CAPÍTULO 5

No dia seguinte, no Planeta Diário, eu estava completamente absorvida com um artigo, quando, de repente, vi uma pessoa me observando por cima do monitor. Levantei os olhos, e sorri um sorriso nervoso:

"Lois?"

Confesso que ela era a última pessoa que eu esperava ver naquela manhã. E fiquei imaginando o que Clark podia ter feito para ela estar ali me olhando com aquele seu olhar acusador.

"O quê faz aqui?" indaguei.

Lois continuou me encarando, enquanto dava a volta na mesa e se sentava à minha frente.

"O quê contou ao farmboy?"

Arqueei minhas sobrancelhas, numa tentativa desesperada de encontrar uma resposta.

"Como assim?"

"Qual é, Chlo" insistiu ela. "Eu sei que você falou a ele sobre o meu rompimento com o AC"

Respirei fundo, e procurei ser a mais fria possível.

"Muito bem" disse-lhe eu. "Para começo de assunto, não faço a menor idéia do que você está falando, Lois. O quê foi que o Clark fez?"

Lois enrugou a testa, não muito certa de que eu falava a verdade. Mesmo assim, desconfiada, ela começou a ceder:

"Do nada, ele apareceu no apartamento ontem à noite com um pote de sorvete de chocolate e uns DVDs para assistirmos" disse ela.

E eu ri. Era impossível segurar o riso. Mas Lois estava séria, e me reprovava com o olhar.

"Bom, devo admitir que deve ter sido uma surpresa" disse.

Lois sorriu, descrente.

"Eu achei isso tudo muita coincidência" comentou ela, examinando-me.

Suspirei.

"Olha, Lois" disse. "Pense o que quiser, mas o que o Clark fez foi muito gentil, e sem interesse algum"

"Mas isso é lógico!" exclamou ela, em sobressalto. "Desde quando haveria algum interesse entre nós?"

Arregalei os olhos, surpresa com o comentário. Na verdade não tão surpresa, mas aquele foi mais um daqueles momentos que eu gostaria de poder dizer 'Você não faz idéia do quanto está enganada'.

"E o quê você fez?" perguntei, curiosa.

"Como assim o quê eu fiz?" repetiu Lois. "Eu simplesmente o coloquei porta à fora" respondeu.

E eu sorri. Claro. Que outro modo Lois Lane de resolver uma situação como essa poderia haver?

E ficamos em silêncio por um instante. Lois olhava para o nada e eu apenas a observava, esperando que dissesse mais alguma coisa. Fiquei imaginando a situação de Clark naquele momento, e certa de que teria que ligar para ele assim que ela fosse embora para dar apoio, fui surpreendida com o comentário final de Lois:

"O problema é que eu gostei"

E minha reação foi de total paralisia.

E Lois continuou:

"Sabe, o Clark tem dessas coisas. Ele é meio bobo, meio desajeitado e tudo mais, e não faz nem um pouco meu tipo com aquelas camisas de flanela e jeito de rapaz bruto do interior, mas ele é um bom amigo"

Em silêncio, eu concordava com cada palavra dita por Lois.

"Ele aparece nos momentos certos e diz e faz as coisas que precisavamos naquele dado momento" completou ela, olhando-me nos olhos.

E eu começava a me dar conta de que aquela não era a prima que eu conhecia. Ou conhecia?

"Não foi só ontem" disse ela.

E antes que eu perguntasse que outra vez era aquela da qual ela falava, Lois continuou:

"Quando Lucy veio pra cá e causou toda aquela confusão, ele foi muito--" e era como se Lois não conseguisse terminar a frase. "E quando AC foi embora de Smallville, antes de voltarmos a nos encontrar, Clark foi muito generoso com suas palavras"

E Lois, com o olhar perdido, provavelmente lembrando daqueles momentos, finalmente voltou a me encarar, e como se tivesse acordado de um sonho, voltou "ao seu normal":

"Claro que eu não preciso de conforto algum. Sei muito bem lidar com meus problemas. Você sabe disso melhor do que ninguém"

"Claro, claro" concordei, sem pestanejar.

E de repente, Lois ficou silente novamente no seu momento de apatia.

"Ele é um bom amigo" repetiu ela.

E eu sorri.

"Sim, ele é" concordei.

Lois novamente olhou para mim, e disse:

"Bem, é isso. Se você disse ou não alguma coisa ao Clark, isso já não interessa mais. Só não quero que as pessoas se preocupem comigo, Chlo. Estou sabendo lidar com a situação"

"Claro" concordei, fitando-a nos olhos. No fundo, ela estava triste, e eu sabia disso. Mas não adiantava insistir.

Lois então se levantou e olhou ao redor, provavelmente pensativa.

"Tenho que resolver umas coisas em Metropolis hoje" disse ela. "O quê acha de sairmos mais tarde?"

Olhei para meu artigo sequer iniciado no monitor do computador.

"Tenho que terminar isso, ou a Kuhn vai me comer o fígado" respondi.

"Acha que termina até às cinco horas?" insistiu ela.

E eu sorri.

"Vou tentar" prometi.

"Então tá. Volto aqui mais tarde" disse ela, sorrindo, enquanto ia embora.

Suspirei, e enquanto a observava ir embora olhei para o telefone ao meu lado, imaginando se devia ou não ligar para Clark e contar a novidade. No entanto, algo me compeliu a fazê-lo. Ele havia se saído muito bem indo visitar Lois, muito embora eu tivesse achado que era precipitado. Talvez, pensei, as coisas pudessem fluir melhor sem a interferência de uma terceira pessoa. Sorri. E certa de que Lois um dia enxergaria que o homem ideal para ela estava bem diante dos seus olhos, continuei meu artigo.

FIM (POR ENQUANTO)