Eu ainda estou com dó do Kamus, mas o Miro tá morrendo de rir com o que vai acontecer (amigo mala, eu hein!)... Ah, outra coisa: como eu não consegui postar nada nesse fim de semana que passou, eu brindo a vcs que lêem essa fic com dois capítulos de Honra. Divirtam-se!

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Capítulo VIII

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-Desirée?- Kamus repetiu, atordoado, a voz perdeu o tom frio e soou trêmula. A mulher à sua frente sequer se abalou.

-Você a conhece, Kamus?

O mosqueteiro permaneceu mudo, não respondeu a pergunta de Julliete. A verdade era que não conseguia articular uma única palavra, não estava preparado para encontrar aquela mulher à sua frente.

-Ei, não vai responder? Kamus! Fala de uma vez! Kamus! – gritou Miro, querendo sacudir o amigo para ver se ele dizia alguma coisa.

Inabalável, a mulher não se mexeu, nem tentou fugir. Shura, armado novamente, aguardava algum movimento, qualquer desculpa para resolver a questão e pegar logo o mensageiro. Ou melhor, mensageira.

-E então, Kamus? Não vai me matar e impedir que continue com a missão que o Cardeal me confiou?

A pergunta de Desirée ficou no ar, atravessava os tímpanos do mosqueteiro e percorria sua mente, misturada às suas lembranças e sentimentos confusos. Não sabia o que fazer, essa era a verdade.

Julliete, impaciente, foi quem deu o primeiro passo. Passando a tocha para que Aioros a segurasse, ela puxou com força a capa de Desirée, tirando-a para que pudesse ter acesso fácil ao vestido da mulher e as coisas que carregava consigo.

-Ao menos está sendo delicada comigo, senhorita...

-Não quero machucar a nossa testemunha, apenas isso... Aqui está, Kamus. – Julliete estendeu o documento para o rapaz, que o pegou maquinalmente. Mas nem deu atenção a ele.

-Desirée... – finalmente sua voz foi ouvida, soando meio estrangulada pela emoção, tentando parecer fria novamente – Por que fez isso?

-Um homem como você nunca entenderia, Kamus...

-Olha, a conversa tá muito boa, mas vamos andando... Temos um traidor para prender, um país para salvar...

Porém, quando Miro ia colocando as mãos de Desirée em suas costas para amarrá-las, dois homens vestidos de preto apareceram no píer, segurando tochas e armas de fogo.

-Deixem essa mulher conosco... Achou mesmo que poderia fugir de nós, Desirée Lemonnier? A polícia executora da França se encarregará de deferir a sentença a qual foi condenada.

-Como é que é? Escuta aqui, ô cara, você não pode ir levando essa mulher assim, a gente vai precisar dela... Ô cara!

Mas os homens nem deram ouvidos aos protestos de Miro e foram levando Desirée com eles. Ao passar por Kamus, a mulher lhe lançou um olhar frio, seus olhos violetas faiscando de raiva.

-Afinal de contas, Kamus... Quem é essa mulher? – questionou Shura, já perdendo a paciência com o que acontecia ao seu redor.

Kamus nada disse, mais uma vez. Pegando seu florete e guardando-o, o mosqueteiro tomou o caminho de saída do porto, seguido por seus amigos. E Julliete, esperta que só ela, tinha uma expressão de quem entendera tudo.

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-Isso não é justo! A gente que pegou a mulher e aqueles caras a levaram embora!- protestava Miro, enquanto bebia seu vinho na taverna do porto. Os demais estavam calados, Kamus tinha a cabeça longe.

-Aqueles homens eram da polícia executora, Miro! Não podíamos fazer nada para impedir que a levassem consigo.

Aioros rebateu as críticas do amigo e começaram a discutir. Indiferente a isso, Julliete sentou-se mais próxima de Kamus e Shura passou a prestar atenção no que ela dizia.

-Agora eu entendo o que quis me dizer com "ter sua própria opinião sobre as mulheres"...

-O quê?

-Aquela mulher, Desirée... Ela fez alguma coisa para você, não?

-Não quero falar sobre isso, Julliete. Com licença...

