Capítulo V

Surpresas

Susan despertou, perguntando-se porque razão estaria a dormir. Então, olhou à sua volta. Conseguira, chegara até Nárnia.

- Onde estamos, Susan? - perguntou Eleanor a seu lado, ainda sonolenta.

- Em Nárnia.

- Desculpa, podes repetir? É que pareceu-me teres dito…

- Nárnia.

- Não pode ser. Tu disseste que era apenas uma brincadeira de crianças! - Eleanor estava muito confusa. O que era Nárnia, afinal?

- Menti-te.

- Então explica-me: o que é Nárnia? E como chegámos aqui?

- Nárnia é… - Susan não conseguiu aguentar as lágrimas. Há muito que "esquecera" tudo o que se tinha passado em Nárnia, mas estar de volta, fez com que tais memórias voltassem num turbilhão, atropelando-se umas às outras.

- Susan, porque é que…

Susan respirou fundo. Tinha de se manter concentrada no seu objectivo: encontrar e destruir Aslan. Teria de se pôr a par da época em que Nárnia se encontrava e tudo mais. Não seria difícil. Afinal, não era ela a Rainha Susan?

- Nárnia é um lugar horrível e desprezível, onde tudo o que te é mais querido, será retirado sem qualquer cerimónia. Acautela-te Eleanor, ou morrerás aqui. - Oh, como lhe custara dizer tais palavras. Era tudo mentira, tudo! Como podia Nárnia ser tal lugar? Susan vivera uma vida repleta de alegria e felicidade, governando gentilmente todas as criaturas. Como teria coragem para destruir Nárnia? E Aslan?

Ah! Aslan já era outra história. Sempre a ir e vir, conforme lhe convinha. Sempre com o dom da palavra, como só ele soubesse toda a verdade. Aslan seria completamente aniquilado, acontecesse o que acontecesse. Afinal, não fora ele que roubara a vida aos seus familiares? Tudo começara com sangue, na Batalha de Beruna, por isso, acabaria com sangue… Em Beruna.

- Como poderemos sobreviver num sítio como este?

- Não tenhas medo, Eleanor. Já cá estive diversas vezes, nada de mal nos acontecerá - sossegou-a Susan, voltando as costas e começando a andar.

- Mas, Susan, e o Elias?

- Quem? Como? O que faz ele aqui? - Susan estacou. Não esperara que Elias viesse também. Seria apenas um entrave na sua missão, mas agora, já nada se podia fazer. Teriam de continuar com ele.

- Fica aqui com ele. Vou tentar descobrir onde estamos.

Susan abandonou Eleanor e o segurança, e subiu um monte próximo, coberto de densas árvores e imensas plantas rasteiras. Olhou para o céu. Deviam ser umas duas horas. Quando chegou ao cume, não conseguiu conter uma expressão de espanto, um sentimento de incredibilidade. À sua frente erguia-se… Cair Paravel.

O palácio continuava belo e imponente, radiando luxúria e autoridade. Susan perguntou-se quem seria o actual Rei de Nárnia. Se é que havia algum.

Esquecendo os seus acompanhantes, Susan continuou em frente, em direcção a Cair Paravel. Não haveria qualquer problema em entrar, pois, como dissera Aslan uma vez: "Quando se é Rei de Nárnia uma vez, é-se para todo o sempre." Então, ela poderia exercer o seu poder no palácio.

Aproximou-se cada vez mais do palácio, reparando no grande alarido que havia à sua volta. A toda a volta do terreno, havia inúmeros animais e outros espécimes esquisitos.

- Rainha Susan! - A loira ficou petrificada. Quem é que ainda poderia estar vivo para a reconhecer? Há imenso tempo que não aparecia em Nárnia. Só se… Será que apenas teriam passado alguns dias, desde a sua última visita? Ou até, meses?

- Rainha Susan!

Susan voltou-se. Atrás de si estava, nada mais, nada menos, que o rato mais corajoso de toda a Nárnia.

- Ripitchip? Mas, como voltaste do fim do mundo? Pensei que ficarias por lá para sempre.

- E fiquei. Aliás, ainda lá estou! O que é que Vossa Majestade faz aqui? O Supremo Rei Peter ficará muito abalado por saber que aqui está… – Ripitchip alterou a sua face de alegria para tristeza, ao ver Susan. Vá-se lá saber porquê…

- O Peter está cá? Onde?

- Em Cair Paravel, onde mais haveria de ser? Hey, Vossa Majestade, espere por mim!

Susan começara uma corrida desenfreada, ao saber que Peter estava em Nárnia, e vivo. A alegria era tanta, que não conseguiu conter um grande sorriso de contentamento.

