Ato 2: The Ghost Of The Navigator
"I see the ghost of navigators/ but they're lost
As the sail into the sunset/ they'll count the cost
As their skeletons accusing emerge from the sea
The sirens of the rocks, they beckon me"
( Iron Maiden)
O trem cortava veloz a paisagem noturna e estrelada, com destino à pequena vila portuguesa. De uma das únicas janelas acesas Lílian contemplava os campos azulados pela luz da lua. À sua esquerda, no banco da frente, a prisioneira – e companheira de viagem – Leah; agora usando um uniforme preto que lembrava uma farda. De banho tomado, ela não estava muito diferente da Leah que havia se formado dois anos atrás em Hogwarts. Ao menos seu humor ácido e sarcástico estava intacto, assim como sua incrível capacidade de falar mais palavrões do que palavras comuns em suas frases.
- ...Você deve estar feliz de ter sua espada de volta. – comentou Lílian, olhando uma bela espada ao lado de Leah, que continuava de olhos fechados, braços cruzados e as pernas sobre o banco de Lílian – Não?
Leah abriu os olhos evagar, e, ao invés de responder, comentou:
- O que você acha que acontece nessa vila que a gente vai?
Lílian deu de ombros:
- Não sei ao certo. Você escutou, talvez não seja coisa de um bruxo, ou um grupo... parece ser um tipo de... maldição.
- Caçar fantasmas. – riu Leah – Dá pra acreditar? O português disse que as pessoas da vila são mortas misteriosamente na praia durante a noite. Acreditam que são fantasmas que fazem isso. Mas cá entre nós... que fantasma fodão é esse que consegue fatiar um ser humano vivo? Isso tá mal contado.
- Chegando lá nós descobriremos, acredite.
O senhor Bandeira abriu a porta do vagão e entrou, fechando a cabine. Deu dois passos na direção de Lílian mas parou na frente das pernas de Leah, que lhe barravam a passagem. Olhou as pesadas botas que ela usava, pousadas no banco da frente e fez um gesto para que ela as tirasse do caminho, meio impaciente.
Leah o olhou levemente mau humorada, mas obedeceu, continuando de braços cruzados e cara fechada. Mannuel sentou-se ao lado de Lílian, tão próximo que talvez se sentasse em seu colo não estaria tão próximo.
- ...Sim, senhor Mannuel Bandeira?
- Olha... ahm... senhorita Evans... eu... ahm... – ele virou-se para Leah, que voltava a fechar os olhos, como se cochilasse. – Será que posso ter uma conversa em particular?
Lílian olhou do português pra Leah, que não se moveu.
- Heim, senhorita Leah. Pode nos deixar a sós, por favor?
Leah abriu os olhos de novo, e, sem descruzar os braços, ergueu e mostrou o dedo médio para o homem.
- Ela não vai atrapalhar. – disse Lílian, tentando não rir.
Mannuel pareceu contrariado, mas voltou a virar-se para Lílian, cheio de dedos:
- Mas então... Mas então... minha senhorita... tem tanta certeza que poderá nos... salvar?
- ...Espero que sim, senhor Bandeira. – respondeu, seca, mas educada.
- ...Bem... – pigarreou, debruçando-se um pouco em sua direção – Uma menina tão jovem... tão bonita... não poderá por ventura ficar... em perigo?
- Estou certa que não. – sorriu Lílian, tentando parecer simpática.
- Que corajosa. – sussurrou o homem, esticando o braço que estava sobre o encosto do banco e aproximando os dedos do cacheado e ruivo cabelo de Lílian, na direção do seu rosto – De qualquer forma, se uma jovem como a senhorita precisar da proteção de um homem vigoroso, eu...
Antes de terminar a frase ou tocar Lílian, Manuel foi empurrado contra a parede da cabine num bote fulminante: A pesada bota esquerda de Leah enterrou-se com força entre as pernas do homem, e a reluzente e fria lâmina da sua espada agora estava encostada no queixo do português:
- Se você encostar um dedo bela, é um homem morto. – murmurou leah em tom baixo e brando, o olhando friamente: o que significava que ela não se importaria muito em picá-lo em pedaços pequenos.
- Eu... – gaguejou, tremendo – Você não... faria isso... eu sou... um importante funcionário... do mi... ministério português!
- Ah, que bom. Então já até sei pra onde despachar a caixinha com suas fatias.
- M... ma... mande ela me soltar! – gemeu, olhando Lílian.
- Deixei ele, Leah. – sorriu Lílian.
Leah olhou de Lílian para o português, e o soltou. Mannuel, ligeiro, pigarreou, se endireitou, e saiu da cabine, parecendo ofendido.
- Boiolinha. – murmurou Leah, voltando a cruzar os braços e pôr as pernas no banco.
- Só você mesmo! – ria Lílian, divertida.
- Até eu sou um homem melhor que ele. – murmurou, ainda olhando a porta.
- Tenho certeza que sim. – sorriu Lílian, retomando o fôlego e passando a mão na testa, voltando a olhar a paisagem.
- Falando em homem... onde foi parar Tiago? Achei que já tivessem se casado.
