Autobiografia


Au - Drama Romântico
Violência


Wufei estava na cozinha preparando alguma coisa para Duo comer assim que acordasse. De fato havia um carinho grande de sua parte por aquele garoto, uma preocupação de amigos com intensidade de um amor gentil. Estava muito preocupado com o jovem. Chang avaliava o quão difícil era a vida de seu jovem amante.

O chinês não estava esperando visitas, porém o interfone tocou. Atendendo ele deu consentimento para que a pessoa subisse até seu apartamento. Era Heero.

O japonês entrou pela sala vendo a blusa negra espalhada sobre o sofá.

-Visitas? – o japonês arqueou a sobrancelha.

-Não seja indiscreto. – Wufei o repreendeu.

-Não me disse que tinha alguém... – Yui o provocou. – Quem é?

-Heero. Sei que seria legal eu falar que me dei bem ontem à noite, mas não é nada disso. Eu estou com uma pessoa da qual gosto muito... –Wufei tentou explicar que não falaria nada sobre sua noite com Duo.

-Achei que tinha me dito não ser capaz de gostar... – Heero o olhou sorrindo.

-Não gostava... Mas ele é da minha infância. Achei que havíamos nos perdido um do outro. – Chang explicou indo para a cozinha.

-Sei. É revigorante quando isso acontece. – Heero falou seguindo o amigo. – Agente reencontra alguém do passado e enxerga a possibilidade de voltar exatamente onde nos perdemos de nós mesmos. – ele completou parando à porta do quarto onde Duo dormia. Heero ficou a admirar o garoto. Parte das costas macias à mostra, a coxa roliça, aqueles cabelos enormes e soltos como um manto maculando o brancume dos lençóis.

-Heero. – Wufei o puxou pelo braço tal qual se repreende uma criança travessa.

-Ele parece ser bonito. – Yui comentou enquanto ia para a cozinha. – Você não me disse que era lindo assim. O traseiro parece bem apetitoso... –foi uma brincadeira infantil.

-Olha. Não faça mais isso. O Duo tem uma história bem complicada. Eu o conheci quando criança. Ele vivia num orfanato e nós pegamos amizade na praça perto da casa do meu avô. Depois ele acabou sendo envolvido em corrupção de menores e depois crescemos... E nunca mais nos vimos. Nos perdemos um do outro...

-Nossa Chang. Eu adoro história de amor. – Heero revirou os olhos azuis sentando-se numa cadeira, prevendo que seu amigo ia contar uma longa história.

-É sério. Ele é o melhor aluno do meu curso. O cdf da sala. E eu nem o conhecia, somente recentemente que fui saber que ele era o menino que brincava comigo...

-E como você sempre o amou o levou para sua cama... O que tem demais nisso? – Yui com sua praticidade vazia tudo muito fácil.

-Não sei. Eu só não queria que ele se sentisse mal, sei lá. Se ele acordasse e te visse o olhando ele podia achar que o estou exibindo para meus amigos. – Chang deu de ombros.

-Entendo. Mas, do jeito que ele é lindo se você quiser levar esse relacionamento à frente vai ser inevitável esse pensamento. Todos vão te invejar.

-Sei. Mas não sei se vamos levar a frente... Apenas quero viver o momento. – O chinês comentou sem jeito.

-O garoto não quer? – Yui o olhou, porque as atitudes de seu amigo levavam a crê que ele estava muito envolvido com o rapaz nu em sua cama.

-Acho que quer. Na verdade não conversamos sobre nós, na verdade nem sei se existe nós. –Wufei falou triste.

-Você está com medo. – Heero concluiu. –Wufei. Nunca mais faça isso. Não tenha medo de ser feliz. Você vai se preservar de tudo, se proteger de sofrimentos, mas vai se privar de se apaixonar também. – Yui estava sério. –Nunca me imaginei dizendo isso, mas hoje eu sei. Não existe maior momento da vida de um homem ou de uma mulher que estar apaixonado. Acho que todo mundo devia se apaixonar ao menos uma vez na vida. – ele concluiu.

-Heero... – as palavras morreram na garganta do chinês como ervas secas num caminho sem água. Ele estava surpreso com a declaração de humanidade e romantismo que o japonês lhe dera.

-Bom, agora que meu momento conselheiro de chinês confuso passou vou indo, não quero que o garoto acorde e pense que é o seu troféu. – Yui sorriu cínico.

