No capítulo anterior
i Saíram andando, depois do café. Andavam um ao lado do outro, e ele podia sentir o toque da pele dela enquanto caminhavam. Ela riu e o empurrou de leve, i "pare de esbarrar em mim..." /i disse ele, enquanto corria para a praia. /i
Capítulo 4Deixando as roupas junto a alguns turistas, puseram-se a nadar e a brincar com algumas crianças. Talvez se lembrassem de sua infância, até que um dia, cada um foi seguir seu próprio caminho.
Ikki divertia-se com um garotinho, segurando-o pelos braços, sobre as ondas. Ouvia-se os gritinhos de prazer dele à distancia.
- Não vale! Hahaha... – ria-se o pequeno – Tem que ser todo mundo! – berrou, referindo-se aos outros companheiros, e no mesmo momento vieram os outros, tentando "afogar" o pobre cavaleiro.
Já sentada sob um imenso guarda-sol, de olhos meio fechados, Saori sorria, feliz. i "Em que estou pensando? Será que é uma loucura o que estou cometendo?" /i Seus olhos procuraram-no outra vez... i "Ikki..." /i
O rapaz a observava de longe, pensando a mesma coisa. i "Devemos ter perdido o juízo..." /i Sorriu, sacudindo a cabeça. Pegou algumas conchinhas, e teve uma idéia, infantil, é verdade, mas...
Chamou os garotinhos, entregando uma a cada um e falou, apontando para Saori:
- Estão vendo aquela senhorita, de cabelos longos sentada ali? – os garotinhos assentiram – entreguem a ela. Digam que foi um admirador secreto que mandou. – e, tendo dito isto, mergulhou outra vez. Havia muitos anos que ele não se sentia tão descansado e tranqüilo... Livre de tudo que o oprimia. A cadeia que o prendia agora era muito frágil e doce... É... fazia muito tempo...
- Ei, moço! – perguntou uma garotinha de cabelos pretos, assim que voltou – ela é sua namorada?
- Não... Mas, depois do presente, quem sabe? – disse ele, sorrindo, acariciando a cabecinha dela.
Quando finalmente voltou para perto de Saori, exclamou, fingindo zangar-se:
— Quem mandou estas conchas?
— Veja só... Foi um i "admirador secreto" /i... — gracejou ela, abrindo as mãos e mostrando o pequeno colar que havia feito com um pedaço de barbante e as conchinhas — Não é lindo?
— Estou enciumado... - brincou ele – Mas eu o perdôo... Tem tanta razão quanto eu... — ele parou de falar ao vê-la corar e abaixar a cabeça. — Desculpe.
Ela levantou os olhos. Era difícil não querer tocá-lo... Estendendo a mão, acariciou o rosto dele. Ah, queria gravar em sua mente cada vil momento com ele... Decorar cada detalhe de seu rosto, sua voz grave e seu olhar que, não raro, a constrangia — pela ternura que via neles...
A vida não lhe dera tudo. Sempre haveria algo que ela, com todos os seus poderes, teriam que abrir mão e era isso, este contato tácito entre dois seres humanos comuns, um homem e uma mulher... Ele sorriu. Sorriu aquele sorriso, prepotente, meio arrogante que pouco a pouco o conquistou, tomando seu coração orgulhoso. O jeito dele, de quem sempre sabia de tudo, até mesmo sua rebeldia... Sim, refletiu ela, ele havia sido sempre um lobo solitário, e é provável que sempre fosse. Todavia, ela conheceu toda doçura que ele não costumava demonstrar. E, neste momento ele estava ali, agora. Presente. Saori inclinou a cabeça, deixando que os longos cabelos caíssem sobre os ombros. Ele estava tão próximo, ao alcance de suas mão...
Nunca estivera tão envolvida antes, e... sacudiu a cabeça, repelindo alguns pensamentos e levantou-se num ímpeto, propondo que fossem dar um passeio de escuna, a sua, claro.
– Não seria melhor alugarmos, ou então ir com turistas, Saori? – questionou ele, enquanto ela terminava de se vestir. É claro que queria ficar sozinho com ela, mas...
– Tudo bem. Então vamos correr, para que possamos também almoçar nela. – Percebeu que ele a observava com atenção e ficou sem graça. – Rápido, - disfarçou – senão perderemos o barco!
Ele riu, concordando: – Sim.
b Na Escuna... /b
Já na escuna descobriram que haveria sorteio de prêmios para os turistas e que um deles era um jantar num dos hotéis mais caros de Atenas. Riram quando foram tratados de "casal" pelo comandante da escuna.
