Capítulo 2 - Conto de fadas.

18: 53 PM - Hospital Infantil de Tókio

As vezes eu me pergunto por que os hospitais e os médicos usam sempre a cor branca.

YARA: E então, doutor?

MÉDICO: Fiquem tranqüilos, ele está bem. Assim que despertar poderá voltar pra casa.

YARA: Que bom, doutor.

MÉDICO: Só achei estranho que uma queda da escada tenha provocado lesões apenas na testa.

KONJI, tentando disfarçar: É que, bem, ele caiu de um degrau baixo, sei lá.

FLASHBACK

YARA: Seiya! Konji! Faça alguma coisa! Veja se ele está respirando!

KONJI: Vê você. Eu que não vou encostar nisso.

Yara lança um olhar de reprovação tão grande que Konji se envergonha até mesmo de ter nascido, mesmo assim não faz nada então ela mesma resolver olhar.

YARA: Ele está desmaiado. Vamos pro hospital!

No carro a caminho do hospital.

KONJI, assustado: Ele tá respirando?

YARA: Tá sim.

KONJI: E quando chegarmos lá?

YARA: Que que tem?

KONJI: O que nós vamos dizer?

YARA: Como assim "o que nós vamos dizer"?

KONJI: Nós não podemos simplesmente chegar lá e falar "Olá doutor. Esse menino foi atingido por um raio dourado, levitou 30 centímetros, trocou de voz, caiu e agora está com um hematoma horrível na testa. O senhor pode fazer alguma coisa?" Eles nunca vão acreditar em nós. Quem acreditaria nisso? Nem eu acredito direito! Eles vão nos acusar de maus tratos. Nós vamos ser presos!

YARA: Ninguém vai ser preso, Konji!

KONJI: Como não? Ele está com esse machucado enorme na testa! Nós estamos perdidos!

YARA: Nós vamos dizer que ele caiu da escada, isso vai ser suficiente. E agora dirija isso direito senão nem chegaremos lá!

FIM DO FLASHBACK

Primeiro a escuridão. Depois a dúvida. Aí vem o cinza. A dúvida já não é a mesma. O cinza vira branco e a confusão aumenta: onde estou? O branco assume todo meu campo de visão. Outra dúvida. Os segundos passam e meus pensamentos começam a se organizar. Um teto, branco, mas de onde? A luz machuca meus olhos e eu olho para o lado.

YARA: Achei que não fosse mais acordar, dorminhoco.

SEIYA: Deveria ter voltado pra cama quando ouvi isso hoje de manhã.

KONJI: Como está se sentindo?

SEIYA: Bem, eu acho.

YARA: Então vamos pra casa e eu irei preparar um jantar delicioso pra você.

Dentro do carro enquanto volto pra casa acompanho o sol me imitando. As luzes do poste me impedem de receber a noite, mas ela está vindo. Eu sei que está.

SEIYA: O que aconteceu comigo?

KONJI: Você foi subir as escadas correndo, escorregou e caiu. Não lembra?

SEIYA: Não.

Embora tivesse mentido a lembrança da luz me envolvendo e a sensação extrema de poder não saiam da minha cabeça. Daquilo tudo a única coisa que restou foi um formigamento nas mãos.

YARA, saindo do carro: Chegamos!

MINO: Seiya!

SEIYA: Mino, o que houve?

MINO: Eu falei com o Zigfried e ele disse que não ficou de trazer a matéria pra você, então eu trouxe. Que faixa é essa na sua cabeça?

SEIYA: Eu me machuquei.

MINO: Onde? Aqui?

SEIYA: AAAAAAIIIII! É, bem aí mesmo! É por isso que está enfaixado!

O tempo passa e trabalha incansavelmente moldando como um escultor nosso caráter e personalidade. Alguns pra pior, outros pra melhor. Mas existem coisas que nunca mudam.

Tókio - 1998 - Dez anos depois.

SEIYA, correndo pela cidade: Droga! Me matricular num curso que começa quinze minutos antes da aula na escola terminar. Só eu mesmo!

