QUANDO A VIDA TE OFERECE LIMÕES
CAPÍTULO 05 – HORA DE ASSUMIR...
-OMI! – gritaram os gatinhos.
Mas o arqueiro nem quis ouvir mais nada. Era um pesadelo. Agora Yohji e Aya iriam se pegar. Se machucar a valer. Talvez até um matasse o outro. Senão, nunca mais iriam conversar. Era o fim do Weiss, por culpa dele. Dele, Omi Tsukiyono, baka, que tinha que transar sem camisinha mesmo sabendo que não podia, uma aberração da natureza por culpa do seu irmão mais velho, único homem do mundo que podia ficar grávido.
Com todos esses pensamentos rodando em sua cabecinha, Omi parou numa esquina, sentindo o mundo girar tão rápido quanto seus pensamentos.
"Era só o que me faltava. A pressão cair e eu desmaiar no meio da rua."
Viu que tinha um parque do outro lado da rua. Se arrastando, atravessou e caiu na grama assim que entrou. O guarda do parque foi ajudá-lo, mais pronto a dar-lhe uma bronca, achando que estava bêbado, mas ao ver seus lábios brancos, chamou uma ambulância.
Enquanto isso, na floricultura, Aya e Yohji estavam mesmo a ponto de se pegarem.
-Posso saber o que está acontecendo? Por que Omi saiu correndo daquele jeito?
-Deve estar envergonhado por ter se entregado a um baka feito você.
-Modere suas palavras, Kudou. – Aya começou a estreitar os olhos.
-Ah, sim? Quem foi que há alguns meses atrás me deu uma ralada "não me contaminei ainda, Kudou" pra depois transar sem preservativos com o namoradinho, hein? Mesmo sabendo que ele podia engravidar? Seu irresponsável! Agora taí a conseqüência. Omi está de barriga e a culpa é sua!
-Omi está de barriga?
-ESTÁ GRAVIDO, IMBECIL! Não entende minha língua? Você comeu ele sem prevenção e ele corre risco de vida agora, ó todo poderoso e esperto líder.
-Omae wo korosu, Kudou, se você não maneirar seu jeito de falar comigo e... (1)
Um balde de água fria foi despejado sobre os dois briguentos, que estavam muito próximos um do outro (tipo um segurando a gola da camisa do outro). Yohji e Aya olharam para um Ken vermelho:
-Gomen, gomen nasai. Mas dá pra deixar a troca de elogios pra depois? Vocês estão se esquecendo do principal. O Omi sumiu, gente. Vomitando e tudo.
-É verdade. Vamos trocar de roupa e vamos fazer o que é importante, primeiro. – Yohji soltou da camisa de Aya e foi indo para dentro – Não podia ter usado água morna pelo menos, Kenken? E se eu ficar gripado?
Ken sorriu, se desculpando de novo, enquanto atendia e despachava os últimos clientes do dia. Assim que cerrou as portas, os três já estavam prontos para irem atrás de Omi. O telefone tocou e Yohji atendeu. Franziu a testa, anotou uns números e virou-se para os outros.
-Omi está no hospital. Ele se sentiu mal na rua – a pressão caiu – e o médico não quer liberá-lo sem a presença de alguém que o acompanhe.
-Eu vou buscá-lo. – Aya já estava meio corpo lá fora quando Ken pediu:
-Deixe que eu vou. É melhor que vocês fiquem aqui e pensem muito bem no que vão dizer a ele. Ele já estava se sentindo acuado e vocês o constrangeram.
-Talvez você tenha razão, Kenken. Traga nosso chibi de volta. Nós vamos ver como faremos pra ele voltar a se sentir à vontade.
Assim que o jogador saiu, Yohji foi ligar para o ginecologista de Omi, deixando Aya sozinho na sala. Sem nada pra fazer, a não ser esperar, Fujimiya se sentou, juntando as mãos em frente à boca.
