Além do amor

Capítulo 2 - Será que foi mesmo só uma ilusão?

Uma semana se passou lentamente, e Kagome continuava com Inuyasha na cabeça. Chegou até a contar para sua amiga, Sango, sobre ele, mas ela sempre dizia a mesma coisa:

- Credo, gostar de alguém que foi tão bruto com você. Aposto que ele é um fruto da sua imaginação fértil...

Mas Kagome sabia que não fora um fruto de sua imaginação; é óbvio que não. Mas ninguém nunca ouvira falar sobre um hanyou de cabelos prateados chamado Inuyasha, nem mesmo seu avô, que conhecia todo aquele vilarejo, sabia algo sobre ele.

Kagome não falou nada para sua mãe; conservadora do jeito que era, era muito provável que ela achasse que esse tal de Inuyasha era algum bandido ou malfeitor, ou até um youkai do mal, e obrigaria Kagome a manter distância dele.

Naquela noite de verão haveria um festival no vilarejo, com comes, bebes e muita dança. Aquele vilarejo era muito animado, qualquer coisa era motivo de comemoração, e Kagome adorava os festivais de verão.

- Este ano fiz uma fantasia inesquecível! - contou ela para Sango.

- Como é, amiga? - perguntou Sango, animada.

- Surpresa. E tomara que ele esteja lá. - retrucou Kagome, seus pensamentos já voltando para os olhos cor de âmbar de Inuyasha.

- Acho que ele nem é daqui - disse Sango, olhando com censura para Kagome. Sango nunca fora muito sonhadora como Kagome; sempre fora a mais sensata e de pés no chão. Mas gostava muito de sua amiga, e juntas viviam ótimos momentos.

- Talvez.

Naquela noite, um pouco antes de começar o festival, Kagome se olhava no espelho.

A fantasia que ela própria costurara estava, realmente, muito boa; Kagome nunca havia feito algo daquele porte!

Era um vestido lilás longo colado no corpo, com véus coloridos por cima; quando chegava embaixo, o vestido se estreitava e depois abria em pontas rodadas. As mangas eram bem largas e davam um ar etéreo à fantasia, o que se encaixava perfeitamente com a parte mais incrível; Kagome havia dado um jeito de colocar duas enormes armações atrás, imitando asas de uma ninfa. Sua mãe arrumou seu cabelo num coque, enfeitado com flores. Ela estava realmente linda!

"E se Inuyasha estiver no festival hoje... tomara que ele esteja com um humor melhor!" pensou ela. "E agora... o último toque!"

E, colocando uma pulseirinha trançada, feita pela sua avó havia muitos anos, Kagome sentiu que estava pronta.

Os festivais de verão eram realizados sempre na área mais bonita do vilarejo, perto da casa de Kagome. Este ano estava tudo montado com bandeirinhas coloridas, os cheiros agradáveis dos alimentos perfumando o ar, a alegria das pessoas, a música animada, o clima agradável... Tudo isso misturado fazia dessa uma noite especial.

Todos estavam fantasiados com roupas chiques e coloridas, as mulheres exibiam seus vestidos (um festival de cores!) umas para as outras, as crianças brincavam de pegar, os anfitriões animados cantavam músicas alegres. Kagome estava super animada; era hora de se divertir!

Combinara de se encontrar com Sango em frente ao lago, então foi para lá. Por onde passava, muitos olhavam pra ela. "Será que estou espalhafatosa demais?" pensou, insegura. "Não, vai ver que estou é muito bonita, como vovô me disse".

Quando Kagome chegou no lago, Sango já estava lá. Usava um vestido laranja bem tradicional, porém bonito.

- Nossa, Kagome! Que linda! - elogiou Sango, impressionada. - Você se superou desta vez!

- É... estou costurando essa fantasia desde o inverno - respondeu Kagome, orgulhosa.

- Sim... vamos, vamos pro festival que eu estou com fome! - disse Sango, começando a andar.

- É, vamos sim, e... - mas, no meio da frase, algo fez Kagome parar. Atrás das árvores, perto das rochas que cercavam o lago, Kagome viu um vulto. Um vulto que lhe pareceu familiar, muito familiar.

- Hum... Que foi, Kagome? Não vai mais no festival? - indagou Sango.

- Vou, vou sim... Quer saber, vai indo na frente, eu vou atrás...

