6. Baunilha Envelhecida

Não soube como, mas num instante apenas já estava na Sala Comum, com o punho fortemente apertado e sentindo as pernas como gelatina. Tinha a vista fixa na porta, não porque esperasse alguém em específico, apenas para olhar para algum lugar.

Viu entrar Neville, Dino, Gina, toda uma pequena multidão, sem que conseguissem atrair sua atenção; alguns o saudavam ao passar por ele e ele não fazia mais que mover a cabeça levemente, como prova de que seus ouvidos ainda reagiam a seu nome. Finalmente, perto das dez da noite, viu que Hermione entrava. Parecia pálida e percorria com o olhar toda a Sala Comum. Quanto encontrou Harry ficou paralisada, ao contrário dele, que pareceu recuperar o total domínio de suas pernas e foi quase correndo até o lugar onde Hermione permanecia parada.

Com a mão que tinha livre, pegou-a por um dos pulsos e quase arrastou-a até um par de cadeiras semi-ocultas da vista dos demais. Por alguma estranha razão, ela estava tremendo; sem dedicar muito tempo a isso, Harry concluiu que ainda estava tensa por causa da Olimpíada.

- Já sei quem é ela... - sussurrou Harry, dando uma rápida olhada ao redor, para comprovar que ninguém estava perto. Ouviu Hermione ofegar.

- Harry… eu… - disse, com voz entrecortada.

Ele abriu a mão e mostrou-lhe, por fim, o que tanto o havia inquietado. Um pedaço de broche, meia varinha rodeada por três aros e um pequeno fragmento de outro. Idêntico ao que vira no peito de...

- McGonagall! - declarou Harry quase sem voz.

- O QUÊ? - gritou Hermione, pondo-se de pé, como se impulsionada por uma catapulta invisível.

- Shhh… - implorou Harry, em pânico.

- McGonagall? - perguntou Hermione, com uma voz aguda e confusa. - Não pode ser Harry... ela estava na Olimpíada conosco...

- Não. Eu a vi justamente antes de entrar no quarto... esbarrei com ela... levava este broche. - confessou-lhe, apertando novamente o punho com o pedaço de broche nele. - Só que, até então, estava completo...

- Não pode ser, Harry. - insistiu Hermione, sentando-se novamente, apertando as mãos com nervosismo. - Compreenda, não é ela.

- Como você explica isto? - Harry perguntou-lhe, estendendo a mão com a meia varinha. Abriu tanto os olhos que, por um instante, correram perigo de saírem de suas órbitas e quicarem sobre a almofada. - Você disse, Hermione. Disse que deveria ser alguém muito inteligente e McGonagall, sem dúvida, o é... Que outra explicação você dá para isto?

Hermione abriu e fechou a boca várias vezes antes de pôr-se de pé e dar duas voltas ao redor da cadeira que acabava de ocupar.

- Bom, pois... aí está, Sherlock, brilhante dedução. Finalmente, você encontrou a sua "Garota-Baunilha", ainda que se trate de uma baunilha bastante envelhecida… - comentou Hermione, com um sarcasmo algo sombrio.

Harry havia passado por momentos difíceis, tinha sido rotulado de louco, de mitomaníaco, de ser o herdeiro de Sonserina, mas nada disso havia sido tão mau como acreditar no interesse romântico de uma bruxa de setenta anos.

Para sua desgraça, a primeira aula do dia seguinte era de Transformações. Dedicou-se a contemplar seu prato de aveia e a brincar com a colher dentro dele. Fez todo o caminho desde o Salão Principal à sala de aula de Transformações em total silêncio. Hermione ia a seu lado e dirigia-lhe constantes olhares de preocupação. Mordia-se o lábio inquieta e isso apenas contribuía para fazê-lo sentir-se ainda mais patético.

