Capítulo III

A Nova Face de Susan

- O que é isto? - perguntou Susan, apontando para o que se encontrava à sua frente.

- É aquilo que vê, menina. São os seus familiares – respondeu o homem que a acompanhara até à sala dos mortos.

- Sim mas... Estão num ângulo estranho... Pode retirar esse plástico negro para eu poder ver?

- Como desejar.

Lentamente, o plástico que cobria a família Pevensie e amigos foi retirado. A visão que a rapariga teve no momento que se seguiu fê-la soltar um grito agudo, não de tristeza ou qualquer sentimento comum na morte de um familiar, mas um grito de nojo, repugnância.

- Que nojentos... Quando os encontraram já estavam todos desmembrados?

- Sim, menina. Mas não conseguimos achar o tronco do seu irmão mais velho - informou o homem, deixando transparecer um tom de preocupação.

- Não tem importância – ripostou Susan indiferente. - Já retiraram tudo o que os meus irmãos tinham com eles?

- Sim menina. Dirija-se ao balcão do piso superior para recolhê-los. Mas... – acrescentou rapidamente, ao ver que a loira se ia afastar. - O que quer que façamos com os seus familiares?

- Acha que isso me interessa? Faça o que entender. Coma-os, queime-os, deite-os ao rio, faça o que quiser. E agora, se não se importa, ainda tenho muito para fazer hoje.

- Sim, menina.

- Mais uma coisa: pare com isso!

- Sim, m... – interrompeu-se o homem, ao reparar no olhar furioso de Susan. - Tenha uma muito boa tarde.

Susan afastou-se do homem sem lhe responder, fazendo um ar de repugnância a todos os montes de gente morta por que passava e lançando um olhar frio e de superioridade a todas as pessoas que se encontravam chorosas ao lado das suas famílias.

- Que choramingas... – resmungou quando saiu da sala.

Não deveria ter descido até àquela divisão. Fora apenas uma perda de tempo e até era possível que tivesse vestígios daquele cheiro imundo nas suas roupas caríssimas. Há algumas horas atrás, quando recebera a notícia de que toda a sua família falecera, teve um grande choque mas a terrível dor que sentiu na altura, deu lugar a um único objectivo no restante da sua vida: aniquilar Nárnia e o seu criador. Desde então, mais nenhum sentimento ocupava o seu coração para além do ódio, e fora por esse mesmo sentimento que não sentira qualquer dor ou perda ao chegar à estação, pois, no momento, apenas queria recuperar um certo meio de transporte para Nárnia. E, segundo o que havia pensado, estava prestes a alcançá-lo.

- Então Susan? Viste-os? - perguntou Eleanor preocupada, arrancando Susan dos seus pensamentos

- Quem?

- A tua família.

- Ah! Sim, vi-os - respondeu a loira, indiferente à preocupação demonstrada pela amiga.

- E então? Como é que eles estão?

- Como é que achas, Eleanor? Mortos! - gritou, num gesto teatral. - Desmembrados! Fedorentos!

- Que horror. E tu, como estás?

- Eleanor, poupa-me. O que viemos cá fazer não foi ver os restos da minha família.

- Não foi? - perguntou a morena incrédula. - Mas eu pensei...

- E quem te mandou a ti pensar? Vá, cala-te e segue-me - ordenou a Pevensie.

Susan avançou para o balcão onde, supostamente, estaria o que procurava, sendo seguida de perto pela sua amiga.

- O que desejam, senh...

- Susan Pevensie. Vim buscar os bens da minha família - cortou a rapariga.

- Será que tem...

- Não, não tenho. O meu B.I. deve estar aí nesse amontoado de tralha. E se não estiver, é porque pessoas incompetentes como o senhor não fizeram o trabalho que deviam. Quem o tinha era a minha mãe e ela foi uma das muitas pessoas que morreram nesta estação. Agora, se não se importa... - disse Susan friamente, avançando de seguida para o interior do balcão, sem esperar a resposta do homem.

- Mas menina, não pode...

- E quem é o senhor para dizer o que posso ou não posso fazer? Saia da frente.

O homem, impotente, afastou-se do caminho da loira que, estava já a remexer em tudo o que apanhava.

- Não encontro! Oiça, onde estão os bens dos Pevensies? - perguntou irritada.

- Es...Estão al...Além... - respondeu, apontando para a zona lateral esquerda que, ficava exactamente no local oposto ao de Susan.

- Incompetente. Porque é que não disse logo?

- Mas menina... Não me...

- Cale-se!

Susan avançou num passo rápido até onde o homem havia apontado, começando a ficar bastante irritada por não encontrar o que queria.

- Mas o que é que se passa aqui? - soou uma voz autoritária, vinda de trás de Eleanor que, ainda se encontrava do outro lado do balcão. - Ah! São vocês...

- Olá mais uma vez, Elias - cumprimentou Eleanor, aproximando-se bastante do homem. - Como tem passado, desde há pouco?

- Bem... Mas claro que teria sido melhor se tivesse a sua companhia.

- Se é esse o problema, eu acompanho-o até ao seu posto - sugeriu a morena, passando uma mão, desde o peito do homem, até aos seus ombros. - Vamos?

- Com certeza. - respondeu o homem encantado.

Assim, Eleanor afastou-se com o segurança, dando-lhe toques sedutores e por vezes indecentes, deixando Susan livre para operar. A loira não havia interrompido a sua busca durante a curta presença do segurança, mas continuava sem achar o que procurava.

- Tem a certeza de que está aqui tudo? - perguntou Susan, dirigindo-se ao homem que ainda se encontrava a seu lado.

- S... Sim... Quer dizer... Tudo o que conseguiram encontrar... - respondeu hesitante.

- Inúteis... - murmurou a rapariga.

- O que disse, menina?

- Inúteis! - gritou. - Não está aqui o que eu procuro, e não, não lhe vou dizer o que quero. Vou-me embora.

- Mas menina, e os...

- Não me interessa! - berrou-lhe a Pevensie.

Susan estava furiosa. Tanto tempo perdido para quê? Não encontrara o que procurava e, não se lembrava de mais nenhuma maneira de chegar a Nárnia. Mas, acabara de se lembrar de algo muito interessante. Afinal ainda havia uma hipótese. Ou duas...


E então? Gostaram? Espero que sim... xD Desculpem ter demorado tanto tempo mas, depois de escrever este capítulo, guardei e nunca mais me lembrei que já estava pronto... xD Bem, e agora, pela primeira vez, os agradecimentos:

Lilys Riddle: Não tenhas pena da Susan. Se soubesses as loucuras que ela vai fazer mais para a frente... Espero que tenhas gostado deste capítulo e, mais uma vez, desculpa a demora.

Monica: Para falar a verdade... Susan usou durante toda a vida a sua beleza para conseguir o que queria e, já está tão habituada a isso, que já nem sabe o que é um olhar de cãozinho abandonado... xD

Tive tão poucas reviews no último capítulo... ( Por favor, se lerem o capítulo, deixem uma reviews, não custa nada e fazem um escritor feliz! D