Rapidamente alcançou a sala do trono e qual não foi o seu espanto quando lá encontrou…

- Mãe? Pai? O que fazem aqui?

- Susan? Oh, Susan… O que estás aqui a fazer? - Mrs. Pevensie irrompera em lágrimas ao ver a filha.

- Como chegaste aqui, Susan? - perguntou Peter.

- Peter… Peter! - Susan correu na direcção do irmão, e abraçou-o fortemente. - Estou tão contente por vos ver. Pensei… Pensei que estivessem todos mortos… Sabem, houve um acidente com o comboio em que ia, e depois vi os vossos corpos sem vida, des-desmembrados.

- Oh não… Ela pensa que estamos vivos… – segredou Lucy para Edmund. - Como é que lhe vamos dizer a verdade?

- Não vamos.

- Como, não vamos? Ela não pode… "viver" numa mentira.

- Pode sim. Se essa mentira a fizer feliz.

- Eu concordo com o Edmund, Lucy - opinou Eustace.

- Mas, mais tarde ou mais cedo ela perceberá que… que não… envelhece? Será esse o termo? - sugeriu Jill.

- Então não sei… Eu acho que seria melhor ela não saber de nada. Não a vês? Está tão contente por nos encontrar… "vivos" - disse Edmund.

- O que não é verdade! - teimou Lucy.

- O melhor será falarmos com o Peter - referiu Eustace.

- Sim, talvez seja melhor - aceitou Edmund.

- Mas, diz-nos, Susan, como conseguiste chegar a Nárnia? Aliás, conta-nos tudo - pediu Peter, gentilmente.

- Então, eu estava no centro comercial com a Eleanor.

- Com a Eleanor?

- Sim, sim. Estava a escolher umas roupas, e foi então que ela viu o noticiário numa televisão. De seguida, dirigimo-nos para a estação e vi os vossos corpos. Passamos pela bancada dos objectos dos falecidos e, não encontrei os anéis mágicos do Prof. Kirke.

- Para que é que querias os anéis?

- Para… Eu fiquei muito triste quando soube a notícia. E… – Susan recorreu a uma pequena mentira. Não podia contar-lhe as suas verdadeiras intenções, pois o seu irmão impediria tal loucura. - E queria voltar a Nárnia, um sítio onde sempre fui muito feliz. Vinha juntar-me ao Rei de Nárnia, e aqui morreria. Já não fazia sentido continuar na Terra.

- Oh, Susan… Como foste tola. Porque é que não ficaste na Terra? E, o que é que Eleanor disse?

- Bem… Ela veio comigo.

- O quê? Tu trouxeste a Eleanor contigo? Porquê? Porquê, Susan? - Peter perdeu a cabeça com a notícia.

- Não foi minha intenção! Mas nós estávamos no meio das linhas férreas, depois um comboio estava a aproximar-se e, a única solução para salvar Eleanor, era trazê-la comigo. Por isso, ela e o Elias deram-me as mãos, e eu pus o anel.

- Quem é o Elias?

- É um segurança da estação de comboios que Eleanor e eu tivemos de seduzir para conseguirmos chegar aqui.

- A Eleanor também o seduziu?

- Sim… Porquê?

- Por nada… Onde é que está a Eleanor?

- Ficou no bosque com o Elias. Ele ainda estava inconsciente quando os deixei.

- Edmund! - chamou Peter. - Manda o Mr. Tumnus e uma equipa de texugos para irem buscar um filho de Adão e uma filha de Eva, ao bosque.

Edmund partiu de imediato.

- Peter, porque é que és tu o Rei? Não havia outro Rei quando cá chegaram?

- Er… Não.

- Estranho… Aslan nunca deixaria que Nárnia existisse sem Rei.

- Pois… As coisas saíram do seu controlo…

Longos minutos se passaram, até a equipa de buscas regressar ao castelo. Vinham bastante cansados e com um ar preocupado. Supostamente, não demoraria mais de dez minutos ir e voltar com duas pessoas, pois não?

- Não os encontrámos em parte alguma, Vossa Majestade – informou Mr. Tumnus, ajoelhado em frente de Peter.

- Como é que não os encontraram?

- A única coisa que lá havia era este bocado de tecido – Mr. Tumnus ergueu um pedaço de tecido azul-claro, mais precisamente, veludo.

- Isso era do vestido da Eleanor… – disse Susan. Virou-se para Peter. - Nárnia tem inimigos?

- Nem imaginas quantos…

- Oh não… Então a Eleanor…

- Apanharam-na…