Ato 5: I Wish I Had An Angel

"Prepare to hate me fall when I may

This night will hurt you like never before.

Old loves/ They die hard

Old lies/ They die harder"

( Nightwish)

O navio de Iolaus estava ancorado na baía, na noite enluarada. Mas nem sinal de piratas. Lílian e Leah chegaram à praia, com seus uniformes e as espadas na cintura.

- Pronta pra festa? – perguntou Leah, que exibia o pingente de pentagrama no pescoço.

As duas se dirigiram para a praia, onde subiram em um dos barcos piratas e foram na direção do navio, calmamente. Olharam para trás e viram o padre, na rua, olhando-as.

- Será que vai funcionar essa porcaria? – estranhou Leah, pegando sua espada, que o padre havia banhado em água benta, enquanto orava.

- Pelo menos ele tentou abençoá-la, – riu Lílian – e não exorcizá-la.

As duas chegaram ao lado do navio, onde havia uma rede pendurada na borda.

- É por aqui que a gente sobe. – disse Leah, pendurando-se. – Espero que não esteja podre...

As duas, então, agarraram-se à rede e escalaram a borda do navio até chegar ao lado de dentro. Interiormente, o navio estava vazio e apodrecido. Mas apesar de parecer podre e do forte cheiro de mofo, era firme pisá-lo.

- Iolausinho, meu querido defunto apodrecido... – chamou Leah, com duas espadas bentas em punho, andando sorrateira pelo navio – A luz da lua está tão bela... Ótima para um encontro romântico. Cadê você, querido?

Iolaus apareceu na ponta do navio, no convés. Não parecia contente de ter visitas.

- Caíram como patinhos. – murmurou Iolaus.

- O quê?

Imediatamente vários piratas saltaram do ar.

- Ah, maldição! – gritou Lílian que, com um tranco, foi atada ao chão por correntes encantadas, enquanto lhe tiravam a espada, antes que tivesse tempo de salvar ou fugir.

- Você fica aí, Tula, meu amor. – disse Iolaus, olhando Leah ser cercada pelos piratas – Quero apenas o coração de Roz.

Leah, cercada, olhou pra cima:

- Aí, presuntão... se está tão tarado pelo meu coração, venha você mesmo me pegar!

Ela girou a espada e atingiu uma corda no mastro principal e agarrou-se à ela, sendo lançada para o alto das velas, deixando os piratas sozinhos, que tiveram de correr para as redes, para subir para os mastros atrás do alvo principal. Iolaus sorriu, olhando a bruxa:

- ...Você tem culhões, irmão...

Os piratas bem que tentaram atingir Leah, mas mesmo estando tão alto, ela era veloz, e retalhava-os, fazendo seus pedaços despencarem do alto e se desintegrarem em uma nuvem negra antes de chegarem ao chão. Lílian se debatia, tentando se livrar das correntes que a impediam de usar qualquer poder mágico.

- Maldição...! Alguém me tire daqui! Seu... Eu vou...

- ...Pelo menos essa espada está uma beleza. – sorriu Leah, vendo que a bênção funcionara - ...E... Ei!

Ela saltou para trás, no exato instante em que Iolaus descia fulminante do céu para o mastro, enterrando um machado na madeira do mastro.

- Sai fora, eu, heim.

Leah saltou para uma das velas rasgadas e desceu de novo para a proa. Iolaus saltou feroz, como um foguete, e ela o atacou com as espadas em punho. Um barulho de metal, e o impacto chacoalhou o navio. Leah, com as duas espadas esticadas á sua frente, e Iolaus tombado mais adiante, com um corte no peito.

- ...Ah... Maldito Roz.

Ele girou e ergueu a mão, e atingiu-a com um poderoso feitiço, jogando a espadachim de costas no mastro principal, zonza. De pé, ele avançou contra ela.

- Leah, na... – Lílian não terminou, porque Iolaus enterrava a mão no peito de Leah, atravessando-o. Ela engasgou-se, cuspindo sangue no braço do pirata, que sorriu. Lílian debateu-se com mais força, tentando sair daquelas algemas – NÃO! LEAH, NÃO!

Iolaus, gargalhando, puxou o corpo de Leah, e segurou firmemente seu coração, puxando-o para fora. A bruxa soltou as espadas no chão, seu corpo curvado de costas, pendurado no ar pelas veias e artérias que ainda estavam presas ao seu coração. Iolaus, sorrindo, retirou um punhal da cintura e cortou os ligamentos, fazendo o corpo dela cair ao chão.

- O coração de Roz é meu! Tula, nós... co... como...?

