Título: O Mensageiro
Parte 3
Harry acordou péssimo no dia seguinte e passou a manhã inteira refletindo no que fizera. Até Rony e Hermione estranharam seu silêncio e sua desatenção nas aulas.
Quando foi o horário do almoço, sentado em sua mesa da Grifinória, seus olhos seguiram até a outra ponta do salão, para a mesa da Sonserina, e ali, buscou o rapaz loiro.
Esperava encontrar um arrogante, porém belo semblante distraído com alguma conversa ao seu redor, ou entretido com sua comida, mas o que se deparou, foi um azul prateado a o observar.
Ficou tenso e um remoinho de sensações passou por seu estômago.
Era tão irreal essa repentina atenção em si, que instintivamente, como se não acreditasse em seus próprios olhos, olhou a seus lados e atrás de si, na certeza de que veria a razão pela qual o sonserino olhava, mas não encontrou ninguém atrás e de seu lado esquerdo estava Neville Longbotton e do seu direito, Rony Weasley. Voltou a olhar ao sonserino, com confusão, pois julgava que Malfoy nunca prestaria tanta atenção em nenhum deles, mas o que encontrou, foi o perfil aristocrático, e um falso sorriso que ele dispensava a Pansy Parkinson, numa conversa qualquer.
Sentiu-se decepcionado. Mais do que deveria e repentinamente perdeu a fome que já não era a mesma, depois dessa confusão toda.
- Harry levanta, é aula do Snape agora – Rony o trouxe de volta à sua cruel realidade. Teria aula com a Sonserina.
Sem ânimo, pegou suas coisas e seguiu arrastando os pés até as masmorras. Lugar já tão familiar por suas espionagens por aqueles lados, que conseguiria andar por ali de olhos fechados.
Ia entrar na sala de aula, quando alguém o prensou no batente da porta. Ergueu os olhos e se deparou com Malfoy. Estavam encostados, ombro com ombro e suas mãos quase se tocaram.
Engoliu em seco e seu rosto começou a esquentar, certamente tomando uma coloração avermelhada.
- Preciso falar com você depois do jantar, no mesmo lugar que você se esconde.
Foi tudo que Malfoy pronunciou, para logo em seguida se separarem e se encaminhar ao lado da sala pertencente a Sonserina, deixando um Potter perdido no mesmo lugar, e só então, notando que ficara encarando-o e não fizera mais nada além de corar.
Se Malfoy percebeu seu estranho comportamento, nunca saberia pela total naturalidade arrogante pela qual o tratou. O fato de ter praticamente ordenado e não esperado uma resposta, passou completamente despercebido por Harry.
- Ele quer falar comigo – pensou alarmado.
"Isso não é nada bom..." – ponderou sua consciência. "É certo de que é por causa de Susan Bones".
- Talvez ele queira conversar de outra coisa... – tentou aplacar a agonia de voltar a se envolver nesse rolo e sofrer depois.
"Claro, te chamou para discutirem e te xingar devidamente longe de olhares de terceiros. Rapaz educado ele...".
Grunhiu ao pensar isso. Pelo jeito, Susan e Malfoy tinham tudo para namorar e isso aconteceria por intermédio seu.
- Você está bem Harry? – Hermione o tocou na mão, preocupada.
- Claro... – sorriu sem vontade. – É essa aula, você sabe.
A amiga fez que sim com a cabeça, mas no fundo, sabia que não era, e ele já estava assim fazia alguns dias, mas optou por deixá-lo em paz, se não queria conversar.
Harry passou o restante da aula pensando e detestando ter aceitado ajudar a LufaLufa. Afinal, o que aquela menina tinha? Ela era melodramática e chorona demais. E não era grande coisa assim. E nem tão bonita, digna de namorar Malfoy. Sempre imaginou alguém perfeito ao lado do sonserino loiro. Uma miss universo de proporções harmoniosas, rosto delicado e bonito como o de Malfoy, fora a elegância e outras tantas qualidades que tinha certeza, o sonserino buscava para ser sua cara-metade. E Susan, por Merlin, não era a melhor indicada. Muito menos Pansy, que nesse exato momento se enroscava ao braço de Malfoy e sorria.
Colocou seu olhar em branco. Sim, estava contando os defeitos de Bones, que maravilha. E apontando em exagero, pois ela não era tudo isso que acabou de pensar. Assim como acabou de avaliar o físico e os modos de Parkinson. Desde quando Harry Potter se importava com aparência e modos? Pra começar, seria o último a ter o direito de criticar, considerando que era ridículo e sem um pingo de classe.
Essa observação de si mesmo também doeu. Para Malfoy teria que ser uma pessoa perfeita e extremamente bonita, então, não estava na lista. Como se ser um rapaz era o de menos.
Outra crise o dominou e sem se importar com nada, deixou a cabeça tombar sobre a mesa num baque. Estava começando a se odiar.
- Senhor Potter! Se não quer prestar atenção em minha aula, pode... – Snape parou o que dizia ao notar que o rapaz não estava nada bem. Teve pena, pois realmente ele estava péssimo. Suspirou e deu as costas ao moribundo, voltando a percorrer a sala.
Harry ficara do mesmo jeito, sem erguer a cabeça e parecia não ter sequer notado a tentativa de repreensão do professor, muito menos, a desistência em atormenta-lo e tirar pontos de sua Casa. Só foi se mover, ao término da aula, através da insistência de seus melhores amigos em despertá-lo de seu transe mental.
Sentado no banco, Harry olhou para o céu. Uma noite limpa e cheia de estrelas cobria sua cabeça. Seria uma noite bonita e confortante, se não fosse falar com Malfoy a qualquer momento.
Tremeu, só de pensar nisso. Estar mais uma vez acerca dele e olhando em seus olhos... Nunca olhar nos olhos dele fora tão bom e ruim ao mesmo tempo.
Ele tinha olhos bonitos e uma boca delicada.
Corou ao imaginar-se beijando aquela boca enquanto se perdia em seu olhar.
Nesse momento Malfoy resolveu aparecer, para trazer sua imagem em carne e osso diante se seus olhos. Quis se atirar a ele, mas se conteve e agradeceu por estar de noite e as sombras cobriam sua face rosada.
Malfoy o olhava com certa surpresa.
- O que... – Harry tossiu, tentando afugentar o nervosismo e ser firme ao falar. – O que você queria?
- Cheguei a pensar que não viria – Malfoy esclareceu o motivo de sua curta surpresa. – Não tinha porque vir.
Era verdade, e ao menos cogitou isso, como faria se fosse antes. – Bem, mas estou aqui certo?
Deixando esse assunto de lado, o sonserino retirou o bilhete de sua roupa e o entregou a Harry.
