De Sangue e Predestinações

Autora: Clara dos Anjos
Classificação: PG-13
Gênero: Romance
Spoilers: cinco
Shipper: Sirius Black e Belatriz Lestrange
Status: incompleta


Capítulo Dez

A dolorosa descoberta


Outro sorriso idiota formou-se antes que ela percebesse. Levou o dedo indicador aos lábios e piscou, tornando-se repentinamente séria. Séria e carrancuda. Francamente, quando iria terminar o maldito dever de DCAT? Duas da manhã? Sim, porque o relógio de cuco na parede anunciava quase uma hora da manhã e Belatriz ainda não havia passado nem da metade de sua redação. Era um dos maus hábitos da garota: responsabilidades para última hora. Principalmente quando se tratava de deveres escolares. Ainda por cima, suas idéias anuviadas definitivamente não conseguiam pensar em seres da escuridão naquele momento. A sonserina estava simplesmente... distraída.

As imagens de um sorriso largo deslizavam nítidas em sua mente... Imagens de um par de íris cinzentas que a encaravam com intensidade. Aquele olhar tenso e estreito, cauteloso até, como se transmitisse apreensão diante de sua pessoa... Aqueles traços... aquele sorriso... Belatriz vira poucos sorrisos como aquele em sua vida.

Ainda podia ver o semblante alto caminhando para longe, gingando daquele jeito presunçoso dele, em direção a entrada do castelo... Os cabelos que o vento balançava suavemente, como se brincasse com os fios... O modo como ele olhava para os lados de vez em quando, como se imaginasse ver alguém ou alguma coisa... Como mexia as mãos quando falava... Soltando um breve suspiro de cansaço, Belatriz remexeu-se na poltrona e acomodou as costas mais confortavelmente. Posou o rosto em uma das mãos, o pergaminho jazendo em seu colo completamente esquecido. Sentia os olhos comicharem de cansaço, mas não estava nem minimamente disposta a entregar-se ao sono...

A falta que ele fazia na verdade se devia a sua indignação. O que diabos estava acontecendo consigo mesma para que mais de oitenta por cento de seu cérebro estivesse sendo ocupado por Sirius Black? Era falta do que pensar, por acaso? Se o cansaço não estivesse dominando Belatriz por completo, ela estaria travando uma verdadeira batalha interior, e provavelmente não permitiria nem a metade do tempo que gastou lembrando-se do primo. E aconteceu exatamente o contrário... Pelo menos naquele momento, não pensar em Sirius parecia praticamente impossível. E isto chegava a ser tão irritante que comparar o garoto a um vírus não seria exagero – diziam os pensamentos desordenados de Belatriz.

Como também era impossível não se lembrar de todas as confusas sensações que sentiu quando estiveram próximos na tarde daquele dia. Não se lembrar da reação de Sirius – que ela quase nem chegou a ver, por que saiu rapidamente – quando propôs o encontro no dia seguinte. De sua voz. Suas mãos inquietas.

Tinha querido tocar naquelas mãos à tarde.

Tocá-lo... Ela queria... Queria tocá-lo inteiro... Agora.

Belatriz afastou o dever para o lado com violência.

Por. Merlim.

O que estava pensando? O que estava pensando?

Eu estou... eu estou...

NÃO!

Nunca! Que absurdo, que coisa mais completamente... inimaginável! Seria a pior das humilhações! No entanto... Belatriz, apesar de tudo, era apenas uma adolescente de dezesseis anos... Uma adolescente normal de dezesseis anos... e que possui uma infinidade de hormônios como todo ser normal de sua idade... E por que infernos ela estaria livre de se sentir... atraída por alguém?

Enterrou os dedos nos cabelos, que ocultavam-na como uma cortina negra de cetim. Não havia ninguém na Sala Comunal da Sonserina.

Menos mal.

Atraída... Por ele... Não era possível... A parte sã dela não conseguia acreditar... Mas a outra, contudo... a desmentia furiosamente!

Belatriz podia se enganar o quanto quiser, mas por mais que se quisesse acreditar obtusa, era impossível não notar o que estava mais do que óbvio, como um letreiro vermelho-berrante fustigando a centímetros de distância de seu rosto.

Olhou para suas mãos e em seguida para os antebraços. Percebeu, com uma fisgada desagradável nas entranhas, que estava arrepiada. Abraçou-se, com um suspiro positivamente derrotado.

Havia entendido.

Umedeceu os lábios, a imagem de Sirius formando-se mais uma vez em sua mente, e ela fechou os olhos. Talvez se proferisse para si mesma, fosse se sentir melhor tal qual tivesse expelido uma substância muito tóxica de seu organismo...

"Estou obcecada por Sirius Black."

E enterrou as unhas na palma da mão, com raiva. Mal tinha conseguido se ouvir.


