Título: O Mensageiro
Parte 2
Harry não acreditava que seria tão difícil falar com o sonserino loiro. Talvez não tão difícil se não fosse a repentina timidez e receio de levar algum comentário maldoso (como se não houvesse levado antes). O fato era esse – estava travado.
Toda vez que se aproximava de Malfoy, suas mãos começavam a transpirar e seu coração disparava. Quando os olhos prateados se firmavam em si, era como se o obrigassem a desviar a visão para qualquer outro lugar.
Não havia chegado nem perto de falar com ele, mas tinha quase certeza de que se tentasse falar, as palavras não sairiam corretamente e se embolaria na boca, passando-se por ridículo.
Três dias nessa agonia e deixando Susan na expectativa, com aqueles olhos a perguntar-lhe se havia conseguido entregar sua carta e a única coisa que fazia era negar e se desculpar, para receber um sorriso da garota, como se entendia perfeitamente sua situação, afinal, nem ela mesma teria coragem de levar um fora, deixando nas mãos do grifinório, mesmo que demorasse.
Nessa manhã, Harry estava sentado num dos muitos bancos que haviam espalhados pelo jardim de Hogwarts. Estava perto do campo de quadribol e olhava o cair da tarde com melancolia.
Se recriminava por sentir-se assim. Queria poder castigar seu coração até que aprendesse a não disparar quando estava próximo do loiro, assim como queria poder afastar os pensamentos que ultimamente andava dominando sua cabeça, a maior parte do dia. Pensamentos esses em relação ao rapaz.
Nesse exato momento recordava o modo como Malfoy lia seu livro de romance trouxa, sentado na cama e recostado nos travesseiros. Algumas vezes corava e outras sorria levemente, um sorriso sonhador.
Deu uma olhada ao seu lado, onde deixara seus materiais escolares e dentre os livros e pergaminhos, havia o mesmo livro, que comprara quando foi a Hogmeads.
No começo, apenas passeava com os amigos, mas seus olhos viram, pela primeira vez depois de anos, a loja de livros. Ela estava lá todo o tempo, mas nunca se interessou por ela.
O que fez depois o assustou ainda mais, mas como movido pelas pernas, entrou no recinto e procurou o título que lembrava-se ter lido na capa do livro de Malfoy.
Nunca fora de ler muito, pois nem tinha como, vivendo na casa dos tios e sendo proibido de tudo que gostava. Ler não era um hábito, mas gostava de ler, apenas olvidara isso tomado pelo costume de não ter livros para se ler.
Olhara pelas prateleiras sem muitas esperanças de encontrar um exemplar trouxa naquela vila bruxa, até que surpreso, encontrou um mísero espaço dedicado a algumas obras trouxas e que estava escondida num canto de uma estante, havia no máximo uns quinze títulos. A maioria era Shakespeare, autor que não buscava naquele momento. Olhou com cuidado e sorriu de alegria. Alegria? Porque ficar alegre em encontrar um livro que um sonserino lia? Não sabia, mas estava alegre por ter a sorte de encontrar.
Apanhou o livro com cuidado como se fosse feito de cristal e pedras preciosas e leu o título – The Notebook de Nicholas Sparks.
Não havia muitas páginas, mas estava interessado em saber do que se tratava a história. Comprou e levou para o dormitório, junto com uma caixa de bombom da DedosdeMel, incrivelmente (ou não tão incrível assim), contendo trufas de chocolate versão intitulada na embalagem como Duo – metade com recheio de licor (sabores sortidos de cereja, morango, uva, menta e chocolate) e a outra metade recheado de flocos de neve (creme de avelã com castanha de caju e essência de baunilha).
Como uma lembrança puxa outra, lembrou-se de Susan Bones, perguntando se havia conseguido ler o título do livro que Malfoy estava lendo.
Disse que não... Mentira deslavada.
Fora que a olhava com desprezo camuflado e se perguntava porque essa garota queria tanto saber o que Malfoy lia ou deixava de ler. Já não bastava saber que ele apreciava romances?
Estava pirando...