-Heero. Obrigado. – Wufei falou sincero. Eram apenas palavras o que o japonês lhe dissera, podiam passar sem deixar nenhuma impressão, ou podiam fazer um sentido bárbaro se aproveitadas a finco.

Yui bateu levemente a porta da sala por onde havia entrado há pouco tempo atrás. O jovem chinês ficara parado olhando o silêncio quase palpável de seu apartamento, afundando em seus pensamentos confusos. Pensamentos de um homem feito que tinha fugido a vida inteira de si mesmo, mas que agora parecia querer se achar definitivamente.

Enquanto isso no quarto Duo se moveu. Estava acordando confuso, não lembrava de ter pegado no sono novamente.

Desperto segurou a cabeça que chuchava dolorida. Os cabelos longos caíram soltos por seus ombros. Ele se moveu lentamente se levantando. Cobrindo o nudismo com os lençóis voltou a admirar a peça de prata disposta numa prateleira cinza. Seus olhos grandes varreram a prateleira onde havia também uma série de pequeninas caixas das mais diversas cores e formatos delicados.

-Caixinhas de música. – Duo sorriu. Seus olhos brilharam de uma forma intensa. Lembrava que quando criança amava gastar horas afinco com o nariz nas vidraças das lojas aonde tinha aquelas caixinhas de músicas.

-Duo. – Wufei chegara no quarto.

-Eu não sabia que você colecionava. – o jovem de olhos violetas apontou para as caixinhas.

-Eu as faço. Lembra quando agente prometia que teria as mais lindas caixinhas de músicas de todo o mundo. – Wufei sorriu. Era uma promessa tola, mas qual a criança que não faz promessas tolas? –Essa aqui. – o chinês se aproximou apontando para uma bem maior em formato de coração. – Lembra dessa? Naquela loja do bairro chinês?

-Claro. A bailarina saia de dentro dela... – Duo estava com os olhos arregalado, tal qual há anos atrás ficava quando via aquelas pequenas e belas peças.

-Duo. Essa aqui foi a primeira que fiz. Ela é sua. – Wufei entregou uma caixinha menor em forma circular e cor vermelho vinho. –Eu a fiz pensando em você. Amava ficar vendo essa caixinha naquela loja. Os dois cisnes dão a volta na extremidade da caixa quando se abre a tampa e terminam tocando os bicos quando a música chega ao fim. – ele explicou a sistemática simples do artefato.

-Fei. – Duo recebeu o presente nas mãos. Estava emocionado. Por horas ficava olhando aquele movimento rítmico dos cisnes, ouvindo a música da amizade tocar. –Obrigado. – Ele abraçou o chinês.

-Na vida é nas caixinhas de músicas. Os dois cisnes seguem seu percurso, como já está previsto vão se encontrar. Para sempre vai ser assim... Unidos – Wufei comentou entrelaçando seus dedos aos de Duo.

Naquele dia eles sentaram em silêncio no chão do quarto e abraçados viram os dois cisnes percorrer o breve e rítmico caminho até tocarem os bicos no embalado da música.


Uma semana havia se passado. Wufei estava cada vez mais envolvido com Duo. Fizeram o trabalho junto, almoçavam juntos, sorriam e dormiam muitas vezes juntos.

Nessa manhã o chinês levara Duo até a loja de Mandy, mas a cigana nada ajudara.

-Olá. Vejo que o chinês trouxe uma linda moça. – Mandy sorriu quando os dois entraram pela porta da loja depois de fazer o guiso tocar. –Ahhh... Minhas predileções nunca mentem, embora se atrapalhem um pouco. Como foi que não vi esse grande detalhe entre suas pernas? – A cigana piscou ara Duo que nada entendeu.

-Como? – Duo piscou.

-Nada, gracinha. Uma brincadeira. – ela sorriu. – Então Wufei. Como vai a vida de apaixonado que eu disse que viria logo? – a cigana jamais deixaria de alfinetar o rapaz chinês.

Wufei não respondeu, apenas se deixou corar pelo comentário.

-Senhora. Estamos atrasados, mas... – Duo a olhou com seriedade.

-Sim, meu lindo. – A velha o olhou com pena. Aqueles olhos violetas tristes eram tão belos e diferentes.

-Aquele despertador que alugou a Wufei. Eu tenho que saber como veio parar com a senhora. – O jovem de trança falou com urgência na voz macia.

