CAPITULO 4

Noite Feliz

Antes do concurso de Miss Universo todas as belíssimas modelos esperavam ansiosamente pelo ídolo de todas elas. Um dos homens mais inteligentes e bonitos do mundo estava preste a vir fazer-lhes uma visita.

- Moças, ele chegou. – Assim que o staff disse, todas as mulheres enlouqueceram e dispararam a correr, atropelando o jovem funcionário, que se sentiu realizado por ser pisoteado por tantas pernas bonitas.

Todas elas correram desesperadas, trajando finíssimos biquínis, até o bar, onde o homem dos sonhos delas prometeu as encontrar. Chegaram ao bar e deliraram com a visão que tiveram. O ídolo das mulheres estava ali, impecável em seu terno justo sobre seu corpo musculoso, seus cabelos dourados caindo sobre sua face e seus óculos charmosos, concentrando-se sobre um livro de letras miúdas.

"Ai... como é inteligente!

"Tãããão culto..."

"E bonito..."

"E gostoso..." – Suspiravam as moças.

E então as mulheres mais bonitas do mundo reuniram-se em torno de dele, que, com toda a serenidade do mundo, pedia calma a elas.

- Calma, garotas, darei atenção a todas... – disse ele.

E elas:

- Shaka, ajude-nos a relaxar para o concurso?

- Shaka, passe creme em minhas pernas?

- Shaka, vamos fazer sexo selvagem a noite inteira?

- Hehehe... Claro, meninas, claro... Tudo para vocês... – respondeu ele.

- Shaka...

- Sim, gracinha?

- ACOOOOOOOOOORDAAAA!

0.0"""""

Shaka levantou-se em sua cama assustado, com Marjorie pulando em cima dele. E, então, olhou para os lados procurando as lindas garotas que estavam com ele há pouco.

Ú.ù

Mas não havia mais ninguém a não ser Marjorie.

- Você estava sonhando? – perguntou ela.

- Erm... não, só estava... ahn...Afs! Xô! – e dá um peteleco que a derruba da cama.

- Ai! É que eu ouvi você falando sozinho, achei que...

- Achou errado! – gritou ele, indo para a cozinha.

Marjorie ficou ainda no quarto, rindo que nem louca da cena que presenciou.

Os dois tomaram um café da manhã. Shaka ainda tentando disfarçar sobre o sonho, que, na certa, ela percebera. Mas, ao invés da garota tirar sarro, ela tentou descontrair, falando sobre o que iriam fazer à noite.

Então ficou decidido que ele faria um jantar para os dois. Ele a deixaria em casa, iria para o escritório resolver uns problemas e à noite os dois se encontrariam em seu apartamento.

- Hmmm... É aqui que você mora? – perguntou Shaka, parando o carro em frente ao edifício.

- Aham!

O prédio não era nada do que ele esperava que fosse. Não tinha o menor aspecto de um lugar onde jovens moravam sozinhos, muito pelo contrário, tinha uma arquitetura clássica, uma fachada triste e sem graça.

E o estranho é que aquele lugar lhe pareceu terrivelmente familiar. Logo sentiu vontade de ir embora, havia, no fundo, um pouco de medo dali. E não conseguia explicar por que.

- Tem certeza que você mora aqui?

- Der... Claro que tenho certeza! Por quê?

- É que... – Ele queria entender por que alguém tão alegre quanto Marjorie moraria em um lugar tão triste como aquele. Mas seu desejo de sair logo dali era maior, então não questionou mais – Por nada, não.

- Então tá! Até a noite! XD

- Até!

Assim que ela entrou, ele saiu com o carro, mas em seguida freou abruptamente, cantando os pneus. Uma mulher surgira na sua frente.

- Ei, tá louca? – gritou.

A moça carregava vários pacotes empilhados uns sobre os outros, tapando-lhe a face. Quando o advogado gritou com ela, um rosto bonito surgiu do meio dos embrulhos. Sua expressão confusa parecia não entender o nervosismo do rapaz.

- Não tá me ouvindo? – gritou ele.

A moça puxou os fones de ouvidos que usava.

- Desculpe, não estava ouvindo! – respondeu ela. – O que houve?

- Grrr... Eu quase te atropelei!

- Oras... Então preste mais atenção...

- Afs! – Já tomado de raiva arranca com o carro sumindo rua abaixo.

- Gente, o cara não presta atenção e eu que levo a culpa? – ficou se questionando, a moça.

