Margarida: Sorento?
Sorento: Que foi?
Margarida: Será que dá para você resgatar o Yo pra mim?
Sorento: Por quê? Pra ele ficar te enchendo o saco?
Margarida: Mas eu tô com pena dele...
Mal a Margarida diz isso e ambos ouvem uma vozinha infantil vinda do quarto.
Ernest: Dexa de sê chato, tio Yo! Se num tivé fogueia, num tem gaça a bincadeia!
Margarida olha assustada para Sorento, que sai correndo para o quarto.
Margarida: Melhor eu me concentrar em escrever, senão eu vou ficar louca de preocupação... Com o meu quarto!
-x-x-x-x-x-
Capítulo V
-x-x-x-x-x-
If I could start again
A million miles away
I will keep myself
I would find a way
Se eu pudesse começar de novo
A milhões de milhas daqui
Eu me guardarei
Eu acharia um caminho
-x-x-x-x-x-
-Capitão Martin! Capitão Martin!
Desesperada, Cecília quase derrubava a porta da casa, chamando pelo capitão. De vez em quando, olhava para o mar para ver se ainda enxergava o barco, mas começava a escurecer.
Quando a garota ia mandar ver em uma nova tentativa, o velho marinheiro abriu a porta.
-Cecília! O que está fazendo aqui?
-Desculpa incomodar, capitão, mas é urgente! O Yo pegou o seu barco e saiu para o mar!
-O quê? Mas como, por quê?
-Eu não sei! Ele disse que precisava encontrar o seu destino, eu não entendi direito... Eu estou com medo, capitão! É como se alguma coisa fosse acontecer com ele...
-Tem idéia de que direção ele tomou?
-O Yo foi para o Estreito, capitão.
Pegando uma blusa, o capitão Martin saiu de sua casa e foi para o ancoradouro, a garota atrás dele. Por sorte, o marinheiro tinha um barco reserva ancorado no píer.
-Você fique aqui que eu vou atrás dele, Cecília.
-Não! Desta vez eu vou junto, capitão! E não adianta dizer que não!
Decidida, a menina subiu no barco e se sentou na proa, cruzando os braços para se proteger do frio que começava a se espalhar pela ilha. Sem dizer mais nada, nem contrargumentar a decisão dela, o capitão deu a partida no motor, tomando o caminho do Estreito.
-x-x-x-x-x-
Quando chegou ao paredão de rochas, Yo desligou o motor do barco e sentou-se na proa, observando as águas escuras. O sol já havia ido embora, apenas as estrelas iluminavam a imensidão do mar.
Sabia o que tinha de fazer, mas subitamente sentiu medo.
-Venha... Venha até mim, Yo... Até mim...
A voz suave pôde ser ouvida claramente naquele lugar. Não havia mais dúvida do que era preciso fazer e Yo ficou de pé, respirando fundo. Guiado por aquela voz, mergulhou na água gelada e nadou em direção à base do rochedo direito.
-x-x-x-x-x-
O barco do capitão singrava as águas a toda velocidade, mas não via nenhum sinal de Yo e a embarcação que ele tomou emprestada. Cauteloso, o marinheiro relutava em entrar pelo Estreito, não sabia se haveria um sorvedouro ou não.
Sentada à frente, Cecília rezava baixinho, pedindo a Deus que cuidasse de Yo e a fizesse encontrá-lo. Tão concentrada estava que não percebeu as águas começarem a se agitar mais a frente, pouco depois da entrada do Estreito.
Silenciosamente, Caribde despertava de seu sono...
-x-x-x-x-x-
Á água estava tão gelada que acabou anestesiando a pele de Yo, ele não sentia mais frio. Nadando depressa, o rapaz chegou até uma abertura do tamanho de um homem médio, por onde entrou sem dificuldades. Poucos metros à frente, a água se dispersava e ele podia voltar a caminhar normalmente, como se estivesse em terra firme.