Agora via seus apelidos mudarem: Cara Rachada para Cara-de-pau, Potter o Salvador, para Potter o Lunático, O Menino-que-Sobreviveu se tornando O Menino-que-Enlouqueceu e o mais interessante – Santo Potter se converteu em Falso Potter.
Sentiu vergonha. Susan havia o elogiado como alguém que não era mesquinho, invejoso e que ajudava a todos sem contestação, resumindo, alguém bom e puro. Sabia que era exagero, mas se julgava alguém bom e prestativo, sim. Agora via que não era bem assim e que tinha mais maldade que os próprios sonserinos.
E o pior, invejava.
Invejava a sorte dos que rodeavam Malfoy e o pior, sentia muita inveja da Murta-Tonta-Boba.
Fechou os olhos com força. Não havia pensado isso... Não, não havia feito uma coisa dessas... Já não bastava o apelido de Murta que Chora ou Murta que Geme que os estudantes a tacharam? Pior que não bastava, agora ela invariavelmente era para si, a Murta-Tonta-Boba mais sortuda de Hogwarts e lá no fundo, dava graças por ela estar morta, assim, não sentiria propriamente, a pele pálida e aveludada (como pêssegos maduros e cheirosos) do sonserino, nem os lábios macios e úmidos ao beijá-lo.
Mordeu o lábio inferior com angústia e cruzou os braços sobre o peito, mais para se abraçar a si mesmo do que de frio. Será que Malfoy a beijara? Se ele ficava encantando-a desde o começo do ano, segundo Susan... Murta-Maldita... Afinal, por que ele fazia toda essas encenações? Para quê alegrá-la e encantá-la dessa forma? Ela era a Murta, por Merlin! O que Malfoy viu nessa criatura dos infernos?
Tinha que para por aí... Harry Potter não era assim, nunca foi e não deveria ser agora.
Suspirando profundamente, voltou a abrir os olhos, para querer fechá-los novamente, mas não o fez. Se negou a fazer e não queria se negar tanto assim, mas se negava.
Malfoy caminhava sozinho, a alguns metros de distância, perto da Floresta Proibida. Estava perfeito como sempre, as vestes estudantis, mesmo sendo idêntica a todos os alunos e claro, inclusive os da Sonserina, mas em seu corpo parecia diferente. Até o balançar da capa parecia mais suave e charmoso com o seu caminhar elegante. O vento, enquanto bagunçava seus cabelos, aos do sonserino parecia acariciá-los.
Ficou o observando de onde estava, sem conseguir desprender os olhos de cada movimento, só era uma pena não poder ver direito seu rosto e sua expressão naquele momento, mas julgava que estava com um semblante calmo.
Sorriu ao vê-lo olhar ao redor, certamente para conferir se não havia ninguém por perto o olhando. O que pretendia fazer? Descobriu em suas sessões de espião, que quando Malfoy olhava assim, era porque faria algo fora dos padrões Malfoy. Não algo estúpido (genuinamente Malfoy sangue-puro), pois quando era alguma peça ou trama, ele agia diferente, completamente suspeito. Mas quando ele passava os dedos pelo cabelo e lançava discretos olhares furtivos ao redor e além, girando o corpo enquanto andava, para ter uma visão geral ao seu redor, depois parava de caminhar e fitava as mãos, como se ponderasse o que estava para fazer, era um ato em sua maioria, que o deixava sorrindo ainda mais.
E foi exatamente isso que aconteceu.
Malfoy se aproximou mais da borda da floresta, o que levou Harry a se preocupar um pouco, quase a se levantar do banco e deixar de ser espectador, para ser atuante e impedi-lo de qualquer loucura, mas o que se sucedeu depois, o fez sorrir largamente e relaxar.
O loiro colhia flores brancas que estavam espalhadas perto da floresta, não se atrevia a entrar um milímetro na parte proibida, mas recolhia as flores com cuidado, escolhendo as mais bonitas e formando um buquê e escondeu na manga larga de sua túnica cobrindo o braço com a capa, para prevenir que aparecesse qualquer vestígio. Deu meia volta e estava quase sumindo de vista, quando Harry achou que essa era a hora perfeita para entregar a carta.
Sim, entregaria a carta e partiria para nunca mais tentar falar com ele.
