CASAMENTO GREGO
CAPÍTULO 07 – AS BOAS VINDASA viagem para a aldeia de Milo e Terspicore só se deu mesmo dois dias após o casamento. Além do cansaço e da ressaca, algo mais atrasou a viagem: Milo acordou ardendo em febre. Nem precisava de médico pra saber que aquela febre era psicossomática. Na manhã da viagem, ainda meio febril, encostado em Camus vendo a costa de Atenas ficar distante, Milo estava mais quieto que o costume. Terpsicore resolveu brigar um pouco com Saga, pra ver se ele se animava.
Eu devia jogar essa aliança no mar. Onde já se viu? Sabe o que está escrito na minha, Camus? "Propriedade exclusiva de Saga".
O cavaleiro de Gêmeos apenas sorriu, sabendo do que viria a seguir.
E na dele, ele gravou simplesmente: "Da Terpsicore".
Camus sorriu, apertando Milo, pra ver se ele reagia. Nada. Saga resolveu revidar a provocação, entendendo a idéia da mulher:
Claro que é simplesmente isso. Com um nome desse tamanho, sorte que coube na aliança... Além do que, pra meio entendedor, meia palavra basta...
Camus começou a rir, mas Milo pediu licença, que não estava se sentindo muito bem... Kanon, que estava vindo se sentar com eles, estranhou:
O que ele tem, hein?
Um amor infinito pelo pai, que não aceitou bem essa história de casamento e filhos com um outro homem...
Eu entendo... Mas pra mim, é tudo tão normal...
Pra nós, que sempre convivemos com eles, sim, é normal. Eles sempre estiveram juntos, como companheiros aprendizes, como cavaleiros de casas próximas, como amigos, que pareceu uma seqüência natural das coisas que terminassem juntos quando voltamos à vida. – Saga apertou o ombro de Camus.
Merci pelo apoio, mas não é tão simples assim... Milo foi criado pra ser o protótipo do macho comedor, emprenhador da maior quantidade possível de fêmeas, estivesse casado ou não. O irmão mais velho dele tem 4 filhos ilegítimos com 4 mulheres diferentes. Quando voltamos, eu não podia pensar em uma vida inteira que não fosse compartilhada com ele, mas apesar do Milo corresponder aos meus sentimentos, a entrega dele foi muito difícil. Ele teve que escolher entre o amor do pai e o meu. Vocês podem ver que ele sofre até hoje a dor da escolha.
Camus, posso garantir que ele não se arrepende de nada...
Eu sei disso. Mas isso não diminui o sofrimento dele. Se vocês me derem licença, vou vê-lo.
Milo estava ajoelhado ao lado da cama onde os gêmeos dormiam... Acariciava o tornozelo gordinho de Dumas e estava ainda suspirando quando Camus entrou e o abraçou. Bem apertado.
Eu...
Shhh... pra mim, você não precisa se justificar. Só quero que você se lembre que eu estou do seu lado. E é aqui que eu vou estar, sempre.
Milo inclinou a cabeça pra trás, buscando se encostar mais no amado.
Adoro essa palavra...
Qual?
Sempre... always... Não, always é em inglês... Como é que se diz?
Toujours... pour moi et toi c'est toujours... – e puxou o queixo do marido para capturar os lábios dele melhor. Ouviram as risadinhas marotas das crianças, indicando que tinham acordado. ("Sempre, pra mim e pra você, é sempre")
Brincando com os filhos, Milo conseguiu relaxar um pouco, mas toda a tensão voltou assim que o relevo da ilha de Milos apareceu.
O barco deu a volta, para atracar no porto da aldeia. Como o esperado, tinha muita gente esperando por eles... Kanon brincou:
Tudo isso é parente ou vocês são famosos assim mesmo?
Oras... – Saga não ia perder a chance de dar mais uma alfinetada na esposa. – não é sempre que uma das encalhadas mor se casa, então vieram confirmar o milagre.
Mas ele nem pode concluir sua gargalhada, pois se viu com a boca cheia de água do mar. O piloto do barco que riu, porque precisou parar para recolhê-lo.
HEH, Mestre Saga. Até parece que não conhece direito a mulher que escolheu... – disse o velho marinheiro ajudando Kanon a tirar o irmão da água – Antes de mexer com ela, veja se não tem perigo dela te jogar no mar, num barranco ou alguma faca por perto...
Todos riram, até descontraindo Milo...
No píer do barco, havia três homens esperando. Dois grandalhões e um baixinho, mas indiscutivelmente parentes... Saga olhou para Milo, depois olhou para os homens e cutucou Kanon:
Ou são todos gêmeos ou são todos clones...
Assim que amarraram o barco, Terpsicore saltou direto para os braços de um grandalhão:
Péleas!
Pipe...
Achei que o baixinho fosse irmão dela... – cochichou Kanon para Camus.
E é. O baixinho é o irmão mais velho, Adrian.
E quem é o outro "armário"?
Meu cunhado, Markos.
Mas todo mundo tem a mesma cara, praticamente...
Ah, mon ami... Vai se acostumando... Isso é o que acontece quando dois irmãos se casam com duas irmãs... Formam uma ninhada de siameses...