Tinha se entusiasmado com alguém que era uns sessenta anos mais velha que ele. Mais de meio século... já ouvira falar de casais com diferenças de idades mas aquilo era francamente ridículo. Sua parte sensata lhe gritava que era impossível que uma pessoa madura, com um nome e uma posição a zelar, pensasse, sequer, em algo como isso... mas, claro, sua parte sensata parecia estar permanentemente afônica, pelos gritos que nunca conseguiam capturar de todo sua atenção.

Sentou-se no lugar mais distante da mesa da professora. Hermione seguiu-o e sentou-se a seu lado. Quando a viu entrar, com seu rosto sério e seu coque apertado, um arrepio o percorreu. Evitou, de todas as formas, o seu olhar, hora vendo as instruções, hora cravando a vista no livro que estava à frente, ou simplesmente fixando-se na janela e calculando quanta dor era possível sentir com uma queda do quarto andar.

Não pôs a menor atenção na aula e, pelo que conseguiu perceber, Hermione tampouco. Em outras circunstâncias isso teria chamado a sua atenção mas, não nesse momento. Com rápidos olhares, notou o pé dela mover-se sem descanso sob sua túnica e, um pouco mais acima, a pluma que segurava ao descuido com a mão movia-se com o mesmo ritmo, enquanto seus dedos tamborilavam sobre a página do livro que, ao menos em seu caso, estava do lado certo.

Quase no fim da aula e quando começava a pensar que o pior havia passado, a professora McGonagall percorreu o corredor no qual ele se encontrava. Sentiu que sua respiração estancara quando a ouviu parar a seu lado. Seu coração parou ao sentir sua mão pousar-se sobre seu ombro, enquanto ela girava para retornar à frente da sala. Instintivamente, Harry saltou para afastar-se dela. Golpeou os joelhos na parte de baixo de sua mesa e ao voltar a sentar-se o fez tão próximo da borda, que mesa e cadeira se inclinaram e foram ao chão, com ele dentro. Quando as gargalhadas explodiram, a Professora McGonagall aproximou-se dele para examiná-lo de perto, ofereceu uma mão para ajudá-lo a levantar-se e Harry a renegou como se tivesse lepra.

Torpemente levantou-se sem ajuda, mas com o rosto numa viva cor escarlate. Hermione ocultava a cara nas mãos, enquanto Rony e a Professora o observavam com uma mistura de curiosidade e inquietude.

- Você se encontra bem, Potter? - perguntou ela, com o cenho ligeiramente franzido.

- Sim, sim, sim. - respondeu a toda pressa, enquanto levantava mesa e cadeira e voltava a sentar-se, tentando aparentar naturalidade.

Naquela tarde, manteve-se o mais longe possível do misterioso quarto de sua Cinderela – a qual, repentinamente, havia-se convertido na bruxa má do conto -, e de tudo o que contivesse baunilha.

Não necessitou que Hermione insistisse muito para que a acompanhasse à biblioteca, precisava ter a mente ocupada com algo, não importando se para ele via-se obrigado a estudar. Ainda com a mente confusa notou que, por algum motivo, Hermione continuava nervosa.

- Francamente, Harry! Entenda que não é possível que seja a Professa McGonagall! - exclamou Hermione desesperada, pegou um dos livros diante dele e começou a fazer anotações num pedaço de pergaminho. - O que você deve fazer é concentrar-se no exame de Feitiços de amanhã. Onde deixei meus apontamentos sobre Feitiços Localizadores? - disse, começando a mexer nas coisas dentro de sua mochila.

- Feitiços? O quê? - Harry perguntou, totalmente distraído.

- Feitiços Localizadores. Estudamos na semana passada na aula. Enfeitiça-se um objeto para reconhecer e localizar alguém que com ele tenha tido contato recentemente. - explicou, enquanto continuava procurando dentro de sua mochila.

Harry continuava distante, apenas escutando o que Hermione dizia. Tinha o rosto apoiado sobre uma das mãos e lentamente as palavras de Hermione foram assimiladas por seu cérebro. Algo dentro dele despertou e uma intensa luz no interior de sua cabeça se acendeu.