- Aqui. Entregue este recado à tal pessoa que me mandou as cartas e os regalos.
Harry ficou pálido e pegou o bilhete mecanicamente.
- Não! Não! Ele não pode estar interessado em Susan Bones! – gritava em sua mente.
A garota desmaiaria de felicidade ao saber disso. E lá estava ele de volta ao rolo. Sendo o entregador oficial do casal.
Seus olhos voltaram ao rosto do sonserino e com custo, concordou num curto movimento de cabeça. – Claro... Entrego sim.
- Certo. Qualquer coisa, eu fico perto do lago, nos intervalos - Malfoy colocou as mãos nos bolsos e partiu.
Harry não moveu um músculo até ter certeza de que estava sozinho. Quando tudo ficou silencioso, caiu de joelhos apoiando os braços cruzados sobre o banco e enterrando o rosto entre eles, gritou de frustração.
O que tinha na cabeça ao pegar o bilhete? Era só dizer um não. Acabou. Estou fora. Sinto muito, mas não estou mais nisso. Ou simplesmente dito quem era a tal pessoa.
O papel em seus dedos parecia queimar. Ergueu a cabeça para poder ver o pergaminho lacrado. Foi pego de surpresa e era Malfoy quem lhe pediu.
- Lá vamos nós outra vez, Harry Potter! Tudo por uma boa ação – riu de lado, com desprezo, parando pela primeira vez, para pensar em Susan e Malfoy juntos. Eles formavam um bonito casal, tinha que admitir. – Harry... Você é um idiota ao quadrado!
Ergueu-se e recolheu suas coisas, seguindo diretamente à Torre da Grifinória. Daria um jeito de entregar aquele bilhete ao seu destino.
Pela sua sorte, no caminho, trombou em Bones num dos corredores.
- Harry! Sinto muito, não o vi.
- Maldita garota simpática! Porque tem que sorrir assim e ser tão gentil? – praguejou ao sentir a velha conhecida vontade de ver a todos felizes, custe o que custar.
- Não foi nada... – sorriu. – Ainda bem que te encontrei.
- Queria falar comigo? – ela piscou os olhos, com curiosidade.
- Sim... – olhou ao redor, notando estarem apenas os dois. – Malfoy mandou-lhe uma resposta, eu acho.
Com cuidado, pegou o bilhete e estendeu na direção de Susan. A garota ficou pálida, olhos arregalados e começou a tremer tanto, que pensou que ela fosse ter um ataque.
- Oh! Merlin! – ela sussurrou com desespero, afastando-se da mão de Harry, que lhe entregava o papel.
Harry ficou surpreso pela reação dela. Ao invés de estar feliz, ela parecia com medo. – O que foi? Ele mandou uma resposta, quer dizer que leu e se interessou por suas cartas.
- Leia primeiro Harry, por favor – ela implorou. – Se ele estiver me xingando ou caçoando do que escrevi, gostaria de ser você a me dizer, e não eu pessoalmente a ler.
- Tem certeza? E se tem algo pessoal demais? – ficou um pouco corado, pois quem não ia gostar muito era ele.
- Não importa. Leia! – ela garantiu.
Harry rompeu o lacre e abriu o bilhete. Apenas uma frase em caligrafia bonita e a assinatura de Malfoy. Nunca tivera a oportunidade de apreciar a letra do sonserino, e ela era muito trabalhada e harmoniosa. Depois de apreciar a escrita, foi que leu propriamente o que dizia.
- Conseguiu minha atenção. Espero conhecer-te em breve. Assinado DM – soletrou cada palavra e ficou sem cor.
Enquanto Susan abria um largo e irradiante sorriso, Harry se afundava na escuridão da decepção e da amargura.
Não sabia o que a lufaniana havia escrito, mas pelo jeito, encantou o sonserino. Se eles se encontrassem para se conhecerem pessoalmente, pra namorar seria só mais um passo. E Susan era meiga, simpática e bonita. Com certeza, namorariam.
- Eu vou falar com ele! – ela deu pulinhos e bateu palmas de contentamento.
- Não! – Harry gritou de repente que chegou a se assustar junto com Bones.
- Não? – ela ficou confusa.
- Ele é um sonserino... E... Sonserinos, você sabe... – gaguejou.
- Saber? – ela pareceu ainda mais confusa. – Não sei... O que tem os sonserinos?
- Eles gostam de mistério... E... Bem... Seja misteriosa e intrigante, ele vai ficar ainda mais curioso e preso em querer te conhecer – sorriu com desgosto.
Susan voltou a sorrir e segurando as duas mãos de Harry o beijou no rosto. – Tem razão Harry! Você é um gênio! Vou fazer o que me disse. Escreverei outra carta e farei com que ele adivinhe quem sou eu!
O grifinório apenas simulou mais um sorriso, e no fundo, sabia exatamente onde ele ia parar nessa história toda.
Depois de um tempo sem falar com o grifinório, Malfoy estava crendo que a garota desistiu. O que era uma afronta para sua pessoa. Ninguém jamais desistia assim, de Draco Malfoy.
Estava deitado no gramado, perto do lago, e lia seu livro de romance sem muito interesse, pois sua mente estava nessa misteriosa garota. E se ela estivesse apenas brincando com ele? E se fosse uma peça feita por Potter e a sangue-ruim?
Havia decidido. Falaria com Potter e colocava tudo a pratos limpos e o azararia até o último fio de cabelo, se fosse uma zoeira daquele trio.
Ia se levantar, quando a figura do moreno apareceu em seu campo de visão e se aproximava devagar. Resolveu por esperar e saber o que aconteceu, ao invés de tomar satisfações de cara.
Quando Harry parou a alguns passos de distância de Draco, não sabia se seu coração disparara ou parara de bater. O loiro ficava lindo sob os raios do sol, a franja a cair-lhe pela testa e o corpo jogado no gramado.
- Finalmente – Malfoy quebrou o silêncio e a contemplação do grifinório.
- Desculpe... – se ajoelhou ao lado do sonserino, um pouco receoso em ser expulso, mas Malfoy nada fez, apenas se sentou para ficar da sua altura e encara-lo nos olhos.
- Então, quando iremos nos conhecer? – foi direto ao assunto.
- Bem... Ela não quer conhece-lo ainda – Malfoy ergueu uma sobrancelha. – Digamos que ela quer jogar um pouco.
Um sorriso brincou na boca do sonserino enquanto ele desviava os olhos até o lago. – Isso ficou mais interessante... Então ela quer jogar?
- Quer que você descubra quem é ela...
- Certo, descobrirei quem ela é – seus olhos voltaram a encarar os olhos de Harry, que prendeu a respiração ao notar o azul de suas pupilas a se misturar com prata que brilhava ainda mais, pelo sol.
