Capítulo XI
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A viagem era pesada e sofrida para todos, principalmente para os cavalos. Mas, surpreendentemente, os animais corriam a toda pela estrada, pareciam até não sentir os efeitos que tal esforço provocava. Á frente, Shura e Julliete guiavam os demais. E o mosqueteiro não deixou de notar o brilho da fúria nos belos olhos âmbar, o desejo de vingar a morte do irmão que estava mais próximo de se concretizar.
Mas, apesar de toda vontade, sabiam que apenas quatro (machistas, excluíram as mulheres!) não seriam suficientes para deter o Cardeal e Rochefort, como lutariam com toda a guarda presente? Seria preciso uma ajuda extra...
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Em uma casa à beira da estrada, pouco depois do nascer do sol, um homem recolhia ovos em um ninho quando ouviu um zunido sobre sua cabeça, seguido de um som de algo batendo contra uma árvore. Ao olhar na direção de onde vinha o som, percebeu que se tratava de um pedaço de papel, enrolado em uma pedra. Abriu-o com rapidez e sorriu ao ver seu conteúdo, entrando depressa na casa...
"Um por todos... E todos por um!"
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-Como estão os preparativos para o discurso, Capitão? – perguntou o Cardeal, à mesa do café. O capitão, que acompanhava o desjejum, sorriu meio de lado.
-Está tudo preparado, Cardeal... Monsieur Legrand chagará logo e eu mesmo o levarei ao seu posto.
-Excelente! Brindemos então ao maravilhoso presente que o rei e sua esposa receberão neste aniversário...
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-Os muros de Paris! Vamos apear um pouco e discutir como faremos para entrar na cidade e chegar ao palácio de Versalhes.
Kamus foi o primeiro e ajudou Desirée a descer. A mulher estava visivelmente cansada, mas rejeitou prontamente qualquer tentativa do rapaz de sugerir um descanso ou algo assim.
Julliete apeou de Milady e ajeitou seu florete na cintura, indicando que estava pronta para matar qualquer um que atravessasse seu caminho, impedindo-a de concretizar seu plano de vingar a morte do irmão e provar sua inocência, ainda que tardia. A determinação da garota causava admiração em Shura, mas também uma preocupação que se tornou constante nas últimas horas. Julliete não mediria esforços para atingir seu objetivo, daria sua vida por isso se fosse necessário... E o mosqueteiro não gostou nada de pensar na idéia de perdê-la de uma maneira tão idiota.
Aioros e Miro, a pé, voltavam de uma ronda preliminar e voltaram-se aos amigos, sorridentes.
-A movimentação de guardas na cidade é mínima, estão todos se aprontando para o discurso. Não será tão difícil entrar na cidade e chegar ao palácio.
-Então ouçam-me e vejam o que faremos...
Atentos, os mosqueteiros e as duas mulheres prestavam atenção em tudo o que Kamus dizia...
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-Este será seu posto, Monsieur Legrand. – apontou Rochefort para o alto de uma pequena torre, plantada em uma das laterais do jardim do palácio. E de onde o atirador teria uma visão perfeita da sacada onde o rei e sua esposa estariam no momento do discurso.
-E o restante do pagamento, capitão?
-Procure-me na taverna da cidade, hoje à noite e eu lhe entregarei o restante.
Monsieur Legrand assentiu e subiu à torre. Estava quase na hora do discurso e ele precisava se aprontar. E, em todo o jardim, pequenos grupos da Guarda Real já se aglomeravam esperando a presença do rei.
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Ajeitando sua faixa, Luís XIV observava a esposa terminando de se arrumar, colocando os brincos. Não deixou de notar uma sombra de tristeza em seus olhos.
-O que foi, minha querida?
Anna suspirou e afagou as mãos que seu marido pousava sem eu ombros.
-Não é nada, apenas... Nada...
-Vamos, me diga por que está assim?
-Um pressentimento, Luís... Como se algo terrível estivesse prestes a acontecer contigo, eu querido.
-Não pense nessas coisas, Anna. Toda a guarda estará presente, nada pode me acontecer.
-Eu não confio nesses homens, Luís...
Carinhoso, o rei a beijou sua esposa e a tomou pela mão, saindo juntos do quarto.
-Nada vai me acontecer, eu prometo. – ele disse, pouco antes de se encontrarem com o Cardeal na sala anexa à sacada.
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Nas proximidades do palácio, os mosqueteiros deixaram os cavalos presos em um madeiro e, protegidos por capas, iriam infiltrar-se no jardim.
-Tem certeza de que ficará bem, Desirée? – perguntou Kamus, não queria deixar a mulher sozinha enquanto ele iria lutar.
-Vou, Kamus... E você me faça o favor de voltar inteiro!
-Eu juro...
-Ah, me avisem antes para eu não ver uma coisa dessas! – exclamou Miro, virando de costas para não ver o beijo do casal.
Aioros riu, Shura também. Mas Julliete, de dedo em riste na cara do rapaz...
-Você sabe muito bem que EU deveria ir junto, Shura!
-Julliete, por favor... É perigoso demais, você sabe que seremos quatro contra centenas de homens...
-E por causa disso você vai me impedir de vingar meu irmão! Isso é injusto!
-Injusto é eu te perder por causa de uma loucura dessa sua cabeça torta!
Julliete ia retrucar, mas ficou calada, o dedo em riste no ar foi murchando. Shura estava lívido e Aioros não resistiu e teve que abrir a boca...
-Eu sabia que ainda iria viver para presenciar essa cena... Bela declaração, Shura.
A garota corou e o mosqueteiro a abraçou. Ficaram assim por um tempo, até que ele resolveu falar.
-Eu prometo que matarei pessoalmente o Cardeal e vingarei a morte de Raul...
-Está bem... Tenha cuidado.
-Você também.
Shura a beijou com ímpeto e paixão, mas teve que largá-la depressa. Ajeitando seu chapéu, o rapaz se afastou junto de seus companheiros. Desirée e Julliete ficaram paradas ao lado do madeiro.
-Então... – Desirée falou, quebrando o silêncio – Acho que agora podemos ir.
-Sim. Diga-me, você sabe manejar um desses? – perguntou Julliete, apontando o próprio florete.
-Mais ou menos, mas aprendo rápido.
-Ótimo. Venha comigo.
Sorrateiras, as duas mulheres puseram-se a caminho por uma outra via que não e mesma usada pelos rapazes.
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Capítulo onze! E muita ação prometida para os próximos!
Beijos!
