CASAMENTO GREGO – CAPÍTULO 08
ALFINETES E SEDA
Dois dias. Estavam na Ilha de Milos, na aldeia da família Andropoulos já há dois dias e parecia que aquele povo nunca parava, nunca dormia. O entra-e-sai nas duas casas vizinhas, onde se instalaram os parentes era infinito. O barulho, ensurdecedor. E o que mais irritava Saga: nunca conseguia ficar mais que cinco minutos a sós com sua mulher.
Vou enlouquecer. Preciso dar um jeito nisso HOJE! De hoje, não passa.
Camus, entrosado com o jeito dos parentes, estava totalmente à vontade. Até Kanon estava aclimatado. Milo, depois de dois dias de paparicação das irmãs e da mãe, tinha baixado a guarda um pouco. Apenas uma certa tristeza no fundo dos olhos denunciavam a mágoa que ele sentia pelo velho Nicos nunca lhe dirigir a palavra. E o pior. O velho grego turrão olhava para os gêmeos com uma espécie de raiva.
"Eles são a prova de que eu "servi" ao meu marido. Um homem de verdade deve ficar sempre por cima..." – pensava o cavaleiro de Escorpião, enquanto embaralhava as cartas para uma nova rodada.
Era uma tarde quente, os irmãos e os primos estavam jogando cartas, fumando e bebendo, em meio a gritos, palavrões e risadas. Algumas mulheres da família presentes estavam cozinhando. E mais gritos, palavrões e risos saiam da cozinha. Enquanto isso, as crianças, grandes e pequenas, corriam pelo gramado. Calíope, no seu papel de tia solteirona agora, estava sentada na varanda, com algumas mães tomando conta dos pequenos... Saga viu Terpsicore sair pelos fundos com uma bacia de roupa limpa nos braços. Se levantou discretamente, dizendo algo como "tirar a água do joelho" e foi atrás dela.
Ficou olhando aquela figurinha de cabelos presos numa trança larga, o vestido florido justo até a cintura, a saia solta, os pés descalços, a imagem de uma camponesa e seu coração transbordou de ternura. "Podia ser assim pra sempre. Mas se ficasse aqui, não iria pra lá, não chegaria até mim... Zeus me livre! Estou apaixonado! Tomara que ela não descubra nunca!" E quando ela voltou com a cesta vazia depois de ter pendurado as roupas, se viu colhida por um par de braços que a puxou para trás da casa.
SAGA!
O que? Eu to que não agüento mais de vontade de ficar um pouco com você. Eu, você, sozinhos...
Família grande tem dessas desvantagens... Onde a gente vai conseguir ficar sozinho por aqui? – riu ela...
Se você não fosse casada com um cavaleiro com um certo trunfo na manga, poderia até se queixar...
E que trunfo é esse, senhor-meu-marido-com-tesão?
Camus, Milo e Kanon sentiram o cosmos de Saga alterar. Camus balançou a cabeça, mas Milo e Kanon racharam o bico, fazendo os outros quererem saber o que estava acontecendo. As duas horas de namoro do casal foram cinco minutos no tempo real. Logo Terpsicore estava voltando para dentro de casa.
Pipe largou a cesta na lavanderia e foi para a cozinha, ver se podia ajudar em alguma outra coisa. Uma tia cutucou a outra, e logo o ambiente fervilhava de cochichos e risadinhas. A morena ficou estressada:
Que foi agora? Vocês andam impossíveis esses dias...
Ah, querida... – respondeu tia Nina, com um falso ar de piedade. – Se eu soubesse que você tinha alergia a pendurar roupa no varal, nem tinha pedido...
Alergia, eu, tia? Da onde você tirou isso?
Ué, Terpsicore. Você saiu daqui normal. Volta agora com umas manchas no pescoço... Não é alergia?
Pipe arregalou os olhos e pegou uma travessa inox de cima da pia. Examinou o dito pescoço, descobrindo uma baita mancha vermelha no pescoço outra no colo... Fechou os olhos de raiva "Maldito Saga e sua mania de me deixar marcada". Enquanto punha a trança na frente da marca, ouvia ruborizada as gargalhadas reboarem na cozinha... E os comentários do tipo "Macho bom é aquele que nunca perde uma oportunidade".
Saga, enquanto isso, saía do seu "esconderijo" com o maior sorriso de Frajola depois que engoliu o Piu-piu. E deu de cara com o tio Nicos, que apenas olhou pra ele, sorrindo ao vê-lo enrubescer.
-Err... tarde quente, não, sr. Andropoulos?
-Deve ter esquentado mais ainda, não, jovem Saga?
-Bem... sabe...
-Faz muito bem, meu rapaz. Afinal, vocês vão se casar mesmo, um homem não deve passar vontade.
Saga mordeu o lábio, incomodado. Aquela era uma alfinetadinha maneira. Olhou para a mesa, onde Milo gritava feliz por mais uma rodada ganha. Mas os olhos de Nicos estava em Caliope, erguendo um sobrinho caído e consolando-o.
-Terpsicore era uma preocupação para os mais velhos, por causa do seu gênio rebelde, mas era um alívio para a irmã mais velha, porque assim ela não tinha que se preocupar com sua solteirice. Agora, nossa preocupação acabou – bateu nas costas de Saga – mas começa o calvário de Calíope. Tenho pena dela, tão bonita e ainda solteira... Seu irmão não estaria interessado em fazer parte da família também?
Saga riu, sem vontade. Kanon não tinha encontrado a sua metade, a mulher que o domasse. Calíope era bonita mesmo, mas era infeliz. Ela deveria ter tido a mesma coragem da irmã caçula e se afastado da aldeia, em busca da auto-estima, da satisfação pessoal. Seu comodismo ia sempre cobrar seu preço alto. Não, ele não desejaria a cunhada pra nenhum inimigo seu, imagine para seu irmão. E o que mais o revoltava: como Nicos podia compreender a sobrinha e não dar uma chance ao próprio filho? Abanou a cabeça, contrariado e voltou pra mesa. Kanon e Milo bateram nos ombros dele, cascando o bico, Camus distraiu-se vendo seus filhos correndo pelo gramado, logo Dumas estava querendo o colo de Milo.
-Lembrou que tem mãe... – brincou Markos.
Constantine, mais um irmão de Milo, gritou para uma das irmãs:
-Aristhias! Vem pegar o Dumas!
Ela estava com um dos filhos no colo e balançou a cabeça:
-Já tentamos de tudo... Ele deve estar com sono...
Adrian jogou as cartas na mesa:
-E eu to com fome! Esse jogo já deu mesmo!
-Providencial essa chegada do pequeno, não? – comentou o único tio no jogo. – Vocês o treinaram pra vir interromper quando estivessem perdendo?
-Claro, tio Paulus. – Milo apertou o filho de encontro ao ombro. O tio apertou a bochecha de Dumas.
Markos veio e tirou Dumas do colo de Milo e jogou pra cima, o pai se arrepiando, a criança dando um grito de surpresa. Camus só balançou a cabeça. Logo estavam seguindo pra dentro de casa, o sobrinho a cavalo no pescoço do tio, Tessa aproveitando o sossego pra subir ela no colo de Milo, uma família feliz. Se não fosse pelo olhar desgostoso do avô, parado na varanda.
N/A: Saga sem vergonha, hein? Essa família do Milo também... Well, voltei, pra quem gosta dessa fic... Kanon solteiro, podem preencher as fichinhas, pegar uma senha e aguardar. Quem pegará o 'poderoso cunhado'? 13/01/06.