- Ele foi para a Croácia, vai ficar um ano lá, estudando. Depois ele volta.
- Ah, então ainda está se pegando com ele, ao menos.
- Hum... dessa distância é meio difícil se pegar. – pensou – Mas quando ele voltar, quem sabe...?
Leah suspirou profundamente e voltou a fechar os olhos:
- Quero resolver essa merda logo.
- Acabar logo pra quê? Pra voltar pra Azkaban?
- Não. Pra não precisar ficar olhando pra essa sua cara de raça ruim. – resmungou.
- ...Coitada. – lamentou, sem esconder que tinha achado graça.
A dupla de bruxas ficou em uma casa grande, de dois andares, onde funcionava a principal taverna da cidade, na rochosa encosta do vilarejo litorâneo. O pequeno lugar parecia perdido na época medieval, com ruas de pedra e casas brancas com madeiras crusadas na sustentação. A única saída para o mar era a grande baía da cidade, voltada para oeste, agora tudo iluminado pela lua cheia.
- A senhorita ficará neste quarto – disse Mannuel, mostrando um grande quarto no 2º andar, com vista para a baía e a vila. – Naquela porta fica o banheiro. Espero que se sinta à vontade. Qualquer coisa que precisar, meu quarto é logo ao lado, por ali – sorriu, apontando a porta, de frente para a cama de casal.
- Ah, sim... obrigada – agradeceu Lílian, colocando as malas na cama e olhando par trás – E Leah, fica onde?
- A senhora Málaga ficará em um quarto suficiente para ela, no térreo, atrás da taverna e próximo ao armazém.
Leah, de braço cruzado, não deixou de olhar Lílian com uma sobrancelha erguida, e uma clara expressão de "sabia...", o que dificultou Lílian a esconder a vontade de rir. Mannuel pôs a mão no rosto e inclinou-se para Lílian, em tom baixo:
- A senhorita compreende, não...? Uma prisioneira em condicional, as pessoas podem ficar com... receio.
Lílian respirou fundo e disse, em tom adocicado:
- AH, mas o senhor é um homem deveras importante nessa vila, não?
- ...Certamente, minha jovem. – respondeu, orgulhoso.
- Então... – comentou Lílian, tentando parecer encantadoramente doce – O senhor poderia me realizar um capricho?
- ...Bem... qualquer um, senhorita. – pigarreou, se endireitando – Sou um homem de palavra forte.
- ...Então deixe ela aqui?
- ...Perdão?
- Deixa Leah ficar aqui, no meu quarto. Pode?
- Aqui? Com.. com... a senhorita? Mas ela...
- Sim, sim, como Dumbledore mesmo lhe disse, ela está em condicional... e, perto de mim, será mais fácil de controlá-la.
Mannuel olhou as duas, visivelmente desapontado, e murmurou:
- Se assim quiser... mandarei trazer as malas dela. Com licença.
Assim que ele saiu, Leah entrou rindo no quarto:
- Você também não presta.
- É, eu sei. – riu Lílian, se jogando na cama de molas – Uau! Molas!
Leah fez um "hum" enquanto olhava pelo quarto, cheio de móveis antigos. Olhou um pesado armário e, com um movimento das mãos, o moveu para a frente da porta que dava no quarto de Mannuel. Em seguida disse:
- Feng Shui. Não é bom termos portas na frente da cama.
- É, sei. – riu Lílian.
- Será que a vista presta? – perguntou, indo até a janela. Ao olhar para fora, viu inúmeros pontinhos luminosos na baía, balançando-se na água como lamparinas. Virou-se para Lílian - Ei, Lílian, vem ver.
- O quê?
- Ué... – estranhou. O oceano voltava a ficar vazio – Onde foram parar?
- O quê, Leah? – perguntou, chegando ao seu lado na janela.
- Luzes – apontou – Ali, ali e ali... como... barcos, vindo pra costa.
- Não vejo...
- Mas estavam.
Nisso uma das luzes voltava a aparecer, balançando:
- Lá! Viu?
- ...Vi!... Mas...
- Ali! Outra!... E outra!... Que... que merda é essa!
- Ali, aquela! Piscou na areia...
A atenção voltou-se para um homem, bêbado, de roupas sujas e barba, correndo pela rua de pedra, vindo da praia, na direção da taverna:
- São eles! São eles! São... – o bêbado, que até então corria em linha reta, pisou em uma pedra, e seu corpo se dividiu ao meio, na vertical, e cada metade caiu para um lado.
- Ah, caralho... – gemeu Leah, dando as costas e correndo para fora, seguida e Lílian.
As duas atropelaram quem aparecia na frente, e pararam na frente do corpo do homem. Mannuel estava de pijama, apreensivo:
- São eles... estão mutilando as pessoas na praia!
Lílian saltou pelo corpo despedaçado e correu pela rua que dava acesso à praia, com Leah em seu encalço. Mas ao chegarem lá, não viram nada além da praia vazia.
- Cadê os tais fantasmas?