Bastou levantar-se do banco, para o loiro reparar em sua presença e estancar no lugar, o olhando com preocupação e receio.
Também não se moveu e tudo pareceu tenso ao redor. Até que viu o sonserino se aproximando com cautela.
- Por todos os bruxos, ele está vindo! – pensou aflito e começando a se desesperar, seu coração disparando a cada passo do outro, cada vez mais perto de onde estava.
Não agüentaria falar com ele, e pelo semblante fechado que mantinha no rosto, os lábios frisados numa linha austera, tinha certeza que era para insulta-lo de estar bisbilhotando sua vida ou algo parecido. E era tudo o que menos desejava.
Decidido, tratou de recolher suas coisas do banco e com rapidez, pôs-se a caminhar, para qualquer outro lugar que não fosse perto do sonserino.
- Potter! – suas pernas praticamente pararam, como obedecendo à voz de Malfoy e foi virando lentamente o corpo, para ficar frente com ele.
Ergueu os olhos e o fitou, se preparando interiormente para ser insultado. Esperou, mas essa sua atitude fez uma certa diferença ao sonserino, que confuso, apenas o olhava. Estava calado e aguardando.
Com um suspiro Malfoy olhou ao redor e notou não haver mais ninguém por perto. Passou os olhos pelo jardim e pelo banco ao qual o grifinório estava sentado, constatando que ficava em um ponto escondido e da borda da floresta era meio difícil de se ver aquela parte.
Mudando de idéia, ao invés de insulta-lo e obriga-lo a dar satisfações, como se tinha certeza de que estivera ali só para espiona-lo, Malfoy quis tomar outras atitudes, afinal, Potter estava diferente e não necessariamente ficava perdendo seu tempo para bisbilhotar sua vida.
- Quanto tempo estava aqui? – perguntou com indiferença e um pouco seco.
- Desde após a última aula... – fazia bastante tempo então, pois já estava escurecendo e logo teriam o jantar.
- Estava me observando? – dessa vez, os olhos prateados se firmaram aos verdes.
- Foi inevitável... Mas não fiz por maldade, só que fiquei surpreso em vê-lo caminhar sozinho por estes lados – pronunciava tão baixo e desviando os olhos que chegava a se recriminar por dentro.
- Só não conte nada... – advertiu, com voz mais fria, para intimidar.
Harry fez que sim com a cabeça, tentando controlar o corpo, que queria tremer sem controle, conforme sentia um estranho e persistente revolver no estômago, as mãos suarem e o rosto começar a esquentar. Ficou aliviado quando Malfoy começou a dar-lhe as costas, sem mais palavras, então lembrou da carta.
- Ahn... – tossiu um pouco e o sonserino voltou a olha-lo. – Faz três dias que eu queria falar contigo...
Malfoy apenas arqueou uma sobrancelha. Se fazia três dias que o famoso Potter queria falar com ele, foi tão discreto ou tão sem importância o assunto, que nem reparou.
- Uma pessoa... – sua mão tremia, quando foi pegar a carta no meio de seus materiais e teve de se concentrar muito, para não tremê-la quando a estendeu para o desconfiado rapaz a sua frente. – Uma pessoa pediu para lhe entregar isso. É em sério...
Malfoy pensou alguns segundos antes de resolver pegar a carta e a abriu frente ao grifinório. Queria ter certeza de que não era um truque ou alguma azaração. Isso fez Harry ficar surpreso, pois era uma carta pessoal e íntima, e não para o loiro ler na frente de qualquer um.
O sonserino passou os olhos na escrita, um verso curto e bobinho, assim como a letra era feminina. Sim, uma carta de amor de uma garota.
- De quem é? – ficou interessado.
Harry ficou confuso. Susan não havia dito que era para manter segredo, mas como Malfoy perguntava quem seria a pessoa, certamente ela não assinou a carta.
- Não posso dizer... Mas garanto que é uma pessoa maravilhosa.
- Claro... – fez uma careta e sem mais, deu as costas e partiu, guardando a carta sem muito cuidado.