-Ahhh... Aquela peça. Eu sou uma comerciante, amado. Sinto muito, mas não tenho como saber de onde vem toda a minha mercadoria. Sinto muito, pois vejo pelos seus olhos belos que essa informação lhe era bem importante. – ela o tocou com carinho no rosto.

-Que pena. Por um momento achei que podia ter conseguido alguma pista.

-Sinto muito. Criança. Seja lá o que for eu não posso ajudar. – Mandy deu a conversa por encerrada.

Duo saira da loja arrasado. Talvez tivesse mesmo se precipitado por acreditar que algum dia teria alguma informação a respeito de seus pais, se eles sumiram no mundo sem ao menos se preocupar porque voltariam tempos depois? Não fazia o mínimo sentindo alimentar aquele tolo sonho infantil.

Wufei respeitou aquele momento do outro, não tocando mais naquele assunto. Seria bem melhor assim. Assim eles arrumaram um certo código de não tocarem naquele naquilo novamente, a não ser que tivesse alguma novidade, e isso era pouco provável. Era bem difícil achar pessoas das quais não se sabiam nem sequer um nome.


Na última semana o chinês era visto chegando ao lado do cdf, estavam sempre juntos nos corredores, nos tempos vagos, na biblioteca. Era nítido que os dois andavam mais amigos que o normal e isso logo chamou a atenção de muitos, porém o que mais havia atraído os curiosos foi o trabalho de nota máxima que o professor Hardy havia pregado no quadro do salão principal do prédio de psicologia.

Duo Maxwell e Chang Wufei, estava escrito na capa.

Quando Wufei se aproximou do grupo de curiosos pareceu ficar surpreso por ter seu nome em tal importância, afinal ele nunca havia figurando entre os melhores alunos antes. Havia uma quantidade considerável de alunos constatando que o nome Chang estava mesmo naquela posição.

-É Chang. Parece que seu plano deu certo. – Um dos amigos de Wufei se aproximou sorridente.

-Plano? Que plano? – Wufei o olhou sem muito entender.

-Você faltou duas semanas seguidas. E estava tão ferrado na aula de Hardy. Não lembra que combinamos que você conseguia tirar a matéria do babaca quatro olhos? – o amigo sorriu. Era de Duo que ele falava, esse era o babaca quatro olhos da frase.

Duo acabara se aproximar. Para ele aquilo não era importante, estava bem acostumado com seu nome entre os melhores. Ele viu Chang no meio, mas quando estava perto o suficiente ouvir algo que não queria nunca ter ouvido.

-Eu sei disso. Mas...

-Não seja modesto. Não só conseguiu a matéria como fez o cdf ficar caidinho. Melhor conseguiu ir para o quadro dos parabéns. Você deu um golpe de mestre.

-Cara... Olha. O Duo... – Chang ia tentar falar alguma coisa.

-Eu sei o Duo é até gostosinho se tirar aquele óculos, se vestir melhor, mas pra comer aquilo você devia mesmo estar desesperado por notas. – O amigo ia sempre atropelando o que o chinês tinha a dizer. –Valeu, comedor de cdf. – Sorriu por fim dando tapinhas nas costas no chinês.

Para certos alunos a faculdade era apenas um local de pessoas jovens e bonitas e era status desfilar com os mais bonitos. O próprio Wufei em tempo atrás jamais apareceria ao lado de um cdf, como Duo. Por isso era bem aceitável que ele estivesse apenas se aproveitando da inteligência do jovem de trança.

O amigo de Chang sorria ainda tentando arrancar dele como Duo era na cama. Queria saber detalhes da transa, se o menino gemia alto, ou era daqueles que gemia baixinho num quase suspiro.

-Vamos, não seja tímido. Você o comeu de quatro? – Ele perguntou, porém ficou mudo em seguida, pálido.

Wufei acompanhou o olhar vidrado de seu amigo se virando. Duo estava ali parado, logo atrás deles, havia mais gente apenas ouvindo a conversa, algumas meninas deram grunhidos achando a atitude de Chang alguma coisa próxima da canalhice.

Maxwell olhou para Wufei espantado. O que afinal significava aquilo? As noites que passaram juntos... As conversas íntimas e baixinhas que sopravam ao ouvido um do outro antes de pegarem no sono. Os sorrisos bobos, os olhares? Era mentira?