As duas caminharam pela areia, olhando ao redor. Alguns moradores vieram com tochas acesas. Não viam nada, mas certamente sentiam uma presença um tanto maligna no lugar.
- Viram alguém? – perguntou um morador, vindo pela areia, com outros atrás – Vocês duas, cuidado, eles... AGH!
O morador, aparentemente do nada, tinha a caixa toráxica literalmente explodida, Lílian agachou-se, assustada com a explosão, enquanto Leah virava o rosto de lado, sendo salpicada de sangue:
- Ah, eca! – murmurou, puxando a capa branca da roupa de Lílian para limpar o rosto.
Os moradores fugiram assustados. Mas alguns, que ainda estavam na areia, foram um a um sendo mutilados.
As duas, espantadas, estavam encostadas uma nas costas da outra, no centro da praia.
- O quê está matando eles! – exclamou Lílian.
- Sei lá, mas não estou a fim de virar presunto parma também.
As luzes reapareceram, na areia, revelando ser barcos velhos, com lamparinas na proa. E, deles, vieram vários homems, que pareciam zumbis: corpos em putrefação, com as roupas sujas e rasgadas. Piratas. O único brilho vinha dos anéis, correntes, brincos e dentes de ouro que tinham. Lílian segurou-se na cintura de Leah e murmurou:
- Má noticia: não trouxe nem minha varinha... nem a espada de Griffindor.
- Boa notícia: – disse Leah – Eu também não.
- ...Boa?
- Pelo menos sou otimista.
- Não é hora pra piada. – murmurou Lílian. – Olhe! Um navio!
As duas olharam o horizonte da baía: no centro do mar, um grande navio corsário estava ancorado, um navio fantasma. Da sua direção, na areia, vinha caminhando um homem que parecia ser o capitão dos piratas. Altos, com os cabelos loiros e olhos castanhos, parecia estar em "melhores condições" de corpo que seus subordinados.Parou a uma certa distancia das duas e fixou o olhar em Leah:
- ...Venha. – disse, com voz rouca.
- Eu? – estranhou Leah, rindo nervoso – Nem fodendo.
O pirata deu mais um passo, mas Lílian, que estava de costas, empurrou Leah para perto dele.
- Ah, sua...
- ...ROZ! – rosnou o pirata.
- Quem?
- Maldito Roz! – urrou o pirata, batendo a mão no peito de Leah e fazendo-a voar de costas e partir uma palmeira ao meio, para depois cair na areia, sem fôlego. – Você... voltou!
O capitão, furioso, ergueu as mãos e gritou para os céus:
- Tragam-me o coração de Roz!
- ...Ih, coração? – murmurou Lílian, desconfiando que não tinha sido boa idéia empurrar a companheira para o zumbi.
O pirata deu alguns passos, até sentir alguém puxar sua veste rasgada. Olhou e viu apenas o punho de Lílian envolto em uma energia vermelho-alaranjada.
- Expelliarmus!
O soco jugou o pirata de costas, longe. Ao se erguer, viu Lílian ajudando Leah a se levantar:
- ...Não... – murmurou, parecendo decepcionado ao ver Lílian ajudar a outra. – Tula...
- Ih, sobrou pra você também. – murmurou Leah.
O piarata piorou consideravelmente de humor:
- Roz tirou você de mim... Tula, volte!
- ...O que significa tudo isso? – gemeu Lílian, já de pé.
- Tula... você estava viva!... Eu vim... buscar você!
As duas se olharam. O pirata parecia mesmo bravo:
- Tire as mãos dela, Roz!
- Escuta aqui, zumbi morfético – rosnou Leah – Não somos quem você tá procurando, seja lá quem for. Só avisamos você que, se continuar essa bagunça, vamos ter de te enterrar... de novo.
O pirata apontou Leah, com ódio:
- Roz... eu vou devorar seu coração. E vou finalmente terminar minha busca. E terei Tula de volta... para sempre.
E, assim, os piratas sumiram, em meio a uma névoa cinza.
N.A1: Pra quem não entendeu, existe a série Espada dos Deuses, em 5 fanfics. E existe o Capítulo das Trevas, que é uma fanfic ligada diretamente á série EdD, porque conta a história de uma personagem original da EdD, e sua ligação com os pais de Harry. Esta fic, Fantasma do Navegante, usa as duas personagens principais dessa fic, que são Leah (original) e Lílian (mãe do Harry, duh), mas não tem absolutamente ligação alguma com a Capítulo das Trevas. Ou seja, nada do que acontecer nessa fic altera a trama da "fanfic original".
N.A 2: A Fantasma do Navegante deve ter uns 6 "atos" só. Tenho duas boas notícias: uma é que estou com meu computador de novo, o que significa que vou voltar em breve a escrever a Espada dos Deuses, e que irei aumentar um pouquinho essa fic, que estava bem corrida em 6 atos. Espero que valha a pena.
N.A 3: E eu não imaginava que alguém leria essa fic sem ter lido a EdD, mas, anyway, se você curtir a Fantasma e quiser conhecer a série Espada dos Deuses, eu ficaria imensamente feliz.
N.A 4: Até o próximo "ato"!