O pouco caso que Malfoy demonstrou, o fazia ter mais certeza de que ele recebia cartas de amor com freqüência e não levava muito a sério, mas para felicidade de Bones, ele também não a jogou fora ou devolveu. Se isso era um bom sinal ou não, não sabia, mas falaria para ela logo mais à noite, pois era dia do sonserino fazer a ronda e lá estaria a sua admiradora secreta.
Sorriu interiormente, havia dado o primeiro passo e o resto, esperava que se desenrolasse entre os dois. Porém, havia esquecido que se tratava de uma LufaLufa, tímida, romântica e sentimental.
Estava mais envolvido nisso do que imaginava.
A noite se fez e quando deu a hora, tratou de descer a sua Sala Comunal com a capa em mãos. Ao invés de seguir para encontrar a garota, e ver o espetáculo noturno, dedicado à Murta-Tonta-Boba, resolveu por se atrasar e só aparecer antes da lufaniana partir para o dormitório feminino de sua Casa.
Esperou pacientemente sentado no sofá, frente a lareira, até que decidido, saiu da Torre da Grifinória.
Descia as escadas em silêncio até parar perto de Bonnes. Seus olhos logo buscou o Salão Principal, para ver Malfoy deixando o lugar e uma triste Murta-Maldita que fitava as flores brancas sobre a mesa dos professores e tentava toca-las, sem poder realmente faze-lo.
Então, era para ela as flores... Mordeu o lábio com desprezo. Incomodado.
- Se está aqui é para falar comigo – Susan o tirou dos pensamentos.
Ele a olhou por um tempo.
- Acha mesmo? Poderia ser por querer apreciar a felicidade da Murta – pensou consigo, ainda mais aborrecido.
A garota reparou que não estava muito bem. – Melhor conversarmos em algum outro lugar. – propôs preocupada, já imaginando o assunto. Harry não conseguira entregar a carta.
- Certo... – forçou a sorrir.
Foram para a mesma sala vazia da primeira vez que conversaram e se acomodaram exatamente no mesmo lugar.
- Então? – ela voltou a ficar tensa.
- Já entreguei e ele não disse mais nada, só perguntou quem era – foi direto ao assunto, precisava se livrar disso tudo, pois estava ficando doente.
- Não houve nenhuma reação? Nada que pudesse desvendar o que sentiu? – ela ficou ainda mais tensa.
- Não... – negou com a cabeça. – Mas ele a aceitou e não devolveu, acho que deve julgar esse ato como um crédito. O resto fica por sua conta.
- O resto? – arregalou os olhos.
- Sim... Se declarar pessoalmente.
Oh! Por favor, estava ficando irritado e sem paciência. O problema platônico de Susan acabou por acarretar num problema em si mesmo! Estava enfermo! Não conseguia mais olhar para Malfoy e sentir raiva e asco. Não conseguia controlar seus sentimentos e nem os pensamentos que lhe vinham à cabeça. Agora não queria mais tentar resolver o problema dos outros, já tinha os seus próprios e eram graves e absurdos.
Necessitava de um tempo de reclusão interior para tentar voltar ao que era antes de tudo isso. Ou tentar no mínimo chegar perto do que sempre foi, pois não tinha certeza de que se afastando da garota e de Malfoy, tudo voltasse como era antes...
- Harry, por favor... – pediu a garota, com olhos lacrimosos. – Eu não posso falar pra ele que sou eu, não agora e também necessito que me ajude a conquista-lo devagar...
O grifinório analisou o rosto de Susan através da fraca claridade da lua, que adentrava pela janela.
- Por todos os deuses! Não vê que acabarei fazendo isso por mim mesmo e não por você? – quis gritar para todos ouvirem, mas o que saiu foi um baixo e sufocado. – Não posso, sinto muito...
- Harry... Você é minha única esperança... Eu estou apaixonada por ele desde o quarto ano! – começou a soluçar, vendo diante de seus olhos, as oportunidades se escaparem.
O grifinório passou os dedos pelo cabelo. Não podia mais, estava saindo muito de seu controle, e não queria saber aonde isso iria leva-lo. Sabia que o precipício era fundo e escuro e não teria mais volta. Negou com a cabeça. Odiava ver uma garota chorar, odiava negar a ajudar na felicidade dos outros, mas não podia mais. Precisava saltar ao mar do que afundar junto com o navio. Não era o capitão e não precisava morrer com ele.