Em silêncio, Kamus se retirou da mesa, mas não subiu para nenhum quarto. Saiu da taverna, ganhou a rua rapidamente e não disse a ninguém aonde iria.

-Ei, Kamus! Kamus, volta aqui!

-Deixe ele em paz, Shura... Kamus precisa de um tempo sozinho, o que aconteceu hoje o deixou muito abalado.

-Abalado? O que quer dizer com isso, Julliete?

-Sinto muito, mas não posso lhe dizer... É algo que diz respeito ao Kamus e ele é quem decide se fala alguma coisa ou não.

Shura baixou a cabeça e compreendeu o que Julliete dizia. Os sentimentos de um ser humano podiam ser muito confusos às vezes e até mesmo fazer um homem trair seus princípios em nome deles. Era o que provavelmente tinha acontecido com Kamus, era o que acontecia com ele.

-Eu vou me deitar, o dia foi extremamente cansativo...

Julliete levantou-se da cadeira, despediu-se de Aioros e Miro com um aceno e subiu para o quarto. Shura ficou observando-a subir pelas escadas, sentindo o coração dividido entre o amor que já sentia e a fidelidade à amizade de Raul.

-Se quer a minha opinião, Shura... – Aioros interveio, vendo que o amigo parecia confuso – Vá atrás dela e resolva de uma vez por todas a situação.

-Mas e o Raul?

-Ele está morto e você vivo, Shura! Anda, vá conversar com a Julliete e diga logo o que sente por ela, seu lerdo!

-Mas...

-Anda logo, antes que eu tenha que te dar um incentivo... – disse o rapaz, fazendo menção de puxar o florete e investir contra o amigo.

Suspirando, Shura bebeu o último gole do vinho e subiu atrás de Julliete. Mas ficou parado na porta do quarto, não sabia se entrava ou não, se ia em frente ou voltava atrás...

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Parado estava Kamus, mas em frente a uma casa que servia como base para os homens da polícia executora. Meio hesitante, o rapaz não tinha certeza se deveria entrar ou não, estava nervoso. Tantos anos haviam se passado e agora o destino lhe pregava a mesma peça novamente!

Segurando um suspiro resignado, Kamus entrou pela casa. E não levava somente o chapéu nas mãos, mas também o coração...

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Julliete já tinha se livrado de boa parte de suas roupas, preparando-se para tomar um banho antes de dormir, quando ouviu baterem à porta. Despreocupada, nem levou em consideração o fato que usava somente uma camisa e a roupa íntima e abriu a porta.

-Julliete, eu vim até aqui... Ah, me desculpe, acho que não é uma boa hora... – disse Shura, sem jeito ao vê-la tão à vontade – Eu... Eu vou para meu quarto.

Meu Deus, como ele ficava com um jeito de menino, envergonhado daquela maneira! Sorrindo, Julliete acabou não resistindo e o pegou pela mão.

-Não precisa ficar assim, Shura. Vem, pode entrar e me diz o que você quer...

Julliete puxou o rapaz para dentro do quarto e fechou a porta. Shura foi para perto da janela, mal conseguia olhar para a garota vestida daquele jeito. Ela, por sua vez, se sentou na cama e ficou esperando-o dizer alguma coisa. Tentando não se sentir constrangido, Shura procurava palavras para iniciar uma conversa, mas não encontrava nenhuma.

-E então, vai me dizer o que quer ou não, Shura? – inquiriu Julliete, demonstrando impaciência em sua voz.

-Eu... Eu não sei como dizer isso...

-Dizer o quê? Ah, Shura, quer fazer o favor de se virar para mim? Odeio conversar com gente que não olha nos olhos!

Ainda constrangido, o rapaz se virou para Julliete e a encarou. Puxa, como aqueles olhos âmbar ficavam ainda mais belos sob a luz amarelada das velas acesas, o corpo perfeito revelado aos poucos pela tênue claridade. Era uma visão aterradora, uma bela jovem que ele se amaldiçoava por desejar possuir em seus braços...

Impaciente, Julliete levantou-se abruptamente da cama e foi até Shura, não agüentava mais de curiosidade em saber o que ele queria.

