Shaka estava sem saída: preso no engarrafamento, ocupado com o drama de seu amado, não teria como fugir! Concentrou todas as suas energias e a sua fé numa prece, na tentativa quase nula de não ser apanhado. Tinha que dar certo! Tinha que funcionar...

Cerrou os olhos no intuito de aumentar a sua concentração e ouviu quando os veículos policiais mudaram de rumo. Quando abriu os olhos, entretanto, viu 1 dos carros passar ao seu lado, encostado em seu veículo e um frio nunca dantes sentido percorreu toda a sua espinha, espalhando-se pelo seu sistema nervoso. Milagrosamente, os policiais prosseguiram na direção contrária, em alta velocidade. A sua sorte não havia mudado completamente! O loiro suspirou aliviado, mas a voz de Mu chamou-lhe a atenção.

– E agora? Falta tão pouca gente... – perguntava, em desespero.

A angústia invadiu a alma de Shaka. Afinal, o que o criminoso queria? Seria capaz de tudo... Até ceder toda a sua incalculável fortuna para salvar a vida do tibetano. Se aquele verme aceitasse a chantagem, poderia enrolá-lo depois ou... bem, pensaria no que fazer assim que o namorado estivesse seguro.

– O que ele quer? Por que faz isso?

– Ele disse que quer dinheiro, muito dinheiro e um alto cargo no governo ou algo assim...

– Que loucura! E se alguém tentasse um acordo?

– Ele não vai ouvir. Só aceita a resposta do presidente... Talvez aceite ouvir o governador, mas... – responde com um tom de pesar.

Infelizmente Shaka não poderia fazer nada a esse respeito, pois não conhecia os políticos pessoalmente. Na verdade, já tivera oportunidade, mas sempre recusava-se devido ao fato de considerar que todo político era corrupto, mentiroso e que não valia a pena manter um diálogo com tal laia. O tibetano, ao contrário, sempre teve curiosidade de conhecer pessoalmente os governantes, chegou a ser amigo pessoal de um ex-governador que havia morrido há alguns anos e afirmava que haviam políticos honestos. Talvez, se a situação fosse inversa, Mu conseguiria satisfazer a vontade do serial killer e salvar a vida do indiano, mas agora não adiantava fazer esse tipo de suposições. Antes que o loiro pudesse tentar convencer o namorado a ligar para algum político importante, ouviu seu desabafo:

– Ele quer mandar em todos... e não pode. Se conseguir o cargo, certamente se transformaria num ditador... seria um tirano que mataria muitos inocentes. Ele é mau...

Um homem que invade um edifício e faz inocentes de refém, matando a sangue frio, certamente não teria condições psicológicas de assumir o poder. Mu tinha razão, o louco não poderia prosseguir com os seus planos e deveria ser eliminado da vida social, mesmo que isso tivesse de ser feito da maneira mais drástica do mundo: com a morte! Era trágico, mas ele merecia. Shaka teria que ser prático e ter sangue frio se quisesse ajudar o tibetano.

– Como ele conseguiu entrar? – perguntava com certa indiferença.

– Você acha que eu tenho todas as respostas, Shaka?... Nenhum lugar é seguro! Nenhum...

Shaka gostaria de continuar a conversa, de proteger o namorado, mas o sinal havia aberto e ele tinha que correr contra o tempo para salvar seu anjo. Sempre gostou de Mu de forma diferente, especial – tanto que fora o indiano quem fizera o pedido. Os amantes eram muito parecidos no seu jeito de ser e por isso se davam tão bem. No início da relação, sentiam-se como se fossem irmãos e o tempo fez com que surgisse um sentimento maior, puro e verdadeiro. A amizade foi evoluindo para paixão, amor... até o ponto de não conseguirem mais definir aquele sentimento com palavras.

O loiro continuou sua jornada em prol da vida de seu belo bibelô de cabelos lavandas. Agora o engarrafamento era desesperador ao jovem indiano que, propositadamente atravessou o sinal vermelho. Não esperaria mais 15 minutos, pois esse tempo poderia fazer a diferença na vida e no destino dos dois amantes. Virou na esquina da direita e novamente ouviu sirenes atrás de si. Para seu desespero, os policiais estavam seguindo seu carro. Sua espinha congelou momentaneamente, a sentença de morte do namorado sendo repetida pelo seu cérebro. Decidiu fugir da perseguição e falou com o namorado.

– Mu, estou com um probleminha aqui, mas chegarei num piscar de olhos.

– Shaka, você vem mesmo? Não está mentindo?

Como Mu poderia duvidar de si se o loiro estava enfrentando, ou melhor, fugindo de uma perseguição policial para chegar ao seu destino? Tudo bem que o tibetano estivesse nervoso, mas aquilo já era demais! Não queria brigar com seu amado num momento tão crítico e tentou ser o mais carinhoso possível ao afirmar:

– Não! Prometo chegar a tempo.

–Você já prometeu tantas vezes... Já me deixou na mão antes, porque não agora?

O indiano estava cada vez mais encrencado. Além de ser vítima de uma perseguição policial, tinha de ouvir as duras críticas de Mu sem o direito de contestar, pois sabia que eram verdadeiras. Para piorar, agora estava perdido na cidade. Apesar do fato de o loiro já morar ali há cerca de 20 anos, seu comodismo fazia com que ele só conhecesse as ruas principais e o caminho entre sua casa e a do namorado. Sentia-se um turista em outros bairros.

Os carros de polícia continuavam a sua perseguição e Shaka pegava todos os sinais fechados, o que o obrigava a furá-los. Se fosse preso, perderia o belo amado de profundos olhos esmeraldas para sempre – e isso era-lhe inadmissível. Sabia que era uma atitude suicida, mas não tinha escolha. Temendo que algo lhe acontecesse, usou toda a sua veracidade ao confessar:

– Você tem todos os motivos para não confiar em mim, mas eu nunca abandonaria um amigo num momento difícil. Você sabe disso...