Ia sair dali, voltar ao seu dormitório e fingir que dormia e voltar a fingir amanhã, como se estava tudo perfeitamente bem e normal, quando teve a mão segurada pela garota. Ela quase caíra de joelhos a seus pés.
- Pedirei só mais um favor... Não conseguirei falar com ele pessoalmente e eu sei que ele não se interessa pelas LufaLufas... Entregue a ele um último regalo meu... – implorou. – E tudo estará terminado...
- Por quê? Por que tem que dizer essas coisas? Por que tem que agir assim? Por que justo com Malfoy? Não chore... Agora sei o que me disse na primeira vez que conversamos... Agora entendo a palavra amor (sinônimo de perdição). Você se afunda, e sofre, se machuca, quando não é correspondido... Dói muito... E você não consegue sanar a dor e cicatrizar a ferida. O ciúme te consome e você apenas deseja que seu amor seja feliz... – essas palavras passavam por sua cabeça, dando voltas e tornando insuportáveis.
Vê-la tão triste o fazia sentir aquela vontade de ajudar, a ser prestativo. E não tinha nada contra ela, pois ela apenas estava loucamente cega de amor... Desesperada. Pensou e se apiedou dela. Seria sua última ajuda...
"Não faça isso!". Dizia uma vozinha interior. "Sabe que se não se afastar agora, será tarde de mais!".
O que seria tarde? Já não via Malfoy com maus olhos. Sabia que ele era solitário e que tudo que demonstrava era fachada para esconder o que realmente era...
Uma pessoa sensível, que sabia sorrir e tinha grandes aspirações pela vida...
"Quanto mais se apega, mais difícil se torna esquecer e os sentimentos crescem e multiplicam...". Voltava a dizer a mesma voz interior. "A dor será maior".
- Agora é tarde... – tentou calar a voz de sua consciência, e realmente era tarde. Olhou à garota e com um mover de cabeça, aceitou.
- Obrigada! Muito obrigada! – Susan o abraçou, os olhos inundados de lágrimas. Amava tanto o sonserino loiro, mesmo ele sendo arrogante, pois havia ocorrido um motivo que a levou a amá-lo. Não o Malfoy puro sangue, mas o verdadeiro por trás das máscaras.
Com vergonha, ela lhe entregou uma outra carta e um pacotinho, assim, terminou esse longo e fastidioso dia. Regressou ao dormitório com um peso a sufocar-lhe o peito. E medo... Muito medo de seus próprios sentimentos.
Os dias passaram e o fim de semana havia chegado. Não falara mais com Draco Malfoy no período das aulas, mas isso não significava que ficou sem observa-lo durante o tempo em que tinha oportunidade.
Era hora de entregar ao sonserino sua última boa ação e voltar ao cotidiano de sua vida.
No dormitório vazio da Grifinória, pegou a carta e o pacotinho. Abriu-o, mesmo sabendo que era errado. Estava fazendo várias coisas erradas ultimamente, e ver o que a garota daria em agrado ao loiro, era o de menos.
Haviam doces, balinhas e mini chocolates com recheio de mel, a julgar pelos desenhos em açúcar, na forma de abelhinhas.
Seus olhos buscaram a caixa de trufas, que havia comprado aquela vez em Hogmeads e escondido em seu malão. Não chegara a comer, talvez por sentir-se mal só de pensar que estaria comendo aquilo por causa de Malfoy. Voltou os olhos para a carta da garota e raciocinou.
Se declararia não propriamente em explícito. Talvez com isso, se sentiria melhor e menos sufocado. Malfoy o rejeitaria inconscientemente e decepcionado, o esqueceria.
"Isso não vai dar certo...". Reclamou a voz interior, desaprovando redondamente o que ia fazer.
- Cala-te estúpida consciência! Ele achará que é a admiradora secreta – reclamou em voz alta, pegando pergaminho, pena e tinteiro. – Se eu não fizer isso, morrerei de agonia e frustração.