Potter retirou da roupa outra carta e entregou ao sonserino, este a segurou dando uma olhada na cor do papel – rosado.
Fez uma cara de desgosto ao abrir a carta e constatar o mesmo versinho patético. O grifinório estava para se levantar e ir embora, quando teve o pulso segurado pela mão pálida. Levou outro choque e tremeu, encarando o sonserino como se ele fosse mata-lo. Piscou algumas vezes tentando relaxar e se manter indiferente ao toque que chegava a queimar sua pele.
- Espere um momento. Você estava me enviando cartas de uma única pessoa? – inquiriu desconfiado.
- Claro – balbuciou com medo. Muito medo.
Devia saber que o sonserino desconfiaria, afinal, não era bobo, muito pelo contrário.
Malfoy pareceu pensar um pouco, sem se dar conta que ainda mantinha a mão ao pulso de Potter. – Como ela quer jogar, farei o jogo dela. – e sorriu. – Quero que ela me convença que gosta mesmo de mim.
- Mas como?
- Não sei... Ela deve ficar me observando não? Então sabe o que me agrada e o que me desagrada... E isso – sacudiu a carta de Susan – Realmente me desagrada, prefiro que ela me mande cartas como da última vez e não isto.
Sem mais dizeres, Malfoy jogou ao grifinório a carta da lufganiana, levantou-se, recolheu suas coisas e antes de ir, lançou mais um olhar em Potter, que ficara parado o olhando.
- Me procure assim que tiver uma resposta, caso contrário, ela não passa de mais uma tonta.
Harry ficou mudo vendo-o se distanciar. Susan estava ferrada, pelo jeito o sonserino era exigente demais. Teria que dar uma mãozinha à ela, pois era ele quem sabia de tudo que Malfoy gostava.
Olhou ao redor. Era um lugar calmo e gostoso de se ficar. Malfoy tinha bom gosto em tudo, desde roupas até escolhas de lugares.
Com um longo suspiro, de coração já acalmado, pegou pergaminho, pena e tinteiro.
- Vamos ao trabalho.
Passou a tarde naquele mesmo lugar, escrevendo outra carta para Malfoy. Leu e corrigiu algumas coisas até que refez o feitiço de cópia de caligrafia, para não haver dúvidas.
Quando a tarde estava sendo substituída pela noite, regressou ao castelo para o jantar. Ao entrar no Salão Principal, sentiu o olhar do sonserino em cima de si, o acompanhando até que se sentasse em seu lugar, no meio de Neville e Rony. Tentou não olha-lo, mas seus olhos se ergueram e se encontraram aos do loiro.
Sempre quando isso acontecia, o mundo ao seu redor deixava de existir, assim como o tempo parava.
O toque de recolher foi dado e todos os alunos esvaziaram os corredores. Harry estava a fazer o mesmo, quando uma mão saiu de detrás de uma tapeçaria num dos corredores, e o puxou para dentro de uma sala oculta. Nem teve tempo de reagir.
- Shiiii – sussurrou uma voz, tão baixa que mal podia identifica-la, mas seu corpo reagiu com a proximidade e seu peito deu um salto ao reconhecer o perfume do sonserino. Aquele que tão bem lhe entorpecia os sentido. Com certeza era Malfoy.
- Está louco Malfoy? – sussurrou.
- Como sabe que sou eu? Não tem luz alguma aqui – retrucou um pouco irritado de não tê-lo assustado como queria.
- Intuição grifinoriana... – desconversou rapidamente, estaria perdido se Malfoy descobrisse que ficava sentindo seu perfume sempre que se cruzavam pelos corredores ou em aula.
- Sei, mas isso não vem ao caso agora. Então? Ela já deu uma resposta? – foi direto ao assunto.
Harry ficou um pouco perturbado com esse interesse todo pela garota. Nunca Malfoy foi de perder tempo com cartinha de amor ridículas ou admiradoras secretas, mas pelo jeito, Susan estava tendo sorte.
- Ela te mandou outra carta – ia pegá-la de seu bolso, quando o loiro o interrompeu.
- Aqui não. Venha comigo.
Sem esperar por resposta, Malfoy segurou ao braço de Potter, deixaram o esconderijo precário e o conduziu sorrateiro pelos corredores, parando diante um quadro qualquer.
- Preste atenção na senha, toda vez que precisa me encontrar, venha por aqui.
Harry fez que sim com a cabeça, estava desesperado demais com a proximidade de seus corpos e a voz suave e levemente rouca do sonserino, que era impossível de concordar em palavras. Mais um pouco tombava ali mesmo, no corredor.
- Sangue de serpente – o sonserino murmurou o suficiente para que o grifinório a seu lado ouvisse.
O quadro se abriu, desvendando uma passagem secreta em forma de um corredor estreito que apenas cabia uma pessoa de cada vez. Malfoy seguiu na frente enquanto Potter o acompanhou logo atrás. O caminho que percorreram era um pouco longo, e quando uma claridade pegou em cheio em seus olhos, teve de se proteger com o braço.
Depois de se acostumar com a luz, Harry piscou e olhou ao redor, ficando surpreso. Estavam no quarto do sonserino. Olhou atrás de si, e notou que saíram detrás da lareira.
Voltou a olhar ao redor, matando a saudade de estar ali e inspirando a plenos pulmões, o cheiro de Malfoy, que impregnava todo o ambiente.
- Este é meu quarto, fique à vontade.
Harry sorriu e caminhou pelo meio do aposento, olhando tudo em seu estado normal. Era bem diferente do que quando em forma de aranha.
- Todos os sonserinos tem passagens secretas em seus quartos?
- Creio eu que em toda Hogwarts existam passagens como esta. A minha, eu descobri por acaso.
Harry olhou a Malfoy, para prestar atenção no que dizia, e o notou procurando algo.
- Perdeu alguma coisa? Gostaria de ajuda? – se ofereceu sem pensar, depois que teve o olhar desconfiado do sonserino sobre seu rosto, foi que notou o estranho que pareceu. Nunca Harry Potter se ofereceria em ajudar Draco Malfoy.
- Acho que você deveria freqüentar a enfermaria mais vezes Potter... – caçoou o loiro. – Está estranho. Por acaso bateu com a cabeça?
- Olha Malfoy, só estava querendo ser social – se fez de irritado, mesmo não estando nem um pouco.
- Claro, claro... – deu de ombros, voltando a olhar ao redor do quarto.
- E então? Quer ajuda ou não? – Harry perguntou nervoso, preste a roer as unhas.
- Minha aranha sumiu, apenas isso. Satisfeito? – o encarou atravessado.