"Eu posso me sentar aqui e me xingar, ou posso me jogar pela janela por ser tão idiota. Posso socar minha consciência antes que ela fique me acusando de ter tentado me avisar antes. Mas nada, nada muda a realidade. Omi está grávido e corre risco de vida agora. Duplamente, porque eu não sei porque Masafumi não veio atrás dele ainda, mas se não tinha motivos antes, agora terá. Só que se eu já tinha motivos para matá-lo ANTES, agora é que ele não toca MESMO no Tsukiyono." Aya sorriu, sem querer. "Grávido. Com meu filho dentro dele. Meu filho... Uma família... Minha..."
No hospital:
-Desculpe pelo trabalho, Ken-kun.
-Que é isso, Omi? Não é trabalho nenhum. Nós ficamos muito preocupados, isso sim.
-Desculpe por isso também. Eles brigaram muito?
-Até que não, sabe? Se xingaram um pouco, mas eu pus ordem na casa. – respondeu o jogador, rindo.
-Verdade?
-Omi, não fique com essa cara triste. O que está feito, está feito. Agora é se cuidar.
-Yohji-kun me avisou tanto...
-Mas isso é algo que acontece todos os dias, com um monte de namoradinhos por aí. A camisinha poderia ter estourado. Já li até que soltaram no mercado umas pílulas anticoncepcionais falsas. Agora é olhar pra frente e se cuidar.
-É...
-Omitchi... você não está sozinho nessa. Nós somos seus amigos. Estaremos sempre do seu lado.
-Domo arigato, Ken-kun. – Os olhos azuis ficaram úmidos.
Omi não conseguiu segurar o nervosismo ao entrar em casa. Yohji estava com as suas listas de remédios, dieta e exercícios numa das mãos, conferindo com Aya. Ao ouvir a porta se fechando, os olhares se voltaram para ele. Os rostos estavam fechados em concentração, mas o arqueiro interpretou que era de irritação. Sentiu as pernas enfraquecerem e só não caiu porque Ken o segurou. Colocaram-no no sofá e o loirinho cobriu os olhos com o braço, envergonhado demais para encarar alguém.
-Me perdoem. – começou a falar, baixinho – Eu fui leviano, irresponsável, agora coloquei Aya-kun numa situação constrangedora. – respirou fundo, já sentindo o peito apertar. – Se ele quiser me deixar eu entenderei. Se vocês quiserem me por na rua eu entenderei. – as lágrimas começaram a descer e Omi soluçou – eu sou mesmo um vagabundo...
Aya olhou para Yohji que olhou para Ken que olhou para Aya. Os três sorriram. Aya foi abraçar o arqueiro, enquanto Yohji se sentava na poltrona em frente e Ken ia buscar um copo d'água.
-Devem ser os hormônios descontrolados... – começou Yohji.
-Só pode. Omi, olhe pra mim. Acha mesmo que a gente vai por você na rua, como se fossemos uns pais ultra conservadores?
-"Nossa virgenzinha ficou grávida. E agora, o que os vizinhos vão falar?" – Yohji falou em falsete, enquanto Ken trazia a água e ria da imitação do outro.
Aya segurou o copo para o namorado beber e enxugou seus olhos.
-Estamos preocupados com o risco de vida que essa gravidez acarreta. No mais, estamos felizes. Eu estou feliz. Vamos formar uma família...
-Com sangue Takatori... – gemeu o outro. – Você vai misturar seu sangue com sangue sujo, amaldiçoado.
-Você acha que o sangue do seu tio era amaldiçoado?
-Não...
-Então. E eu já te disse, pra mim, você sempre será um Tsukiyono.
-Já comprou os remédios da lista?
-Já.
-Comeu o quê, hoje?
-Nada, Yohji-kun. Estou muito enjoado hoje, pra comer qualquer coisa.
-Ah-ah-ah... pelo menos uma frutinha, chibi. Viu só? Se a gente te jogar na rua, quem vai cuidar de você? Vamos, Kenken, vamos fuçar na geladeira e trazer algo leve pra nossa "mãezinha".
-"Mãezinha"...
-A mais linda mãezinha da Terra. – sussurrou Aya, acariciando o namorado.
Omi suspirou. Ken tinha razão. O que estava feito, estava feito e agora era olhar pra frente. Aya parecia satisfeito. E ele tinha que ter outras preocupações daqui para frente.