No carro, ficou a questionar seu comportamento. Não costumava ser tão ríspido assim com as pessoas como foi com aquela jovem. O que acontecera? Talvez fosse aquele lugar que, sem saber por que, lhe transmitia uma terrível angústia. Agora que já estava longe podia pensar com calma.

Aliás, como ele pôde gritar com uma mulher linda daquelas? Na hora não reparara, mas agora notou sua beleza. Alta, de pele alva, longos cabelos negros, lisos lhe caíam pelas costas, olhos puxados e belíssimos traços chineses. Até se parecia com uma das misses de seu sonho.

Xxx

O trabalho no escritório parecia excepcionalmente longo e enfadonho naquela tarde. Apenas Shaka estava no lugar. Debruçava-se sobre pilhas de papéis com letras miúdas e palavras enormes. A noite já vinha caindo e ele não via a hora de correr para casa, preparar o jantar. Tempos antes, preferia até passar o natal trabalhando a ficar sozinho em casa, remoendo a idéia de que está sozinho na vida. Mas agora a coisa lhe parecia diferente. Apegara-se na companhia de Marjorie com todas as suas forças. Ela tem sido sua única companhia e única esperança de se tornar alguém mais sociável.

Até conhecê-la, o jovem estava à beira de um colapso. Não suportava mais a solidão e tentava preenchê-la com trabalho. Muitas vezes sentia-se melhor sozinho trabalhando do que num lugar com muitas pessoas. Ele até tentava tornar-se mais sociável, freqüentando praças e shoppings, mas algo lhe acometia, um certo temor, e ele logo sacava sua pasta e voltava ao trabalho.

Mas agora estava diferente. Tudo o que queria era se livrar deste peso e ir para casa. Ver Marjorie.

E a garota chinesa.

- Hein? – exclamou ele, sozinho – Por que me lembrei da garota chinesa? o.O

Deixando isso pra lá, se apressou em terminar o que estava fazendo.

Finalmente! Guardou todas as coisas e correu para o mercado, antes que fechasse. Comprou um peru, algumas frutas típicas do natal e uma boa garrafa de vinho.

Correu para o prédio. Ainda tinha que preparar tudo. Mas eis que no elevador, uma surpresa.

- Ué... Você por aqui? – Perguntou Shaka.

A garota chinesa olhou-o atravessado.

- Sim, estou morando aqui agora. Você mora por aqui, apressadinho?

- Hunf... Moro. – ficou um minuto em silêncio – Olha, desculpe por hoje, mais cedo. Não prestei atenção. Foi minha culpa.

A jovem abriu um belo sorriso de contentamento.

- Que lindo! Com tanto homens grosseiros por aí, é difícil alguém se desculpar! Prazer, sou Wang Ming-Hua.

- O.o""

- Huahuahuahua... Todos fazem essa cara. Me chame de Ming. XD

- Tudo bem... Prazer, Shaka. Moro no sexto andar. Você é nova no edifício?

- Sim. Vim morar um tempo com meu avô. Conhece o senhor Dohko, do sétimo?

- Sim, claro! Um senhor muito simpático!

Como se o elevador andasse mais devagar, os dois puderam conversar um pouco mais. Uma agradável conversa que plantaria uma futura atração.

Enfim, em casa. Ou melhor, no apartamento.

Com os cabelos presos e usando um avental, Shaka estala os dedos em frente ao balcão da cozinha.

-Ok, tenho uma ceia para preparar! Mãos à obra! ù.ú

Xxx

DING DONG

Qual não foi a surpresa de Shaka ao abrir a porta e ver Marjorie produzida? Balbuciou na porta, admirando-a. Com um belo vestido preto, decotado, com o pescoço enfeitado por uma gargantilha brilhante, parecia com uma verdadeira mulher, e não com a menina que conheceu dias atrás.

- Oieeeee! – respondeu Marjorie, revelando ser ela mesma.

- Nossa... Está linda!

- Brigadinha!

Deu-se um breve silêncio, enquanto Shaka babava admirando a bela Marjorie diante dele.

- Er... Me chame pra entrar!

- Ahn? Ah, claro! Entre! Desculpa!

Recompondo-se, Shaka fez a menina entrar, embaraçado por ter fitado-a tão secamente. Ofereceu uma cadeira a Marjorie enquanto foi até cozinha. Olhou curiosa, através do vidro do forno.

- Vejamos... O pininho não subiu... Acho que tem que ficar mais um pouco...

Shaka voltou para sala enxugando a testa com os punhos e secando-os no avental.

- Daqui a pouco o peru fica pronto. Fique a vontade, vou tomar um banho e já...