Uma emoção cruzou o corpo de Harry, pelo menos fazia falta a Malfoy, mesmo que em forma de aranha. Não imaginava que o sonserino fosse sentir tanta falta de uma estúpida aranha, mas pelo modo que ele vasculhava os cantos onde Harry-Aranha ficava, mostrava o contrário.
- Você tinha... Uma aranha? – tentou camuflar o sorriso de alegria que o dominava ao descobrir que fazia certa diferença na vida do loiro.
Draco sentou na cama e o olhou com desprezo. – Melhor que ter um sapo como seu amigo grifinório.
- Neville é uma boa pessoa e um sapo é menos perigoso que uma aranha, Malfoy – suspirou. Não queria discutir com ele.
- Sempre grifinórios... – reclamou em tom baixo. – Esquece isso. Estamos aqui por outro motivo.
Harry engoliu em seco. Havia se esquecido da carta. Voltou a ficar tenso e a retirou do bolso com receio. Talvez fosse melhor não ter escrito ela e tentado falar com Susan, mas já era tarde. Estendeu a carta para o sonserino, que a colheu rapidamente e a deslacrou para saber o conteúdo.
- Posso ir agora? – não queria sair dali, e ao mesmo tempo necessitava manter o máximo de distância do loiro.
- Ainda não, vou escrever a resposta e você já leva consigo – fez um gesto com a mão, para que se sentasse em qualquer lugar enquanto mantinha a atenção na escrita.
Harry sorriu de leve, ver o rosto de Malfoy iluminado com ansiedade e seus modos que se podiam comparar a um garoto ansioso para descobrir o seu presente de Natal, era simplesmente encantador. Com cuidado se aproximou do loiro e se sentou na cama, o olhando e tendo a oportunidade de estar mais perto dele.
Draco releu mais uma vez:
x
Malfoy,
De que me adianta a noite, repleta de estrelas,
Se não posso contemplar o brilho de teus olhos...
De que me adianta o sol a dispensar vida,
Se não posso sentir a maciez de teu cabelo...
De que me adianta o som da música mais harmoniosa,
Se não posso ouvir os teus murmúrios...
De que me adianta a estação do verão,
Se não posso aquecer-me com tua presença...
São pesares que me aflige a alma,
Por saber que estás tão perto,
Ao mesmo tempo inalcançável...
Quero perder-me em teu olhar,
Enroscar-me em teus cabelos,
Ouvir palavras doces de teus lábios,
E sentir o calor de teu corpo...
Quero pertencer-te eternamente...
Quero ter-te eternamente...
Basta um único chamado que virei a teu encontro,
Basta um único olhar, que me entregarei em teu conforto,
Basta apenas... Você querer...
Que te serei inteiramente...
Amor...
"Desvenda-me"
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Enquanto lia, o rosto de Draco foi se iluminando ainda mais. Era maravilhoso saber que despertava tanto em uma pessoa.
Harry acompanhava a mudança em seu semblante, sentindo algo mais quente e confortante dentro do peito. Aquela sensação de ser aceito começou a domina-lo e queria dizer-lhe mais, muito mais. Dizer-lhe tudo que sentia e que desejava, até se lembrar que não era ele Harry Potter quem escreveu aquela carta, e sim Susan Bones.
Depois da euforia e da satisfação, veio o golpe cruel da frustração e da perda. Voltou a se sentir miserável, enquanto via Malfoy rabiscar alguma coisa num pergaminho. Desviou os olhos para o chão, e assim permaneceu até que o sonserino lhe estendeu a carta lacrada.
- Aqui está – Malfoy sorriu. – Ah, espere.
Com um movimento se levantou da cama e alcançou a lareira de onde pegou sobre ela uma caixinha. Ao fazer isso, derrubou seu livro que caiu no fogo da lareira acesa, para dar mais calor à fria masmorra onde dormia.
- Droga! – tentou segurar, mas foi tarde, apenas pôde ver o livro se consumindo e virando cinzas. – Não conseguirei outro exemplar até retornar pra casa... – lamentou-se consigo mesmo.
Ver a decepção no rosto de Malfoy foi cruel demais para Potter. Querendo vê-lo sorrir como antes, se aproximou e tirando de sua capa, o livro que comprara e que andava com ele, para ler quando podia, estendeu ao sonserino.
- Fique com o meu.
Draco olhou ao livro que estava na mão do grifinório e se surpreendeu por ser o mesmo que o que lia. The Notebook de Nicholas Sparks.
- Você também gosta dessa história?
- Sim, comecei a ler e ainda não terminei. Mas não tem problema, pode ficar com o livro – sorriu envergonhado. Se Malfoy soubesse como foi gostar dessa história...
- E por que está fazendo isso? – o inquiriu desconfiado.
- Porque... – pensou rápido. – Porque você não é como pensei que fosse. Estamos nos dando bem nesses dias, em comparação aos anos anteriores.
Malfoy ficou encarando o livro por um tempo. Harry estava quase desistindo do que fez, decepcionado que o loiro não confiava nele, quando este lhe lançou um olhar acompanhado de um leve sorriso.
- Em que parte você parou? – Malfoy perguntou com interesse.
- Ahn... Vou começar o capítulo três, O Encontro – disse corando.
- Eu estava no capítulo quatro, não faz muita diferença. Faremos o seguinte, vamos ler juntos o que acha?
- Co-como? – abriu bem os olhos. Seria possível que ouvira direito?
Draco olhou às horas e ainda era cedo para dormir. – Está decidido. Venha, sente-se comigo aqui na cama.
Obedecendo, Harry acompanhou o loiro e ambos se acomodaram na cama. O ambiente pareceu mais quente e sufocante para o grifinório. Estar ta perto do sonserino não era o que imaginava para essa noite.
- Eu leio?
- Leia do capítulo três, em que você parou.
Harry sorriu. Abriu o livro e começou a ler em voz alta, enquanto Draco se aconchegava nos travesseiros, olhos presos em seu rosto enquanto ouvia a história.
Foi a melhor noite que passara em sua vida, até então. Bem mais gratificante das que passava na companhia dos colegas de Casa. Mesmo o quarto do sonserino sendo escuro e um pouco sinistro pelas sombras, era perfeito e acolhedor. Sentia-se muito bem ali, principalmente em sua companhia.
Quando terminou de ler o capítulo inteiro, e ia entrar no quarto, achou melhor deixar para depois e marcou a página para serrar o livro.
- Não vai continuar? – Malfoy estava deitado ao seu lado, o rosto virado para poder vê-lo. Apoiava a cabeça num dos braços.
- Eu preciso voltar agora, está ficando tarde... Depois continuamos.
- Está bem.
Ambos se levantaram da cama, Harry para regressar à sua Torre e Malfoy, bem, não sabia o porque dele ter levantado da cama, até que abrisse a passagem secreta e o conduzir de volta ao corredor externo.