Aya começou a desconfiar que alguma coisa não estava normal logo no início do terceiro mês. Omi não estava acima do peso, por conta dos enjôos, mas quando se olhava pra ele de perfil, já se via uma saliênciazinha. Uma luz vermelha incômoda piscava no cérebro do ruivo, mas ele não conseguia decifrar o que era. Resolveu partilhar com o segundo no comando, isto é, com o segundo nos cuidados com a "mãezinha".
-Kudou, está notando algo errado em Omi?
-Errado? Como assim?
-Algo diferente. Tem alguma coisa que não está batendo... Mas eu não consigo perceber o que é...
-Imagino que uma gravidez masculina seja diferente das normais... –sorriu o playboy. – Fora que ele sempre foi magrinho, esguio. Aquela barriguinha ta destoando mesmo.
-Vocês estão falando da barriga do Omi? Não é incrível? – Ken soltou enquanto passava. – Tive uma tia que chorava porque ela já estava de cinco meses e não aparecia nada.
O loiro olhou para o ruivo, que levantou uma sobrancelha. Na tarde seguinte, já estavam Aya e Omi no ginecologista. O médico assustou:
-Aconteceu alguma coisa?
-Nada demais, eu creio. Mas o senhor já notou como essa barriguinha está saliente? Nem chegamos aos três meses completos ainda.
-Sempre observador, hein, Fujimiya-san? Eu estava esperando Omi completar os três meses pra ter certeza da minha desconfiança.
-Que é...
-Que ele está esperando gêmeos!
Omi desabou no chão, ploft! Aya ficou em animação suspensa, um sorriso totalmente bobo nos lábios. O médico ria sozinho. Pegando o telefone, marcou um ultrassom para o dia seguinte. Se os pais estavam ansiosos, ele também não estava menos curioso. O ultrassom não foi muito claro – muito cedo ainda – e os coracõezinhos batiam em uníssono, mas pelo eco, pareciam mesmo dois. Yohji e Ken entraram em delírio ao saberem. Mas depois da fase euforia terminar, eles sabiam que tinham que ter cuidado redobrado dali em diante.
A preocupação era com a pressão do garoto. Sempre baixa, ela parecia agora instável... A dieta de Omi era rigorosa, se bem que, de vez em quando, ele conseguia comer, escondido, coisas estranhas como cachorro quente com cobertura de chocolate.
Após o quinto mês, mesmo que não tivesse sido confirmado pelo ultrassom, o tamanho da barriga de Omi denunciaria sua gravidez de gêmeos. Ele precisava caminhar pela manhã, e como um garoto com aquela barriga chamaria muito a atenção, ele tinha começado a deixar o cabelo crescer desde o terceiro mês, pra agora poder usar roupas largas (2). Ken era seu personal trainner e eles caminhavam todos os dias. Quando o jogador não podia ir, Yohji ou Aya iam com o loiro. Quanto mais os meses avançavam, mais a pressão era um fator preocupante para o obstetra.
E foi num dia desses de caminhada, que Chizuru os viu. Ela reconheceu Aya de imediato e ficou encarando a "loirinha" junto dele disfarçadamente. Depois foi correndo contar a Masafumi suas desconfianças:
-Aquele maldito espadachim anda acompanhado de uma loira grávida? Vamos capturá-la! – disse o Takatori maluco – Se for meu irmãozinho traidor, a experiência é um sucesso, vamos poder observá-lo melhor... Se for a namorada dele... – e Masafumi deu uma gargalhada maligna – vamos torturá-la para nosso deleite e desespero dele!
N/A: Pobre Omi... lá vamos nós de novo... E pobre Masafumi... ninguém nunca lhe contou que com certos indivíduos a gente não mexe? (1) Uma brincadeira, se bem que o seiyuu não é o mesmo... A frase do Heero não cai como uma luva para o Fujimiya? (2) A Akuma usou esse disfarce na segunda gravidez do Heero em Ever After... Acho que o Omi é mais verossímil que o Yuy, de cabelo comprido... De qualquer modo, minha homenagem à minha ídola maior em Gundam Wing's fics. 11/03/06.