-Porque você fez isso? – Duo falou débil. Era como se ele estivesse em um trampolim divertido, esqucido da altura que estava e de repente fosse ao chão. Havia quebrado a cara, feio demais para se sair bem daquela cena. Todos estavam ouvindo e olhando. Pior Wufei fizera de forma que todos soubessem o que estava se passando entre eles.

-Não... Eu... Não é isso. – Seria ótimo poder explicar aquilo.

-Wufei? – Duo o olhou. –Você me usou? Eu nunca passei de um nada para você! – ele acusou. Sua voz agora não passara de um fiapo morto e carregado da mais pura dor. Duo havia se aberto de coração àquele homem que julgara seu amigo e agora isso. Não podia ser verdade. Mas que outra verdade teria? Wufei jamais sairia com um cdf se não fosse apenas interesse.

-Como fui idiota! – Ele falou olhando toda aquela gente a seu redor. O olhavam com pena. –Que humilhação. – gemeu se encolhendo.

-Duo. Não é nada disso. – Chang se aproximou do rapaz.

-Não, me deixa em paz. – Duo quase gritou se afastando. Estava ferido e confuso, queria apenas sumir dali.

O amigo de Wufei foi saindo erguendo as mãos em rendição. –Eu vejo que você levou a aposta a sério, em garanhão? – ele piscou para Chang. – Comeu tão bem o cdf que ele gamou.

-Duo. Volta aqui. Deixa eu te explicar... – o chinês ainda tentou, mais o garoto fugira chorando.

Wufei sentiu alguma coisa se romper com força por dentro de si. Ele podia imaginar como era estupidamente dolorosa para Duo a idéia de ser usado como um lixo. Ser usado para sexo e ser exposto como um vadio aos olhos dos outros. Pior. Sabia como era terrível a idéia de saber que em um dia se tinha um sonho de amor se formando e no outro dia não ter nada mais que uma farsa nojenta. Como pode deixar as coisas acontecerem daquela forma? Ele amava Duo, nunca ficou com ele por interesse em nada daquilo.

-Chang. Soubemos de suas notas, parece que a ajuda do quatro olhos te foi bem-vinda. – Zechs, o rapaz loiro que adorava implicar com Duo estava ao lado do chinês. – Você entrou no nosso conceito. A faculdade inteira está comentando como alguém pode ser tão esperto como você. – Zechs sorriu. – Afinal alguém assim, como esse menininho, deve ter sido bem fácil. Foi só estralar os dedos, não? – O loiro passou o braço por sobre o ombro de Wufei.

-Cale essa boca, Zechs. –o chinês gemeu vencido. Estava com as pernas bambas, afinal ele próprio estava sofrendo muito com tudo aquilo. E tantos o olhavam como se ele fosse um herói por se aproximar de um cfd ingênuo e usá-lo daquela forma.

-Que foi? Vamos, Chang. Ele é gostoso ou você teve que fazer um sacrifício apenas pelas notas?– O loiro sorriu. –Essa é a pergunta que todos nós estamos fazendo. Nos conte como é comer Duo Maxwell. – o loiro quase gritou, queria que todos soubessem como o jovem de trança havia sido usado.

-Ei, Chang. Conte-me esse segredo. Eu estou precisando de uma força nas aulas da Sally. Se eu souber comer um cdf direitinho ele pode me ajudar também. – Outro garoto sorriu em deboche.

-Você se superou tanto comendo o panaca que agora está no time de basquete. – Zechs como capitão anunciou.

-No time? – Wufei arregalou os olhos surpresos. Aqueles caras deviam estar completamente loucos. Eles o estavam quase elogiando por acharem que ele transara com Duo pelas notas? Mas essa idéia estava lhe dando grande popularidade, ele não pode evitar esse pensamento. Sentiu-se péssimo por isso.


Duo não acreditara naquilo. O homem que o levara para cama era ninguém menos de que Chang Wufei, o amigo que o acompanhava na infância. O homem que dormira com ele na noite passada, que o abraçara quando estava chateado. Ele saira pelos corredores. Estava zonzo com sujeira. Ele entrou em um dos muitos banheiros se entregando a um choro compulsivo.

Imagens de seu corpo nu e infantil sendo tocado de forma nojenta há anos atrás. A dor e humilhação que sentia toda vez que era usado, toda vez que o fazia ser apenas um mero objeto de sexo, de prazer. E agora Chang o fizera se sentir pior ainda.

