Yo, de pé atrás da "escritora", dá um cutucão discreto nela, assustando a pobre.

Margarida: Ficou louco, Yo? Quase que eu deleto sem querer esse capítulo da sua fic!

Yo: Foi mal, mas é que eu queria fazer uma pergunta.

Margarida: Você tem um minuto para isso e depois CAI FORA!

Yo: Tá bom, tá bom... Eu só quero saber se essa fic não tem mesmo final feliz.

Extremamente irritada, Margarida começa a contar até dez para ver se consegue se acalmar. Yo sai de fininho e vai para a cozinha caçar o que comer.

Margarida: Eu ainda amarro e amordaço esse cara no cantinho...

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Capítulo II

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What I have become

My sweetest friend?

Everyone I know

Goes away in the end

O que eu me tornei

Meu doce amigo?

Todos que conheço

Vão embora no final

And you could have it all

My empire of dirt

I will let you down

I will make you hurt

E você poderia ter tudo isso

Meu império de sujeira

Eu vou deixar você para baixo

Eu vou fazer você sofrer

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O sol banhava com seus raios a Ilha de São Félix(1). Ancorados no porto, dezenas de pequenos barcos esperavam sua hora de ir para o mar ou então homens fortes e de pele queimada pelo sol descarregavam aqueles que passaram a noite na pesca.

Ao mar, no horizonte que a vista alcançava, um barco com o casco pintado de azul singrava as águas, voltando da pesca noturna. Seu capitão comandava o timão com a vista a se perder na direção da praia, louco para desembarcar logo e ir para casa; seus homens contavam piadas em roda ou cantavam, mas um deles permanecia em silêncio, sentado na proa do barco, as pernas suspensas pelo lado de fora.

Os cabelos cor de rosa balançavam ao sabor do vento, o ar com cheiro de maresia enchia de vida seus pulmões. Em nenhum outro lugar do mundo se sentia tão bem quanto naquele barco, em alto mar. Certamente deveria ter sido um peixe em outra encarnação, diziam seus companheiros de pesca.

Logo, ele avistou a pequena faixa de areia onde ficava o porto da ilha. Em questão de pouco tempo, o barco atracaria e ele poderia descansar. E encontrá-la...

Mudando de posição na proa, sentando-se com as pernas para dentro do barco, ele direcionou seu olhar para sua esquerda e ficou observando um rochedo que ficava há alguns quilômetros de distância. Muitas lendas eram contadas sobre aquele lugar, a porta de entrada para o Estreito de Messina(2).

Velhos marinheiros diziam que ali era a morada de dois monstros marinhos, Caribde(3) e Scylla. Monstros que faziam naufragar os barcos de gente desavisada que passava por ali, para devorar sua tripulação. O rapaz riu, não era muito de acreditar em lendas.

-Yo... Yo...

Que voz era aquela que lhe chegava aos ouvidos? Um tom suave e amável, chamando por seu nome em meio ao vento e as ondas do mar... Encarou mais uma vez o rochedo, parecia que era de lá que ouvia a voz.

-Yo! Prepare a âncora, nós vamos atracar logo!

-Si-sim, capitão!

Esquecendo-se do que ouvira, Yo foi para a popa do barco e, junto de um dos companheiros de pesca, soltou as correntes que prendiam a âncora à embarcação. Em questão de minutos, ela foi lançada ao mar e o barco atracou, sendo recebido pelos moradores da vila que ficava no entorno.

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Dezenas de homens ajudavam a descarregar o barco, a pesca tinha sido melhor do que esperavam. Yo, de pé dentro do barco, auxiliava os companheiros carregando as cestas do porão para a proa quando ouviu alguém lhe chamar.

-Yo!

Sorrindo, ele viu uma garota vir correndo pela praia, segurando as sandálias em uma das mãos e a saia do vestido branco com a outra, para que não voasse com o vento. Os cabelos prateados esvoaçavam sobre seu rosto, cobrindo os belos olhos azuis claros.

Yo saltou do barco e correu ao encontro da garota, esticando os braços para recebê-la.

-Eu sabia que você chegaria bem, eu rezei muito para isso... Estava com saudades!

-Saudades? – Yo a abraçou, beijando seus cabelos – Mas foi só uma semana no mar, já devia estar acostumada, Cecília!

-Não acostumo e você sabe muito bem disso! Não quero que o mar te leve de mim, você é meu melhor amigo... O meu único amigo.

"Amigo... Eu bem que gostaria de ser mais do que um simples amigo...", o rapaz pensou, enquanto a abraçava com mais força, sentindo todo o calor do corpo de menina. Mas o encanto do reencontro foi quebrado logo.

-Cecília! Cecília! Volte já para o bar! – gritava um homem gordo e careca, de olhos negros miúdos e voz de trovão. Estava parado em frente a uma casa de madeira, o bar da vila.