- Que foi? - perguntou Sango, ficando preocupada.

- Nada, só vai.

- Tá bom - respondeu Sango, com uma expressão de curiosidade no rosto.

Quando Sango se afastou, Kagome foi furtivamente até as rochas que cercavam o lago.

- Inu... Inuyasha? - chamou ela, incerta.

Ninguém respondeu. Mas um movimento atrás das folhas denunciou que havia alguém ali.

- É você, Inuyasha? - perguntou ela com mais firmeza, se aproximando do arbusto. Então, com um gesto, afastou as folhas e... lá estava Inuyasha, sentado. Ele a encarou por um momento...

- Ei, Kagome-chan! Você vai perder o festival! - Uma voz gritou, ao longe.

- Hã? - Kagome virou-se e viu Souta, seu irmãozinho, vir correndo em sua direção. Quando olhou de volta pros arbustos, Inuyasha não estava mais lá.

- O que você quer, hein, pivete? - disse ela, furiosa. "Pra onde foi o Inuyasha?".

- Vamos pro festival. Anda logo! - disse Souta, impaciente, agarrando-a pelas mangas do vestido.

- Tá, tá. - Kagome estava furiosa porque Souta a fizera perder Inuyasha novamente. "Ele estava ali, eu juro que o vi! Mas porque não respondeu quando eu o chamei?"

Kagome chegou com seu irmão no festival. As pessoas estavam dançando, alegres, e havia vários garotos bonitos, que olhavam Kagome e Sango de cima a baixo. Mas Kagome não via nenhuma graça neles.

- Olha aquele ali, amiga. Muito fofo! - animou Sango.

- Ele não tem nada de fofo. Vai ficar com ele você.

- Ai, que mau humor! Esquece esse tal de Inuashi...

- Inuyasha!

-... isso, esse tal de Inuyasha. Ele nem deve ser daqui, Kagome. Você encucou com ele! - concluiu Sango.

- Não, não encuquei. E eu juro que eu o vi por aqui. Talvez ele venha! - disse ela, esperançosa, ao que fez Sango soltar um muxoxo de impaciência e olhar pra cima.

Kagome ficou um pouco desanimada com o sumiço de Inuyasha, mas isso não estragaria sua noite. Resolveu dançar um pouco e esfriar a cabeça.

A noite se passou um pouco lenta, mas muito animadamente. Kagome dançou bastante, riu muito e quase esqueceu do hanyou que tanto abalara seu coração. Mas, toda vez que ela parava de dançar ou de rir, lá vinha aquela pontazinha de esperança, que vinha aparecer novamente, e despertar do fundo de seu coração.

No final da festa, Kagome já estava cansada e resolveu ir para casa.

- Sango, eu vou me deitar... Realmente, eu cansei! - disse Kagome.

- Tá bom! Eu só não vou te acompanhar até lá porque... no momento estou meio ocupada - respondeu Sango, voltando para a dança.

- Certo - riu Kagome. Virou-se e saiu andando, a música animada diminuindo conforme seus passos lentos pela grama levavam-na pelo bosque em direção à sua casa.

Kagome deu uma olhada de esguelha nas rochas onde encontrara Inuyasha no começo da noite, mas estava tudo muito quieto por lá.

"Será que foi mesmo só uma ilusão?"

Kagome chegou no bosque em frente de sua casa. A noite estava bela. A lua cheia iluminava o bosque com seus raios prateados, mil estrelas piscavam lá de cima para o céu escuro e profundo.

Kagome caminhava tranqüilamente, e já estava chegando em casa. Até que...

- Kagome Higurashi?

Um vulto alto apareceu atrás de si, fazendo Kagome levar um susto tão grande, que soltou uma exclamação aguda.

- Quem é? - perguntou ela, seu coração parecia pular pela boca.

- Sou eu, Inuyasha - respondeu o vulto.

Kagome virou-se e lá estava ele. Os cabelos prateados iluminados pela luz da lua, os olhos âmbares a fitá-la diretamente.

- Que susto! Nunca mais chegue assim, de mansinho! - censurou Kagome. Porém, estava muito satisfeita. "Ele lembrou de mim! Lembrou do meu nome! E veio aqui falar comigo! Agora eu tenho certeza de que ele não é uma ilusão!"

