QUANDO A VIDA TE OFERECE LIMÕES

CAPÍTULO 06 – RISCOS...

Aya abriu os olhos, apertando de leve o corpo encostado em seu peito. Deslizou com prazer a mão sobre a pele estendida da barriga de Omi. Ele suspirou. Tsukiyono estava de costas pra ele, deitado de lado, com uma almofada entre as pernas. A posição auxiliava a coluna, castigada pelo peso extra e a circulação de sangue para o útero e os rins. O garoto, que sempre teve pressão baixa, tinha desenvolvido uma tendência à oscilação, infelizmente para cima, e o médico temia muito a pré-eclâmpsia.

-Fatores de risco: primeira gravidez, gemelar, masculina e toda uma pressão psicológica involuntária... – o doutor enumerava nos dedos. – Não quero arriscar nada...

O ruivo queria muito que seu pequeno grávido descansasse, mas não pode evitar beijar-lhe a nuca. Claro que perante os outros, ele continuava o Fujimiya frio e calculista de sempre. Mas com seu amado, ele se permitia sentir muita coisa. E todas boas. Com o beijo, Omi suspirou novamente e procurou se virar, com cuidado, ajeitando o corpo no abraço do outro.

-Ohayo, Aya-kun.

-Ohayo, Omi-chan.

-Já ta na hora?

-Eu vou me levantar. Você pode ficar mais um pouco...

-Não. Vou aproveitar que você está perto para me ajudar a levantar. Preciso ir ao banheiro e sozinho é uma luta inglória... – deu uma risadinha – Lá se vão seis meses quase, mas eu não vejo a hora de pô-los pra fora...

-Eu também não vejo a hora de vê-los. Está se sentindo bem, hoje?

-Por enquanto, tudo bem... É mais tarde que as coisas pioram...

Omi nunca ia adivinhar o quanto essa frase ia ser precisa. Mais tarde, quando o movimento da floricultura diminuiu, Ken convidou-o para andar no quarteirão. Tsukiyono olhou para seus pés inchados e teve vontade de se negar. Mas se ele amarelasse já, quando chegasse ao oitavo mês, seria uma baleia encalhada. Suspirando pela enésima vez no dia, aceitou o braço do jogador e foram. Yohji ficou na porta, olhando pra eles, cigarro no canto da boca, pensando em como a vida tinha mudado tanto em um ano...

-E eu vou ser titio... Tio Yo-tan. Vou ensinar tanta coisa pra esse moleque que o pai dele vai ficar doido. – riu com a idéia. – Vou enlouquecer o Aya!

E voltou pra dentro esfregando as mãos. Perto da hora de fechar, Aya retornou das entregas. Olhou para os lados e sentiu falta dos dois.

-Eles já não deviam ter voltado?

-Na certa, Omi cansou e eles pararam um pouco...

Meia hora depois, o ruivo largou tudo e foi atrás dos andarilhos. Encontrou Ken voltando rápido, todo sujo de barro e folhas, mas com certeza a marca vermelha em sua nuca era sangue coagulado. O coração do espadachim falhou uma batida. Ataque! Nem precisava perguntar nada. Foi ao encontro do jogador para auxiliá-lo. Limpo e medicado, Hidaka contou como estavam andando no parque e foram surpreendidos pelas Scheirents. Ele bem que tentou evitar que levassem o gravidinho, mas elas não são conhecidas por lutarem justo ou limpo.

Aya rosnou. Iam pagar caro.

Enquanto isso, no novo refúgio de Masafumi Takatori, este quase teve um infarto de alegria ao ver seu experimento ter um resultado tão satisfatório. Esfregava as mãos e gargalhava:

-E gêmeos! O sangue Takatori é mesmo genial! Vou ganhar o prêmio Nobel de Medicina. Vou virar um deus da genética... Minha fama não vai ter limites...

O alarme do relógio de Omi disparou, fazendo o arqueiro franzir a testa.

-Que é? Hora de fazer a janta pro namorado?

-Hora de tomar meu remédio para pressão, seu idiota megalomaníaco! Você se acha o bam-bam-bam, mas eu corro risco de vida, desgraçado. Enquanto você fica brincando de Deus, eu me ferro...

-Ah, claro. Primeira gravidez e gemelar, tem probabilidade de ter pré-eclâmpsia... Mas não se preocupe, minha cobaiinha favorita. Aqui vamos cuidar perfeitamente bem de você. Tudo para o bom término de uma experiência muito bem sucedida. Chizuru, Karen, Tot! Hora de fazer compras! Vou passar a lista dos medicamentos que eu vou precisar, vocês se virem com a lista de roupas para nossa cobaia prenha e de algumas coisas para bebês recém-nascidos. Quero estar preparado para uma cesariana de emergência.

Tot bateu palmas, entusiasmada:

-Compras! Roupinhas e brinquedos de neném!

Omi suspirou. Ninguém merecia uma família feito a sua, com comparsas iguais aquelas... Ele precisava manter a calma, pra manter o equilíbrio e a saúde... Ken já devia ter sido encontrado e seus companheiros deveriam estar preocupados...

"Aya-kun" – suspirou o loirinho. – "Não fique preocupado. Eu vou procurar me cuidar e cuidar bem de nossos filhos... Como vou fazer pra escapar daqui, sem nos colocar em risco?"

Masafumi não estava brincando quando disse que considerava Omi uma cobaia valiosa. Ele estava sob constante monitoramento. Sempre havia alguém pra andar com ele, suas refeições eram balanceadas, seus remédios na hora certa. Mas era só isso. Para distrair havia música e filmes. Não havia calor humano, nem conversas desnecessárias, nem risadas... Bem, se você não contar com a Tot, tentando animar a "mãezinha"...

Foi numa dessas tentativas de "levantar o ânimo" que Omi teve uma idéia fantástica. Tot estava falando de como ela não gostava de inverno mas adorava a primavera, com todas aquelas flores. Flores eram muito bonitas e levantavam a moral de qualquer pessoa, mesmo as mais tristes...

-Pois é... flores são os melhores presentes que alguém pode dar e ganhar... Gostaria tanto de ganhar alguma, pois esse quarto tão branco podia adquirir alguma cor...

-Que flores são suas favoritas?

-Eu amo uma orquídea avermelhada... (1) Ficaria tão feliz em vê-la de novo... Adoro frésias... Frésias e rosas amarelas e vermelhas também fariam um bom arranjo.

O sorriso da menina respondeu positivamente. Ela se despediu mal e mal e saiu correndo. Omi deu um sorriso de canto de boca.

-Se minhas previsões estiverem corretas, ela vai encomendar numa floricultura daqui de perto, que não vai ter. Daí o dono vai ligar de loja em loja até encontrar na Koneko, porque era uma variedade que eu e Aya estávamos cultivando em estufa, a título de experiência... Ao receberem a encomenda do arranjo, lembrarão de mim...

N/A: Nhaaaay, minna! Eu ia me aprofundar no angst e deixar o Omi ficar com o Masafumi até ter os bebês... Mas a verdadeira dona da história ameaçou enfartar de dó. Pobre da minha Mozzie, tão sensível. Então, como o Tsukiyono não é nenhuma donzela em perigo burra, ele já armou pra enviar um recado ao cavaleiro de armadura brilhante e espada comprida. (1) Pra quem não sabe, Ran, o verdadeiro nome de Aya Fujimiya, quer dizer Orquídea. No próximo capítulo já, o resgate do soldado Ryan... Rs. 01/04/06.