i– Vamos – disse ele – dando-lhe o braço. Ela sorriu, e o mundo parecia deles. /i
Capítulo 6O jantar foi agradável e ambos ansiavam que aqueles momentos juntos não terminassem. Conversavam bastante. Alguns casais dançavam ao fundo e Ikki perceber que Saori os observava discretamente, enquanto bebia uma taça de vinho. Não que fosse viciado, mas ele preferiu um suco. Queria estar com todos os sentidos bem aguçados perto dela.
Enquanto isso, Saori pensava o quanto gostaria de dançar. É certo que não tivera muitas oportunidades, mas seu avô se esmerara em sua educação, de modo que ela dançava muito bem todo tipo de música. Ficou acompanhando os pares, girando pelo imenso salão, como um caleidoscópio de corpos...
Tão entretida estava que , quando deu por si, Ikki a observava com uma expressão entre divertida e intrigada. Ela quase caiu da cadeira e sorriu, meio sem graça.
– Oh, Ikki! Eu gosto muito de dançar, e sei valsar muito bem... LEMBREI-me do vovô e... Pensei... – ela parecia ansiosa – Ikki, você gostaria de dançar?
– Eu! – falou surpreso – Acho que não sou muito bom nestas coisas, Saori... – falou isso já levantando a cabeça, pois ela já estava de pé, estendendo a mão enluvada para ele, inclinando-se:
– Venha. Não é difícil... E me daria um imenso prazer, Ikki. – ela estreitou um pouco os olhos e sussurrou – Por favor.
Ele viu o sorriso luminoso dela. O brilho de seu olhar e a ansiedade contida nas palavras ditas. Como ele, ela não queria separar-se. Um vislumbre de seu passado o tomou: lembrou-se de Esmeralda, há muitos anos atrás, lá ilha da rainha da morte, dizendo-lhe: i "Deve haver mais coisas bonitas neste mundo, coisas que não são nem guerra nem morte" /i. Sábia Esmeralda. De repente uma onda suave de ternura e proteção o envolveu. Sem se preocupar se ia ou não se atrapalhar, já estava de pé, conduzindo-a até a pista. Abraçou-a e muito lentamente, ela começou a ensinar-lhe os passos.
Depois de um tempo, ele sentiu que poderia guiá-la.
– Até que não sou tão ruim assim, não é? – gracejou ele.
– Não seja tão arrogante... Por que tenho a impressão de que me enganou? Quem disse a você que não sabe dançar?
Ele riu feliz, jogando a cabeça pra trás.
– Bem, não sou um profissional – pisou no pé dela – Este deve ser um daqueles talentos inatos, que só aparecem em ocasiões especiais.
– Tem certeza, Sr.? – implicou ela, contente por estar onde mais queria – Pensei que era por isso que queria ganhar o mundo... Dançando tão bem durante a vida, não erraria num momento assim...
Ela levantou o rosto para o olhar. i "Ah, como eu queria ser outra pessoa... Será que..." /i Sacudiu efusivamente a cabeça, mas voltou a fitá-lo. Ele parecia distante.
–Ikki.
– Sim – respondeu ele.
– Olhe pra mim! – reclamou ela.
Ele baixou os olhos. Aquele olhar meigo e ao mesmo tempo confiante capturou o seu. O que mais ele poderia ver? Sentia-se como um daqueles cavaleiros da idade medieval – lera muito da história ocidental – diante de sua amada senhora. E, era isso mesmo que ela era e sempre seria embora ela mesma ansiasse ser outra pessoa. E ele também.
Por que tudo era sempre tão difícil pra ele? Como poderia imaginar que depois de tantas desgraças fosse encontrar o amor verdadeiro nos braços de uma deusa? Achava que depois de sua perda na Ilha da Rainha da Morte, jamais amaria novamente, jamais entregaria seu coração e seus sentimentos de amor a nenhuma outra mulher no mundo. A jovem em seus braços mudara sua opinião, seu coração... A mulher que estava ali, uma divindade – riu-se por dentro: isso ela era mesmo – roubava dele qualquer força para se defender. Ele não queria mesmo lutar...
Vendo-a tão próxima, um pensamento cruzou-lhe a mente. Queria gastar toda a sua vida contemplando-a, amando-a... E dizer a ela tudo o que seu lacerado e apaixonado coração sentia por ela. Pensou em como seria maravilhoso partilhar sua vida com ela, respeitando-a, honrando-a ainda mais... Colher suas lágrimas quando estivesse triste, rir com ela... Entrevia seu futuro com fantasias de um amor que não poderia se realizar, ele sabia... Sabia em seu coração e nos olhos dela que o sentimento era recíproco... Uma família, seus filhos, envelhecer ao lado dela, lutar por e com ela... Ah, seria o paraíso... Amava-a tanto que doía.
Por isso precisava partir, desaparecer dali, antes que fosse tarde demais... Já tivera sua cota de sofrimento nesta vida. Esta dança já havia sido dançada uma vez e ele não poderia (e nem devia) permitir-se mais nada, além disso. Ele sabia que ela sempre estaria em seu sangue, bombeando vida ao seu coração. Mas ela era Atena... Não poderia pertencer a ninguém... Ela tinha seu próprio destino... i "Mas ela precisa saber o que sinto!" /i
– Saori... – começou ele. Percebeu que ela já sabia de seus sentimentos. Seu olhar o denunciava. Aconchegou-a mais a si, prendendo a respiração quando ela enlaçou-lhe o pescoço. Mesmo sem ouvir mais nada, eles continuaram abraçados... Em breve tudo seria levado pelo vento das lendas em que eles viviam. Ajeitou seu rosto junto ao dela. Parecia tão frágil, mas ele sabia quem ela era e a força que continha aquele delicado corpo. Pelo menos, era forte e isso o tranqüilizava.
Sentiu o perfume agradável dela... i "Nunca estive tão perto da felicidade e da tristeza ao mesmo tempo. Que mais esta vida me reserva, longe dela? Posso morrer agora, mas parece que a Morte me despreza. Engraçado como já tive estes pensamentos antes..." /i. Sorriu, surpreso, ao sentir as mãos dela enclavinharem-se em seus cabelos, acariciando-os... Relaxante e também... Uma sensação estranha o fez desconcentrar-se e sentiu a energia dela, quente e suave...
i "Isto não está certo Saori..." /i.
i "Quem pode saber Ikki" /i?
A música já havia terminado e uma outra mais dançante tocava. Ele, no entanto, continuaram abraçados por um tempo.
