Tédio, tédio, tédio. Era nesse compasso e com esse som que o relógio na parede do quarto se movia: preguiçosa e demoradamente, se arrastando. O silêncio do resto do apartamento só servia para ressaltar o som que o objeto fazia; ritmo hipnotizador que fez com que Die fechasse os olhos e deixasse a cabeça buscar apoio em uma das mãos. O som do relógio foi ficando distante; mais lento e demorando, assim como a própria respiração de Die. Mas foi quandosua cabeça pendeu para o lado, escorregando do apoio da mão, e desequilibrando-o; que o guitarrista teve um sobressalto e levantou-se irritado da cadeira em frente ao computador, onde estivera sentado pelas últimas duas horas, indoaté a cozinha se servir de café.
Não conseguia se conformar que ainda não era nem nove horas e ele já estava cansado. "É o tédio" pensou, "ficar sem o que fazer durante tanto tempo me estressa". E lançou um olhar de canto de olho para o monitor. Acontece, vez ou outra, quando você tem a nítida sensação de que já fez tudo o que poderia fazer e ficar apenas matando o tempo.
Quando voltou para frente do aparelho, o fez apenas por conveniência, porque não havia real função de usá-lo. Ficou vagando, pulando de site em site, até lembrar-se de um fórum do qual costumava fazer parte, mas andava meio afastado. O fórum perdera a graça, sempre as mesmas pessoas, os mesmos assuntos, sempre a mesma rotina. A maioria dos usuários era do sexo masculino, com os mesmos desesperos, com os mesmos papos idiotas sobre sexo. Chegava a ser grotescamente monótono e vulgar. As mulheres que entravam costumavam não ficar muito tempo, para o bem delas.
E ele? Ele só conseguia achar muita graça de tudo isso. Outras pessoas procuravam companhia, mas no seu caso, as companhias procuravam por ele. E Die falava nisso sem modéstia alguma, seu sarcasmo só lhe permitia sentir pelo fato de que as companhias não duravam muito tempo. Uma pena.
Um sorriso cínico formou-se em sua boca ao lembrar disso. "Cretino mulherengo", fora disso que a última garota lhe chamara... Qual era mesmo o nome dela?
Bom, hoje de qualquer forma não iria ser diferente, ele entraria no fórum, analisaria o terreno, receberia as já esperadas mensagens das poucas garotas que haviam ali (todas muito bem experimentadas, diga-se de passagem) e dos homens com que ele costumava "brincar". Não, ele nunca tivera um casocom outro homem e nem lhe apetecia o gosto começar a fazê-lo, a curiosidade era só fachada, sentia um prazer ainda maior em alimentar falsas esperanças de outros homens, porque para ele era como um desafio. Conseguir quebrar a barreira que cada homem se impunha e faze-lo descer até o fundo do poço. Era como ser Deus.
As mensagens foram deixadas para segundo plano quando algo lhe chamou a atenção. Alguém além dele acabara de se loggar. Alguém novo. Uma mulher. Carne nova. Sorriu para si mesmo e sem perder tempo tratou de mandar uma mensagem para ela. Era só questão de tempo agora.
A resposta foi quase imediata, nada que realmente o surpreendesse para falar bem a verdade. A falsa preocupação, o exagero de cuidado, as mesmas palavras manjadas. Por Kami-sama, como eram burras e fácies de se manipular! Esta em particular era meio inocente, mas podia se perceber na maneira que escrevia, que escondia boa parte de sua personalidade, o que só excitou ainda mais Die. Um desafio, era exatamente isso que ele estivera procurando por tanto tempo.
Ele provavelmente só não estava preparado para ser desarmado da maneira como fora. O pseudônimo foi uma das coisas que lhe chamou atenção, a primeira na verdade, porque depois ele pode comprovar que aquela era uma mulher diferente das outras ovelhinhas que ele havia devorado. Reila estava um passo a frente das outras, e quase compassada com ele próprio, nas conversas aleatórias muitas vezes dividiam do mesmo ponto de vista, e quando não o faziam ficavam horas embalados em conversas descontraídas. Não queria assumir, mas ele sabia muito bem que essa garota era diferente de qualquer outra com ele já havia se relacionado.
Alguém por quem ele não alimentava somente um desejo sexual, mas de outra forma, alguém para conversar. Talvez, pela primeira vez uma amiga. E as cantadas, os joguinhos de sedução ficaram esquecidos enquanto conversavam sobre outras coisas, e foi com certo pesar que ele recebeu a mensagem em que Reila lhe dizia que iria sair. Não queria que ela saísse, não agora... Mas ignorando a vontade de lhe dizer isso, e mais, pedir para ficar com ele, apenas escreveu uma mensagem de despedida aleatória, não se reconheceu ali. Nem como o cretino que outrora fora, nem como o Die que agora se encontrava, era um meio termo, totalmente falsificado.
Ela pareceu não perceber, pois logo em seguida saiu do fórum deixando Die mais uma vez a mercê do tédio. Ele agora havia perdido completamente a vontade de permanecer na frente da máquina, então se limitou a ligar uma música num volume que certamente incomodaria os vizinhos, desligar o monitor e se jogar na cama, ainda refletindo a conversa que tivera com a misteriosa garota.
"Ela é bem legal... talvez eu dê meu telefone, ou ligue para ela depois do nosso primeiro encontro..." pensou baixinho e sorrindo. Mas no fundo sabia, e nutria certo desespero por saber que as coisas talvez não fossem mais as mesmas se levasse essa história toda à diante. E pior, não parecia que realmente se importava com isso.
Acabou adormecendo ali mesmo, em meio a confusão de música e pensamentos.
N/A: Weeeeeee o segundo capítulo! Demorou mas tá aí... eu fiquei mais entretida com a Disconnected, por isso travei essa. Agora acontece justamente o contrário ;-;
Well. É, vamos ver o que que vem né? n-n'
Perdão também as fans do Die, a fic foi feita com todo o respeito .. e se você gostou dela, mesmo ela sendo non sense e manjadinha, divulga ela e faça uma autora feliz i-i
see yah ;D
