CAPÍTULO 2
E eu estava prestes a ouvir o inesperado...
"Eu nunca soube muito bem o que sentia quando estava perto da Lois" disse ele, com o olhar perdido.
"Quer dizer, desde a primeira vez que a viu?" perguntei.
Era engraçado o fato de que Clark se abria comigo muito mais naturalmente em relação a Lois do que em relação a Lana. E eu já havia escutado suas lamúrias por Lana por muito mais tempo. Mas era diferente quando se tratava de Lana. E alguma coisa havia mudado no meu amigo. E não era apenas o fato de que agora eu sabia seu segredo e havia me tornado uma espécie de "oráculo kryptoniano". Era ele. Ele estava mais... maduro.
De repente, Clark me encarou.
"Chloe, eu preciso saber uma coisa antes de continuarmos essa conversa"
E aquilo me pegou de surpresa. Eu sabia exatamente do que ele falava.
"Vai em frente" disse.
E ele foi:
"Essa conversa te deixa aborrecida?"
Eu sorri.
"Por que eu ficaria aborrecida?" desafiei.
"Bom, você sabe. Ela é sua prima. E nós, bem, huh -"
"Somos amigos" continuei eu. E ele me olhou com surpresa. Foi então que eu me dei conta de que precisávamos esclarecer umas coisas.
"Certa vez, eu fui apaixonada por você, Clark" disse. E antes que ele ficasse constrangido, muito mais do que eu, continuei: "E sei que vamos entrar num terreno no qual não pisamos já há algum tempo. Mas vamos esclarecer isso de uma vez por todas"
"Chloe, eu -"
"Não, Clark. Deixa eu terminar" interrompi.
E ele assentiu.
"Mas as coisas mudaram. E muito" continuei. "E não é apenas o fato de eu saber o seu segredo. Sabe Clark, eu já disse isso uma vez, e digo novamente. Sinto-me muito lisonjeada de saber coisas a seu respeito que nem sua namorada sabe. Mas sou sua amiga. Não se preocupe. Não estamos mais em terreno perigoso. O que eu sentia antes por você se tornou admiração e orgulho"
Clark sorriu, ruborizado. Ele estava oficialmente constrangido. Mas eu precisava continuar:
"Você é um herói. E não é pra mim" e ele me fitou nos olhos. "Talvez eu já soubesse que você estava destinado a alguma coisa muito maior antes de saber a verdade. E isso sempre vai ser uma coisa com a qual eu jamais poderia lidar"
"Chloe, você não precisa me dizer essas coisas"
"Eu preciso, Clark. Sua amizade é extremamente gratificante para mim. E quero que você saiba que sempre vai poder contar comigo. No que eu puder ajudar"
Ele ainda me olhava de um modo estranho. Devia estar não apenas confuso em falar comigo sobre seus sentimentos, como também, por falar de Lois.
"Se não estiver se sentindo à vontade, e quiser, podemos deixar essa conversa para outro dia" disse eu, percebendo que ele realmente não estava se sentido bem com tudo aquilo.
"Tudo bem" disse ele.
Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto algumas pessoas voltavam do almoço.
"Só não quero que você fique aborrecida"
"Eu jamais ficaria!" protestei.
Clark sorriu, e foi como se ele se sentisse seguro novamente.
Eu olhei à volta. O movimento começava novamente no Departamento de Obituários e Classificados.
"Quer ir a um outro lugar?" perguntei.
"Bom, não sei -" respondeu ele. "Não quero atrapalhar"
"Tudo bem!" exclamei, pegando a bolsa. "Vamos a uma lanchonete aqui perto!"
"Eu sempre tive a certeza de que era alguma coisa boa" continuou ele, logo após termos feito nossos pedidos, cruzando os dedos sobre a mesa da lanchonete. "Em relação a Lois. Quando ela estava por perto, sabe... Não sei explicar -"
"Então todo aquele papo de você a odiar... o quê era aquilo, Clark?" perguntei, satisfeita pelo fato de que ele finalmente estava disposto a se abrir.
