Nota ultra-especial de início de capítulo:
Esse capítulo que se inicia agora é especialmente dedicado à Juliane Chan, por seu valioso empréstimo e incentivo. Espero que curta de montão, menina!
Capítulo VII
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Miro tinha razão quando tentou dizer a Camus que precisariam parar pelo caminho. Mesmo sendo animais fortes, os cavalos de Julliete pediam por água logo após o amanhecer, assim como os próprios mosqueteiros. Como a próxima vila ficava um pouco distante, entraram pela floresta e foram até o ribeiro que seguia a estrada.
Apeando de Milady, Julliete se afastou dos amigos, precisava de privacidade não somente para beber água, era preciso fazer outras coisas. Vendo a garota se afastar, Shura sentiu vontade de ir atrás dela, mas ficou quieto, vendo os olhares de reprovação de D'artagnan. Parecia até que o animal lia seus pensamentos.
Sozinha, Julliete tirou seu chapéu, o lenço que cobria seu rosto e lavou a face com a água fresca, jogando um pouco pela nuca. Erguendo a cabeça, ela fitou o céu, suspirando. Estava pensando nele, naquele beijo maravilhoso da noite anterior. Sentindo um calor subir por seu corpo e o suor empapando sua camisa branca, a garota tirou-a e se livrou também da faixa que prendiam os seios, para lavar-se e refrescar-se.
Já refeitos, os mosqueteiros ajeitavam as selas dos cavalos para continuar a viagem. Shura viu que Julliete não voltava e decidiu ir atrás dela, rezando para que não a encontrasse em situação, digamos, reveladora. Caminhando de cabeça baixa, o rapaz chegou até uma pedra e, ao olhar na direção do rio, viu a garota de costas para a água, ajeitando os cabelos molhados e ainda sem a camisa e a faixa. Céus, que visão perfeita era aquela? Os seios alvos e firmes, um verdadeiro convite à luxúria! Nervoso, Shura desviou o olhar e voltou para onde estavam os demais, tão perturbado que não ouviu a pergunta de Camus sobre Julliete.
Pouco depois, ela apareceu e montou depressa em Milady, retomando a cavalgada. E Shura nem prestava atenção no caminho, só pensava na visão do corpo seminu da garota. "Desse jeito, somente o inferno será o meu destino final...".
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A noite veio, com ela o cansaço visível dos amigos. Felizmente, estavam chegando a uma pequena vila e procuraram pela taverna da cidadela, onde encontraram quartos para passar a noite: três e obviamente seria Julliete a dormir sozinha.
Os cavalos ficaram presos em um madeiro na frente da taverna e os cinco sentaram-se em uma mesa mais escondida (exceto Camus, que preferiu sentar-se sozinho em outro canto), estavam mortos de fome e sede. A comida era deliciosa, o vinho excelente e logo Miro estava no meio das garotas, bebendo e rindo, contando vantagens até não poder mais. Shura e Aioros conversavam e bebiam e Julliete, observando Camus sentado sozinho, notou que o mosqueteiro parecia estar muito longe dali.
Pegando uma garrafa de vinho, a garota foi se sentar com ele, sorrindo.
-Posso? – ela perguntou, indicando a cadeira. Camus deu de ombros – Por que está aqui, isolado dos outros?
-Não nasci grudado nesses caras... Um homem precisa de um pouco de solidão às vezes...
-Concordo com esse ponto de vista, mas você me parece solitário há anos, Camus... Nunca pensou em se casar, ter uma companheira?
O rapaz baixou os olhos ao ouvir a pergunta de Julliete. O silêncio imperou por alguns instantes até ele beber outro gole de vinho diretamente da garrafa e falar, com certa amargura na voz.
-Me desculpe, Julliete, mas tenho minha própria opinião a respeito das mulheres.
-E que opinião seria essa?
-Hum... Elas só têm servido para atrapalhar a minha vida, com seus joguinhos de sedução e mentiras... Cansei delas.
-Não são todas assim, meu caro.
-Sei disso, mas prefiro me manter afastado de todas. É melhor assim, acredite.
Com essas palavras, Camus se retirou da mesa e subiu para o primeiro andar, nem se dignou a desejar boa noite aos amigos. Miro nem ligou, mas os outros dois repararam que ele parecia amargurado com alguma coisa.
-O que ele tem? – perguntou Aioros para Julliete, assim que a garota se juntou a eles.
-Nada não, apenas um homem que tem sua própria opinião sobre as mulheres... Bem, eu também vou me retirar. Boa noite, rapazes...
Julliete os cumprimentou sem olhar para Shura, estava evitando fazer isso desde o beijo na noite do baile. E essa atitude o deixava louco, e cada vez mais arrependido.
-Ela gosta de você, meu amigo... Mesmo que não admita.
-Ah, não vem com historinhas não, Aioros... Quer saber de uma coisa? Eu vou dormir também, boa noite.
-Boa noite, teimoso... – disse Aioros para si mesmo, bebendo o que restava de seu vinho enquanto uma ruiva de belas pernas e olhos azuis se sentava sem cerimônias no seu colo, rindo muito e sendo beijada pelo rapaz.
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O dia amanheceu estranho, os rapazes não trocaram uma única palavra durante toda manhã, Julliete tinha um semblante cansado, de quem não dormiu nada à noite. Até os cavalos pareciam muito cansados e arredios, não estavam dispostos a bancar uma corrida desenfreada estrada afora. Mas era preciso que fossem rápidos, antes que o navio partisse da França em direção ao Reino Unido, levando com ele o mensageiro do Cardeal e as provas de que precisavam para provar não somente sua inocência como a de Raul também.