Iolaus olhou a garota, espantado. Lília, curvada, de cabeça baixa, respirava ofegante, soluçando. Ao seu redor, inúmeros círculos brilhantes parecia correr pelo chão e pelo ar, como uma névoa de estrelas. Até ela, de repente, explodir toda a energia como um animal que ferozmente avança em alguém. Com um tranco, as correntes se esticaram, segurando os punhos de Lílian, que se esforçava para se livrar delas. A explosão da energia da bruxa fez Iolaus dar dois passos para trás, e o navio balançou num forte tranco, balançando. Os tecidos das velas se agitaram. Mas, apesar do impacto, as correntes não cederam.

Lílian, louca de raiva, não parava de se debater, urrando e chorando sem parar:

- EU VOU ACABAR COM VOCÊ! SEU MALDITO! SEU MADILTO! EU VOU...

Mas o som de palmas foi escutado, da proa do navio. Iolaus olhou, com os olhos arregalados:

- ...Não.

Lílian também olhou para trás, e, da escadaria, uma sorridente Leah descia, com as espadas na cintura e a espada de Lílian debaixo do braço. Batia palmas cinicamente:

- Parabéns, senhor piratão. Muito bem, você conseguiu. Estou até emocionada.

- ...Não... Você não... – gemeu Iolaus.

- Caiu feito patinho. – riu Leah, jogando a espada de Gryffindor próxima a Lílian, e murmurou, amarga, olhando para ela – E pelo jeito, você também, né, Lílian?

Lílian, boquiaberta, olhou de Leah para o outro corpo caído, o de um pirata. Imediatamente ela pareceu "murchar", e toda aquela energia da explosão pareceu se dissipar... como mágica.

- Aquele seu pingente... Permitiu que eu enfeitiçasse um dos piratas. – e olhou Iolaus. - Presentinho de grego que você deu pra sua linda Tula, heim, Iolaus? – riu ela, sacando as duas espadas.

Leah avançou contra Iolaus, que pulou para a parte de cima do navio novamente.

- Vamos brincar mais, antes que eu enfie você na cova de novo, Iolaus!

Os dois, novamente, começaram a lutar no alto dos mastros, Iolaus muito mais furioso que antes. Enquanto isso, Lílian tentava encostar os dedos e puxar sua espada, que havia caído a milímetros dela. Sem poder mágico, não podia usar um "accio". Agachada, se esticava ao máximo no chão, tentando encostar os dedos na espada.

Leah e Iolaus continuavam a se digladiar. Mais uma vez, com um rápido ataque, a bruxa passou a espada no peito do pirata, abrindo-o.

- Cuidado, moço. – sorriu.

Iolaus cambaleou. E, irado, ergueu o pesado machado que usava, fazendo Leah recuar. E, pra seu espanto, ao pisar na ponta do mastro, este cedeu, mostrando que estava podre. Ferir Iolaus com a espada abençoada fez não só seu corpo se enfraquecer, mas também o navio mostrar que estava, sim, apodrecido. Leah despencou e bateu de costas com força no chão do navio.

- Ah, diabos... Lílian! – disse, erguendo a cabeça, virando-se para a bruxa, metros atrás dela. – Se picarmos ele com a espada, toda a maldição se desfaz!

- ...Eu percebi! – gemeu, tentando alcançar a espada. – Putz, você podia...

Leah ergueu o corpo, para ir libertá-la das correntes:

- Eu vou te empurrar a... Ah, que merda!

Iolaus saltou em cima de Leah, que protegeu o rosto e novamente caiu de costas no chão, entre as pernas de Iolaus. Ao tirar a mãos, viu o adversário sorrindo, com o machado erguido:

- Não adiantou nada...!

- ...Ah, fudeu. – foi o que ela gemeu.

O machado atingiu o peito de Leah em cheio, espirrando sangue pra todo lado. Iolaus puxou o machado e atingiu-a de novo, partindo suas costelas, esguichando sangue e rindo. Ajoelhou-se sobre o corpo de Leah, que se debatia sem parar com o impacto do ataque. Iolaus debruçou-se sobre o peito dela e, feroz, mordeu sua carne com os dentes afiados, arrancando o que o impedia de achar o coração, até finalmente puxá-lo para fora e mordê-lo, faminto.

Um redemoinho cercou o navio, e Iolaus urrou, vitorioso, as mãos e a boca escorrendo o sangue do derrotado. Seu corpo lentamente voltava ao normal. Ele, sorrindo, olhou as próprias mãos, ainda ajoelhado sobre o corpo de Leah. Ergueu-se, chutou o corpo de Leah para o lado, e olhou o céu, gargalhando alto:

- Eu estou vivo! Eu venci! Vivo, novamente!

- Não por muito tempo.

Iolaus olhou para trás e saltou a tempo de desviar da lâmina da Espada de Gryffindor. E teve de continuar saltando e desviando dos ferozes ataques de Lílian, que finalmente havia recuperado a espada e, com ela, seus poderes.

