De sangue e predestinações

Autora: Clara dos Anjos
Classificação: PG-13
Gênero: Romance
Spoilers: cinco
Shipper: Sirius Black/Belatriz Lestrange
Status: incompleta


Capítulo Sete

Chame de tentação


"Vamos?"

Belatriz olhou mais uma vez para sua amiga e assentiu. Dalila virou-se e a outra a seguiu para fora do dormitório.

"Bela, você..." começou Dalila, num murmúrio quase inaudível, quando foi interrompida.

"Tudo bem" disse Bela rapidamente, mas sem ser ríspida.

Dalila encarou seu perfil enquanto caminhavam, balbuciou em silêncio por um segundo antes de continuar:

"... Tem certeza?"

Belatriz olhou-a de esgoela. "Claro"

Elas seguiram em silêncio. Ao pé da escada que levaria ao Salão Principal, avistaram o semblante de Rodolfo Lestrange subindo os degraus em silêncio. Porém, ele virou a cabeça.

"Vocês por aqui?"

"É, Rodolfo. Às vezes a gente vem para jantar, sabe?" brincou Belatriz sarcasticamente, alcançando-o.

"Sério?" ele exclamou.

"Oh, sim!" Bela continuou, docemente. "Idiota"

Rodolfo riu gostosamente. Belatriz nunca lhe contou, mas gostava de fazê-lo rir. Ele era um garoto comumente sério e meio pacato, que vivia com ares de tédio e pouca paciência para com as coisas e pessoas. Era uma pessoa prática acima de tudo.

Tudo o que Belatriz não era.

Ok, quase tudo. Rodolfo tinha um humor tão mordaz e seco que muitos dos seus comentários – poucos, lançados aqui e ali em diversas situações – eram lembrados por Belatriz, que os tivera achado muito bons... Nesses momentos ela se identificava com ele... E ele, em contrapartida, era um dos poucos sonserinos que não perdiam as estribeiras com as extravagâncias e o temperamento ácido de Belatriz. Pelo contrário, ele no fundo, até sabia apreciar suas respostas ríspidas. Sabia que, francamente, não eram por maldade.

"O que será hoje, hein?" gemeu Rodolfo esfregando as mãos, enquanto adentrava o salão com as colegas.

"Hum... Eu gostaria que fosse galinha..." disse Dalila.

"Ou purê também!" completou Belatriz, erguendo as sobrancelhas em ênfase ao que disse. Mas logo seus olhos se dispersaram dos amigos e a idéia da comida esvaiu-se...

Eles caminharam emparelhados em meio a uma pequena aglomeração de estudantes mais novos. Belatriz passou os olhos por eles e viu que Rodolfo também fazia a mesma coisa, fitando-os com desprezo e sua tão típica impaciência. Se tinha uma coisa que ele não suportava eram crianças. Talvez tenha sido por isso que ele nunca fora convocado para virar monitor...

Tiveram de escolher um lugar na outra extremidade da mesa. Belatriz sentou-se por último, mas o que ela esperava desde que pusera os pés naquele salão não pode deixar de acontecer...

Antes que suas pernas cruzassem totalmente o banco para assentar-se em frente ao prato que se materializou diante dela, seus orbes tiveram a ação involuntária de fitar uma certa mesa repleta de pessoas com gravatas vermelhas.

Ela se acomodou, embora não tivesse percebido. Continuou com os olhos pregados aos da criatura que fazia exatamente a mesma coisa. Era como se Belatriz não estivesse enxergando os outros ao seu lado...

Sirius tinha o lábio inferior minimamente apertado pelos dentes, seus cabelos negros estavam bem penteados e ligeiramente úmidos, de maneira que suas franjas displicentes estavam postas por detrás das orelhas. Seus braços estavam cruzados sobre a mesa, um por cima do outro, como se ele ainda não tivesse começado a comer. Ele dedilhava dois dedos sobre a mesa, e depois levou esta mesma mão à boca, roendo sua unha. E só então Belatriz reparou que ele ainda tinha os olhos fixos em sua pessoa.

Amaldiçoou-se por estremecer internamente. Apesar da expressão neutra, os olhos de Sirius brilhavam. Brilhavam tanto quanto os dela. Belatriz piscou repetidas vezes, abaixando a cabeça de súbito, e achou melhor se concentrar no prato que fumegava abaixo de si.

Rodolfo estava sentado à sua frente, comia tão absortamente que não parecia enxergar mais ninguém. Virou-se para o lado e viu Rabastan, que às vezes trocava algumas palavras com Antônio Dolohv. Dalila sentara-se ao lado do irmão, dois lugares à direita de Belatriz. Ela teve vontade de ter a amiga por perto, queria dizer alguma coisa que não sabia bem... Mas ao mesmo tempo agradeceu por ela estar longe. Não sabia se queria que percebesse seu olhar obstinado de minutos atrás...