-Você não pregou o olho a noite toda, Shura... – Aioros comentou, emparelhando Aramis à D'artagnan, tentando conversar com o amigo. O rapaz deu de ombros.
-Uma insônia insistente que me acompanha nas últimas noites.
-É, eu sei muito bem o nome de sua insônia, e o remédio para ela também.
Shura bem que quis responder à altura que o comentário idiota de Aioros merecia, mas resolveu ficar calado, observando Julliete mais a frente, cavalgando com tanta displicência que se tinha a impressão de que a garota nem prestava atenção no caminho à sua frente. E não é que o rapaz estava certo?
Um animal passou correndo de um lado para outro na estrada, assustando Milady. A égua empinou, relinchando enfurecida, e Julliete perdeu o equilíbrio, tão distraída estava.
-Julliete!
Porém, o grito de Shura veio um pouco tarde e a garota caiu com tudo no chão. Incintando D'artagnan, o rapaz correu até ela e apeou do cavalo, ao mesmo tempo que Miro puxava as rédeas de Milady para evitar uma fuga.
-Por Deus, você está bem?
Ajudando Julliete a se levantar, Shura percebeu que ela parecia um pouco zonza, provavelmente tinha batido a cabeça. Apoiando-se nos braços fortes do mosqueteiro, a garota sentiu o corpo latejar e a parte de trás da cabeça dolorida.
-Eu estou bem, Shura... Foi só um tombo...
-Só um tombo? Parecia que ia rachar o chão, isso sim!
-Exagerad... Peraí, você está me chamando de gorda, Miro?
Sob o olhar assassino de Julliete, Miro achou por bem se calar. Camus estendeu um cantil com água e ela bebeu, depois jogou um pouco sobre a nuca.
-Eu já estou melhor, podemos continuar a viagem.
-Tem certeza? Julliete, você pode ir comigo até a próxima vila e...
-Já disse que estou bem, Shura!
Contrariada com tanta preocupação, Julliete desvencilhou-se rápido dos braços do rapaz e montou novamente em Milady, tomando a dianteira da viagem. Mas não estava tão bem quanto queria demonstrar. Problema maior seria viajar junto de Shura, sentindo aqueles braços fortes a envolvendo, o cheiro que ele possuía e que o tornava tão másculo e atraente...
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Noite. E sem estrelas, o que dava ao porto um ar lúgubre e mal cheiroso. O lugar parecia vazio, apenas o barulho de uma carruagem chegando podia ser ouvido. O navio que partiria para o Reino Unido estava quase todo carregado, faltava apenas o passageiro de honra da embarcação.
Parando próxima ao navio, a escolta da guarda de Richilieu apeou dos cavalos, e foi até a rampa de acesso do navio, enquanto o mensageiro do Cardeal descia da carruagem, ajeitando o capuz da capa que usava sobre o rosto.
Os guardas subiram pela rampa e notaram que tudo estava silencioso, algo incomum para um navio que partiria dentro de alguns minutos. Empunhando seus floretes, eles entraram pela embarcação e foram surpreendidos por dois homens, que rasgaram sem piedade seus corpos, fazendo com que caíssem no mar.
-O que está acontecendo? – perguntou o mensageiro, vendo os corpos caírem do navio. Apressadamente, ele se virou para voltar à carruagem, mas uma voz foi ouvida de dentro da embarcação.
-Não vão subir, corja de mentirosos e assassinos? Uma longa viagem os espera!
-Não precisa ser tão teatral, Miro... – comentou Aioros, guardando seu crucifixo dentro da camisa.
Os homens da guarda se apavoraram, o mensageiro tentou correr para a carruagem, mas ela estava sem os cavalos, incitados a correrem para longe. "Você não vai conseguir fugir, maldito!", pensava Julliete, segurando em suas mãos o pino que mantinha os arreios dos cavalos presos à carruagem.
-Por que estão tão assustados? Sejam homens e lutem como tal!
Saltando do navio para o píer, Shura, Miro e Aioros cercaram os guardas e começaram a lutar, ajudados pela falta de iluminação. Os guardas do Cardeal pareciam moscas perdidas, não tinham a menor noção de como atacar. Os mosqueterios riam e iam derrubando um a um, suas habilidades postas à prova de maneira espetacular.
Perdido em meio àquela briga, o mensageiro tentou fugir a pé, aproveitando que os mosqueteiros estavam ocupados. Porém...
-Onde pensa que vai, meu caro? – indagou Camus, com sua voz fria e sem emoção, interceptando o mensageiro, apontando seu florete para ele – Ande, tire esse capuz para que eu possa ver a cara do traidor...
O mensageiro encarou Camus e tirou o capuz, lentamente. Bem nessa hora, Julliete se aproximava segurando uma pequena tocha, os demais rapazes guardavam seus floretes, indicando o final da luta. Ao encarar os olhos violetas que se revelavam, Camus não conteve sua surpresa, o florete caiu com tudo de suas mãos.
-Desirée?
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Aí está, Juli, a aparição da Desirée na fic! Pode ter certeza de que será muito bacana e emocionante... Ai, tadinho do Camus, se ele soubesse o que o espera com essa participação especial...
