Ah, eu tenho que dizer uma coisa: eu estou amando escrever com essa duas mulheres e as cenas que se seguirão refletem bem isso. E uma outra coisa: já que a Desirée foi um valioso empréstimo da Juli Chan, eu recomendo que leiam "Uma garota Especial" e conheçam o contexto original onde essa personagem foi criada e inserida e já adianto que vale muito a pena!

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Capítulo XII

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-Os guardas o esperam ansiosos, Majestade... – disse o Cardeal, entre sorrisos. O rei agradeceu a informação e dirigiu-se à varanda, de mãos dadas com sua esposa.

Na pequena torre do jardim, Monsieur Legrand já estava posicionado, apenas esperando momento certo de agir. Junto à fonte, Rochefort olhava para o céu, visivelmente entediado com aquela pompa. E, na entrada do jardim...

-Estão todos os guardas a postos... E onde estará o atirador que Desirée falou? – questionou Kamus, observando o local.

Shura, que encarava a figura odiosa do Cardeal cheio de falsos sorrisos, desviou sue olhar por um momento e acabou encontrando a figura de roupas pretas escondida atrás da amurada da pequena torre. Cutucando Kamus, ele indicou o local.

-Ai está você... Acho que posso pegá-lo, então! – disse Miro, também observando o atirador e já querendo se pôr a caminho. Mas Aioros o deteve, muito sério.

-Estabanado do jeito que é, Miro, será capaz de chamar a atenção de todo mundo e não conseguir impedir o atirador de matar o rei.

-Eu, estabanado? Ah, até parece que não me conhecem direito! Eu seria incapaz de uma bobagem dessas e...

-Chega, Miro! Shura, você cuida desse cara. Nós pegaremos o Capitão e também o Cardeal.

-Isso não é justo, Kamus! Eu quero pegar o atirador, eu quero...

-Silêncio! Andem depressa, nós temos que pegar esse traidor de uma vez por todas.

Caminhando juntos, os três amigos se dirigiram para a fonte, enquanto Shura virou-se para a direção da torre. E nenhum deles percebeu que, logo, não seriam quatro contra centenas. Entrando pelos portões do jardim, vários homens vestindo capas acinzentadas vinham pela cidade...

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Guardando um dos portões laterais, um guarda solitário fazia uma pequena ronda quando um barulho de galhos secos sendo pisados chamou sua atenção. Meio receosos, ele fez a curva pelo muro conjugado e nem teve tempo de perceber o que acontecia; um oponente de porte esguio e muito ágil rasgou sua garganta com um florete.

-Rápido, nós não temos muito tempo...

Depressa, Desirée ajudou Julliete a despir o guarda e pegou seu florete. O corpo foi arrastado para trás de um arbusto e deixado por lá.

-Gostei desse chapéu... – comentou Desirée, sorrindo. Julliete embainhou novamente seu florete e adentrou o jardim, ajeitando o lenço sobre seu rosto.

Havia chegado a hora de sua tão sonhada vingança. E Shura não seria louco de impedir isso!

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Silencioso e ágil como um felino, Shura subiu devagar as escadas da pequena torre e logo chegou ao topo. Escondido atrás de uma porta, ele viu o atirador com a arma já engatilhada e esperando momento certo. Esticando o pescoço, o mosqueteiro viu o Cardeal sorrir satisfeito com o andamento de seu plano e Rochefort ainda olhando para o alto, como se absorto em pensamentos.

Os outros três já estavam posicionados e começavam a chamar atenção dos guardas a postos, que se questionavam porque aqueles homens usavam capaz e chapéus que escondiam seus rostos. Observando tudo do alto, Shura não conteve o sorriso maroto ao perceber que, vindos de várias direções, outros homens usando capas apareciam.

-Senhores, é com imenso prazer e alegria que estou aqui, diante de vós, para lhes agradecer por tudo o que têm feito... – o rei começou seu discurso. Nesse momento, Rochefort desviou seu olhar para o chão, ajeitando a aba do chapéu. Shura percebeu a movimentação do atirador e se preparou para atacar.

Foi um fração de segundos, talvez nem isso. Quando Monsieur Legrand apertou o gatilho, o rapaz saltou sobre ele, desviando a trajetória do tiro. A bala foi parar longe, o rei e sua esposa gritaram assustados e o cardeal viu o mosqueteiro lutar contra o atirador na torre.

-Guardas, na torre! O mosqueteiro traidor está na torre!

Porém, quando os guardas desembainhavam seus floretes para atacar Shura...

-Aonde pensam que vão, senhores? – quis saber Miro, jogando longe a sua capa, os amigos fizeram o mesmo. Rochefort apontou seu florete para o rapaz, dando risadas.

-Acham mesmo que conseguirão alguma coisa? São apenas quatro contra todos os meus homens.

-Meu caro Rochefort, acho que o equivocado desta história é você...

Mal Kamus disse isso e centenas de homens, ao mesmo tempo, tiraram suas capas e empunharam floretes. Os mosqueteiros do rei estavam de volta. E desta vez não recuariam.

-São seus mosqueteiros, querido! – gritou Anna, sendo levada para dentro do castelo junto do marido. E tanto ele quanto a esposa não deixaram de notar que Richilieu parecia muito nervoso e consternado com a situação.

-O que tem, Cardeal? Parece até que alguma coisa deu errado em seus planos?

-Ora, Majestade, é claro que deu errado! Eu não imaginava que os traidores estriam presentes e tentariam matá-lo.