Rabiscou tudo o que sentia e leu umas dez vezes até se dar por satisfeito. Abriu a carta da garota e com um feitiço de cópia, que aprendera dos gêmeos Weasleys, murmurou o feitiço tocando com a ponta da varia sobre a escrita de Susan, e depois, na sua escrita que se transformara na letra da menina.
"Isso é muito, muito feio de sua parte Harry!" – voltou a criticar-se.
- Sim eu sei, mas se não fizer isso, não sei o que acontecerá comigo... Talvez nunca mais eu seja eu mesmo... – lamentou enquanto dobrava a carta e a colocava presa na caixa de trufas.
Olhou aos presentes que deveria entregar a Malfoy e achou melhor encolhe-los e os levar escondido até ter uma chance de falar com o sonserino num lugar discreto, sem olhares de terceiros.
Passou toda tarde em busca do sumido rapaz loiro. Foi a Hogmeads e voltou sem sucesso. Conversou por horas com os amigos, mesmo não participando das conversas, se enfiou em sua Sala Comunal e depois foi ao Grande Salão com Hermione e Rony.
No fim da tarde, já havia desistido e se encaminhou para o mesmo banco, perto do campo de quadribol. Gostava de ficar ali, passando o tempo enquanto pensava e apreciava o pôr-do-sol. Sentou-se ali, a escuridão do começo da noite a camufla-lo.
Depois de um tempo, esquecido-se de si mesmo, levou um susto quando uma pessoa se assomou a sua frente, caminhando com as mãos no bolso. O outro também levara um susto, ao nota-lo ali.
- Novamente escondido Potter? Não devia fazer essas coisas, só se quer ver casais furtivos, namorando pelos cantos.
Draco Malfoy sempre tão antipático e sarcástico. Se não soubesse de seu segredo, já teria ficado com raiva e partido para um bate-boca (como costumava a fazer antes). Ao invés, ficou um tanto corado, seu coração voltando a bater em seu peito como se fosse pular pra fora.
O sonserino ficou novamente o fitando com certa confusão expressa no olhar. Parecia que esperava o contra-ataque, que certamente nunca viria, não, pela boca desse enamorado Harry Potter.
- Malfoy... Aquela pessoa lhe mandou outras coisas e espera que aprecie... – esse aprecie talvez tenha sido mais pronunciado por si, do que por Susan.
- É de Virgínia Weasley? – ele chutou, enquanto pegava os presentes que o grifinório lhe estendia.
- Não... – ficou um pouco incomodado. Se Malfoy disse o nome da amiga, seria porque gostava dela?
Oh! Arregalou os olhos e apertou as mãos com força. Estava ficando obsessivo. Agora qualquer nome que o loiro falava, era sinônimo de rivalidade. Nunca poderia pensar que a irmãzinha de Rony fosse uma rival. Amava ela como sendo uma irmã também. E era exatamente por isso que ao ouvir esse nome, seu peito doeu muito mais do que pensar na Murta-Tonta-Boba ou em Susan Bones conseguindo o que quer. Com a ruivinha, não tinha chances.
"Viu só? Não te disse que ia ser pior?" – debochou sua consciência. "Agora quer uma chance com ele? Nunca conseguiria! N-U-N-C-A!".
Levou as mãos à cabeça, apertando com força e querendo sinceramente dar com ela na parede ou no banco de pedra onde estava sentado. Seu corpo tremia e só desejava que o sonserino fosse embora. Essa era a última coisa que fizera, e nada mais faria além de se afastar o máximo que podia. Nem Susan, nem Malfoy, nem seu coração o levaria a prender-se nessa tortura.
- Não estou enamorado! – gritava em sua mente.
- Você está bem? – o sonserino perguntou preocupado.
Sim... Estava enamorado...
E sofria por saber que nunca seria correspondido, pois não tinha uma queda boba por ele, não queria um passa-tempo rápido e morreria se o visse nos braços de outra pessoa. Como se o sonserino gostasse de rapazes...
Seu estômago começou a doer e uma ânsia de vômito o atacou. Harry Potter gostava de rapazes? Por Merlin! Já não bastavam todas as outras esquisitices? Outra pontada no estômago e um bolo subiu até a garganta e voltou como pedra em seu estômago.
