QUANDO A VIDA TE OFERECE LIMÕES
CAPÍTULO 03 – E O QUE SOU EU?
Foi muito difícil explicar ao jovem arqueiro todas as modificações feitas por aquele que se dizia seu irmão. Omi não acreditava que Masafumi tinha tido coragem de mexer totalmente em sua estrutura física, sem se importar com danos psicológicos... Só não entrou em total depressão porque tinha amigos, que não cansavam de dizer e demonstrar que estavam ali.
-Vou ter seios? – perguntava ele ao médico, em uma consulta rotineira.
-Não creio. Baixamos a sua dose de hormônios para a mínima necessária. Mas vai ter mamilos salientes. E mais sensíveis.
-Mas vou ter TPM?
-Bem, isso só saberemos quando você começar a menstruar. Se bem que, dependendo dos sintomas que você apresentar, nada que anticoncepcionais não atenuem.
-Só posso imaginar meus hormônios masculinos normais em guerra com esses invasores femininos. Tenho dores de cabeça, enjôos e minha pressão cai constantemente.
-Logo, logo, tudo vai se estabilizar, Omi. Eu garanto.
E com o passar dos meses, Tsukiyono teve mesmo uma vida rotineira. Escola, trabalho, lazer, uma missão ou outra. Aya tinha uma preocupação a mais. Se Masafumi viria buscar sua cobaia de volta.
Até que uma tarde, logo depois das entregas, o loirinho entrou em casa bastante pálido. Ken, encarregado do jantar, notou e mandou-o pra cama, saindo em seguida para a floricultura para comentar com os outros.
-Tem certeza? – Yohji acendeu um cigarro. – Já estamos fechando. Logo a gente sobe e dá uma olhada nele. Melhor preparar um chá, Kenken.
Subiram os três, Ken segurando a bandeja de chá. Aya bateu na porta e a voz de Omi parecia muito distante. Ele a abriu e deram de cara com o loirinho no chão, encolhido, apertando a barriga.
O espadachim pulou pra dentro do quarto, a fim de virá-lo, enquanto Yohji arrumava a cama para colocá-lo. E comentou:
-Sim, ele está mais pálido que o costume. Está com muita dor, chibi?
-Do lado esquerdo. Como facas entrando. Ou como se uma mão apertasse alguma coisa aqui dentro... Lateja depois some. Daí volta pior...
-Não é melhor chamar um médico? – Ken estava assustado.
-Bem, se você tivesse uma irmã, saberia que é sério, mas não é grave. Yohji ajude-o a tomar o chá enquanto está quente. Ken, temos uma bolsa de água no banheiro? (1).
-A-a-acho que sim...
-Então encha-a de água quente, por favor. Depois traga aqui e ponha na barriga dele Eu vou sair e comprar um remédio pra cólicas.
-Cólicas... – repetiu Kudou.
- A primeira menstruação do Omi está vindo. Ou você ainda não estava esperandoVou aproveitar minha ida na farmácia e comprar modess.
A primeira "descida" de Omi foi algo vergonhoso, que ele não gostava de recordar. Apesar de estar esperando e ter lido tudo na Internet sobre isso, não estava preparado para a visão de sangrar nem ter que usar absorvente. Teve que descobrir o modelo certo para seu tipo de menstruação. Ficava preocupado se estava vazando ou não e se marcava a roupa.
"Como? Como, por Deus, as meninas agüentam isso todo mês? Eu poderia matar Masafumi por um monte de coisas, mas o torturaria com prazer só por me fazer menstruar. A vantagem é que eu posso alegar "insanidade temporária" por conta da TPM e me safar de um processo."
A idéia fez o arqueiro rir alto. Ele, um Weiss, pensando em atenuantes para homicídio. Aya olhou pra ele e o loirinho ficou rosado. Deviam ser seus hormônios femininos trabalhando. Mas cada vez que os olhos azuis cruzavam com os violetas, Omi sentia um rubor se espalhando pelo rosto e seu coração acelerava. Pensamentos nada próprios cruzavam sua mente, a maioria em relação àquela boca sempre séria.
"Como seria um sorriso sincero de Aya-kun? E um beijo? Como serão os beijos dele... Bolas, lá vou eu de novo com essas loucuras... Ele é um homem, acorde, Tsukiyono. Mais um motivo pra eu torturar o Masafumi. Pensar em Aya-kun vai me deixar maluco..."
Só que o Aya-kun, mais disfarçadamente, também não perdia muito os movimentos do seu companheiro mais jovem. Dizia a si mesmo que era apenas preocupação com o estado dele, sempre instável... Mas então, porque agora, ao vê-lo olhar para a TV e acompanhar o beijo do filme passando os dedos nos lábios depois fechando os olhos, ele sentia um ciúme avassalador inchar seu peito? Quem seria a pessoa com quem Omi estava dividindo aquele beijo imaginário? Precisou de muito auto controle para não se levantar naquele momento, cobrir os lábios vermelhos com os seus e reclamar a posse definitiva do loiro. A vontade foi tanta que ele se levantou mesmo e saiu da sala, assustando Omi e Ken.
-Ué?
-Acho que o filme não era do agrado dele, Ken-kun.
-Mas foi ele quem trouxe.
-Talvez ele tenha se decepcionado com o enredo...
Quem antecipou o desfecho desse impasse foi Kudou-san, sem querer. Numa tarde em que Omi voltou da escola e se trocou, colocando um shorts, Yohji comentou com Ken baixinho, mas Aya acabou ouvindo.
-Deve ser por culpa dos hormônios que ele toma, mas já notou como o quadril do bishounen é mais arredondado que dos outros meninos?
-Hein?
-Sim. Olha só ele naquele shortinho. Quadril suave, pernas torneadas, bumbum arrebitado...
-Yohji... –Ken estava mais vermelho que um pimentão. Ele já ficava sem graça quando percebia isso numa menina, em Omi, aquilo beirava a indecência completa.
E a sensação só piorou porque Aya saiu da estufa pisando duro e deu um berro:
-TSUKIYONO! VAI COLOCAR UMA BERMUDA DECENTE AGORA MESMO!
Yohji caiu na gargalhada, abaixando a cabeça pra se controlar e foi para a frente da floricultura. Ken também abaixou a cabeça mas pra esconder seu desconforto. Omi olhou assustado para o ruivo, que parecia fumegar e subiu correndo, às lágrimas.
Fujimiya ficou em dúvida se socava o playboy ou ia atrás de Omi. Suspirando e resmungando algo como "o dever primeiro, depois a diversão", subiu atrás do arqueiro.
Ken virou-se para Yohji.
-Que foi aquilo?
-Super proteção. Ciúmes. Já ouviu falar que quem ama, cuida?
-Aya? Ele sabe amar?
-Tem um coração em algum lugar ali, certo? Acho que nem ele se lembrava disso.
-Estamos falando de dois homens, Yohji-kun!
-Pois é, Kenken. Melhor você abrir a mente e rever conceitos... Pelo jeito o Omiitchi vai quebrar mais um paradigma... – O loiro acendeu um cigarro e ficou pensativo.
N/A: Normalmente, duvido muito que Aya prestasse tanta atenção a irmã assim, mas eu precisava de alguém pra dar uma opinião. Agora, começa o romance, lá vem o lemon e a tragédia. 03/01/06.