Seguiu silenciosamente por um longo corredor, o mesmo de seu sonho. E tal qual vira antes, no final dele estava ajoelhada uma bela garota, de cabelos azuis claros a lhe caírem pelas costas. Tinha os olhos fechados e as mãos postas, como se rezasse.
Passo por passo, Yo foi se aproximando da jovem até que ela abriu os olhos lentamente, o encarando. Mas, desta vez, ela não disse nada, apenas sorriu.
Um sorriso que se transformou em uma gargalhada insana e histérica. Foi então que a saia de seu vestido se levantou e debaixo dele, seis enormes animais surgiram, correndo em direção a Yo.
-Scylla!
O rapaz tentou fugir, mas um urso com cara de poucos amigos o derrubou com tudo no chão. Yo bateu a cabeça e começou a se sentir zonzo, a visão foi ficando escura. Tudo à sua volta foi se tornando um borrão, as seis bestas de Scylla se aproximavam dele com suas garras, bocas e dentes à mostra.
"Cecília..."
Foi seu último pensamento, antes de desmaiar.
-x-x-x-x-x-
-Yo! – gritou Cecília, assustada. Tinham acabado de entrar pelo Estreito e a garota ouviu a voz do amigo a chamando.
Dando um pulo, ela se pôs de pé, tentando enxergar alguma coisa na escuridão. Procurando por alguma forma de vida, qualquer sinal de Yo, Cecília sentiu um tranco pesado contra o casco do barco, ela caiu com tudo no chão.
-O sorvedouro! Nós fomos pegos, Cecília!
Nervoso, o capitão Martin tentava manobrar o barco para fugir do rodamoinho, mas a força das águas era mais forte que seu braço e arrastava a embarcação para seu centro. Tentando ficar de pé, Cecília segurou-se na borda e outro tranco se fez sentir, jogando o barco com violência para a esquerda.
A força foi tamanha que a garota se desequilibrou e caiu novamente. Mas, desta vez, no meio das águas revoltas.
-Capitão! Me ajude! Capitão!
-CECÍLIA!
De nada adiantou o grito do capitão Martin. Arrastada pela água, Cecília mal conseguia manter a cabeça erguida para cima das ondas. Em toda sua fúria, o mar a levava para o núcleo do sorvedouro. "Yo! Por que tinha de ser assim? Por quê?", ela pensava, quase sem forças para lutar por sua vida.
Totalmente desperto, Caribde fazia sua primeira vítima da noite...
-x-x-x-x-x-
Lentamente, Yo abriu os olhos. Estava vivo! Olhando para o alto, ainda deitado sobre um chão todo de pedra, ele viu o mar agitado. Então aquele lugar era real! Estava mesmo no templo de Poseidon!
Ergueu metade de seu corpo, até sentar-se. E viu, estarrecido, que não usava mais sua calça de pescador e sim uma armadura dourada, reluzente e tilintando de nova.
-Seja bem-vindo, General Marina Yo de Scylla.
Levantando-se depressa, Yo viu caminhar em sua direção o homem de armadura de seu sonho. Tinha um ar de confiança inabalável e um sorriso vitorioso em seu rosto.
-Quem é você?
-Meu nome é Kanon, General Marina de Dragão Marinho. Sou eu quem comanda a todos os marinas.
-Marinas?
-A guarda de elite de Vossa Majestade, Imperador Poseidon.
Poseidon? Então o deus dos mares era mesmo real e não uma lenda! Processando toda aquela informação inicial, Yo tentava entender o que estaria fazendo ali.
-Você foi um dos escolhidos de nosso imperador, Yo... – Kanon disse, calmamente – Vossa Majestade deseja criar um novo mundo sobre a Terra, um mundo utópico povoado por gente que acredita em seus ideais... E você é uma dessas pessoas, Yo.
-Eu?