Os alunos do sexto ano aglomeravam a entrada da sala de Poções. Eram dois tempos, a primeira aula deles naquela manhã de segunda-feira. A porta se abriu e o professor Dippet controlou a entrada dos alunos, os burbúrios das conversas morrendo progressivamente.

Uma vez dita a tarefa e o assunto que estudariam, o professor ordenou que começassem a trabalhar, e formassem as tradicionais duplas (isso acontecia pelo menos uma vez por semana, de resto o trabalho era sempre individual. Rodolfo havia maldosamente comentado uma vez que o professor fazia isso porque não passava de um grande vagabundo, uma vez que ele era extremamente respeitado no castelo, e sua postura inspirava respeito e reclusão).

Enquanto observava o professor sentar-se à mesa, Belatriz lembrava-se de um dia em que estavam reunidos à Sala Comunal e Severo Snape, do quarto ano, ditava admirados comentários sobre ele, e fazendo cara feia quando Rodolfo, Lúcio ou Avery, do sétimo ano, ridicularizavam o professor.

Rabastan Lestrange pegou o seu caldeirão na ponta da mesa e o trouxe para junto de Belatriz, que ainda copiava a receita da poção.

"É melhor começar a cortar as raízes..." comentou Belatriz, sem olhá-lo.

"Eu já ía fazer isso" rosnou o garoto, mal humorado. "E você?"

"Eu o quê?"

"Não vai fazer nada?"

"Como nada, sua besta obtusa! Não vê que não acabei de copiar?"

"Claro que vi. E aposto que está se fazendo de lerda só pra deixar o eu adiantar metade do trabalho" a voz de Rabastan foi ficando mais amargurada a cada palavra.

Belatriz o olhou feio, diretamente nos olhos castanhos.

"Se quer saber, eu nem preciso de você pra fazer essa droga. Mas agora pare de reclamar, Rabastan, porque eu não sou uma válvula de escape para você ficar descontando sua TPM. E me dá essa porcaria!"

Pegou a faca e as raízes da mão do garoto, e começou a picá-las, fingindo ignorá-lo. Ouviu-o rosnar, mas ficou contente que ele não fizesse mais objeções. Ele pegou as anotações de Belatriz e começou a preparar outra coisa.

Por um instante, um átimo de segundo, Belatriz pensou que o garoto percebeu alguma coisa quando começou a reclamar que ela estava lerda. De fato, se atrasou na cópia porque foi começar mais tarde que os outros, mas não que estivesse copiando devagar... Lembrou-se de suas divagações na noite da véspera... Da revelação... Belatriz não podia permitir alterações na sua rotina habitual. Ou caso contrário, as pessoas realmente perceberiam que algo estava mudado nela... Principalmente garotas de sua Casa que eram dadas a atividades como futricas, e que simplesmente não se davam com a pessoa arisca de Belatriz. E vice-versa.

A aula transcorreu sem mais problemas, e Rabastan e Belatriz conversavam normalmente, sem – estranhamente – o mínimo resquício do atrito de antes.

Sonserinos...

Até que a conversa chegou em Tom Riddle e sua misteriosa carta, que ainda não dera as caras.

Essa era outra coisa que intrigava Belatriz profundamente... Ainda bem! Uma coisa a mais para ocupar a mente é sempre bem vinda em tais circuntâncias...

Na verdade, Rabastan Lestrange era o único, além de Dalila, que não se esquivava para conversar sobre o assunto, talvez porque ele soubesse tão pouco quanto ela. Figuras como Malfoy, Dolohv e Rodolfo se recusavam a comentar esse tipo de assunto abertamente, e tornavam-se até excessivamente discretos quando Belatriz insinuava qualquer coisa sobre Riddle. Até num daqueles jantares, em que ela ensaiou uma conversa sobre ele com Rodolfo, o garoto fez-se de cínico, dizendo que sabia da tal carta tanto quanto ela...

Tudo tem seu tempo. O importante era que ela também receberia a carta, e aí estariam quites. Oh, santa ingenuidade! É claro que aqueles malditos sabiam mais porque provavelmente tinham algum tipo de contato a mais com Riddle...

O céu estava branco lá fora. As nuvens agitavam-se, frias e nevoentas, anunciando o fim dos tempos ensolarados. Apenas o sexto ano ocupava o pátio extenso, local onde os alunos costumavam ficar durante as trocas de aulas.

Belatriz apanhou uma maçã, sentava-se ao lado de Dalila num canto afastado, ao chão, enquanto a amiga escrevia alguma coisa em um caderno. Estavam silenciosas. Belatriz agradeceu por ela não ter puxado conversa até agora.