Enquanto comia em silêncio percebeu sem querer que Sirius tinha a cabeça ligeiramente abaixada quando foi cutucado por Tiago Potter. Ele colocou os cotovelos sobre a mesa e virou-se para o amigo, abrindo um largo sorriso que Belatriz contemplou-o de forma que pousou o garfo no prato numa ação tão involuntária que quase não percebeu. Sirius continuava sorrindo quando um outro menino sentado à sua frente intrometeu-se na tal conversa. E ela reconheceu aqueles cabelos castanho-claros como sendo do tal Lupin, o namoradinho da sua irmã. Ouviu Sirius soltar uma risada alta, e o som daquela risada de uma certa maneira incomodou Belatriz. Mas o que ela estava pensando? Sirius inteiro a incomodava! Francamente, o que deu em si mesma para secá-lo assim como se nunca o tivesse visto?

É, admitiu que estava sendo ridícula. Mas o fato é que perceber Sirius Black... doía. Perceber aquele cabelo macio que começava a cair pela testa e pelos olhos, aqueles lábios avermelhados que escondiam dentes maravilhosos... Aquele sorriso singular que tinha o poder de torná-lo infinitamente mais bonito do que já era... Isso era no mínimo... perturbador. E era a primeira vez na vida que Belatriz se perturbava com isso. Com a beleza de Sirius. Com ele. Com sua maldita existência tão perto de si.

"Alguma notícia de Riddle, Rodolfo?" ela lançou a primeira coisa que viera na cabeça, numa tentativa desesperada de emergir daqueles pensamentos "movediços".

Rodolfo levantou os olhos do prato e buscou seu copo de suco.

Ele curvou os lábios. "Não, nenhuma. Ele nos mandará uma carta, não é?"

"É, eu já sabia"

"Hum... acho melhor você perguntar ao Lúcio. Aposto que ele sabe de alguma coisa"

"Pode ser. Rodolfo você vai..." titubeou Belatriz, engolindo um pouco de seu suco. "err... entrar para a tal sociedade?"

Rodolfo ergueu as sobrancelhas. "Muito provavelmente"

Belatriz sorriu de lado, ligeiramente maliciosa. "É, eu também"

"Não sei porque, mas confio nele... eu gosto desse Riddle"

"É mesmo?" fez Belatriz, sinceramente surpresa.

"Sim" confirmou Rodolfo calmamente, voltando a comer. "O cara parecia saber o que estava falando"

"Bom" ponderou Belatriz. "Digamos que ele é um tanto... excêntrico. Mas sim, é determinado"

Rodolfo concordou em silêncio.

"Mas eu acho cedo para julgá-lo" continuou Belatriz. "Prefiro esperar a tal carta... Até porque não poderia..." e sua voz abaixou-se para um sussurro. "não poderia arriscar meu pescoço numa coisa à toa. Sou de uma família de brasão, tenho um futuro pela frente, tenho que saber exatamente aonde estou pisando"

Rodolfo ergueu as sobrancelhas mais uma vez. "É... você está certa. Eu também tenho que zelar pelo nome da minha família"

Ele voltou a dar suas garfadas. Belatriz terminou seu suco e resolveu fazer o mesmo. Afinal, era um bom pretexto para manter os próprios olhos bem longe do ponto que, para sua desgraça, não saía de sua cabeça.


"Sirius!"

Retirou os cotovelos da mesa e olhou para seu lado esquerdo, de onde havia surgido a voz que o chamara. Era de uma garota de pele brejeira e cabelos encaracolados, que pendiam molemente até ombros. Tinha os olhos ligeiramente amendoados e muito negros, seus lábios eram finos e sua boca um tantinho grande. Ela piscou duas vezes quando Sirius virou o rosto em sua direção.

Era Clarisse Andrews.

"Sirius, não me ouviu chamando?" fez sua voz fina.

"Que foi?" exclamou ele, mais impaciente do que pretendia. "Fala, já estou ouvindo"

"Não era que... eu só perguntei como foi lá na Zonko's ontem e você não respondeu"

"Ah. Foi legal. Nada demais, apenas legal"

"Hum" ela deu um pequeno sorriso. "Se arrependeu, é?"

Sirius soltou um breve muxoxo seguido de um sorriso. "Não, também não é pra tanto!"

O sorriso de Clarisse murchou. "Ah... é que eu pensei... ah, deixa"

"Pensou o quê?"

"Nada"

Sirius agarrou o pulso dela debaixo da mesa. "Fala, vai"

"Não" sorriu Clarisse. Sirius fez carícias na palma de sua mão. Safado. Aquilo era golpe baixo!

"Fala!" teimou ele, manhosamente.

"Não é que..." ela enrubesceu-se ligeiramente. "bom eu pensei que você estaria melhor comigo lá no Três Vassouras do que na Zonko's depois que você não me pareceu tão entusiasmado agora, quando eu perguntei... Bobagem, esquece"

Sirius se aproximou da menina, um sorrisinho cheio de malícia brincando nos lábios.

"Bobagem por quê, tolinha?" murmurou ele chegando perto de sua orelha. "É claro que eu prefiro a sua companhia..." sentiu a pele de Clarisse se arrepiar quando ele a beijou abaixo do lobo da orelha.

