Capítulo 3 - Será que eu consegui amolecer o seu coração?
- Inuyasha...
Kagome sentou-se na sua cama e olhou em volta.
Ainda podia lembrar dos acontecimentos da noite passada...
Ele fugindo nos arbustos, o festival; o susto que ele lhe dera, o passeio pelos jardins; os vilarejos vistos de lá do alto; ela encostando-se ao ombro dele e dormindo docemente; ele acordando-a com delicadeza e deixando-a em casa; a sua promessa de eles se verem novamente.
"Acho que estou realmente apaixonada por ele. Será?"
Kagome levantou-se da cama e foi trocar de roupa.
"Tenho medo de me apaixonar por ele e acabar me machucando. Ele não tem cara de ser muito romântico, nem de corresponder aos meus sentimentos. E se ele tiver alguma namorada, ou for casado, ou me achar uma tremenda panaca?"
- Bom dia, minha filha! - cumprimentou sua mãe, alegre.
- Bom dia, mãe! - respondeu Kagome, com um bocejo. Os acontecimentos da noite passada a deixaram bem cansada, e uma noite cheia de sonhos com o Inuyasha não ajudaram a recuperar sua energia.
- Tome seu café da manhã e, por favor, vá fazer suas tarefas. - disse-lhe sua mãe.
- Sim...
Kagome limpou a casa, regou as plantas do jardim, buscou água e lavou a roupa, tudo pensando em Inuyasha, em seus olhos cor de âmbar, em seus cabelos prateados, em seu jeito super misterioso... Tudo contribuía para deixar Kagome cada vez mais apaixonada...
No final daquela manhã, Kagome resolveu sentar na beira do lago e molhar seus pés.
O dia estava maravilhoso, o sol estava bem agradável e uma leve brisa de verão tocava seu rosto.
"Ele é tão misterioso! E já passou por muitas dificuldades em sua vida..."
Kagome lembrava-se bem do que Inuyasha havia lhe contado sobre sua família, e até se surpreendeu bastante, pois ele tentara ocultar qualquer informação enquanto conversavam; mas Kagome insistiu e encheu tanto o saco dele que Inuyasha resolveu contar algumas coisas sobre sua vida.
"- Meu pai? Não me lembro muito dele. Ele morreu quando eu era pequeno. Meu pai era um youkai valente e forte, e ele já tinha um filho, que virou meu irmão mais velho; Sesshoumaru. Sesshoumaru é youkai, e odiava minha mãe, que era uma humana... Ela cuidou de mim, mas morreu... foi muito duro."
"Só isso que ele contou pra mim. Talvez seja muito doloroso pra ele abrir feridas antigas como essas, ainda mais porque se trata de sua mãe..." pensou Kagome, enquanto molhava os pés no lago. "E já foi muito da parte dele contar isso, já que ele é tão misterioso!"
Kagome olhou para o lago e viu seu próprio reflexo na água. Sorriu para si mesma e sacudiu os pés, com alegria.
Mas algo a fez parar na hora. A garota observou bem a superfície do lado e notou que surgira um reflexo prateado atrás de Kagome. Ela virou-se rapidamente e lá estava Inuyasha, a encará-la inexpressivamente.
- Oi! - exclamou ela, levantando-se.
- Olá, Kagome. - respondeu ele, sério.
- Você veio me ver? - perguntou ela, esperançosa.
- Eu não lhe prometi que a gente ia dar uns passeios? Então. Isso mesmo, eu vim te ver. - respondeu ele, um esboço de sorriso a surgir em seu rosto.
- Obrigada! - disse ela. Então, agarrou o braço de Inuyasha e, juntos, caminharam pelo vilarejo.
E assim foi, todo o dia, durante um bom tempo.
Quando Kagome terminava suas tarefas, ia até o lago e aguardava até que Inuyasha aparecesse, para mais um agradável passeio em sua companhia.
Eles exploraram todos os lugares do vilarejo, fizeram piqueniques em vários jardins diferentes, nadaram no lago...