- Seu maldito! Eu vou fazer você voltar para o buraco de onde veio! – berrou, com o rosto contorcido de ódio.

- ...Tula! – exclamou Iolaus, assustado. – Pare! Nós...

- Ela nunca quis ficar com você! – berrou Lílian. – Tula nunca quis ficar com você, como você pôde ser tão estúpido? Ela ficaria o resto da vida sendo feliz apenas quando pudesse estar com seu irmão!

- Tula, você... você foi traída... – disse Iolaus, assustado, defendendo-se dos ataques de Lílian. – Roz mandou que matassem você quando soube que seria minha noiva, você não...

- Foram seus homens que a mataram! – gritou Lílian, furiosa. – Seus homens planejaram matar Tula porque sabiam que ela estava com Roz! E Roz morreu pelas mãos dos mesmos caras, que voltaram e enfiaram essa idéia na sua cabeça de propósito!

Iolaus relutou em atacar.

- ...Você... está mentindo.

Lílian, feroz, passou a espada pelo mesmo lugar em que Leah havia feito o corte. Iolaus gritou de dor, recuando. O corte se abriu, soltando fumaça.

- Você não pode me matar, Iolaus. – rosnou Lílian, atacando-o. – Mas eu posso!

E, sem medo, fez o mesmo que Iolaus fizera da primeira fez que atingiu Leah: enfiou a mão no corte do seu peito e puxou com força seu coração.

Iolaus gritou de dor, levando as mãos ao peito. Seus órgãos internos ainda eram aquela mistura de carne e vermes, e o coração um órgão costurado. Lílian enfiou os dedos nas costuras e, com força, rasgou seus pedaços, fazendo sair dele vários feixes de luz branca, em meio ao sangue apodrecido e os vermes amarelos. Iolaus caiu de joelhos, sangrando pela boca, gemendo de dor, esticando a mão na direção dos pedaços do seu coração:

- Não, Tula... Você...

Lílian o olhava com uma expressão de indiferença que até então só Leah poderia demonstrar.

- Acabou pra você, Iolaus.

E, sacando sua espada novamente, Lílian a passou pelo meio do corpo de Iolaus, na vertical, dividindo-o quase ao meio, e, dessa vez, definitivamente.

Mais um redemoinho, e tudo no navio mudou. O corpo de Iolaus se desfez, e o navio se envolveu em uma névoa branca, como neblina, e ele pareceu mostrar-se como era: todo cheio de furos, apodrecido, algas penduradas em seus mastros, as velas podres pendendo dos mastros, o chão mole. A neblina que cercava o navio desapareceu, revelando que, o que parecia ter sido apenas alguns minutos, foram horas: o sol começava a se pôr, indicando que estavam lá há quase vinte e quatro horas.

Lílian respirou fundo e percebeu que o sangue de Iolaus havia desaparecido de sua mão. Suspirou aliviada e chegou na borda do andar superior, tomando cuidado para não despencar de alguma madeira podre. Aproximou-se da cerca de madeira e viu Leah no piso de baixo, seu corpo de lado, com a mão direita para frente e o rosto virado para o chão, e seus cabelos cobrindo seus ombros e todo o seu rosto. Lílian escutou apenas o barulho do mar e do navio rangendo. Sentiu que seus olhos vagarosamente se enchiam de água, olhando o corpo de Leah, na mesma posição, sobre a poça de sangue vermelho escuro.

Foi quando Lílian piscou algumas vezes e fitou Leah com mais atenção. O braço dela se mexeu, apoiando a mão direita no chão. Com um dolorido gemido, Leah ergueu o corpo, abrindo os olhos e olhando o chão.

- ...Ah... que dor... – murmurou, passando a mão no peito, sentindo uma dor aguda onde Iolaus havia atingido o pesado machado, apesar de não haver mais sinal algum. Ela passou a mão no cabelo, tirando-o do rosto. Levantou-se zonza e respirou fundo. Pôs a mão na testa e virou o corpo, como se tivesse com uma aguda enxaqueca. – Ai, cara... Puta que pariu, que merda, filho da puta, aquele... Ah, PORRA!

Leah mal tinha acabado de virar-se quando foi jogada de costas no chão por Lílian, que pulava em seus braços.

- Ah, caralho, Lílian!

Lílian, em silêncio, continuava agarrada ao pescoço de Leah, no chão. Ela suspirou e bateu a mão na cabeça ruiva de Lílian:

- Ai... Pelo jeito você limpou essa sujeira, heim, garota?... Hum...? Que foi, não está feliz?

Lílian afastou o rosto, passando a mãos nos olhos e sorrindo, com o nariz vermelho:

- Estou, muito feliz. Aliviada.

O navio rangeu e entortou-se, fazendo ambas se desequilibrarem.

- Ooooh, isso vai afundar! – gemeu Leah, erguendo-se.