Antes de passar pelo retrato, hesitou um pouco.
- Foi gostoso passar o tempo lendo com você... – sussurrou sem saber ao certo o que dizer.
- Eu sei. Agora venha – com cuidado o loiro abriu a tapeçaria e espiou pela fresta. Não havia ninguém passando.
Com um gesto de cabeça, ambos saíram do esconderijo e seguiram pelo corredor, em total silêncio.
Harry se colou em Malfoy, um pouco envergonhado, mas não teve escolha.
- Não precisa me acompanhar, sigo sozinho daqui... – sussurrou perto do ouvido do sonserino.
- Te deixarei perto de sua Torre – afirmou.
Uma nova onda de alegria e satisfação dominou os sentidos de Harry. Dessa vez, não conseguia parar de sorrir.
Enquanto andavam, olhou à mão delgada de Malfoy, e desejou ardentemente segura-la para caminharem de mãos dadas. Chegou perto em tocarem-se os dedos, mas fechou a mão e a regressou de volta a si.
Não podia...
Entraram no Salão Principal, e estava quase cruzando o espaço até a porta que levava às escadas móveis, quando um silvo de alegria contida foi ouvido pelos dois rapazes.
- Garoto bonito veio hoje!
Harry ficou chocado – era a Murta-Maldita. De impulso, se encostou a Malfoy, segurando em seu braço, como se a morta fosse seqüestra-lo.
- Hoje não... – Draco sussurrou com irritação. – Amanhã.
- Faz uma mágica para mim! Faz! – pediu batendo palmas.
- Já disse que hoje não! – reclamou. Segurou ao pulso de Potter e o arrastou pra fora do Salão Principal, largando a Murta triste e chorando.
Harry sorriu um pouco ao ser arrastado daquela forma, mas não podia se iludir. Não sabia se era uma boa hora, então resolveu por deixar para perguntar sobre a Murta-Tonta-Boba um outro dia.
Pararam perto das escadas móveis.
- Pronto – Draco foi voltar pelo mesmo caminho.
- Espere... – Harry deu com a língua nos dentes. E agora? Malfoy esperava, o olhando diretamente nos olhos, as mãos nos bolsos da calça e o cabelo a cair-lhe pelos olhos. – Amanhã também marcamos de ler?
- Pode ser, já sabe a senha – ia ir, quando se deteve. - Antes que eu me esqueça – Draco entregou a caixinha que pegara sobre a lareira. – É para essa pessoa misteriosa.
Potter concordou com a cabeça e se despediu num inaudível boa noite.
Regressou ao seu dormitório, assim como Malfoy retornou ao seu quarto.
Com um sorriso abobado a brincar em seus lábios, Harry deixou cair em sua cama e num longo suspiro espero o sono vir, lembrando-se das gostosas sensações desse dia. Não demorou muito para adormecer.
No dia seguinte Harry amanheceu alegre, o que surpreendeu Rony e Hermione. Não comentou o que aconteceu, para mudar tanto de humor, assim como não queria pensar que estava ansioso para que chegasse a noite logo, e pudesse estar na companhia de Malfoy.
Seria que conseguiu uma amizade com ele? Queria mais que amizade, mas sabia que era impossível.
Quando foi o intervalo, se despistou dos amigos e se refugiou em seu recanto preferido do jardim. Acomodou-se no banco e pegou a carta que o sonserino havia lhe confiado para que entregasse a Susan.
O que continha escrito? Era uma resposta à sua carta e não à de Susan. Estava decidido.
Sem esperar muito, rompeu o lacre e abriu o pergaminho. Afinal, teria que responder apropriadamente, coisa que duvidava que a lufaniana conseguiria fazer.
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"À você,
Não sei como me referir a alguém tão misteriosa, suas palavras me foram gratificantes e me vi sorrindo sozinho.
Devo admitir que você me intriga e estou louco por saber o que mais esconde em sua alma.
Se sou mais importante que as estrelas, o sol, as estações...
Tenha certeza que se acontecer, te adornarei o mundo com tudo isso e muito mais.
Decifro-te como um ser que sangra, que sente e que inspira.
Uma pessoa que se preocupa com o que a outra sente e principalmente, em como amar...
A paixão com a qual me escreve é pura e intensa,
Quase palpável, porém,
Triste como se fosse uma perda...
Sente-se triste?
Poderia eu, simples morta, aplacar os seus temores?
Colher suas lágrimas e semear com elas uma flor da alegria?
Aceite meu presente como uma forma de dar-te um pouco mais de felicidade,
Mesmo que passageira...
Com sinceridade, DM".
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Harry sorriu ainda mais, encantado com as palavras do sonserino. Malfoy realmente tinha tato e sabia como encher o coração dos outros, inclusive quando dentro desses corações, só existia Draco Malfoy pulsando forte. Olhou à caixinha que trazia junto da caixa e a abriu.
Um jato de luz foi libertado quando a tampa foi aberta e esta luz alcançou o céu como um facho brilhante. Em seu caminho, deixou vestígios de estrelas e um aroma gostoso de almíscar. Quando a luz se findou, da última fagulha nasceu uma borboleta transparente como cristal, que voando travessa, regressou até o grifinório surpreso e fascinado pela visão que daquela magia tão peculiar, e pousou-lhe sobre a mão.
A borboleta tinha luz própria e brilhava branca e azulada.
Estava tão fascinado que esqueceu que era para Susan Bones, quando se lembrou, ficou pálido. Pegou com cuidado a delicada borboleta e a guardou de volta à caixa, serrando a tampa.
- Céus... Será que volta ao início? – estava ficando preocupado. Testou, abrindo novamente a tampa, mas nada saiu, apenas a borboleta se mantinha ali. Ela agitou as asas e voou para pousar novamente em sua mão.
Perdera-se o encanto inicial, apenas restando o adorno como bela lembrança do que sentiu. Malfoy tinha razão e conseguiu alegra-lo tão profundamente, que mesmo após o término da magia, a lembrança daquela sensação ficara gravada em seu peito.
Não tinha como dar à Susan. Ficaria com o presente e o guardaria com todo cuidado e carinho. Talvez a única coisa que teria de Malfoy.
Voltou sua atenção à carta, era hora de colocar seus sentimentos em papel e dar ao sonserino.
Dessa forma, o que parecia impossível aos olhos dos outros, começou uma amizade entre os dois rapazes.
Potter se empenhava em escrever as cartas, usando seus sentimentos verdadeiros e em momento algum, pensou que causaria problema para Susan ou para si mesmo.
Quando anoitecia ia ao quarto do sonserino, através da passagem secreta e ele parecia esperar sua chegada, ou talvez assim queria seus anseios.