- Potter? – dedos delgados tocaram seu braço e pareceu levar um choque.
Levantou-se num salto e se afastou, olhos arregalados e corpo tremendo.
- E-eu estou com dor de cabeça... Acho que vou à enfermaria – se desculpou e partiu sem olhar para trás, logo começou a correr pelo gramado, e desapareceu pela escuridão da noite.
Se tivesse olhado para trás, veria a surpresa e a preocupação estampada no semblante do sonserino, que ficara ali parado até perde-lo de vista.
Não mentira, seu destino foi mesmo até a enfermaria. Parou de correr ao entrar pela porta e ver Madame Pomfrey arrumando algumas poções. Ela o olhou surpresa e aguardou que falasse, notando que o rapaz não estava nada bem.
- Eu estou com muita dor de cabeça e enjôo... – se esclareceu.
- Claro... – pegou um frasco e o estendeu. – Beba isso Harry.
Fazendo o que lhe foi dito, bebeu todo o conteúdo, esperando que sarasse até o que sentia no peito. A dor foi diminuindo e o mal estar passando, mas seus sentimentos permaneciam imutáveis dentro do peito.
- Obrigado...
- Tem certeza que é só isso? Você não me parece bem... Está abatido e pálido – tocou à testa do rapaz, para medir sua temperatura e se assustou por senti-lo muito frio. – Harry! Você está congelando! Deite-se aqui. – apontou para uma das camas.
Harry afastou com receio. – Deve ser cansaço... Não ando dormindo direito ultimamente... Se eu descansar isso passará – fitou o chão, enquanto apertava uma mão na outra.
Madame Pomfrey sabia o que ele queria, sempre ficava assim quando tinha que pedir aquela poção. – Quer a poção do sono?
Um sim com a cabeça foi tudo que conseguiu.
- Estou preocupada com você garoto... – ela foi até uma das prateleiras e pegou o frasco e lhe entregou.
- Obrigado – balbuciou desanimado e se retirou, indo diretamente ao dormitório e se enfiando debaixo das cobertas sem trocar de roupa. Bebeu a poção e apagou num mundo sem sonhos.
Draco havia retornado ao seu quarto com mil pensamentos e perguntas dando reviravoltas em sua cabeça. Harry Potter estava estranho, muito estranho para ser sincero.
Nunca imaginara vê-lo daquela forma e as duas conversas que tiveram, não foi agressiva, pelo contrário, foi até muito calma e entendimentos por ambas as partes.
Olhou ao redor do lugar, em cima da cômoda e pelas coberta de sua cama. Nenhum sinal de sua aranha. Estava procurando ela fazia uma semana, mas ela deu de desaparecer. Até achou que alguém havia matado, mas todos pareciam olvidar que ele tinha uma aranha de estimação. Estava com esperanças que ela voltasse mais cedo ou mais tarde.
Era estranho, mas se apegara a ela pelo fato de ser diferente das outras. Sua aranha parecia ouvi-lo e ficava próxima a si, como um filhote de cão, carinhoso e carente por carinho. No começo estranhou, mas depois, passou a se afeiçoar. Só esperava que não houvesse morrido por aí ou devorada por algum outro animal.
Após banhar-se, sentou-se na cama e trouxe os pés para cima do colchão. Retirou da capa, que deixara numa cadeira ao lado da cama, quando entrara no quarto, as coisas que Potter havia lhe entregado de sua admiradora secreta.
Primeiramente abriu o pacotinho e conferiu o que tinha dentro. Deixou de lado e passou para a carta, conferindo o mesmo tipo de versinho bobo e a mesma letra. Nada além disso, apesar que a garota nessa segunda carta dizia amá-lo desde o quarto ano e terminava a carta escrito 'beijinhos'.
Se não era uma garota do primeiro ao quarto ano, era com certeza uma LufaLufa ou Virgínia Weasley. Sabia que a ruiva era dessas coisas, muito romântica e sentimental que era para ter entrado na LufaLufa ao invés da Grifinória.