-Eu tenho que ir, Yo... Muitos turistas hoje, você sabe.

-Não sei como você agüenta esse velho no seu pé, Cecília!

-O que eu posso fazer? Olha, mais tarde a gente se vê, tá? Passa lá no bar quando terminar seu trabalho.

A garota despediu-se de Yo com um beijo no rosto e saiu correndo de volta ao trabalho. O velho homem, muito nervoso, passou a gritar com ela e de modo que o rapaz pudesse ouvir.

-Quantas vezes eu já falei para não abandonar o trabalho assim, sua sonsa?

-Desculpe, senhor Higino.

-Poupe-me das suas desculpas e vá atender aquela mesa, rápido! – Cecília baixou a cabeça e foi atender a mesa. O velho, então, gritou mais alto – E não quero saber de conversa sua com aquele moleque infeliz no horário de trabalho!

Yo sentiu vontade de ir atrás do velho e socar a cara dele, mas se segurou. Voltando ao barco, ele ficou por lá até o meio da tarde, quando o trabalho terminou e o rapaz, junto de seus companheiros, foi até o capitão receber a sua parte pela pesca.

Ao entrar na casa do velho lobo do mar, não deixou de notar a expressão de desagrado estampada na face dele.

-O que foi, Capitão Martin? Aconteceu alguma coisa?

-Aconteceu isso aqui, meu rapaz! - o capitão atirou um maço de notas sobre sua mesa – Os caras pagaram pouco mais da metade do valor da pesca!

-O quê? Mas, capitão, isso não é justo! E como ficam as nossas despesas? Todos nós estávamos contando com esse dinheiro!

-Eu sei, Yo, mas o que posso fazer? Você sabe muito bem que se não vendermos nosso peixe para essa firma, não conseguiremos vender para mais ninguém!

-Malditos mercadores que só pensam em lucros! – o rapaz praguejou, enquanto saía da casa com sua parte – Gente dessa laia deveria sumir da Terra!

Revoltado, Yo guardou o dinheiro no bolso da calça e decidiu ir até o bar, comer alguma coisa e ver Cecília. O pôr-do-sol estava começando a despontar naquele momento e o rapaz parou um pouco para observá-lo.

"Por que é tudo tão difícil? Eu só queria ter uma vida mais amena, só isso...", ele pensava, acompanhando com o olhar o movimento das ondas, tingidas pela luz avermelhada que morria no horizonte.

-Yo... Yo... Venha... Yo...

Aquela voz novamente, chamando-o! Yo olhou para os lados e não viu ninguém. E mais uma vez seu olhar encontrou pouso no rochedo do Estreito. Que mistérios poderia conter aquele lugar?

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Em um templo localizado no fundo do mar, um homem observava oito armaduras que repousavam sobre pedestais de mármore, dispostos em círculo. Os longos cabelos azuis profundos caídos sobre suas costas, os olhos também azuis cintilando de satisfação. O destino havia acabado de lhe mandar um sinal de que, em breve, tudo estaria pronto.

A armadura, ou melhor, escama de Scylla brilhava intensamente, indicando que seu portador e guardião do Pilar do Pacífico Sul já tinha sido escolhido...

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(1): São Félix, uma pequena ilha na costa italiana, local de nascimento do Yo segundo a Enciclopédia Cavaleiros do Zodíaco. Localizada no arquipélago próximo ao Estreito de Messina.

(2): Estreito de Messina: Canal de ligação que fica no Mar Mediterrâneo e é o principal meio que liga a Ilha da Sicília e as ilhotas à sua volta com o continente, pela costa sul italiana.

(3) Caribde: Monstro marinho que vive no Estreito de Messina, junto de Scylla. Tem a capacidade de criar um enorme sorvedouro (rodamoinho) nas águas, provocando naufrágios com o objetivo de devorar sua tripulação. O fato de que os dois monstros marinhos vivam no mesmo local deu origem a uma expressão italiana muito conhecida, usada quando alguém sai de uma roubada enorme para se meter em uma outra: Saiu de Caribde para cair em Scylla ou vice-versa.

Segundo capítulo, gente! Espero que todos estejam gostando dessa fic tanto quanto eu, é mais uma que já virou meu xodó...

Yo, de boca cheia: Pelo menos isso... E gostei da Cecília, bem bonita ela.

Margarida: Engole essa porcaria antes de falar, sem educação! Ei, o que você está comendo?

Yo: Ah, é um negócio verde que eu achei dentro de uma tigela, tem um gosto meio estranho, mas dá para o gasto.

Margarida: Seu sem noção! Isso aí é a ração em pasta da Radija!

Yo: Radija?

Margarida: A cadelinha do Leandro, meu noivo...

Yo: BLHEEERGGG!

O marina corre para o banheiro com as mãos na boca. E a Margarida morre de rir do coitado...