"Sirius, pára!" riu-se ela se afastando. "Aqui não é lugar para essas coisas"

"Mas eu não estou fazendo nada!" Sirius teve o descaramento de dizer.

"Ah, bonitinho, pensa que eu caio nessa?"

"Bem que você gosta!" Ele agarrou a cintura dela com um braço.

"Sirius!" exclamou Clarisse baixinho, muito a contragosto. "Me larga, é sério..." Sirius voltou a sua posição normal e mirou-a com um olhar travesso. "Depois..." ela disse. "Depois"

Sirius sorriu marotamente e Clarisse relutou para retribuir. Uma das amigas dela, que se sentava à sua frente, fitava o casal com uma expressão fixamente desagradável e um tanto engraçada, visivelmente morta de inveja.

Os olhos dessa garota encontraram por acaso com os de Sirius. Ele mandou-lhe um beijinho discreto.

E a pobre menina corou até os ossos.


O salão comunal da Sonserina estava vazio quando chegaram.

"Augusto, você vai ficar aí?"

"Não, Lila, já vou subir..."

"Então vamos, ora!"

"Deixa ele, Lila" intrometeu-se Belatriz.

"Não, é que ele me prometeu me mostrar uma coisa lá dormitório dele!"

Belatriz ficou curiosa, mas nada perguntou.

"Vamos logo!" exclamou Dalila, se aproximando do irmão.

Augusto estava esparramado em uma das poltronas, as pálpebras cerradas e inchadas de sono.

"Tem que ser hoje, Lila?"

"Tem!" Dalila sentou-se sobre os joelhos do irmão, de lado.

"Você é insuportável sabia?" resmungou o garoto baixinho, posando uma mão amolecida sobre a cintura da irmã.

Dalila muxoxou e olhou para Belatriz.

"E você?"

A morena deu de ombros. "Não tenho sono"

Augusto ergueu as mãos para coçar os olhos e eles ficaram em silêncio. Belatriz continuou fitando o casal de irmãos e bocejou.

"Bom... acho que vou até a cozinha tomar um chá"

"Cuidado com o Filch, hein?" disse Augusto. "E tem os monitores também. A gente não pode ficar zanzando nesse horário pela escola"

"Eu sei" rosnou Belatriz, dando de ombros. "E eu não ficar zanzando, vou direto até a cozinha depois eu volto. Não é a primeira vez que eu faço isso, Augusto"


Atravessou a escada de saída das masmorras da Sonserina e acabava de adentrar o Salão Principal. O caminho para a cozinha era um tanto quanto longe, mas isso era até bom, visto que o que ela mais queria mesmo era andar e andar sozinha, para qualquer lugar que fosse...

Virava a terceira esquina daqueles corredores complexos quando avistou um semblante saindo de uma das salas de aula. A pessoa fechou a porta e caminhou na direção em que ia Belatriz, de maneira que ela sequer fora notada.

Belatriz contemplou as costas da criatura e seguiu-a no máximo de silêncio que conseguiu.

Estavam quase no fim do corredor quando Belatriz parou de andar:

"Sirius"

Ele voltou a cabeça. Entreolharam-se por uns segundos.

Sirius desviou o olhar e continuou andando.

"Sirius!" Belatriz insistiu, seguindo-o. "Sirius, volte aqui!" ela rosnou o mais baixo que conseguiu, pois não poderiam ser ouvidos por quem não devia.

Ele se voltou de novo, a contragosto e muito antipático. "Que é?"

Belatriz sustentou o olhar dele em silêncio por mais uns segundos. Avançou uns poucos passos até ele, rapidamente.

Ergueu uma mão e acertou-lhe em cheio um tapa forte e estalado na face. Sirius quase cambaleou.

"Isso é para você ver com quem se meteu, seu bastardo imbecil!"

Sirius levou uma das mãos à face marcada e rosnou baixinho. Seus olhos fustigavam de maneira tão assassina que Belatriz teria sido capaz de sorrir.


Continua...
N/A:

Doom: Viu, mana? Esse aqui tem Sirius pra dar e vender heheheheh (sem piadinhas hein? xD) e aí gostou deste aqui? acho que vc concorda comigo que esse tem action neh? Pois eh... tentei atualizar o mais rápido que consegui dessa vez. E que bom que vc gostou da aparição do Rodolfinho! Neste aqui ele tmb deu o ar da graça (bem mais até) eu tmb adoro ele... Aliás os personagens masculinos em sua maioria são mt fodas, neh? Bjos!

Denebola: nega! (desculpe a intimidade xD) adorei seu rewiew! (como sempre) pois é... até eu senti falta do siriuzito no outro cap, mas esse aqui compensa, neh? (clara que suspirava com as descrições dele) heheheheh Vc gostou da Dalila? Que legal! Eu tmb gosto mto dela, eh a minha peça coringa nessa fic. Tem muita importância pras cenas, jah que é a confidente mor da Bellinha... Bem, apareça mais vezes, sim? Te vejo nos fóruns da vida... Bjs!