Desceram do barco, os irmãos foram devidamente apresentados a Saga e Kanon, Marco apertou Camus como se fosse lhe quebrar no meio, depois ergueu os pequenos gêmeos nos braços. Eles lhe agarraram o pescoço, beijando-o com gosto. O tio riu e devolveu-os ao pai, para abraçar o irmão.
Tudo bem em casa?
Ah, tudo na mesma. Mas estão todas ouriçadas com o casamento. Me propus a vir buscá-los pra ter um pouco de paz. Coritsi, você colocou o nosso pequeno mundo de pernas pro ar...
Não ligue pra ele. – Adrian abanou a mão. – Está enciumado porque deixou de ser o centro das atenções da mãe durante as últimas semanas.
E esse povo todo? – Kanon apontou.
Péleas e Markos ficaram vermelhos, bufaram, depois pegaram as malas explicando contrariados:
São alguns vizinhos, ignorantes! Vieram ver os gêmeos do Milucho.
E conferir se ele não está prenhe de novo.
Camus apertou o ombro do marido, impelindo-o pra frente.
Devíamos então cobrar ingresso, n'est pás?
Devíamos era sair esmurrando narizes, isso sim. Se meu irmão pôde ter filhos, isso é coisa que só interessa à família. Ninguém tem nada com isso. E baixar a cabeça não vai resolver nada, Milucho. Mantenha-a erguida. Você não roubou, não matou, não prejudicou ninguém. – Markos deu uma banana pro lado dos vizinhos. – VÃO CUIDAR DOS SEUS RABOS, PORRA! OS CHIFRES DEVEM ESTAR CRESCENDO, DE TANTO QUE VOCÊS CUIDAM DA VIDA DOS OUTROS.
Saga arregalou os olhos, Kanon abriu mais o sorriso, Camus bateu nas costas dele:
Bienvenue à família Andropoulos, Saga. Estamos em casa!
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Assim que a caminhonete estacionou na frente da casa da mãe de Pipe e Péleas, um grito de "CHEGARAM" foi-se ouvido. Mais clones do Milucho saíram pela porta, de diversas alturas e larguras. Saíram também as irmãs de Terpsicore, crianças de todas as idades, e duas senhoras avançaram nos primos, cobrindo-os de beijos. Depois Nina foi agarrar os netos, que só não saíram correndo, porque reconheceram a voz da avó e Euterpe foi se apresentar ao Saga.
Você é o noivo da minha menina... Nina, Nina, deixa seus netos respirarem um pouco e vem ver... Faz tempo que a gente não vê um homem tão alto e bonito nessas redondezas...
Saga olhou de relance para os homens da família Andropoulos, poucos do mesmo tamanho que Adrian e sorriu. Sogra de língua doce ele tinha arrumado...
Obrigado. – Ele pegou na mão da sogra e beijou. – Agora eu sei de onde minha noiva herdou a beleza, se bem que a senhora foi econômica, Mamãe Euterpe. Guardou a maior parte para si...
As irmãs se olharam, encantadas... Nina deu uma cotovelada em Euterpe, depois olhou pra Pipe, que tinha fechado um olho, contrariada. "Me chamou de feia, ainda que disfarçadamente, filho duma mãe".
Você soube escolher bem. – Nina aplaudiu. – Nossos filhos escolheram bem! Camus, meu genrinho, você está cada dia mais lindo.
Merci beaucoup, Maman Nina. (em francês, soava como Niná, ele sabia que a sogra adorava ser chamada assim). A senhora também continua ótima... que meu sogro me perdoe...
Minha irmã é esperta. – o irmão do meio, Christoriadis, agarrou-a por detrás. – Arrumou um noivo com estepe...
Euterpe ficou horrorizada, mas Kanon deu uma gargalhada. Ele já adorava aquela família. As irmãs de Milo e Terpsicore cochichavam entre si e davam risadinhas. Apenas uma estava injuriada, porque sabia que seria assunto entre as irmãs e primas depois: Calíope! Por mais que tentasse, não conseguia segurar o ciúme.
Antes de entrar em casa, seguindo o cortejo barulhento da família, Camus olhou pro segundo andar, diretamente para uma janela, onde a cortina ainda balançava. Seu sogro turrão estava lá, vendo o filho e os netos chegarem. Ele se esforçaria pra ficar bem longe deles por todo o tempo que estivessem lá. Com todos os parentes reunidos para o casamento, não seria difícil. O francês suspirou. A prioridade era proteger o Milo...
"Se bem que minha sogra e a irmã dela já devem estar com as trincheiras prontas..."
N/A: Um lembrete. A Calíope que é minha irmã não é a Calíope Amphora, a ficwriter, certo? Mas eu queria agradecer a esta pelo site do Parlamento Grego de onde tirei alguns nomes e sobrenomes pra guardar numa hora de necessidade... Mais famílias grandes, mais encrenca pra mim... Mas eu amo famílias grandes, talvez porque a minha sempre foi pequena. Vejamos, ah, sim... Coritsi é garotinha em grego. Tenho que agradecer aos professores de grego da minha faculdade que estão me agüentando correr atrás deles capítulo após capítulo. Porque eles manjam tudo de grego clássico, mas moderno... Então é pesquisa pra eles também...