Sem muito interesse abandonou a carta de lado e passou para o próximo presentinho. Uma caixa de trufas de chocolate e justamente os seus preferidos. Em cima, outra carta, mas de papel amarelado ao invés de rosado, como das outras cartas.
Deslacrou a carta e a abriu. Ficou surpreso pela escrita não ser em versos e sim em um curto texto. Finalmente a tal admiradora deu de amadurecer? Começou a ler, mais interessado.
Malfoy,
Sei que não deveria, mas não mandamos em nossos sentimentos e há coisas que simplesmente acontecem e apenas perguntamos quando e como aconteceram...
Creio que foi assim comigo...
Houve um tempo, em que o considerava como todos os outros, talvez nem tão como, mas sei que não o considerava dessa forma, mais profunda e afeiçoada.
Olho para você agora e o vejo como um ser misterioso e, acredite, fascinante. Não pela sua beleza, que ultrapassam a maioria e que enchem meus olhos, mas seu fascínio vem de dentro. Como um brilho único que resplandece todo o seu ser e o eleva muito acima dos demais...
Sinto necessidade de acolhe-lo, conforta-lo e satisfaze-lo.
Daria minha vida pela sua, se preciso fosse, e eu ao menos sei porque me sinto assim...
É tudo tão confuso!
Não escolhi sentir-me assim por ti... Assim como não escolhi muitas coisas...
Não importa o que aconteça...
Não importa se nada aconteça...
Tenho-o guardado no coração, e é esse sentimento que me torna tão vivo,
Que me torna diferente...
Desfrute do sabor dos chocolates, enquanto ficarei imaginando desfrutar do sabor de tua boca...
"Alguém que te deseja".
Draco repassou mais uma vez a carta, estava intrigado. A letra era a mesma, mas a forma que foi escrita era completamente diferente. Era mais intenso, mais carregada de emoções e mais... Triste?
Sim, havia certa melancolia nas palavras...
Apesar de serem palavras bonitas, havia um traço de tristeza nelas, talvez da forma como foram escritas.
Ficou interessado em saber quem era essa garota, que de uma hora pra outra lhe mandou duas cartas, uma tolinha como uma menina apaixonada e outra mais profunda e adulta.
"Ficarei imaginando desfrutar o sabor de tua boca" – repassou a frase e sorriu.
Se não fosse a letra, juraria que eram duas pessoas diferentes a quem Potter estava trabalhando como pombo-correio. Ela era esperta, ninguém era tão discreto como o grifinório bonzinho. E leal, guardaria o nome da garota até ela decidir se desvendar.
Pensando em Potter... Só ele poderia levar sua resposta à tal admiradora. Ela deveria ganhar um prêmio, por conseguir chamar-lhe a atenção.
Colhendo um pergaminho do tamanho de um bilhete, escreveu:
"Conseguiu minha atenção. Espero conhecer-te em breve,
ass. DM"
Lacrou com cuidado e o guardou em seus materiais. Quando tivesse uma oportunidade, falaria com o grifinório e pediria para entregar-lhe a resposta.
Deitou e cerrou o dossel o enfeitiçando e adormeceu pensando naquelas palavras.
N/A: desculpem a demora, obrigada a quem leu!
Agradecimentos a:
Mel Deep Dark – olá! Obrigada pelo incentivo! Bjus!
Sam Crane – olá! No próximo chap terá mais Aranha-Potter, quanto ao final, estou em dúvida se faço feliz ou trágico, mas considerarei seu pedido. Bjus!
Fabi – olá! Obrigada pelas palavras, espero que tenha gostado desse chap. Bjus!
Ayami-chan – olá!nossa, essa palabra é forte e profunda, fiquei até sem fala ao ler! Obrigada! Desculpe a demora em postar! Bjus!
Srta Black – olá! Demorei, eu sei, mas espero que tenha compensado. Agradeço as palavras. Bjus!
Sy.P – olá! Não tenho uma previsão certa para postar, vou atualizando quando dá, então fica difícil dizer. Esse demorou, mas o próximo espero não demorar tanto, sendo que será o último. A fic é curtinha. Bjus!
Obrigada a todos que comentaram!
O próximo capítulo é o final! Abraços!