No curso.

PROFESSOR: ... a cotação do dólar varia diariamente e com isso...

MINO, pensando: O Seiya tá atrasado denovo. No dia que ele não se atrasar eu vou ficar muito preocupada.

No Santuário.

- Senhorita Saori. Acabamos de localizar o último.

SAORI: O de Pégasus?

- Isso mesmo.

De volta à cidade.

SEIYA: Droga, bem que aquela supervelocidade podia aparecer agora. Essas coisas só acontecem quando eu menos espero.

Faltavam dez minutos para o ônibus sair e eu estava a quinze minutos de distância dele. Correr igual a um maluco não ia adiantar muito então resolvi parar pra pensar um pouco.
Justamente onde.

SEIYA: Todo mundo comenta que este beco é violento e diz pra não passar por ele... só que por aqui eu gasto a metade do tempo.

Chega a ser engraçado como a coragem brinca com as nossas vidas.

SEIYA: Ah! Eu vou passar assim mesmo.

Nas horas erradas ela sempre aparece.

No Santuário.

- Não me lembro de nenhum outro que tenha dado tanto trabalho para ser localizado.

SAORI: Não perca tempo. Você já sabe o que deve fazer.

Olho pro beco e inicio a travessia confiando na sorte. Mendigos deitados pelo chão decoram a paisagem daquele lugar que as autoridades fizeram questão de esquecer.

SEIYA: Quase chegando...

Finalmente o beco termina. Mas o perigo não.
Numa área maior, também abandonada e mal iluminada uma gang reunida em cima de um grande container planeja o assalto da noite.

CHEFE: Então você rende o guarda da direita e-

AMON: Olha lá chefe. Tem um perdido vindo ali.

Amon era praticamente um gigante. Enorme e forte. Ele tinha tantos músculos que acabou não sobrando muito espaço para o cérebro.

TOGO: Por que agente não vai lá dar uma ajudinha?

Já Togo era magricela e tinha o cabelo punk. Achava-se muitíssimo esperto. Na verdade ele era o único que pensava assim.

CHEFE: Bem que eu tive a sensação de que esta seria uma noite especial...hahahhahahahah.

De fato havia algo especial reservado para aquela noite.
E para eles também.

SEIYA: Sabia que não tinha perigo nenhum.

Os integrantes da gang aguardam escondidos atrás do container. Continuei correndo até ver de repente um braço enorme e forte esticado na altura do pescoço. Tarde demais.

SEIYA: Uááááááááááááá.

Daí pra frente a inércia faz o resto. O corpo faz um rodopio no ar e cai violentamente de costas no chão..

SEIYA: Argh!

saindo de trás do container, revelando-se.

TOGO: Amon! Você deveria ter mais cuidado ao se espreguiçar! Você pode acabar machucando alguém.

AMON: Mas foi o chefe que mandou eu colocar o braço na frente pro garoto bater nele e-

TOGO: Eu estava fazendo uma piada. Burro!

AMON: Ah, uma piada! Heheheheheh, você é muito engraçado, hehee.

CHEFE: Calem a boca e tragam-no aqui.

SEIYA: Me larga seu gigante desgr-

AMON: Mas o chefe mandou pegar você e-

TOGO: Cala a boca, Amon! Cristo!

CHEFE: Olá garoto. É novo aqui, não? Diz uma coisa: já ouviu falar na fada dos dentes?

Eu apenas olhava com raiva tentando encontrar uma maneira de fugir enquanto um formigamento mais que conhecido começava aparecer em minhas mãos.

CHEFE: É uma antiga lenda ocidental. Ela diz que se você arrancar um dente e o puser debaixo do travesseiro, de madrugada a fada vem, leva seu dente e deixa no lugar uma nota de 1 dólar.

SEIYA: E agora vem o quê? A mamadeira?

CHEFE: Eu vou ver a quantos dólares equivale o dinheiro na sua carteira.

AMON: O chefe é muito bom de conta, hehe, é sim. Ele dividiu 100 dólares em 3 partes iguais sem calculadora! Pena que os meus 10 dólares acabaram rapidinho...

