava com uma calça social preta e uma blusa mostarda de botão.
Pediram uma garrafa de vinho tinto seco e alguns petiscos. Beberam toda a garrafa e pediram outra em seguida.
- Você é forte. - ele comentou tomando outro gole de vinho em seguida. - Pensei que na segunda taça estaria no mínimo tonta.
- Se enganou. - disse ela sorrindo. - Eu não bebo sempre, mas sou muito resistente.
- Está a fim de quebrar a resistência? - perguntou marotamente. - De se entregar aos prazeres da bebida?
- Digamos que eu nunca fiquei bêbada. E avaliando essa minha afirmação... - ela ficou pensando alguns instantes. - Estou.
- Mas não muito, ok? Não quero ninguém em coma alcoólico. - brincou ele acariciando a mão dela.
- Claro. Vou ficar um pouco mais que "alta". - riu ela. Em seguida chamou o garçom, que estava duas mesas à frente. - Por favor, mais duas garrafas de vinho, sim?
- Você já está com fome? - perguntou ele. - Eu nem almocei, e meu estômago está reclamando.
- Pode pedir. Quando a pizza chegar com certeza terei fome. Pede quatro queijos. - ela sugeriu.
- Eu odeio queijo. - disse ele fazendo careta.
- Então calabresa, para lembrarmos do Ryan. - falou sorrindo.
- Ok. Calabresa então. - ele chamou o garçom, e fez o pedido.
Logo a pizza chegou, e eles a saborearam vagarosamente com mais umas três garrafas de vinho. Saíram de lá quase bêbados e foram até o carro.
- Você está em condições de dirigir? - perguntou ela preocupada.
- Tou sim. - respondeu ele. - Para onde iremos?
- Onde você quiser. - disse ela preguiçosa.
- Se aqui tivesse praia eu te levaria para lá e faríamos amor na beira do mar. - falou ele beijando-lhe o pescoço.
- Hm. - disse ela sorrindo marotamente. - Mas então, aonde você vai me levar?
- A algum lugar especial. - falou ele pensativo. - Vamos pra Av. Das Américas.
- Para o Plaza? - perguntou ela excitada.
- Claro. - ele confirmou. - Uma noite de amor no Plaza. - completou sorrindo.
- Vamos lá. - disse ela toda feliz.
Do Village para lá não era tão perto, e demorou um pouco para eles chegaram ao Plaza. Entregaram a chave do carro ao manobrista do hotel e entraram no saguão. Era enorme e extremamente luxuoso. Mel estivera ali de passagem com a sua avó, ela a tinha levado para conhecer, mas fazia muito tempo.
Enquanto Josh assinava alguns papéis na recepção, ela andava pelo saguão observando o luxo do lugar. Depois, sentou-se num dos muitos jogos de sofá e esperou por ele.
- Vamos? - chamou ele algum tempo depois. - O pessoal aqui é cheio de frescura e só faltou perguntar qual a cor da minha cueca. - brincou ele.
- Claro, você está bêbado. - caçoou ela enquanto entravam no elevador. - Nunca confie em uma pessoa bêbeda, é o que passam a eles.
- Danem-se. - falou ele a beijando com furor.
- Adoro quando você me beija assim. - falou ela sorrindo marotamente. - Você com raiva funciona muito melhor.
Eles passaram o cartão na maçaneta da porta e entraram no quarto. Esse fazia jus ao luxo no hotel. Mel correu e se jogou na cama rindo bastante.
- Vou pedir duas garrafas de champanhe. - falou ele.
- Pede três. - disse ela ainda sorrindo feito boba. - Quatro, cinco...
- Você está pior que eu. - riu ele.
O serviço de quarto também era rápido. Em cinco minutos a campainha tocou, e Josh abriu a porta.
- Agora nossa noite está completa. - disse ela de frente a ele, retirando sua gravata. Ele entregou-lhe uma taça de champanhe e eles brindaram.
- Ao destino. - disse ele. - Pois ele te trouxe pra mim.