- Você estava me procurando, não é? - perguntou ele, ignorando a bronca que Kagome lhe dera.

- Sim, estava. Por que você fugiu de mim quando eu te encontrei atrás dos arbustos?

- Porque eu quis, ora essa. E por que você estava me procurando? - argumentou o hanyou, cruzando os braços.

- Porque eu queria conversar com você, sei lá, te conhecer direito... - justificou ela, sem graça.

- Sei. Mas por quê, hein? Nosso primeiro "encontro" não foi muito agradável, foi? - perguntou ele, sarcástico.

- Er... foi... - respondeu ela, começando a sentir seu rosto ruborizar.

- Você costuma trombar em muita gente por aí? - perguntou ele, tão irônico que chegava quase a ser insuportável.

- Pára, tá! Aquilo foi só um acidente. Mas já que está aqui, quer dar uma voltinha? - sugeriu ela, mal acreditando no que acabara de dizer; Kagome sempre fora uma garota

muito tímida, e os únicos garotos que falara diretamente foram seu irmão e os amiguinhos dele. E agora, acabara de convidar um rapaz (que, por sinal, era bem bonitinho) para dar um passeio... Kagome não se surpreendeu quando sentiu seu rosto quente de vergonha; "Ainda bem que está escuro, assim ele não pode notar que estou vermelha!".

- Uma volta? Tá bom - concordou ele.

Kagome começou a caminhar, Inuyasha ao seu lado. Kagome olhou bem para ele; estava usando aquele mesmo kimono vermelho-sangue.

- E então? Aonde você mora? - perguntou ele.

- Ãh? Ahh eu moro nessa casinha aqui do lado - respondeu ela, um pouco empolgada.

- Hum...

- E você? Aonde mora?

- Eu? Sou como o vento... - respondeu ele, misterioso.

- Quer dizer que você não tem casa? - assustou-se Kagome.

- Não, não é isso, baka! Eu moro muito longe daqui, na verdade saí de casa porque não agüentava mais ficar lá, e sabe como é, vim pra cá.

- E o que faz aqui? Veio viver perigosamente? - sugeriu ela.

Inuyasha não respondeu; simplesmente virou o rosto pra ela e ergueu uma sobrancelha significativamente.

- Er... e quantos anos você tem? - perguntou ela, percebendo que dissera uma asneira.

- Sou tão velho como as montanhas e tão jovem quanto as manhãs, Kagome.

- Você se importaria de ser mais específico?

- 19. E você, Kagome Higurashi? - perguntou ele.

- 16.

Eles conversaram bastante, enquanto caminhavam. Quando se deram conta, já estavam perto de um jardim, onde haviam várias árvores diferentes; a mais bonita e preferida de Kagome era uma sakura majestosa, toda florida, exalando um cheiro muito agradável.

O Jardim da Sakura (esse era o seu nome) era o mais famoso e mais bonito do vilarejo, e tinha, bem no seu centro, um templo antigo, porém bem cuidado, onde as pessoas iam fazer suas preces.

O vilarejo onde Kagome morava ficava no alto da cidade. O jardim da Sakura, onde eles estavam, era o limite de um 'morro'; era possível ver de lá de cima toda a região, uma visão privilegiada.

Kagome puxou Inuyasha pela manga de seu kimono, e sentou-se quase na beirinha do morro. Inuyasha sentou-se ao seu lado e olhou lá para baixo.

- Lindo, não é? - disse Kagome, olhando para o hanyou.

- Legal.

Kagome nem ligou para a falta de expressão dele. Olhou lá para baixo também, e ficou observando, com carinho, os vilarejos que se estendiam pelos terrenos lá longe, as árvores sacudidas levemente ao sabor do vento, o rio doce e calmo que passava pelo meio dos vilarejos.

- Hoje o céu está bem estrelado, não é? - disse ela.

- Está.

- Você não gosta das estrelas?

- Pra mim dá na mesma.

"Mas que resposta pouco poética!", pensou ela.

Kagome deu um bocejo meio reprimido. Então, encostou a cabeça no ombro de Inuyasha e fechou os olhos.

- Mas o quê...? - estranhou ele, olhando para a cabeça agora repousada em seu ombro. Mas ele não fez nada. Simplesmente ficou sentado lá, olhando as estrelas, com Kagome dormindo docemente em seu ombro.