Foi um dos melhores verões de Kagome.
"Será que Inuyasha está gostando de minha companhia?" costumava pensar Kagome. Mas logo suas incertezas sempre eram substituídas por sensações maravilhosas e muitos risos.
Um dia, depois de um desses passeios, Kagome comentou com Inuyasha:
- Você, sinceramente, está gostando de sair comigo, Inuyasha?
Inuyasha olhou-a demoradamente, bem nos olhos, antes de responder.
- Sim.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Mesmo mesmo?
- Claro, senão eu já teria caído fora. - respondeu ele, parecendo perder a paciência. - Porque mané eu estaria saindo com você se isso me desagradasse? Eu só saio com você porque eu GOSTO.
- Você gosta de mim? - perguntou Kagome, começando a corar.
- Bom... gosto.
- Como você gosta?
- Gostando, ora essa! - respondeu ele, agora definitivamente sem paciência.
- Você gosta mesmo?
- Mesmo.
- Como posso ter certeza?
- Assim. - dizendo isso, Inuyasha puxou-a para mais perto, pela cintura.
Kagome ficou meio confusa. "Meu Deus! Que olhos que ele tem de perto... Peraí, ele vai me beijar, eu nunca beijei ninguém! O que eu faço, o que eu faço?"
Mas toda essa preocupação sumiu, saiu voando, e foi esquecida...
Quando sentiu os lábios doces e firmes de Inuyasha contra os seus, a segurança de estar sendo abraçada por ele, a sua língua quente dentro de sua boca, fogos de artifício coloridos explodiram dentro de seu coração.
Kagome sentiu-se com asas, subiu até o céu e voltou, não querendo nunca mais sair daquele abraço apertado, daquele beijo apaixonado, daquele carinho que recebia, daquele momento mágico...
Inuyasha tinha um cheiro maravilhoso, um cheiro só seu, que Kagome viciou... Aquele beijo terno durou tempo suficiente para se tornar inesquecível, e com certeza, nunca mais sairia de sua memória.
Lentamente, eles se desvencilharam do abraço. Inuyasha olhou-a bem nos olhos, Kagome olhou de volta, e pôde perceber que aqueles olhos profundos sorriam para ela.
"Será que eu consegui amolecer o seu coração?"
Inuyasha pegou na mão da garota e disse:
- Agora você tem certeza de que eu gosto mesmo de você?
- T... tenho... - murmurou ela, olhando para seus pés. "Uau, como é difícil olhar pra cara dele, que vergonha...!" pensou ela.
Mas Inuyasha pegou seu queixo com delicadeza e levantou seu rosto, forçando-a a olhar pra ele.
- Q... quê...? - sussurrou ela. Mas ele não respondeu, apenas ficou olhando-a com ternura. "Puxa, parece que ele me olha dentro da alma! Sinto como se ele estivesse me analisando profundamente..." pensou Kagome.
E eles ficaram se olhando durante um minuto inteiro.
Mas o tempo começou a fechar, e o céu escureceu bastante.
- Ih, acho que é o fim do verão! - disse ela, olhando pro céu.
- É.
- Vamos andando, então...?
- Pra onde? - perguntou ele, displicentemente.
- Ah... sei lá, vamos fugir dessa chuva.
Kagome pegou Inuyasha pelo braço e começou a andar. Até que sentiu um pingo de chuva atingir seu braço.
- Vamos mais rápido, já está começando a... - começou ela, mas um trovão muito alto abafou sua voz.
- ... chover? - emendou Inuyasha.
Kagome olhou-o com cara de quem está censurando, mas achou muita graça naquilo. Eles andaram um pouco mais rápido, mas de que adiantaria toda aquela pressa se não tinham lugar para ir? Para sua casa é que não iam de jeito nenhum, imagina se ela chegasse com um garoto mais velho e bonitão (ou pior, um hanyou)? Sua mãe viraria uma onça! E Kagome não poderia ir para casa e deixar o pobre sozinho. Melhor não arriscar. Mas teve uma idéia, que a fez parar de sopetão.