- Ao destino. - repetiu ela o beijando calorosamente.
Ainda aos beijos eles deitaram-se na cama e começaram a tirar as peças de roupa rapidamente. Quando só sobraram as roupas íntimas, ele parou de beijá-la e a fitou dos pés a cabeça.
- Procurando os defeitos do meu corpo? - brincou ela.
- Não. - respondeu olhando-a nos olhos. - Vendo como a minha namorada é maravilhosa.
Eles ficaram se olhando por alguns instantes até que ela quebrou o silêncio: - Me beija. - disse perdida nos olhos dele. Ele realizou o desejo dela, e logo estavam se amando.
- Que horas são? - perguntou Mel sentindo-se tonta.
- Onze em ponto. - respondeu ele lutando contra a preguiça de levantar-se.
- Onze?! - perguntou assustada. - A Gina deve ter pensado que eu morri. Já deve ter ido aos necrotérios da cidade reconhecer meu corpo.
- Relaxa. - disse ele sorrindo. - Ela deve imaginar que nossa noite foi longa.
- Deixa-me ver meu celular. Ela deve ter ligado umas cem vezes. - falou ela tateando a mesinha de cabeceira. - Nenhuma.
- Viu? - perguntou ele a beijando docemente. - Quer que eu cheque a secretária lá de casa? Ver se ela deixou mensagem?
- Quero. - disse ela preocupada.
- Nenhuma mensagem. - disse ele alguns minutos depois. - Você está bem?
- Um pouco tonta e enjoada. - disse ela com um semblante péssimo.
- Depois que a gente sair daqui, vamos tomar um sorvete. É bom para ressaca. - falou ele levantando-se.
Eles foram a uma das lanchonetes do hotel e tomaram, cada um, duas taças de sorvete. Pagaram a conta e Josh foi deixá-la em casa. Ele não desceu porque tinha algumas coisas pendentes na empresa para resolver e não podia mais perder tempo.
Mel pegou o elevador e Gina ainda demorou um pouco para atender à porta. Somente quando ela abriu, Mel soube o motivo, estava enrolada numa toalha.
- Desculpa por chegar na hora errada. - falou ela abraçando a amiga. - E desculpa por chegar tarde.
- Mel, por favor, né? - falou Gina sorrindo. - Vocês têm todo o direito de ficarem na rua até a hora que quiserem. E esse apartamento é seu, você não me deve explicações.
- Meu e seu. - disse ela largando-se no sofá.
- A noite foi produtiva? - perguntou Gina maldosamente.
- Digamos que sim. - riu a outra. - E o que vocês fizeram?
- Bem, fomos ao zoológico do Central Park, fomos ao cinema e vimos um filme bem interessante, andamos um pouco de carro pela cidade e tomamos café conversando na varanda. - ela contou. - E vocês?
- Fomos naquela pizzaria do Village e tomamos algumas garrafas de vinho. Depois a gente não sabia aonde ir e o Josh sugeriu de passarmos uma noite no Plaza. Tomamos umas garrafas de champanhe e fizemos amor a noite toda.
- Já disse que vocês são um casal lindo? - perguntou Gina feliz pela amiga.
- Acho que sim. - brincou Mel. - Você e o Ryan também. Ele é muito especial, Gina. Nenhum outro teria sido tão bom com você.
- Eu sei. - falou ela com um olhar perdido.
- Como você diz, ele é o seu anjo. E que anjo... - brincou ela sorrindo.
- E que anjo mesmo. Adoro o jeito dele de se vestir.
- É. Ele e o Josh se vestem igual. Calça cargo e blusa de manga comprida. Acho muito lindo! - falou Mel empolgada. - O Josh nem sempre pode se vestir como gosta por conta da empresa, mas o Ryan sempre está assim.
- Quando o Ryan usa boné pra trás... Nossa! - riu Gina. - Antes eu odiava homem que se vestia assim, parecem uns crianções. Mas hoje tenho outra opinião.
- É, minha cara. O mundo dá voltas. - filosofou Mel. - E tudo pode mudar.