Fitava o espaço quase vazio a sua frente e seus olhos não poderiam descrever nada do que estivesse vendo. Sua mente estava longe dali. As reflexões da véspera ainda assombravam-na, e voltaram com toda força agora que se achava totalmente desocupada. Verdadeiramente, ainda não se acostumara com a revelação que fez a si própria.

Obcecada.

Eu. Belatriz. Obcecada... Por Sirius!

Sim. Era desgraçadamente... claro. Era isso, só podia ser... Era obsessão o que sentia. Não passava de obsessão. Atração física, desejo de estar perto... Vontade de tocá-lo, de observá-lo, até mesmo de escutar sua voz.

Maldita voz que a tirava dos nervos!

Oh, céus. Belatriz Black em negação era uma coisa que ela mesma não recomendava para ninguém...

"Que foi?" ouviu a voz de Dalila ao lado.

Percebeu-se rindo muito alto...

"Ah, nada" apressou-se. "Nada só lembrei de algo engraçado, foi só" e forçou um sorrisinho fraco para convencer.

"Ah..." e ela voltou a escrever.

Belatriz soltou a respiração. Deuses... Seria incrivelmente doce se ela pudesse estar acordando de um pesadelo...


De fato, o céu ainda permanecia nublado. A vegetação sempre tão verdejante havia escurecido, e a paisagem em geral tinha adquirido um certo tom tristonho. Podia ver o pequeno semblante da estufa ao longe. Suas últimas aulas do dia seriam ali, mas agora ela sabia que estaria desocupada.

Não que isso fizesse muita diferença. Ali era apenas um ponto de encontro.

Enquanto caminhava, Belatriz apurava as vistas para notificar se ele já havia chegado. Estava cinco minutos atrasada. E de propósito porque tinha certeza que ele atrasaria muito mais.

Mas... não foi bem assim. Ao longe, Belatriz divisou o semblante de um garoto alto de cabelos negros encostado à parede de fora da estufa, olhando para uma árvore bem em frente a ele. As mãos enterradas nos bolsos. Assobiava.

Por que a droga da sua respiração tinha que falhar?

Estava próxima quando ele finalmente escutou seus passos e virou o rosto.

Belatriz apenas encarou-o. Não queria tomar nenhuma iniciativa. Sentiu que o olhar dele esquadrinhava por completo seu rosto.

E ele sorriu. Um sorriso meio nervoso, mas que se assemelhava estranhamente a... satisfação.

"Tudo bem, Belatriz?"

Não que ele tivesse sido exatamente simpático nem amável, mas também não soara formal. Sirius estava apenas... descontraído, ou tentando se manter assim.

Cruzar os braços e erguer uma sobrancelha foi a primeira reação instintiva de Belatriz. Tentou reprimir um sorrisinho, mas não soube se teve muito êxito.

"Então você veio mesmo..."

"Duvidou de mim?" exclamou ele, com um meio sorriso. "Eu dei minha palavra! Só acho que você não viu, já que nem esperou uma resposta minha, lembra-se?"

Belatriz encarou-o um pouco sem responder, e desviou o olhar para baixo, mantendo os braços cruzados.

"É melhor caminharmos por aí. Acho que alguma turma virá pra cá ter aula"

"Tem certeza?"

Belatriz confirmou, esforçando-se ao máximo para parecer impassível.

"Então vamos"

Sirius começou a caminhar sem esperar por ela. Sem escolhas, Belatriz seguiu-o fazendo uma ligeira careta carrancuda.

"Você ainda não respondeu?"

"O que?" Belatriz nem deu-se conta da pergunta óbvia que o primo fizera.

"Minha proposta. Você aceita a trégua ou não?"

Ele virou o rosto para ela e a encarou. Um de seus olhos estava inteiramente coberto pela franja negra que deslizou por sua testa. Seu coração perdeu um compasso quando ela deu-se conta da proximidade em que estavam.

"Bom, acha que se eu não aceitasse me daria ao trabalho de inventar essa história de encontro?"

Sirius soltou uma risada breve do tom meio rabugento da prima.

"Ah, então eu deveria prever isso, Srta. Black?"

"Humf" resmungou, como resposta.

"Que ótimo!" continuou ele, ainda risonho. "Isso quer dizer que eu não deveria ter vindo"

"Não"

Porque tivera o maldito ímpeto de dizer aquilo, ela não sabia. E para completar, suas faces começaram a traí-la ficando rosadas.

Agora Sirius parecia ligeiramente intrigado. Desacelerou o passo e encarou a prima mais uma vez.

"Quer dizer... Isso não tem nada a ver" explicou-se Belatriz, inquieta.

"Mas você..." começou ele.

"Você o quê?" interrompeu prontamente, sem pensar.

