Capítulo II
Beleza e Sedução
- Susan, pára com isso. Vamos embora, por favor - pediu Eleanor.
- Nárnia... Aslan... Nárnia... Aslan... - murmurava continuamente Susan.
- Susan... Quem são Nárnia e Aslan?
- Nárnia... Aslan... Nárnia... Aslan...
- Pedimos aos familiares das vítimas que se dirijam à estação, afim de recolherem os seus bens - informava o repórter.
- Bens das vítimas! - exclamou a Pevensie, como que despertando de um sonho. - Bens das vítimas! É isso!
- É isso o quê? - perguntou a amiga baralhada.
- Vamos à estação.
- Mas Susan, já estás melhor?
- Nunca estive melhor na vida, agora vamos!
Susan puxou o braço de Eleanor, arrastando-a até fora do centro comercial, e rumou até a estação em Londres.
- Gaspar, importa-se de ir mais depressa? É que eu estou com muita pressa! - mandou Susan, dirigindo-se ao seu motorista.
- Sim, menina Susan – acatou o motorista.
- Susan, explica-me lá uma coisa. Quem são Nárnia e Aslan? E porque é que de repente tens tanta pressa em chegar à estação?
- Nárnia e Aslan são... palavras que digo quando estou nervosa. Sabes como é, invenções de infância. E, tenho pressa, porque não quero que algum ladrão se faça passar por mim, e roube os bens dos meus pais e irmãos - explicou a Pevensie, que agora havia recuperado a sua lucidez.
- Se é assim então fico mais descansada. Sabes, assustaste-me mesmo há pouco - disse Eleanor, respirando de alívio.
- Peço-te imensas desculpas, Eleanor. Não queria, de modo algum, assustar-te. Nunca foi essa a minha intenção.
- Não te preocupes mais com isso. O que interessa é que voltaste a ti.
- Podes ter a certeza que sim, querida. Vamos esquecer aquele momento de fraqueza que eu tive. Imagina que tal coisa era publicada numa revista? A minha imagem estaria arruinada.
- Fica descansada Susan. Tal nunca irá acontecer.
- Já chegámos, menina Susan. – declarou Gaspar.
- Sim, Gaspar. Não saias daqui até eu voltar.
- Sim, menina.
Gaspar saiu da limusina, abriu a porta a ambas as senhoras, saindo primeiro Susan, que à luz do sol, parecia Afrodite, a deusa da beleza, com os longos cabelos loiros a reluzirem, e a sua purpurina aplicada na face, que brilhava directamente no olhar de todos os transeuntes ali presentes. Eleanor, igualmente bela, mas nada que se compara-se à amiga, também transpirava beleza e sedução, pois o cabelo negro, como uma noite estrelada, e os olhos de um azul tão vivo que, para quem olhasse, parecia o reflexo do céu num dia de verão, assemelhavam-na a uma princesa da noite e do dia, do bem e do mal, da luz e da escuridão e que, à sua passagem, deixava qualquer um sem reacção.
- Vamos, Eleanor?
- Quando quiseres Susan.
E assim, Afrodite e a princesa da noite e do dia atravessaram o pátio em direcção ao interior da estação, abrindo à sua frente, passagem por entre a multidão. Por vezes com um piscar de olhos, outras com um toque suave, que deixava o tocado com um aroma a rosas, no caso de Susan, e a baunilha, no caso de Eleanor.
- Por favor senhoras, não se podem... - começou o segurança que se encontrava na linha que separava a multidão dos destroços, mas que se interrompeu quando olhou para ambas.
- Peço imensa desculpa senhor, eu sei que está a cumprir o seu dever, e muito bem, mas tente compreender, toda a minha família... - explicou Susan, usando a voz mais sensual que conseguia. - Morreu nesse desastre...
- Por favor menina... Não chore. Já podia ter dito, eu tenho autorização para deixar passar os familiares. Tem o bilhete de identidade consigo?
- O problema é esse... Eu... Eu... - gaguejou a loira entre lágrimas.
- O problema é que a mãe dela tinha o seu B.I. - concluiu Eleanor, utilizando o mesmo tom sensual. - Por favor senhor, tente compreender a sua dor. Toda a família, pais, irmão, tia, avô e até um primo, morreu nesse desastre.
- Mas... Mas... - hesitou o segurança, olhando Eleanor nos olhos. - Oh, está bem. Passem lá. Consigo ver nos seus olhos que não está a mentir.
Embora não fosse verdade, o segurança não conseguia resistir ao olhar da morena, e preferia deixá-las passar, antes que fizesse algo de que se viesse a arrepender.
- Muito obrigado, senhor...
- Elias - completou o homem.
- Muito obrigado, Elias - agradeceu Eleanor, que de seguida beijou-o na face, deixando a marca dos seus lábios. - Vamos, querida.
- Belo perfume. - elogiou Elias.
- Baunilha - informou, passando bastante próximo do segurança, ao ponto de o cabelo da morena passar pelo nariz do homem, que se deliciou com o aroma a maçã.
Eleanor conduziu Susan até ao local onde se encontravam os bens das vítimas, que ia apoiada na amiga, enquanto chorava.
- Belo trabalho, querida! - felicitou Susan, erguendo a cabeça de repente. Na sua face angelical, não se via um único vestígio de que estivera a chorar. - Parece que finalmente estás a aprender comigo.
- Não foi nada que não conseguisses fazer.
- Qual das duas é familiar dos Pevensie? - perguntou um homem que se encontrava a tomar conta dos bens.
- Sou eu - indicou Susan.
- Siga-me, por favor.
Susan foi, então, obrigada a seguir o desconhecido, deixando a sua amiga para trás. Passaram por cima de vários tijolos partidos e amontoados, entre pequenos montes de poeira, carris arrancados da terra, e que se estendiam para o interior da estação. Por fim chegaram a uma pequena sala que, ao abrir a porta, deixou escapar um cheiro horrível, um cheiro a...
- Mortos! - gritou Susan.
- Por favor, acalme-se menina. Os seus familiares encontram-se naquele canto - indicou o homem, apontando para o canto superior direito da sala.
A Pevensie teve que passar por cima de vários corpos que se encontravam espalhados ao acaso pelo chão, por vezes todos afastados, outras dois ou três todos juntos. Susan supôs que esses conjuntos deveriam ser famílias inteiras, que morreram com o desastre.
Finalmente chegou junto da sua família, e a visão que teve deixou-a horrorizada.