-Diga logo, Shura, nós não temos a noite toda para isso!

Com pose de inquisidora, Julliete voltou a encarar os olhos negros de Shura e acabou enxergando neles a chama viva do desejo, a vontade que ele estava sentindo de agarrá-la e satisfazer todas a suas fantasias. O rapaz, aturdido com tamanha beleza tão próxima a si, acabou não resistindo mais uma vez aos seus instintos e a puxou para um beijo, muito mais quente que o primeiro, ajudado pelo fato de que Julliete estava apenas de camisa e roupa íntima.

Explorando com ardor aquela boca perfeita, Shura enlaçou com mais ímpeto a cintura de Julliete com uma de suas mãos, enquanto a outra encontrou o primeiro botão da camisa dela e o abriu, deixando livre o caminho para os seios alvos que o tinham enlouquecido. Tomando um deles com a mão, o rapaz começou a massageá-lo, arrancando pequenos gemidos da garota, totalmente entregue nos braços de Shura.

Querendo ela também explorar aquele corpo másculo, Julliete percorreu com suas mãos o peito forte sobre o tecido da camisa, quase arrancou os botões ao abrí-la. Deixando de lado o beijo quente de Shura, ela deslizou sua boca pelo peito do rapaz, lambendo-o, beijando. Porém, quando o mosqueteiro desceu o olhar para acompanhar os movimentos de Julliete, seus olhos encontraram a bendita aliança que ela usava. Aí...

-Me desculpe, Julliete, mas não podemos continuar...

Tentando resistir à tentação, o mosqueteiro a empurrou de lado, saindo de perto da janela. Com as faces ainda vermelhas e quentes, Julliete virou-se para Shura e o segurou pelo braço, impedindo-o de sair do quarto.

-Afinal de contas, o que quer comigo, Shura? Por que me provoca dessa maneira para depois ir embora, com essa cara de cachorro arrependido?

-Julliete, eu não tenho nada a diz...

-Pare de fugir e responda a minha pergunta!

Os olhos âmbar faiscavam de raiva incontida naquele momento, a mão da garota se fechou com mais força sobre o braço do rapaz. Estava claro que Julliete só deixaria Shura sair depois de esclarecer tudo.

-Eu não quero trair a amizade de Raul, Julliete... – ele disse por fim, entre suspiros de resignação.

-Trair a amizade de Raul? Shura, eu não estou entendendo...

-Eu desejo você mais do que possa imaginar, Julliete... Mas não posso desonrar a viúva de um grande amigo e companheiro como Raul.

Surpresa com as palavras de Shura, Julliete o soltou, encarando os olhos negros do rapaz, como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir. O mosqueteiro sentiu um alívio enorme ao dizer aquilo, mas também um certo vazio. Era o fim de qualquer tentativa de envolvimento com a garota.

No entanto, o silêncio que imperava no quarto foi quebrado pela risada afoita de Julliete, que logo se transformou em uma sonora gargalhada. Ela ria com tanto gosto que precisou se sentar na cama, as mãos sobre a barriga. Shura, confuso, tentou entender a reação da garota, mas acabou ficando mais atordoado.

-Julliete, posso saber o que há de engraçado no que eu disse? – ele questionou, nervoso com a atitude da garota.

-Háháhá, Shura... Viúva, eu... Háháhá...

-E o que tem demais nisso?

-Bem... Háhá... – Julliete finalmente segurou o riso, bebendo um pouco da água que estava sobre o criado mudo – Eu, viúva do Raul? Isso é impossível, Shura!

-E eu poderia saber por quê?

Sentando-se em uma cadeira, Shura cruzou os braços e ficou esperando uma resposta de Julliete. Encarando o rapaz, ela precisou abafar mais uma risadinha antes de começar a falar.

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Bem, um pequeno aviso para os fãs do Kamus e da Desirée (eu, por exemplo, mas como estou escrevendo a fic, desconsiderem esta intervenção entre parênteses): não se preocupem que logo a história que os envolve vai ser explicada, mas de antemão eu aviso: ela pode não ter um final feliz...