- Malfoy... Porque a Murta fica te esperando no Salão Principal? – perguntou certa vez, quando teve oportunidade, após terminar o capítulo seis do livro. Draco o acompanhava até às escadas móveis, quando não tinha a capa de invisibilidade em mãos, e sempre quando cruzavam o Grande Salão, a Murta os paravam apenas para sorrir ao sonserino ou dizer alguma coisa que Potter em sua maioria, não gostava.
Draco repousou a cabeça no travesseiro e pensou numa resposta. – Creio que tenha começado no final do ano passado...
Harry se acomodou ao lado do loiro, deitado e aconchegado com a cabeça apoiada numa mão, para mantê-la suspensa enquanto ouvia o relato intrigante da questão Murta-Maldita.
- A Sonserina havia perdido o jogo contra os desgraçados e altamente burros grifinórios – sorriu e se protegeu, quando Harry tentou agredi-lo por brincadeira. – Me deixa terminar?
- À vontade... – Potter voltou a sua postura anterior, admirando-o enquanto falava.
- Como eu ia dizendo. Eu andava pelas galerias perto do banheiro onde a pobre alma reside – fez gestos dramáticos, para enfatizar as palavras, o que levou ao moreno rir ainda mais. – E sabe o que eu ouvi?
- O que? – Potter arregalou os olhos.
- Uma conversa. A Murta estava conversando sobre a vida... – deixou os olhos em branco, enquanto se lembrava. – Ela falava com uma boneca velha, feita de pano. Contava a ela que não tinha amigos e que nunca mais conseguiu sair do castelo. Nem se lembrava mais de sua família ou em como era sentir a grama roçando os pés.
Draco silenciou-se, ainda mantendo o olhar no vazio. Harry não sorria mais, e sim, se comovia pela Murta e admirava ainda mais o loiro.
- Nunca tive irmãos e meus pais são ausentes... Todos sabem disso – deu de ombros. – Mas vê-la sozinha, falando com um trapo velho que alguma garotinha do primeiro ano jogou fora, sabe-se lá em que época e contando seus sonhos de ser humano... Sonhos de criança... – dessa vez o olhar prateado tomou foco ao rosto de Potter. – Ela morreu criança, antes de aprender as coisas, nem magia sabia fazer direito. Fiquei sentido e propus mostrar magia e trazer algumas coisas do mundo lá fora que ela tenha saudade de ver.
- Foi por isso que naquele dia você colhia flores? – Harry voltou a sorrir de leve, ao lembrar-se.
- Sim... – Draco empinou o queixo em desafio. – Não tenho um coração de pedra, Potter.
- Draco Malfoy tem sentimento! – Harry brincou apavoramento, mas no fundo, nunca duvidou disso.
- Claro que tenho! Eu sinto ódio, raiva, repulsa por um certo Testa Rachada.
Harry voltou a tentar fazer cócegas em Malfoy que ria e se defendia para depois tentar revidar.
Por todos os deuses! Ele era incrível e extremamente lindo!
Seus rostos quase se tocaram, conseguiu sentir a respiração quente do sonserino, então afastou. Era hora de ir dormir, pois estava ficando tarde. Não queria estragar essa conquista, cometendo alguma bobagem sem volta.
- Preciso ir...
Draco apenas concordou com a cabeça.
Saíram do quarto do sonserino pelo mesmo lugar de costume e cruzaram o castelo em silêncio, até que Malfoy, antes de se despedirem e retornar, resolveu perguntar:
- Potter, não tem como dizer quem é essa pessoa?
- Sinto muito, mas não posso – tremeu inteiro.
Apenas com o pensamento de que Malfoy estava realmente interessado nessa pessoa, o fazia querer chorar de desgosto. Sempre o loiro perguntava, e sempre se mostrava diferente, como se realmente fosse trata-la de modo especial e levaria um relacionamento a sério.
- Sabe, sinto que estou gostando dessa pessoa misteriosa – comentou.
- Mesmo sem conhece-la? E se ela for feia, burra ou outra coisa pior? - tipo do sexo masculino, quis complementar, mas mordeu a língua para não escapulir suspeitas.
- Não importa. Eu digo pelo sentimento e não pela aparência. Gosto do que ela escreve – Draco deu de ombros, colocou as mãos nos bolsos da calça, como era o seu costume. – Além do quê, já estou quase descobrindo quem é ela...
Malfoy abriu um largo sorriso de vitória, ao notar a cara de incredulidade e espanto do grifinório.
- Como assim? É meio difícil saber, pois sou completamente discreto e sigiloso – ficou um pouco desesperado.
- Não percebeu que ela tem uma característica que sempre é mostrada? Te vejo amanhã, para terminar o livro.
A caligrafia! Potter quis bater-se, enquanto Malfoy sumia pelo corredor. Não contara nada do progresso para Susan, ela nem sabia que estava respondendo as cartas do sonserino por ela e as dela, guardava todas, sem entrega-las.
- Harry, você está ferrado! – xingou a si mesmo.
Nessa noite, não dormiu.
Na manhã seguinte, o grifinório correu para encontrar Susan, teria que contar a ela o que fez, para ajuda-la.
Era um hipócrita! No começo estava fazendo isso para ajuda-la, mas depois, passou a fazer por si mesmo.
Estaria tudo perdido! Por sua idiotice, perderia a amizade meio reclusa dos olhares dos outros, que conseguiu com Malfoy. Magoaria Susan Bones, magoaria Draco Malfoy, estragaria tudo! Precisava corrigir o que fizera por egoísmo.
Cruzou o Salão Principal e rompeu no jardim, onde haviam lhe dito que viram a garota. Deu a volta por boa parte do castelo, e foi encontra-la perto do lago.
Parou como que em choque, ficou pálido e tremeu toda base de corpo. Malfoy falava com Bones, debaixo da sombra de uma árvore florida. Olhando-os juntos, conversando e sorrindo, via-se como formavam um belo casal.
Não soube classificar o que sentia naquele momento, nem em como as lágrimas brotaram em seus olhos e transbordaram por sua face, pingando em seus materiais.
Susan sorria tomada de felicidade. Draco sorria encantado em descobrir a pessoa misteriosa e que tomou parte de seu coração.
E tudo por causa das mãos e do sentimento que um rapaz de tristes olhos verdes, carregava no peito.
Harry regressou os passos, deu as costas ao casal enamorado e se abandonou no vazio que começou a golfa-lo por dentro.
Vazio.
Nos poucos dias que conversara com Malfoy, bastou para multiplicar seus sentimentos e intensifica-los a ponto de querer considera-lo seu.
Como o amor fazia as pessoas se iludirem e ao mesmo tempo se conformarem. Mesmo estando sofrendo, se sentia feliz pela felicidade dos outros, pela felicidade de Malfoy, se ele encontrasse nela, o que buscava.