CHEFE: E a quantidade de dólares na sua carteira vai ser o número de dentes que o Amon vai arrancar da sua boca.

TOGO: Hihihihihihi.

CHEFE: Desse jeito você pega seu dinheiro todo de volta com a fada dos dentes e ninguém sai no prejuízo. Agora diz que eu não sou legal.

TOGO: É melhor rezar pra ter menos que 32 dólares, huihihihihihuaha.

O formigamento começou a aumentar e então resolvi aproveitar a oportunidade e fazer a vida daquela escória um pouco mais infeliz.

SEIYA: A aula de hoje nem era importante mesmo, acho que dá tempo pra um pouquinho de diversão.

Com o movimento de apenas um braço Togo é arremessado longe e antes que pudesse perceber já estava caindo a dez metros de distância. Sem fazer o menor esforço e com uma velocidade incrível um pulo e um chute no peito foram suficientes para fazer Amon derrubar um muro com as próprias costas.

SEIYA: Até que enfim aconteceu na hora em que eu preciso!

Longe, bem longe, Togo tenta se levantar, ainda tonto. Os meus punhos começam a brilhar um azul que ilumina grande parte do beco.

SEIYA: Não custa tentar...

Um soco no ar e a energia desprende e dispara do punho em direção ao Togo. Nessas horas nem rezar adianta...

TOGO: Ô ôu...

Boooooooooooommmmmmmmm!

A energia nervosa e veloz acerta um par de latões de lixo que voam pelos ares.

SEIYA: A pontaria ainda não tá muito boa.

TOGO, olhando para os latões destruídos: Ele errou, ha ha. Ele errou!

De repente um clarão azul.

TOGO: Uááááááááááá.

SEIYA: Agora sim! Pareceu até um meteoro!

O chefe da gang olha atônito enquanto Seiya admira-se consigo mesmo por estar finalmente conseguindo controlar seus poderes.

SEIYA:Faltou você, né?

CHEFE, dando as costas: Eu vou é sair daqui! Fui!

SEIYA: Tem certeza que você vai sair no melhor da festa?

Um simples e rápido raio azul atravessa o beco.

CHEFE: Epa!

O ar pesado e frio daquela noite é cortado pelo raio, mas não foi só ele. O cinto do Chefe também.

Primeiro as calças caem.

CHEFE: Vixi!

Depois o dono.

Começo a aproximação sem pressa e no caminho uma sensação estranha causa um certo incômodo, mas o que não era estranho naquela noite atípica?

SEIYA: Eu acho que essa carteira me pertence.

CHEFE, caído e morrendo de medo: Toma! Toma! Olha, desculpa. Foi sem querer.

SEIYA: E eu acho que essa aqui é sua, né?

CHEFE: Mas pode ficar com ela! Sério! Não tem problema não!

SEIYA, olhando a carteira do Chefe Hmmm. Você não deveria andar com tanto dinheiro assim na carteira. Pode ser perigoso...

CHEFE: É todo seu. Sério! Pode ficar com ele todo, eu nem ligo pra bens materiais.

SEIYA: Um dólar tá sendo negociado a quantos yens mesmo? Devia ter prestado mais atenção na aula...

CHEFE: Não! Não! Pera aí! Aquele negócio de fada dos dentes era brincadeira, coisa besta de ocidental. Pelo amor de deus! Socorro! Não tem polícia nessa cidade!

- Contente aspirante?

SEIYA: Hein?

CHEFE: Até que enfim alguém pra me ajudar! Socorro! Esse moleque é esquisito! Ele tá endemoniado! Ele é um demônio!

Na sombra cinza a única coisa que se vê são dois olhos azuis brilhando na escuridão.

- Você não tem motivos pra se orgulhar. Sua luta foi deprimente.

SEIYA Quem é você?

Saindo da escuridão, revelando-se.

- Meu nome é Hagen de Merak e vim de longe até aqui para matar você.

Continua...

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