Interrompeu-se subitamente, ao ver Marjorie sentada sobre a mesa da sala. Pernas cruzadas, revelando suas coxas bem torneadas através da fenda. Olhava-o de uma forma provocante e sedutora, mordiscando os lábios. Havia se transformado, nem de longe parecia a menina que conhecera dias atrás.

O rapaz silenciou-se boquiaberto, deixando os óculos escorregarem pelo fino nariz.

- Por que não se senta? – disse ela com voz suave, apontando com o pé uma cadeira ao seu lado – Fique você bem à vontade... Deixe tudo comigo...

- Eu... Hã... Tá! O.o – embaraçado, obedeceu à moça e sentou-se na cadeira, ficando de costas para ela.

Com delicadeza, Marjorie pousou as mãos sobre os ombros largos do rapaz, começando uma gostosa massagem.

- Relaxe e aproveite... – sussurrou ela, tirando os óculos deles com uma das mãos.

Enquanto Shaka deliciava-se com as mãos da garota, não percebia seu sorriso perverso. Uma de suas mãos escorregara para dentro da pequena bolsa preta que trouxera, enquanto a outra mão inclinava para trás a cabeça do jovem. Puxou um objeto metálico da bolsa. Pontiagudo. Cortante. Uma longa tesoura. Alisou seus longos cabelos louros. E avançou a tesoura em direção ao pescoço alvo e desprotegido.

Xx

No andar de cima Ming levantou de supetão da mesa, assustada com um grito que ouviu.

- Nossa... Grito de homem...

- O que foi minha netinha? – disse um velho senhor vindo da cozinha do apartamento carregando um pequeno prato de frutas.

- Acho que o vizinho de baixo deu um grito...

- Grito? Quem gritou?

- O vizinho de baixo.

- Ah... O Shaka. O que tem ele?

- Ele... Afs... Esqueça vovô... – respondeu por fim Ming, suspirando.

Xx

Voltando à sexta casa. Ou melhor, sexto andar...

Shaka corria que nem louco de um lado para o outro pelo apartamento. Desesperava-se com feixes de cabelos dourados nas mãos. Marjorie, divertindo-se com a cena, cortara o cabelo de Shaka.

- Hahahaha! Para quieto! XD Vem cá, pra eu ajeitar o corte!

- Malvada! Por que cortou ele? Ú.ù – indagou com a voz chorosa Shaka, obedecendo-a e sentando novamente na cadeira.

- Oras! Você precisava de um corte novo! – Marjorie falava, enquanto habilidosamente cortava os cabelos de Shaka – Vou te dar um novo visual. Um corte daqueles modernosos, meio que bagunçado, sabe? Estilo new age e talz...

- Mas... Eu não sou modernoso! U.u" – falou indignado

- Claro que é! Só ainda não sabe! Vai fazer um grande sucesso! O outro corte escondia seu cabelo! E tire esses óculos!

Arrancando os óculos do rosto de Shaka, Marjorie continuou cortando seus cabelos, manejando com habilidade a tesoura. Parecia se divertir com a atividade, fazia com gosto e empenho.

- Tadãaa! – bradou ela finalmente, correndo em seguida e trazendo um espelho nas mãos.

Shaka admirou-se diante a imagem que surgiu no espelho. O cabelo estava curto, de forma irregular, moderna, como se propositalmente tivesse sido desajeitado. Mas a mudança foi muito além do cabelo. Seus traços finos se mostraram mais marcantes, evidentes. Seus olhos azuis mostraram-se muito mais intensos e penetrantes. E então o advogado recluso, que se escondia atrás de longos cabelos, sorriu sentindo o que jamais achou que sentiria: amor por si próprio. Adorara seu novo visual.

- Nossa... Fiquei tão...

- Lindo! – exclamou Marjorie, agarrando-o pelo pescoço e beijando longamente as bochechas.

- Hmmm... Que cheiro é esse? – questionou Shaka, ainda abraçado à Marjorie, que se soltou imediatamente.

- Ei! Ta falando do meu perfume? Saiba que... Putz! Fedeu mesmo! Eca!

- Meu peru! – Shaka levou a mão à cabeça apavorado.

- Quê! – Marjorie ruborizou.

Shaka correu para a cozinha, deixando a menina rindo baixinho na sala.

- Ah... A ave, claro... hihhihihi...

Xxx

Os dois olhavam curiosos para ave assada e agora destrinchada sobre a bandeja. Um cheiro ruim empestava toda a cozinha.