- HERMIONE! - gritou, mais emocionado que quando ganhara a Copa de Quadribol no terceiro ano. - É isso! Se fazemos esse feitiço no pedaço de broche, podemos encontrar a outra parte... e a dona do broche! Assim comprovaremos se é ou não é McGonagall.

Hermione ergueu a cabeça abruptamente e sua mochila caiu no chão. Harry sorria como se estivesse contemplando Malfoy vomitar lesmas sobre Crabbe e Goyle.

- É possível fazer, não é? - perguntou com entusiasmo.

- Bo-bom... sim, mas... é um feitiço complexo e... - Hermione respondeu, ficando vermelha de repente.

- Mas você poderia fazê-lo, não é?

Antes que pudesse responder, a Professora McGonagall apareceu a alguns metros às costas de Harry. Aproximou-se deles com rapidez.

- Senhorita Granger, por fim a encontro! Quando regressamos ontem, pela tarde, deixei com você um de meus livros e preciso dele para preparar uma aula. Seria tão amável de me devolvê-lo? - perguntou a Hermione, antes de lhes dirigir curiosos olhares, à ela que parecia ter dificuldade em respirar, e a Harry, que automaticamente delizou por sua cadeira para afastar-se dela, com o rosto tão vermelho que um tomate teria empalidecido a seu lado.

- Eu... sim... em uns minutos eu o levo à sua sala, tenho-o no dormitório... - respondeu Hermione, com um ligeiro tremor na voz.

- Não, não. Por favor, é urgente, eu a acompanho até o dormitório, de fato preciso que me ajude a corrigir alguns exames, com todo o assunto das Olimpíadas estou muito atrasada. Se importaria de me acompanhar agora mesmo? - pediu num tom que, apesar de ser amável, não deixava opção para uma negativa.

- Sim... claro... - disse Hermione, enquanto começava a recolher suas coisas precipitadamente. Harry, finalmente, se pôs de pé e colocou-se do outro lado da mesa. O mais longe que pode de McGonagall.

- Senhorita Granger, estou segura de que o Senhor Potter não se incomodará de encarregar-se de suas coisas. Tenho urgência nesse livro. - declarou, empurrando Hermione dissimuladamente por um ombro para que se apressasse.

Não lhe restou mais remédio que segui-la, enquanto dirigia um último olhar de desesperança à sua mochila sobre a mesa, próxima de Harry, e a este que a via afastar-se decepcionado ao perder a melhor oportunidade que havia tido de acabar com todo aquele assunto de uma vez por todas.

Harry deixou-se cair na cadeira com muito pesar. Suspirou derrotado, mas sua ansiedade tinha chegado a tal nível que pensou que depois de dominar um patronus, um simples Feitiço Localizador não devia ser coisa do outro mundo.

Decidiu tentar, depois de tudo o pior que podia acontecer era não conseguir e, nesse caso, teria que esperar que Hermione retornasse. Pegou a mochila de Hermione e com certa culpa começou a vasculhá-la também em busca de seus apontamentos sobre Feitiços Localizadores...

Encontrou um par de luvas e um cachecol, o que não era nada de extraordinário, já que estavam na metade do inverno, se não houvesse encontrado também um bloqueador solar. Encontrou dois frascos de tinta, seis plumas, três rolos extras de pergaminhos, um dicionário de runas, outro de inglês, meia dúzia de mais livros, uma agenda, uma foto de seus pais, uma foto dele mesmo com Rony, toalhinhas úmidas, um aromatizante para mãos, uma sombrinha... será que ela estava esperando uma tormenta no meio da aula de Feitiços? Sabia que Hermione era precavida, mas aquilo beirava ao absurdo, começava a impressionar-se de que Bichento não houvera saltado, miando, de sua caneta-tinteiro; sentiu-se cansado pela busca. E foi justamente então que encontrou algo que seria extremamente útil, mais útil ainda que as anotações de Hermione...