-Claro... Você nos ajudará a banir da Terra todo aquele que não a merece, que mata, explora, move mundos e fundos em nome de seu egoísmo e interesses pessoais. Não é assim que pensa, Yo?
O rapaz baixou a cabeça um momento. E sim, o Dragão Marinho tinha toda razão. Ele, Yo, tinha desejado acabar com toda essa gente e instaurar uma nova vida sobre a Terra. Aquela era a oportunidade perfeita.
Mas seus pensamentos foram invadidos pela imagem de Cecília, que lhe sorria. A garota ainda estava na ilha, ela também morreria na execução dos planos de Poseidon? Tomado pela dúvida, o rapaz não soube o que fazer ou dizer.
-Se ainda tem dúvidas sobre o que acabei de lhe dizer, Yo, vá até seu pilar... A sua morada aqui no templo submarino.
Com um ar de interrogação, o rapaz decidiu ir até o pilar. Desceu as escadas, acompanhado por um dos soldados de Poseidon. E Kanon mantinha um sorriso no rosto.
-x-x-x-x-x-
O soldado o acompanhou até as imediações do pilar. Caminhando sozinho pelo restante do caminho, Yo percebeu que na escada de acesso à imensa coluna havia alguma coisa caída no chão. Ou alguém. Apertando o passo, o rapaz logo viu que se tratava de...
-Cecília!
Transtornado, Yo correu até a garota, deitada sobre os degraus da escada. Seus cabelos prateados estavam espalhados pelo chão, o vestido cor de rosa molhado e manchado de sangue. O rosto pálido e muito frio.
-Cecília... Fale comigo! Cecília!
Yo ajoelhou-se nos degraus, apoiando a cabeça da menina em suas pernas, chamando por seu nome.
Mas isso de nada adiantaria. Cecília estava morta. Com um grito de desespero, Yo abraçou o corpo de sua pequena...
-x-x-x-x-x-
Levantando-se com dificuldade, Yo respirou fundo, secando seu rosto com as costas das mãos. Apoiando-se na mesa onde o corpo de Cecília repousava, o rapaz voltou a lhe fazer uma carícia na face outrora rosada.
-Adeus, minha menina... Um dia, eu sei que iremos nos encontrar novamente. E sei que irá esperar por mim...
Inclinando-se, Yo beijou delicadamente os lábios arroxeados da garota. Depois, afastando-se sem olhar para trás, o agora General Marina Yo de Scylla fechou a entrada do pilar e se postou em sua defesa.
Não importava mais o que aconteceria. Não importava mais o que seu destino lhe reservava. Todos os seus sonhos estavam agora encerrados naquela coluna, junto do anjo que um dia enchera de cor e alegria a sua vida...
-x-x-x-x-x-
Final! E eu não agüentei e me emocionei de novo... Espero que tenham gostado, tanto quanto eu gostei de escrever esta fic...
Yo: E não teve mesmo um final feliz! Margarida, você me odeia!
Margarida: Te odeio? Escrevo uma fic toda bonitinha para você, uma fic que virou meu xodó e você vem me dizer que eu te odeio?
Yo: Se gostasse tinha me dado um final feliz.
Sorento: Não reclama não, seu chato! Se continuar assim, eu escalo você para cuidar do Ernest quando eu e a Ágatha sairmos de férias, hein!
Ernest: Oba! Eu gostei, papai!
Yo: Não, tudo menos isso! Prefiro voltar para o cantinho!
Margarida: Enquanto esses dois discutem, eu aproveito para me despedir de todos e mais uma vez, obrigada por terem lido esta fic! Beijos!
Nota ultra importante: A fic do Alberich, por ser um projeto muito especial, tem um ritmo mais lento de atualização mesmo, viu gente! Mas não se preocupem, enquanto esperam podem conferir outras fics que serão postadas ainda neste fim de semana, como a do Aioros (finalmente, depois de tanto tempo prometendo!).
Beijos, mais uma vez!