Era como se o tempo tivesse voltado. Como se não tivéssimos tido aqueles minutos anteriores de pequeno constrangimento. E apenas retomávamos a conversa do ponto onde havíamos parado. Lois e Clark. E eu ainda estava confusa. Ainda não fazia sentido. Lois e Clark?
Ele suspirou.
"Eu nunca a odiei" corrigiu ele.
E Clark sorriu. Pela primeira vez desde que ele se sentou para me contar a verdade, ele sorriu um sorriso diferente de todos que eu conhecia. Aquele era meu amigo, feliz?
"Bom, essa hostilidade entre vocês -"
"Não sei o quê é, Chloe" interrompeu ele.
Seus olhos brilhavam. E eu não sabia o que dizer. Ele estava mesmo apaixonado? Afinal, falávamos da minha prima Lois!
"Por dois anos eu vi vocês discutindo. Era como se fossem cão e gato" disse eu, com os braços cruzados. "Vocês são praticamente como água e óleo"
Clark sorriu.
"É uma ironia, não acha?"
"Não" respondi. E ele me encarou.
"Sabe, eu devia imaginar isso" comentei. "Desde aquela vez que eu vi vocês dois no festival de verão no ano passado -"
"O quê é que tem?" perguntou ele, confuso. Provavelmente não lembrava. Mas eu sim. Com todos os detalhes. Não foi difícil de perceber.
"Lois atirou aquela bola e você caiu na tina d'água" resumi.
Clark ficou pensativo.
"Tá. E daí?" perguntou ele.
"Havia alguma coisa" disse. "Desde aquele dia"
Clark enrugou a testa.
"Uma química" continuei. "Algo que não se vê todos os dias. Vocês dois trocavam mais do que risadas"
E as palavras se perdiam. Como eu podia dizer isso a ele? Como expressar que eu sabia que os dois, embora fossem completamente diferentes um do outro, eram perfeitos juntos? Eu nunca fui o tipo romântica. Meu único grande amor foi Clark. Durante todo o colégio. E nem por isso me abalava saber que agora, depois de anos com os pensamentos só em Lana, ele descobria que estava apaixonado por Lois. Caramba! Era Lois. E isso me deixava estranhamente feliz! Porque, afinal, era Lois... e Clark! As duas pessoas que eu mais amava!
"Talvez" concordou ele, sorrindo, lembrando daquele dia. "Mas acho que eu ainda não tinha muita certeza"
"Agora você tem"
"Ela me faz muito bem, Chloe" disse ele, olhando nos meus olhos. "Eu me sinto feliz quando estou perto dela"
Eu sorri. Era inevitável. Eu estava tão feliz por ele, que não conseguia evitar.
"Ela diz as coisas certas nos momentos mais difíceis" continuou ele. "Quando ela chega, sabe, é como se o lugar todo se iluminasse. Não há problemas quando ela está por perto"
"Eu nunca pensei que isso fosse acontecer" disse.
E Clark me encarou.
"Como vou dizer isso?" perguntei a mim mesma. "Você não está apaixonado, Clark. Você está amando!"
E ele sorriu.
"Sabe o quê é mais estranho?" perguntou ele. "Eu não me preocuparia de contar meu segredo a ela"
"Opa!" exclamei. As coisas estavam indo depressa demais ou era impressão minha? "Calma, Clark!" disse. "Caso você não tenha notado, ela está namorando. E você também!"
E Clark ficou sério, e pensativo. Quase me arrependi por ter dito aquilo. Mas um de nós precisava ser racional naquele momento.
"Acha que só estou entusiasmado porque ela não me dá atenção?"
Se não tivesse ouvido aquilo de Clark, na certa eu teria me ofendido.
"Não. Não acho isso" discordei.
"Então o quê eu faço?" perguntou ele.
E eu não sabia o que dizer.
Continua...