– Eu não acredito que você disse isso! – Seu amargor era evidente.

Mu estava à beira da morte e para consolá-lo, Shaka o havia chamado de amigo – na véspera de seu aniversário de namoro! Então o indiano não o amava verdadeiramente? O loiro percebeu seu lapso pelo timbre de voz que o tibetano usara.

– Mu, ouça! Eu... estou perdido, mas logo chegarei. Eu gosto muito de você...

– Me esquece Shaka! Não preciso de você. – gritava nervosamente – Já que me considera um amigo... Não se importará tanto com o meu destino. Sabe que outros poderão substituir-me... – com muita dificuldade, continha-se para não chorar.

– Não! Não desligue... – pedia em desespero – Mu, fale comigo. Por favor, fale-me o que eu fiz de errado!...

– Já que você quer tanto saber, eu falarei!... Eu pensei que você me amasse, mas agora vejo que estava enganado, meu amigo... – fala com melancolia.

– Mu?

Shaka não poderia perder aquela ligação, mas sabia que era o culpado pelo que acontecia. Quantas vezes o tibetano não precisara de seu apoio e o loiro não havia o deixado na mão? Incontáveis! – E só agora o indiano percebia isso. Sempre subestimara a carência daquele anjo inocente, puro e levemente infantil. Amaldiçoou seus atos, suas atitudes frias e inexpressivas que tinha perante seu amado. Seu descaso estava fazendo com que aquele doce ser delicado, singelo e amigo sofresse.


Longe dali, mais precisamente 2 quadras ao sul de onde a fiscal havia multado Shaka, um carro de polícia pára na calçada. Um homem alto, de olhos azuis e longos cabelos azuis desce do carro. Sua masculinidade era inquestionável e seus cabelos rebeldes e cacheados balançavam com o vento. O policial anda até a pequena fiscal.

– Boa tarde, Alana.

– Milo? Meu irmão... – chorava abraçada ao homem.

– Você pareceu tão nervosa ao telefone... O que foi?

Alana enxuga as lágrimas e conta o episódio com Shaka. Milo, que havia pedido para ver o nome do tarado, gargalha quando descobre de quem se tratava.

– Por que está rindo? – perguntava dengosa. – Pensei que fosse me defender...

– Eu conheço esse homem. Não se preocupe, pois em nenhum momento ele quis fazer-lhe mal. Primeiro pelo fato de gostar de outro rapaz... depois, bem... eu nunca vi ninguém mais calmo e sério. Às vezes acho que até o Camus perde para ele nesse requisito.

– Nossa...

Milo continua a falar de Shaka, descreve-lo e sua irmã percebe o quanto havia se enganado com o loiro. Sorte que decidira falar com o irmão antes de registrar queixa.


Novamente a voz do assassino fez-se presente.

– Ei, você aí, o que pensa que está fazendo? Se chamar a polícia...

– Ele descobriu tudo!... – Mu alarmava, em desespero.

– Mu, me perdoe...

– Por que faz isso, Shaka? Você sabe que eu nunca conseguiria ficar bravo contigo, pois eu te amo muito.

– Eu sou um burro, que nunca valorizou a pessoa que você é...

– Adeus, Shaka! Espero que nos reencontremos brevemente.

Shaka não havia percebido, mas há muito tempo os carros de polícia haviam parado de persegui-lo. Antes que pudesse responder ao seu amado, entretanto, não conseguiu desviar de uma enorme pedra no asfalto. Ao passar sobre ela, o carro perdera o equilíbrio e o indiano percebeu-se indefeso. Não poderia evitar uma fatalidade, visto que estava em alta velocidade e com um veículo desgovernado em mãos.

Num movimento violento, o veículo capota dando 2 piruetas completas e pára com as rodas para cima. Dentro do carro, a mente de Shaka só visualizava o rosto de seu amado. Agora ao menos morreriam juntos e não sofreriam mais. Segurava o celular com todas as forças e tentava protegê-lo como se a vida de seu namorado dependesse disso. Escutou o chamado dele, mas já não poderia responder. Estava perdendo os sentidos e logo perderia a vida. O último gesto que o indiano pôde fazer antes do veículo parar, foi soltar uma lágrima e despedir-se mentalmente do tibetano.

CONTINUA


Bem, não vou falar nada, senão o povo come o meu fígado. Só peço pra esperar o último capítulo antes de fazer um picadinho de Nana e servir aos deuses. Agora, deixe eu fazer alguns comentários ao povo:

PaolaScorpio: Já que você pediu com tanto carinho, resolvi não machucar o Mu, mas o Shaka não escapou de meus instintos assassinos - risada maléfica.Seu palpite sobre o assassino foi registrado, mas não vou dizer se está correto ou não. Terá que esperar pra ver. Musha: Espero que tenha vibrado com esse capítulo também. Como prometi, atualizei mais rápido. Ai... viu aonde eu parei? oO Ao menos há uma continuação... Portanto, não me mate AINDA! Shakinha: Será que o Shaka vai chegar? Só eu mesma para parar nesse ponto! Bem... a fic ainda não terminou, portanto tem água pra rolar sob a ponte. Continue acompanhando. Angel: Mana, o Shaka está um pouco impossibilitado. Você viu, né? A culpa não foi minha. Ok, foi sim! Mas... Vamos torcer, né? E sobre o assassino, você sabe que eu não revelo! XD mariane: Você manda mesmo? Vou deixar de atualizar e ficar esperando. Brincadeira! Eis o novo e emocionante capítulo.