Passado um segundo, Marjorie olhou Shaka de soslaio, que por sua vez abateu-se com uma enorme gota de suor na testa.

- Ú.ù""

- Como você conseguiu isso, Sr. Shaka? ¬¬ - indagou a garota.

- Não sei... – respondeu ele, envergonhado, tocando os indicadores com as pontas destes dedos.

- Pelo amor de Buda! Não leu o pacote?

- Sim eu li, mas... Ei! Você é budista?

- Sim, sou! Você é? – perguntou ela, interessada.

- Não. Não tenho religião. Sou ateu.

- Ahn...

Seguiu-se um silêncio. Então Marjorie lembrou do peru e voltou a esbravejar:

- Shaka! Como pôs o peru pra assar sem tirar os miúdos de dentro?

- U.u"""" Desculpe!

- Tudo bem! XD

- Ahn? o.O

A garota abriu um grande sorriso e abraçando-o, beijou-lhe a testa.

- É até melhor! Vai se trocar! Vamos comer fora! E podemos ir à boate depois!

- Boate?

- Sim! Tem uma festa ótima hoje! Especial de Natal! XD

- Mas... Não gosto de boates... – tentou argumentar Shaka, sendo empurrado para o banheiro por Marjorie.

- Vai gostar! Acredite! Agora vai tomar um banho, está cheio de cabelos!

- u.u Meus cabelos! Lembrei que você os cortou! Aaaaaah! – comentou ressentido

BLAM!

Marjorie empurrou-o para o banheiro e bateu a porta.

Preguiçosamente, se jogou no sofá da sala. Atirada entre as grossas almofadas fitou curiosa o quadro do homem meditando entre duas árvores de folhas rosadas. Deixou pender a cabeça para trás e suspirou longamente.

- Está quase acabando...

XXX

- Hum! Que delíxia! – exclamou Marjorie de boca cheia.

Shaka e Marjorie estavam sentados na mesa de um pequeno bar comendo cachorros-quentes, ouvindo polca paraguaia de um grupo que tocava em uma apresentação especial de natal no bar.

De súbito Shaka deu uma gostosa gargalhada.

- O que houve? o.O – indagou Marjorie

- Isso tudo! Eu e você aqui na noite de natal, comendo cachorro-quente, ouvindo polca paraguaia! XD

Então duas mulheres lindas passaram por eles em direção ao bar. Uma cutucou a outra, olharam para Shaka e riram, piscando para ele.

- O.O"""

Marjorie desatou a rir.

- E mulheres dão moral para você! XD Achou isso muito fantástico?

- Mas...eu...ahn... – Shaka encolheu-se na cadeira ruborizado.

- Um homem alto, loiro, de olhos azuis como você não devia se sentir impressionado.

Shaka estendeu a mão e segurou a de Marjorie delicadamente, trazendo-a para perto.

- Eu... Eu não quero saber das outras. Se você me achar bonito, estou satisfeito...

Marjorie engoliu seco o pedaço de cachorro-quente e corou-se toda, puxando rapidamente sua mão da de Shaka. Levantando-se sem jeito da cadeira, apressou-o.

- Erm... Vamos? Estamos perdendo a festa! Vamos curtir muito lá, não vamos? – disse ela, sorrindo novamente e piscando-lhe de forma charmosa.

Coçando a cabeça, ele não pôde entendê-la, mas não se preocupou. Teria uma nova chance na festa.

A caminho da boate Shaka animou-se e criou várias expectativas. Fazia tempo que não se sentia tão disposto para sair e se divertir. E tinha certeza que se divertiria com Marjorie. Sempre estava rindo ao lado dela, sempre se sentia bem em sua companhia. E agora se dera conta que gostava dela. Que queria estar mais próximo, tocá-la de forma diferente, beijá-la. Agora ansiava por chegar lá e poder fazer isso tudo.

Como era bom sentir-se assim. Como uma nova pessoa. Muito melhor, mais animada. Agora de fato amava a vida, queria experimentá-la. Queria mesmo viver com intensidade. E tudo isso graças à bela Marjorie. E, por isso, gostava dela. Por isso, a queria mais do que como amiga.

Dentro do carro, pelas ruas da cidade os dois riam à vontade.

Sem dúvida este é o começo de uma noite muito feliz...

Continua...


Palavras do Autor

"Desculpe a demora pessoal! E principalmente desculpe à Akane! Finalmente o novo capitulo desta fic! Aguardem que prometo não demorar tanto com o capítulo final!" Pingüim.Aquariano