Nota 1: Aos que lêem esta fic, o meu muito obrigado, e aos que se dão ao trabalho de deixar review o meu muito obrigado de coração (também em nome da autora). :-)

Mana Granger (Quanta saudade! E em pensar que você se deu ao trabalho de se cadastrar só pra deixar review pra sua maninha aqui... Puxa... além de me sentir lisonjeada nem sem o que dizer... - embora eu pressinta que você, assim como os loucos do Gaiolão, sente um prazer mórbido em me deixar com assim, com "begonha", ahauahauhaua!), Kikinha (ahauahuahaua, é bom saber que estou chegando ao seu nível de tradução!), may33 (Sua espera foi recompensada: eis o cap. 6!) e .Miss.H.Granger. (É gratificante saber que está gostando da tradução e aprovando a mesma!), a todas vocês, obrigado, obrigado e obrigado:-)

Nota 2: Não sei qual é o hobby de vocês, mas eu adoro traduzir. Aquilo que começou como um exercício de aprimoramento da língua espanhola, tornou-se uma diversão e também uma terapia ocupacional. É pena que eu não disponha de tanto tempo assim para pôr em dia a lista de fics que tenho esperando por tradução, fics dos mais variados gêneros e shippers, incluindo, claro, casais slash (sim, tem pra todos os bons gostos e opções).

Ainda estou no aguardo da autorização da tradução de mais três fics, sendo duas delas D/Hr. E estou cogitando, sinceramente, a idéia de traduzir uma fic H/H imensa, com mais de 40 capítulos, que mede quase 3 megas em arquivo .HTML, frise-se. Claro, esse número megatônico não se compara, em tamanho, à magnânima, insuperável, nirvânica "Espada dos Deuses", da Massa (deu pra perceber o quanto eu amo EdD, não?), mas meus dedinhos já coçam e doem por antecipação só de pensar em traduzir a dita cuja - e aposto que vocês vão adorar (não me refiro às dores que certamente terei pelo esforço repetitivo e sim a fic). Mas então, veremos o que a tia Inna vai fazer... Cada coisa no seu devido tempo.

Nota 3: Voltando para "Francamente, Harry...!", adianto a vocês que este é o penúltimo capítulo e que o capítulo 7 será postado até amanhã, no máximo.

Nota 4: Para quem estiver disposto a acompanhar "Pó de Chifre de Unicórnio", uma informação: a fic (em espanhol) está no cap. 30 (é, a Julie está inspirada) e eu acabei de traduzir o cap. 10 (que, assim como os demais capítulos ainda não postados, passará por uma revisãozinha básica... pra desencargo de consciência... ¬¬).

Nota 5 em complemento à Nota 4: Não tenho beta, o que significa dizer que eu mesma reviso aquilo que traduzo. Algumas almas "caridosas" insistem em dizer que não preciso, porque "tia Inna se basta". - girando os olhos. Bueno... (suspiro) só sei que não tenho muita paciência (e nem tanto tempo assim) para revisar. Acho um saco e, como sou chata comigo mesma em relação ao que faço, demoro mais revisando do que traduzindo (isso QUANDO reviso, diga-se de passagem). Portanto, já sabem: 1) Se encontrarem erros de digitação e/ou de gramática, fiquem a vontade para pôr a culpa na minha total falta de inspiração em revisar; e 2) Se eu demorar a postar (e me refiro aos capítulos de todas e quaisquer fics que daqui por diante eu venha a traduzir/publicar), fiquem certos de que eu não estarei traduzindo (porque a tradução flui rapidamente); eu estarei, sim, me forçando a revisar, ou seja, passando a maior parte do tempo no banheiro, batendo a cabeça no penico entre uma revisão de três linhas e outra. E é tudo. ¬¬'

Abraço a todos! ;-)
Fui! - com a promessa de voltar.
Inna