- Ouça, já sei pra onde a gente pode ir! - disse Kagome.
- Pra onde? - indagou Inuyasha, fazendo cara de desconfiado.
- Pro templo do jardim das Sakuras! - exclamou ela, agora mais alto, já que outro relâmpago riscou o céu, e os pingos de chuva começaram a engrossar e a cair com mais firmeza.
- Então vamos logo, porque a chuva já está piorando!
Eles recomeçaram a andar, mas Inuyasha exclamou:
- Espere!
Kagome olhou para ele e viu que ele estava tirando a parte de cima de seu kimono. Ele veio até ela e colocou o kimono em suas costas, de modo a proteger-lhe da chuva.
Nem precisa dizer que Kagome parecia uma manteiga derretendo com toda aquela fofura, mas nem deu tempo de agradecer, já que outro trovão anunciou a tempestade prestes a cair.
- Agora podemos ir. Rápido! - disse ele, apressando o passo.
A chuva apertou, e o vento estava muito forte; eles correram que nem desembestados para fugir da tempestade, mas ela os alcançou bem no meio do caminho.
O chão virou pura lama, e Kagome escorregou umas três vezes, provocando muitas gargalhadas em Inuyasha, até que eles chegaram no jardim das Sakuras, e entraram no templo. Quando Inuyasha fechou a porta, os dois ficaram lá dentro, se encarando, no chão do templo.
Estavam sem fôlego, com o peito arfando, encharcados e sujos de lama. Então, inexplicavelmente, começaram a rir, ainda sem fôlego.
- O mundo está acabando! - exclamou Kagome.
Inuyasha olhou-a com cara de riso, e começou a gargalhar mais.
- Você... você escorregou... - riu Inuyasha, arfando.
- É... - riu Kagome também.
"Como ele fica lindo, assim, todo molhado..." pensou Kagome. Mas ficou vermelha só de pensar nisso. Lá fora, a chuva ainda caía sem parar e sem piedade, esmurrando as paredes do templo em que estavam. O vento assobiava, e os trovões eram cada vez mais constantes.
- Ah, toma seu kimono, muito obrigada! - disse ela, tirando o kimono.
- Não, fique com ele até passar a chuva - disse ele, repousando a mão no ombro de Kagome. - Não quero que você fique com frio.
- Er... Obrigada - disse ela, dando um sorrisinho.
Os dois ficaram lá, se olhando e rindo de vez em quando. Até que não deu mais pra agüentar, e Kagome o abraçou bem forte.
- Eu... - começou ela, olhando o rapaz bem nos olhos.
Mas suas palavras foram interrompidas por mais um beijo doce de Inuyasha. "Pois é. Um olhar vale mesmo mais do que mil palavras...!" pensou ela.
- A chuva parou - observou Kagome, mais ou menos meia hora depois.
- É...
- Então acho que já está na hora de eu ir para casa... - disse Kagome, tirando o kimono das costas.
Inuyasha nada respondeu, apenas deu um sorriso.
- Vamos combinar de nos encontrar sempre, por favor, Inuyasha - disse ela, olhando-o com cara de dó.
- Tá.
- Ouça. Pegue isto aqui, e nunca se esqueça de mim - falou Kagome, tirando de seu pulso a sua pulseirinha antiga, trançada pela sua avó.
- O que é isso? - perguntou Inuyasha, olhando para a pulseira, sem entender nada.
- É a pulseira da amizade - explicou Kagome -, minha avó que fez para mim. Toda vez que você olhá-la lembrará de mim.
- Certo. - disse o hanyou, colocando a pulseirinha no pulso.
- Então... até mais! - disse Kagome, levantando-se do chão do templo. Virou-se para a porta e, dando um aceno para Inuyasha, saiu para o jardim das sakuras, agora todo molhado.
"Pode deixar que nunca esquecerei de você, Kagome Higurashi"