- Eles apareceram nos mangás 20 anos atrás. Foram para a TV através de desenhos animados e ficaram conhecidos no mundo inteiro. Se revelaram reais até demais e ocuparam as ruas. O mais cético dos homens se questionou: como pode? Saltaram dos mangás para as páginas dos jornais mais importantes de todo o mundo sustentando um mistério: quem são os Cavaleiros do Zodíaco?

Para responder a estas perguntas ninguém melhor que o próprio líder, o misterioso Pégasus. Meu nome é Linda H. T. e você está na CNN Japão.

LINDA: Boa noite, Pégasus, ou melhor, Seiya, agora que finalmente sabemos seu nome. Espero que esteja se recuperando bem.

SEIYA: Estou sim, obrigado.

LINDA: Que tal agente começar... pelo começo?

PEGASUS: Vamos voltar um pouco no tempo?

CALEIROS DO ZODÍACO - RECONSTRUINDO O MITO.
CAPÍTULO1 - Desperte filho meu.

Tókio - 1988

Manhã de quinta-feira. O sol nascendo e mães carinhosas já acordavam seus filhos com beijos e convites para o café. A família reunida junto à mesa farta sempre foi um símbolo da cultura japonesa. A minha rotina era um pouco diferente.

KONJI, batendo forte na porta: Quantas vezes eu vou ter que gritar pra você levantar dessa cama moleque preguiçoso!

Havia um quadro pendurado naquela porta. Havia. Aquelas batidas sempre o derrubavam. Àquela altura a quantidade de rachaduras no vidro do quadro já tinha até virado passatempo.

SEIYA, na cama com a cabeça coberta: Com mais essa agora devem ser dezesseis...

KONJI, descendo as escadas:Eu não sei onde tava com a cabeça quando resolvemos adotar essa peste!

YARA, preparando a mesa:Não diga essas coisas. Ele pode ouvir e fugir. Se isso acontecer eu vou querer ver como você vai fazer sem a pensão do governo.

KONJI: Assim que eu arrumar um emprego ponho ele pra fora daqui!

Pra minha sorte Konji só conseguiria esse emprego nove anos mais tarde. Ou teria sido isso azar?

YARA: Como você vai conseguir emprego se não procura? Assim vo- Seiya! Achei que não fosse acordar mais, dorminhoco.

SEIYA: ...

YARA: Tome seu café rápido porque você já está atrasado.

Uma olhada rápida na mesa: uma torrada que fazia jus ao nome e um copo de café com leite que provavelmente estaria amargo.

SEIYA: Tô meio sem fome, já vou indo!

No meio do caminho a falta de companhia me leva a pensar e pra ser sincero eu não me considero uma companhia muito agradável, por isso tento manter a mente vazia. Chego a um sinal fechado. Parado na espera acabo perdendo a batalha.

SEIYA, pensando: Eles me odeiam. A Yara nem tanto mas o Konji deve me querer morto. Só me suportam por causa do dinheiro. Eu poderia fugir. Melhor não. Acabaria morrendo de fome. Quem daria emprego para uma criança de oito anos? Lá a comida não é muito boa mas é melhor que nada e eu ainda tenho abrigo. Eles devem acabar me devolvendo também assim como-

TEKI, do outro lado da rua: Seiya! Você está aí parado olhando pro tempo enquanto o sinal já abriu e fechou duas vezes.

SEIYA: A aula!

Na sala de aula.

PROFESSORA: ... é formado por três grandes ilhas chamadas-

SEIYA: Com licença professora.

PROFESSORA: Seiya. Você denovo. A que horas começam as aulas, Seiya?

SEIYA, de cabeça baixa: Às sete, professora.

PROFESSORA: E que horas são?

SEIYA: Sete e dez, professora.

PROFESSORA: Pelo menos você não chegou vinte minutos atrasados como ontem.

SEIYA: Viu como eu estou melhorando?

PROFESSORA: Já chega! Você já tinha sido avisado. Vá pra sala do Diretor agora!

ALUNOS, assustados: Ohhh...

SEIYA: Mas professora-

PROFESSORA: Vá logo!

SEIYA: Professora, me dê só mais uma chance. Só uma. Por favor. Não me obrigue a fazer isso.

Aquela última frase reverberou nos ouvidos da Professora levando-a a relembrar a última vez em que ela mesma havia dito aquilo. Respirou fundo e a aparência ríspida devolveu em parte lugar ao semblante calmo e sereno.

Psicólogos dizem que o controle da raiva é o primeiro passo para resolução de problemas no casamento. Ela aprendeu isso em oito sessões de terapia conjugal.

PROFESSORA: Eu posso te dar uma chance sim, Seiya. Vou fazer uma pergunta. Se você acertar eu permitirei que fique, mas se errar você irá direto para a sala do Diretor.

SEIYA: Xácomigo!

PROFESSORA: Esta é a pergunta: o Japão é formado por três grandes ilhas. Quais são elas?

Sala do Diretor.

SEIYA: Mas senhor Diretor, eu-

DIRETOR: Você chegou atrasado pela terceira vez numa mesma semana. E nós estamos na quarta-feira.