E era isso que importava, a felicidade de quem se ama...
Não houve mais leitura noturna, nem conversas casuais. Não houve mais cartas de amor, nem trocas de presentes...
Os dias que passaram, trocou poucas palavras com o sonserino, e encheu-se de fel ao vê-lo namorando oficialmente Susan Bones.
Nos dias que se passaram, a garota se esqueceu que Harry Potter existia. Só foi se recordar, quando o encurralou perto do retrato da Mulher Gorda.
- Olá Potter – ela parecia outra pessoa, viva e sorridente, como se ganhara um reino inteiro.
- Susan... – Harry sorriu sem vontade.
- Eu soube o que você fez por mim, escrevendo cartas em meu lugar – estranhamente, notou desprezo camuflado em suas palavras. – Não se preocupe, confirmei para meu Dragão que fui eu quem escreveu cada linha.
- Desculpe ter tomado essa decisão sem perguntar o que-
- Esquece Potter, consegui o que quero, estou feliz – ela sorriu com superioridade. – Vim pegar as cartas do Draco que estão com você. Elas me pertencem, afinal, fui eu quem as recebeu e respondeu...
Susan estendeu a mão e aguardou impaciente.
- Irei busca-las – Harry entrou em sua Sala Comunal, odiando-se. Subiu as escadas e bateu a porta do dormitório. Ela estava odiando-o pelo que fez... Talvez devesse agradecer por ela não ter contado a verdade para Malfoy, ou então, ao invés do desprezo de Susan, teria que suportar o desprezo do sonserino, o que para si, era mil vezes pior de suportar.
- Seu idiota! Idiota! Tem sempre que fazer errado! – se xingava em voz alta.
Pegou o maço de cartas com a mão trêmula e a escondeu nas vestes. Regressou até o corredor, onde a lufaniana aguardava.
- Aqui está – entregou os papéis que foram prontamente quitados de sua mão e ela deu-lhe as costas, indo embora e levando consigo palavras de um sonserino loiro que nunca mais leria.
Nos dias que se seguiram, estava sem chão para caminhar, estava sem olhos para ver a vida. Estava se consumindo lentamente.
Odiava ter que vê-los andando de mãos dadas, ou abraçados em algum canto, nos intervalos das aulas.
Odiava ser o idiota bonzinho, que se compadecia de todos.
Odiava quando Malfoy o olhava nos olhos, como se aguardasse alguma palavra. O quê? Congratulações? Felicidades?
Nunca poderia desejar sentimentos tão bons, da boca pra fora e com falsidade. Preferia desviar os olhos quando os do sonserino se prendia aos seus.
Não estava mais suportando os dias, nem a presença deles. Quando foi se refugiar no jardim, e se afogar nos próprios sentimentos, os viu se beijando numa das alamedas.
Ficou estático olhando a cena, vendo como o rosto de Malfoy se iluminava perfeitamente sob a luz da lua. Parecia um beijo suave e delicado... Sentiu seu estômago afundar e uma dor a tomar-lhe o peito, mas mesmo assim, ficara ali, parado e olhando.
E estremeceu inteiro, com os olhos bem abertos e lacrimosos ao ser pego pelo sonserino, que abrira os olhos prateados e o notou ali perto, os olhando. Sua reação foi instintiva e se afastou da namorada.
Ficou envergonhado em atrapalha-los, deu meia volta e regressou em passos apressados. Correu ao alcançar o pátio até a enfermaria.
Quando adentrou no estabelecimento mantido por Madame Pomfrey, já derramava lágrimas.
Não entendia porque era tão doloroso vê-lo nos braços de outra pessoa, beijando e acariciando a quem não merecia?
Merecer? Acaso merecia Malfoy?
- Harry! – Pmfrey foi a seu encontro, tendo tempo apenas de abraçar o rapaz e se sentar com ele no chão, onde desabou em prantos.
- Por favor, faz parar... – implorou, a mão apertando a camisa, como se ela o estivesse sufocando. – Eu não agüento mais! Não mais! Faz parar!
- Do que está falando? O que está sentindo? – perguntou aflita, nunca o vira assim.
- Dói muito... Dói demais... Não agüento isso... – balbuciava.
Madame Pomfrey finalmente compreendeu que a ferida não era exterior e sim interior. Dessa ferida, não podia curar, e mesmo se tivesse alguma poção ou feitiço para isso, era inadmissível ministra-lo, afinal, não se domava os sentimentos, eles apenas aconteciam...
A única coisa que pôde fazer por Harry, foi embala-lo e conforta-lo até que exausto, adormeceu.
A noite se fazia e o silêncio era sua única companhia, sentado no chão frio da sala precisa. Estava encostado na parede, os braços apoiados nos joelhos flexionados e os olhos vagos.
Jogou a cabeça para trás, de encontro à parede e não fez nada além de se agredir dessa forma.
A sua frente tinha a caixa que ganhara de Malfoy. A única coisa que sobrara do pouco que conviveu com ele.
Sua mente vagava longe, perdido em algum lugar tenebroso de suas lembranças e emoções. Mal notou quando a tampa se abriu sozinha, e a borboleta voou dela, tomando o ar numa dança desengonçada e fluída, deixando um rastro de luz azulado por onde passava, finalmente atraindo a atenção do moreno de volta à realidade e roubando-lhe um sorriso, mesmo que triste.
Um sopro de voz o fez virar a cabeça em direção à criatura apagada e tristonha, que lhe chamara a atenção. Era a Murta.
- Moreno de olhos verdes... – ela soluçou, ficando miúda e desamparada. – Trás o amigo loiro bonito de volta?
Harry balançou a cabeça em negativa – Eu não entendo...
- A garota má o deixou triste, enganou o loiro bonito e ele se isolou... Não vem mais até a Murta, mostrar coisas bonitas... Assim como o moreno de olhos verdes o enganou...
Harry franziu o cenho, sem entender. – Ele disse que eu o enganei?
A Murta fez que sim com a cabeça. – E está muito triste com você...
O grifinório ficou em pé num salto. Seria possível que Malfoy descobriu as farsas nas cartas? Provavelmente, ele não era tolo, e Susan não era Harry para demonstrar o que havia escrito nas cartas.
Se isso havia acontecido, então o sonserino o estava culpando também, sentindo-se enganado duplamente e o odiando muito mais do que antigamente.
Tinha que corrigir as coisas, e seria agora. Se Malfoy fosse odiá-lo, pelo menos o odiaria por seus sentimentos verdadeiros, e não por um mal entendido idiota.
Pegou a borboleta mágica do ar e a guardou na caixa, e depois no bolso. Só então saiu correndo em direção à passagem secreta que levava ao quarto do sonserino.