"Você realmente..." Sirius pôs as mãos nos bolsos e começou a caminhar mais rápido sem perceber. "Realmente marcou porque... você queria que eu viesse?"

E então ela viu... As faces dele estavam inconfundivelmente coradas. Não muito... Mas estavam! Belatriz não conseguiu conter um sorrisinho no canto dos lábios.

"Ora, Sirius!... Que pergunta!"

Ele ficou em silêncio. E Belatriz sentiu vontade de continuar falando alguma coisa... qualquer coisa. Era como se lá em seu íntimo, tivesse se compadecido do constrangimento do rapaz.

"Bom, eu pensei que... um encontro pudesse fazer parte da nossa trégua. Digo, para torná-la mais... concreta. Entende?"

"Sim"

Sirius parou quando chegaram até outra árvore, e apoiou-se de costas no tronco. Não dirigia o olhar para Belatriz. Esta, no entanto, não via maneiras de despregar os olhos dele, ao mesmo tempo em que reprimia uma vontade quase absurda de tocá-lo...

"Sirius... eu quero te perguntar uma coisa"

"Fale"

"Você... por acaso... ficou arrependido por te me beijado naquela última vez?"

Esquadrinhou o rosto bonito de seu primo voltar para si, e não soube dizer o que sentiu quando aqueles olhos cinzentos a encararam com um misto de intensidade e infinita surpresa.


Continua...


N/A: Olá, pessoas! Êh, primeiro contato do ano com vocês! Primeiro cap de "DSP" do ano, hein? Olha só que chique! É, mais um ano para minhas fofíssimas leitoras me agüentarem hehehehe!

Agora eu queria pedir infinitas desculpas pela demora! Gente, foi mal mesmo, mas é que para mim, esse capitulo foi difícil de escrever, mudava toda hora, principalmente o comecinho, porque estou mexendo com os sentimentos da Bela, então tenho que fazer algo bem explicadinho, devagar, para não assustar a pobre menina hahahahahaahahah! E além, é claro, que a idéia geral do que eu iria escrever demorou para vir... Isso é frustrante para c! Mas acho que vcs me entendem... Eu cheguei até a prometer para a Natália que eu iria tentar atualizar antes dela viajar, mas infelizmente... eu bem que tentei, mas não veio... Sorry, Ná! o/

Helena Black: haha, vc tambem notou as segundas intenções da Bela, não foi? E que otemo que vc gostou da conversa Sirius/Tiago! Eu adorei escrever aquilo! E muito obrigada por comentar de novo, Helena, eu fiquei muito feliz...e honrada também já que eu "conhecia" você heheheheheh!

Victoria Black-Lupin: Ei, quase que não reconheço você, sua doidinha! Humm, muito chique seu novo nick, adorei! Mas, e aí, gostou do novo cap? Mó saudades suas! Lembra do fórum 3V? Pois é, minha vida não é mais a mesma sem ele (suspiros)... Ai ai... E vc acredita que eu jah tava me esquecendo do challenge? Mas eu NÃO abandonei a idéia, e nem poderia, jah que a amei tanto (lógico! Preciso dizer que foi pq eu fiquei honrada? XD). E mto obrigada por se comprometer a participar! Conto com vc futuramente heheh!

Natália: (vermelha) ai, vc me desculpa não ter atualizado a tempo? (faz beicinho) mas espero que vc tenha gostado desse, e que tenha compensado o tempo que eu te fiz esperar... E, como sempre, muuuuuuuito obrigada pelos elogios! É por leitoras como vc que uma ficwriter não desiste de escrever sua estória! Bjos! o/

Doom Potter: Maninhaaaaaaaa! o/ Fiquei tãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao feliz pelo seu rewiew na "Cruz e a Espada"! Vc elevou meu ego até as alturas! Brigadão mesmo! E tmb por achar o 9 "perfeito" heheheheh (também com 100 de Sirius, como não ficar, não é mesmo?) Valeu, por tudo. Bjkas fraternais para vc!

Cellinha Granger: puxa, Cellinha, que MAGAVILHA que eu consegui fazer vc gostar da minha fic, mesmo não gostando mto do shipper. Essas coisas é que realmente valem a pena, não é? Muito obrigada pelo seu rewiew, eu também a-d-o-r-o sua fanfic! Bjos, e apareça sempre!o/

Bom, mas espero que vcs tenham gostado deste cap! Era exatamente assim que eu idealizava que a relação dos 2 iria se desenvolver... naquela relutância... bem sutilmente... Desejo a todas (os) um ótimo começo de ano!

Até o próximo capítulo...

PS.: Na página do capítulo 9 eu havia dito que Rodolfo e Belatriz tinham a mesma idade. Pois é. O tempo passou e a tia Clara mudou de idéia xD. Achei mais conveniente que ele fosse um ano mais velho do que ela.