O padre, de longe, pôs a mão na testa, observando o navio. Duas pessoas pulavam dele para a água, e ele vibrou:

- Elas conseguiram!

Sem barcos fantasmas, as duas bruxas saltaram para a água. Ao voltarem para a superfície, o navio mais uma vez rangeu, virando-se para oeste e começando a navegar. Enquanto ele girava sua grande ponta, Leah olhou para cima e se espantou: Presa à ponta do navio, onde geralmente ficava uma estátua, via-se o corpo de uma jovem de vestido branco, com um pingente prateado pendurado no pescoço.

- AHM! – exclamou Leah, nadando na superfície, assustada. – Aquela é...

- Tula. – disse Lílian, ao seu lado. – A maldição se virou contra Iolaus. Os piratas de seu próprio bando o amaldiçoaram, prendendo o corpo de Tula ao navio, fazendo-o ficar cego de ira. Sem poder ver o corpo dela preso ao navio, Iolaus continuou caçando Roz, achando que a culpa de Tula ter morrido e desaparecido era do irmão.

- Jura? Credo!

- O motivo, ou quem exatamente quis amaldiçoar Iolaus, Roz e todos os piratas, ainda é um mistério, e nem mesmo eu revivendo a vida de Tula nos sonhos consegui descobrir.

O navio lentamente se afastava da costa e, à medida que se afastava, também afundava no oceano. E, guiando o leme do navio, o pirata Iolaus, com destino ao pôr do sol.

Lílian e Leah chegaram na praia e olharam para o navio, que desaparecia no horizonte, afundando definitivamente. O padre Joaquim veio desesperado, contente de vê-las, tropeçando com suas sandálias:

- Vocês duas! Conseguiram! Meu Senhor, meu Deus! Ficaram presas durante horas! Achei que jamais voltariam! A maldição se desfez! Abençoado seja!

- Calma, padre... – sorriu Lílian, com as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego de nadar até a costa. – Conseguimos. Depois de três séculos, Iolaus vai descansar em paz.

- E os outros dois também, não? – comentou Leah, esticando o pingente de pentagrama para Lílian. – Tome.

Lílian, com a corrente em mãos, respirou fundou e, com força, mandou a corrente para o centro da baía, desaparecendo na água.

- Ele ficará melhor lá.

- Ótimo. – deu de ombros – Bem, vamos embora. Nossa tarefa terminou.

- Iolaus foi vítima da traição dos próprios companheiros. – disse Lílian, olhando o padre. – Os piratas mataram Tula e penduraram seu corpo no navio, selando a maldição. Fizeram Iolaus odiar o irmão e caçá-lo até no além vida, dando fim a um dos maiores piratas de seu tempo.

- Ah, que Deus as abençoe.

- AAAHHHHHHHH... – gemeu Leah.

- Que foi? – estranhou Lílian.

A outra fazia força contra o próprio ouvido e, com dificuldade, retirou um grande naco de alga esverdeada dele:

- AAAH, eca, que nojo. Merda, não tava escutando nada com essa bosta no ouvido.

O padre torceu o nariz, mas Lílian começou a rir:

- Tudo bem, vamos embora. Precisamos descansar depois de tudo isso.


N.A 1: Lá se foi a penultima parte da FdN (que apesar de parecer palavrão é Fantasma do Navegante, ou Navegador, dá na mesma, rs). Eu disse que seria curta! A demora na atualização foi que estava ocupada, mas a boa é que agora tenho net em casa e assim que escrever e revisar, os capítulos virão direto pra cá. Exceto, claro, a EdD (Espada dos Deuses), porque ela passa por um processo de betagem para que passe apenas o mínimo do mínimo erro de português ou digitação. O que, de fato, sempre falha, hehehe.

N.A 2: É legal ver "L²" em alta. mas é ruim. Legal porque eu me empolgo em fazer fanarts, em escrever e revisar essa "quase shortfic" (perto da EdD, bem, é mesmo "short"!). E ruim porque, é óbvio e hululante, atiço a curiosidade dos leitores da EdD e dos leitores só da FdN, e só, porque nada relacionado as segredos existentes entre Leah e Lilian - e são muitos, vocês sabem - podem ser revelados, afinal, essa é uma das peças chave de toda a trama e passado do enredo da série Espada dos Deuses, e será mostrado apenas no Episódio 5, Réquiem (o último da série) e no Capítulo das Trevas. Mas é a vida. Espero que me perdoem!

N.A 3: E quem quiser fazer volume lá no Orkut tem a comundiade da EdD e da Leah! Se você procurar por "espada deuses"em comunidade, você encontra a comu da EdD, e nas comundiades relacionadas estará o link pra comunidade da Leah. Façam volume. E, claro, participem! A opinião de vocês é importante! Até.