Parou frente ao retrato, nervoso e pronunciou. – Sangue de serpente.
O retrato não se moveu. Repetiu de novo e mais outra vez, mas não obteve sucesso.
Malfoy havia trocado a senha para que não voltasse a seu quarto, se utilizando a passagem. Ficou desesperado. Tinha que fazer alguma coisa e a única alternativa era a poção.
Quando entrou no dormitório de Malfoy, como das primeiras vezes. Encontrou o loiro deitado de bruços na cama e folheando alguns papéis.
Com um salto, a aranha subiu ao colchão e se acomodou no travesseiro. Estando mais perto, pôde conferir se tratar de suas cartas que o sonserino lia.
Olhos prateados pousaram sobre si, e um sorriso adornou os lábios de Draco.
- Danada! Onde esteve? – perguntou como se obteria uma resposta.
No fundo, Harry chegou a responder. – Estive te amando esse tempo todo... – mas o sonserino nunca iria entende-lo.
Malfoy brincou um pouco com sua aranha, mas foi por apenas alguns minutos, logo voltou a ficar amuado em sua cama, olhando o vazio.
Harry estava desesperado, mas precisaria agüentar durante duas horas para que o efeito da poção terminasse e pudesse voltar ao normal e conversar com o sonserino, mesmo acabando por sofrer numa discussão. O que era provável.
Ficou esse tempo o olhando, sem medo de ser pego e interpretado o óbvio, sem receio de levar um esculacho na cara ou um murro no olho.
Queria aproveitar os últimos momentos que tinha em sua companhia, porque depois, não haveria mais farsa nem segredos. Abriria o jogo e agüentaria as conseqüências que ele próprio buscou.
Viu Malfoy devorar duas caixas de trufas de chocolate, beber uma garrafa de cerveja amanteigada e fazer bolhas de sabão em formas de animais, com algum brinquedo que ao sabia aonde ele conseguira.
Passeou pelo corpo do loiro, percorreu seu peito e afundou as patas em seu cabelo macio, sentindo o perfume como tendo a certeza de que seria a última vez que tinha essa oportunidade. Depois, talvez nem mais conseguiria olha-lo à distância.
Ficou aninhado ao colo de Malfoy, até que seu corpo começou a formigar, sinalizando que o efeito da poção estava acabando e dentro de alguns segundos, voltaria a ser Harry Potter, o idiota perfeito de Hogwarts.
Com um salto, Draco viu sua aranha se postar frente a si, ao pé da cama. Ficou curioso, mas logo a curiosidade deu espaço ao espanto e à incredulidade.
A aranha tomava forma maior e algumas patas começaram a sumir. Conforme crescia, a coloração preta clareava a um tom de pele meio bronzeado e os pêlos foram sumindo, dando espaço a uma pele macia e formatos de músculos. Apenas a cabeça da aranha ficara com a cor preta, que se transformara em cabelos desgrenhados.
Olhos verdes piscaram atordoados com a mutação, sem os óculos e corpo alto e talhado com precisão estava listo de roupa.
Malfoy ficou mudo o olhando.
Depois de recuperado, Harry se cobriu com o lençol, um pouco constrangido e ficando com o rosto corado.
- Você... – Draco soletrou com nervosismo crescente. – Estava me enganando todo esse tempo?
- Eu posso explicar-
- Por que? Primeiro isso, depois as cartas? O que você quer? – gritou lívido.
- Malfoy eu-
- O que você quer? Por que fez isso? – voltou a gritar mais alto.
- A aranha era por causa de Susan! E as cartas porque te amo! – gritou também, levando as mãos à cabeça, lágrimas inundando seus olhos – Te amo! Amo tanto! Desculpe por te amar, desculpe... Desculpe...
A voz de Harry foi diminuindo, até sobrar apenas soluços.
Lábios cálidos encobriram os seus, mãos delgadas envolveram seu rosto, limpando as lágrimas que escorriam. Beijos desesperados passaram a ser dados com sofreguidão, como para livrar-lhe de tanta dor.
Olhos verdes se abriram sem crença no que estava acontecendo, enquanto olhos prateados cerravam com languidez para aprofundar os beijos doces que dispensava à boca trêmula e ávida por mais.
Separaram-se e de testas encostadas, permaneceram assim por um tempo. Até que a voz rouca de Draco quebrou o silêncio.
- Se era você o tempo todo... Porque não me disse antes?
- Fiquei com medo...
- Eu disse que não importava quem fosse, pois o que me importa, é o sentimento que me fez apaixonar-me...
- Mesmo sendo eu?
Olhos prateados se perderam nos verdes e um sorriso brincou nos lábios de Draco e sua voz soou melodiaza ao ouvido de Harry. Sem papel, apenas de olhos nos olhos, corpo contra corpo. Ele sendo Draco e seu destinatário sendo Harry.
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Não preciso de mais nadaAgora que
Me ilumina de amor por dentro e por fora
Acredite em mim se puder
Acredite e verá, nunca acabará
Tenho desejos escritos que voam no alto
Cada pensamento é independente do meu corpo
Acredite em mim se puder
Aqui entre as coisas que tenho
Tenho algo a mais
Que nunca tive
Precisa viver comigo, mas
Viva sem medo
Que seja uma vida ou que seja uma hora
Não deixe livre ou disperso
Este meu espaço agora aberto, te peço
Viva comigo sem vergonha
Mesmo que tenha o mundo contra
Deixe a aparência e pegue o sentido
E escute o que tenho aqui dentro
Você abriu em mim
A fantasia
As esperas dos dias de uma alegria iluminada
Você me pegou
Você é o comando
Me muda depois me coloca a tua idéia
Viva comigo sem medo
Mesmo se o mundo está contra
Deixe a aparência e pegue o sentido
E escute o que tenho aqui dentro
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Um sorriso finalmente pôde ser apreciado com sinceridade, aos lábios de Harry Potter...
Fim
N/A: The Notebook de Nicholas Sparks possuem todos os direitos reservados. É um romance muito emocionante, também pode ser encontrado com o título O Caderno de Noah, essa história também foi reproduzido em filme chamado Diário de uma Paixão. Esta declaração do Draco é a letra da música Viveme de Laura Pausini.
N/A 2: termina aqui a fic. Espero que tenha agradado e obrigada a todos que acompanharam e a todos que vierem a ler depois dessa data. Caso queiram deixar review, para quem não é cadastrado, deixe email, que poderei responder.
Agradecimentos a:
Fabi – olá! Obriada pela review, espero q tenha gostado do final. Bjus!
Sam Crane – olá! Atendia ao seu pedido e fiz um final feliz. Obrigada pela review. Bjus!