Sobre o azul do mar Egeu, curtiram momentos agradáveis, e fizeram amizade com alguns outros pares. Tanto que Ikki, todo reservado, foi jogar bola com alguns deles. Enquanto isso, Saori quedou-se sobre o guarda-corpos. i "Queria que este dia nunca terminasse... Por que não pode ser sempre assim..." /i, pensava ela, entretida que estava não notou a aproximação de uma jovem loira, que parou a seu lado.
Olhando na mesma direção que Saori ela perguntou:
– Recém-casados?
A jovem deusa sobressaltou-se e, virando-se, teve a vaga impressão de conhecê-la...
– Quem? – indagou confusa.
– Desculpe-me – riu-se ela – a senhorita e aquele cavalheiro jogando no mesmo time que meu marido... São casados?
– Não – sorriu, divertida – Somos... amigos. Posso dizer que ele "trabalha" pra mim... – respondeu, meio sem graça. Que mais poderia dizer?
– Eu não quis constrangê-la, às vezes falo o que penso. – ela sorriu. – Meu nome é Théa. E o seu?
– Saori Kido – estendeu a mão.
– Da Fundação Graad (é assim mesmo que escreve?)? – a jovem arregalou os olhos, tão azuis quanto o vestido que usava – Puxa!
– Sim – Saori sorriu – Muito prazer!
– O prazer é todo meu... Pode ter certeza – continuou Théa. i "Não posso acreditar..." /i.
– Tenho a impressão de que a conheço de algum lugar...
Rindo, a moça loira falou.
– É, pode ser que sim – seus olhos se abriram e Saori percebeu que... não entendia essa sensação remota, nostálgica, como se fossem...
i "Não pode ser..." /i, riu-se Atena.
Continuaram conversando, quase toda a tarde. Théa lhe contava de sua vida, mas ela não se sentiu muito à vontade de compartilhar a sua.
– E, depois de alguns meses, eu conheci Helius, e logo nos casamos. A minha família não gostou muito da idéia, tinham outros planos para mim, mas... – lançou um olhar compreensivo a Saori - nós nos amamos. Não acho que isso seja um perigo para o mundo... E eu nunca fui a ovelha branca mesmo! – ela riu um riso cristalino que parecia vindo de outro mundo. Segurou a mão de Atena,e disse, olhando nos olhos dela: – Agora, eu preciso partir. Minha missão no mundo (se é que eu tinha uma) já foi cumprida – sorriu – e a sua também. Pelo menos, por enquanto... – emocionada, disse – Se puder agarrar-se ao quer, faça isso. Ou, tente esperar. Tenho certeza de que haverá uma resposta... Atena. Pode acreditar em mim... Sei do que estou falando... e não tem a ver com a humanidade em perigo...
Ela soltou a mão de Saori na mesma hora em que um jovem ruivo aproximava-se dela, sorrindo:
— Preciso ir. Foi um prazer conhece-la... Srtª Kido... – piscou um olho – irmã... – disse, num sussurro, para que Helius não ouvisse...
Saori arregalou os olhos, meio estupefata i "Como assim? Irmã?" /i.
Mas não teve tempo para pensar mais nada. Sentiu mãos em seus ombros. i "Ikki..." /i
— Sentiu minha falta ou estava mesmo querendo escapar de mim? – falou, brincando.
— E quem foi que lhe disse que eu quero escapar? Falou, e corou imediatamente.
Sorrindo, ele levantou-a e a puxou para si. Sabia que estava se arriscando, mas já era suficiente ter que abandoná-la mais tarde – por que faria isto antes? Ambos sorriram, porém, antes de dizerem algo, uma voz no megafone anunciava os ganhadores dos prêmios. Prestaram atenção.
—... E o último número é 012! Estes receberão um convite para hoje, um jantar totalmente romântico no Hotel...
Saori procurou o bilhete enquanto Ikki a observava, divertido.
— Oh, Ikki, você não vai acreditar! Nós fomos um dos sorteados para o jantar!
Ele olhou para ela, surpreso com a reação dela, e instintivamente, abraçou-a.
— Isto é ótimo.
— O que foi? Você não quer ir? – parecia haver um traço de ansiedade na voz dela. Ele olhou-a. – Se não quiser...
— Tudo bem, Saori. Acho que vai dar tempo...
— Seu navio... Está tudo bem. – Mas seus olhos diziam outra coisa. E ela os desviou para que ele não visse.
Ikki sorriu. Puxou-a pelo queixo, e a fez olhar em seus olhos.
— Eu vou. – sorriu. – Mas não quero ver este olhar triste. Não agora.
— Eu... — ela começou
— Vamos Logo, Saori.
— Sim. — apressou-se ela.
Continua...