SEIYA, sentado de cabeça baixa: Sim, mas é porque-

DIRETOR: Você é um dos piores alunos que esta escola já teve. Praticamente um delinqüente. Notas baixas, faltas, atrasos, semana passada você bateu em três rapazes...

SEIYA: Eu só estava me defendendo.

DIRETOR: Cale a boca!

Raiva, ódio, violência. Tudo junto explode num único tapa na mesa de mogno revelando um homem absurdamente nervoso e descontrolado. A terapia conjugal não foi suficiente para mudar aquilo. Na oitava sessão ele desistiu.

Dois dias depois o casamento acabou.

DIRETOR: Mas você não é novidade pra mim. Eu conheço gente como você. A única parte do seu futuro que eu não sei é em que esquina você estará caído e bêbado daqui a dez anos. Mas isso também já não é problema meu, avisei os seus pais -

SEIYA: Eles não são meus pais!

DIRETOR: Eu já avisei seus pais e eles estão vindo te buscar. Você está expulso!

SEIYA: Expuslo?

DIRETOR: Saia imediatamente daqui e leve com você esse seu ar de derrotado. Não culpe deus pelo seu destino. Você merece tudo isso.

Surpresa, revolta, medo, desespero, no meio de um turbilhão de emoções a soma de todas resulta em apenas uma: solidão.

DIRETOR: Você está esperando o quê?

Tentei dizer "nada" mas não consegui. Já havia tentado ir embora mas não consegui. Tentei ver um lado bom. Não consegui.

Também não sei como cheguei à portaria da escola. Pra dizer a verdade gostaria de não me lembrar daquele dia.

MINO: Eu preocupada e você dormindo. Acorda Seiya! Agora a suspensão foi de quantos dias?

Sentado no chão com os braços em volta dos joelhos e a cabeça apoiada.

SEIYA, sem se mexer: Muitos.

MINO, sentando-se: Eu vou levar a matéria pra você todos os dias e aí-

SEIYA: Não vai precisar.

MINO: Como não?

SEIYA: O Zigfried leva.

Não sei por que disse aquilo, mas não queria dar muitas explicações.

MINO, indo embora: Eu vou voltar pra aula. Agente conversa outra hora.

SEIYA, pensando: Não são nem nove horas e eu já menti para a Mino e fui expulso. Excelente maneira de comemorar um aniversário. O que mais pode acontecer? Ser atingido por um raio?

O tempo passa, bem devagar, mas passa.

SEIYA, levantando: Onze horas. O Konji dirige mal, mas isso é sacanagem. Eu vou embora é a pé mesmo.

PORTEIRO: Ei garoto! Onde você pensa que vai?

SEIYA: Eu sei o caminho, vou pra casa.

PORTEIRO: Sozinho?

SEIYA: Não. Vamos eu e o Godzilla. Num tá vendo ele aqui do meu lado não?

PORTEIRO: A julgar pelo tamanho das besteiras que faz você bem que poderia ser irmão do Godzilla mesmo, mas o Diretor disse que você só sai daqui acompanhado então pode voltar.

Voltei pra esperar e quando me dei conta da confusão que estaria me esperando em casa perdi a pressa e rezei pra que o Konji demorasse ainda mais.

Às duas tarde a fome trouxe o arrependimento pra fazer companhia.

KONJI: Entra no carro.

Sem dizer nada entrei e o silêncio sepulcral durante todo o trajeto só aumentava a ansiedade. A mente foi a mil por hora tentando antecipar as perguntas que eu nem sabia se seriam feitas. No fim nada daquilo foi útil.

A casa era grande, mas o palco foi a sala.

SEIYA: Mas eu não tive culpa.

KONJI: Ninguém é expulso de uma escola sem ter culpa! Hoje você foi expulso, e amanhã? Vai ser preso ou coisa do tipo!

YARA: Também não é assim.

SEIYA: Nem sei porque você se preocupa tanto! Vocês não se importam comigo, vocês só querem saber da pensão.

KONJI: Como é que é?

YARA: Respeite seu pai, Seiya.

SEIYA: Ele não é meu pai!

KONJI: Não sou? Então eu vou te mostrar quem sou, seu delinqüente.

SEIYA: Não me chame de delinqüente!

Nesse momento um estrondo terrível invade a casa seguido de um forte tremor. Quase ao mesmo tempo um raio dourado atinge Seiya e envolve todo seu corpo. Konji e Yara apenas observam admirados e temerosos.

O estranho raio envolve ainda mais o corpo de Seiya e ele levita alguns centímetros. Depois um grito estridente precede algo tão estranho quanto aquilo tudo que estava acontecendo. Seiya abre os olhos completamente azuis e brilhantes, ainda envolto pelo raio, e com uma voz como de adulto diz em voz alta.

SEIYA: Pégasuuuuusss!

Imediatamente após pronunciar a palavra o raio desaparece tão rapidamente quanto apareceu deixando o garoto inconsciente no chão.

YARA: Seiya! Konji! Faça alguma coisa! Veja se ele está respirando!

KONJI: Vê você. Eu que não vou encostar nisso.

Yara lança um olhar de reprovação tão grande que Konji se envergonha até mesmo de ter nascido, mesmo assim não faz nada então ela mesma resolver olhar.

YARA: Ele está desmaiado. Vamos pro hospital!

Continua...

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