-Me matar? Pois a mim pareceu que Shura evitou que um tiro me atingisse.

O rei Luís desafiava o cardeal, com a cabeça erguida. O religioso limitou-se a sorrir e acenar para os guardas que os acompanhavam, que apontaram seus floretes para o casal real.

-No fim das contas, é mais esperto do que eu imaginava... Mas agora é tarde, Majestade... E para seu bem e de sua esposa, é melhor que me acompanhem...

Sem alternativas, o rei e sua esposa seguiram o Cardeal e seus homens pelos corredores do palácio, em direção ao subsolo.

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O tilintar dos floretes se chocando no ar podia ser ouvido de longe e a briga estava realmente boa. Os mosqueteiros lutavam com uma garra sem igual, descontando toda raiva pelo tempo que ficaram parados e distantes de seu posto original. Dando risadas e mostrando sua melhor forma, Miro lutava com dois, três de uma vez, rodopiava e bradava palavras de ordem. A cada um que Aioros despachava para o outro mundo, o sinal da cruz era feito. E Kamus...

Kamus lutava com Rochefort, que revidava todos os ataques do mosqueteiro, os floretes se encontravam a todo momento, as provocações idem.

-Nada mal para alguém que não tem técnica nenhuma, Rochefort.

-Posso não ter técnica, mas também não tenho medo de encarar um lambe botas feito você!

-Engraçado, não foi isso o que me pareceu há alguns anos.. Lembra-se de quando foi expulso da ordem, Rochefort?

Furioso, o capitão avançou com muito mais ímpeto sobre Kamus, que desviou-se fácil do golpe. A fúria de um era o combustível que mantinha a calma do outro.

Na torre, Shura e o atirador trocavam socos e agressões verbais, um tentando derrubar o outro pela amurada. Mas o rapaz não podia perder tempo, ele vira quando o Cardeal ameaçou o rei e sua esposa e os levou para dentro do castelo.

Monsieur Legrand deu um salto para cima de Shura, que desviou-se do soco e o segurou pelo braço. Estavam muito próximos da amurada, qualquer passo em falso e um deles cairia.

-Isso já me cansou...

O comentário do rapaz veio acompanhado de um soco, Monsieur Legrand desequilibrou-se e caiu no vazio, direto ao chão do jardim.

-Miro! – o mosqueteiro gritou do alto e o amigo até se assustou – Atrás do Cardeal, depressa!

O rapaz saiu correndo, desviando-se de todo tipo de ataque e entrou pelo castelo, acompanhado de Aioros. Rochefort tentou ir atrás deles, mas Kamus o impediu, apontando o florete para o pescoço do Capitão.

-Acho que é o fim da linha para você, Rochefort...

-Não tenha tanta certeza disso, meu caro...

Rochefort sorriu e, no mesmo instante, um guarda apareceu por trás de Kamus e rasgou seu braço direito com o florete. O rapaz gritou de dor e virou-se para abater o inimigo, o que fez com sucesso. Mas a dor era tamanha que o florete começou a pesar em sua mão e Rochefort o chutou para longe.

-Parece-me que o jogo virou ao meu favor...

-Desta vez é você quem está enganado, meu caro Capitão.

Empunhando um florete, Desirée nem deu tempo para Rochefort pensar no que acontecia. De um só golpe, rasgou o rosto do capitão e seu peito, ele caiu dentro da fonte, tingindo a água com seu sangue.

-Eu disse para a Julliete que aprendia rápido.

-Desirée! O que está fazendo aqui?

-Cuidando de você, ora! Estique seu braço, Kamus!

Rasgando um pedaço de sua própria roupa, a mulher envolveu o braço de Kamus com o tecido, estancando o sangue. De posse do florete do rapaz, ela entregou-o a ele e tomou o rumo da entrada do castelo.

-Vamos depressa, temos um rei para salvar e um traidor para capturar.

-Adianta alguma coisa se eu pedir que não vá e fique por aqui, em segurança?

-Sabe muito bem que a resposta é não.

-Então vamos logo, Desirée.

Os dois entraram pelo castelo, correndo atrás de Miro e Aioros. Descendo as escadas da torre, Shura já estava pronto para ir atrás dos amigos quando foi surpreendido por um guarda o atacando com tudo. O rapaz desembainhou o florete, mas não precisou fazer muita coisa...

-Muito me admira um mosqueteiro com a sua habilidade ser surpreendido desta maneira, Shura... – comentou Julliete, puxando de volta o florete que atravessara o corpo do guarda.

-Julliete! Eu não mand...

-Shi! Você já devia saber que eu não ficaria parada naquele lugar, apenas esperando notícias!

-Mas, Julliete, aqui é perigoso!

-Chega, Shura! Eu vou entrar naquele castelo e acabar com o Cardeal com minhas próprias mãos, você queira ou não!

-Quer saber? É simplesmente impossível discutir com você!

Shura ajeitou o chapéu e correu para o castelo, Julliete o seguiu. Se não podia impedí-la de ir atrás do Cardeal, pelo menos ele estaria por perto para ajudá-la.

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Ai, que garota mandona! Não pode fazer assim com o Shura, Julliete! Mas eu gosto demais dela, é uma das personagens originais por quem tenho mais carinho (as outras são a Gwyneth e a Helena).

Bem, este foi o capítulo 12, o penúltimo da fic. Espero que ela tenha correspondido às expectativas de vocês até aqui e aguardem as emoções do próximo e derradeiro capítulo...

Beijos!