-Porque. Porque, Wufei você foi me machucar desse jeito? – ele se perguntou no choro.

As horas mudaram no relógio no alto da parede daquele corredor. Duo ainda estava ali trancado naquele banheiro. Sentia como se as forças tivessem lhe sido removidas do corpo junto com as muitas lágrimas que derramara.

Aquele era o banheiro do fim do corredor do oitavo andar.

O rapaz de trança finalmente se levantara e tomara coragem de se olhar no espelho. Era a mais fiel imagem da derrota. Estava sim vencido e muitíssimo humilhado.

-Quantas horas eu passei aqui? – Ele falou baixinho lavando o rosto. –Ele e nem ninguém merece esse meu sofrimento. – Duo seguiu falando ferido.

Ele deixara a torneira aberta observando a água sair, ficou por um tempo breve sem ação olhando o movimento inteligente da água escoando pelo ralo, seguindo seu rumo.

A porta se abriu batendo com força, em seguida foi trancada.

-Sabia que te encontraria aqui. Já saquei que quando eu faço minhas brincadeiras você vem chorar aqui como uma cadelinha. – Era ninguém menos que Zechs.

Duo o olhou pelo espelho, se voltando para encarar assustado o loiro em seguida.

-O que faz aqui? – Duo falou em defesa.

-Eu venho te seguindo há algum tempo. Sei que esse banheiro é seu lugar preferido no campus, estou errado? – o loiro sorriu se aproximando.

-Não se aproxime. – Duo se encolheu.

Zechs sorriu maldoso. – Calma. Eu achei que era para todos. Afinal é publico que você deu para o chinês e eu quero também.

Era no mínimo absurdo. –Vai pro inferno, Zechs. Você não vai me tocar. Eu não deixaria nem se você fosse o último homem na face da terra.

-Duo, me poupe. Você não é nenhuma donzela de filmes românticos. O campus todo tá sabendo que o chinês te deu um trato e você vai ter bastante problemas, porque assim como eu, tem tantos outros querendo te encostar contra uma parede. – o loiro se aproximava perigosamente.

-Não. – Duo ia gritar, mas Zechs já estava tão perto. O loiro o puxou para si o beijando engolindo seus gemidos. Por mais que tentasse escapar o outro o estava dominando. Em um desespero único Duo conseguiu acertar uma joelhada contra as partes baixas de seu atacante, porém não forte o suficiente.

-Seu filho da puta. – O loiro o alcançou quando ele estava quase chegando à porta para destrancá-la. A trança foi puxada com força e em seguida a testa de Duo foi acertada contra uma das paredes, repetidas vezes até ele ficar bem atordoado.

Zechs o arrastou para um dos box rasgando sua blusa e o xingando. Lá dentro do pequeno banheiro as roupas de Duo foram definitivamente rasgadas e ele apanhou mais ainda de Zechs.

As aulas haviam acabado para Chang naquele dia, mas ele não teve vontade de voltar para casa, ou mesmo se mover. Seu Duo estava muito decepcionado com ele, e justo agora que achavam que estavam namorando firme. Ele se sentou num dos muitos bancos de concreto no pátio da faculdade e infelizmente teve o desprazer de ouvir muitos comentários sobre Duo, muita gente pondo em questionamento a dignidade do rapaz de trança.

No oitavo andar Duo tinha se obstinado a lutar contra Zechs até não poder mais, porém ele logo estaria sucumbindo definitivamente, afinal o outro era bem mais forte. O jovem de trança estava sangrado muito agora devido às muitas pancadas que levara com a cabeça contra a parede do banheiro. Seus óculos quebrados estavam jogados num canto.

-Fei... – Duo se viu gemendo. Talvez fosse seu íntimo que acreditava amar e confiar naquele chinês.

-Cala a boca, sua bicha nojenta. Eu vou te dar algo bem melhor que o chinês. – Zechs soube ser bem vulgar. Ele acabara divertindo-se com o desespero do pequeno cdf. –Eu vou te comer melhor que ele. –Afirmou beijando a boca do jovem.

-Hhm... – era apenas um tolo protesto do menino que agora era sentado sobre o vazo. Aterrorizado abriu bem os olhos já grandes para ver que o outro estava ficando nu. –Nãooo... – protestou Duo sabendo o que seguiria. –Nãooo... – ele gritou tendo seus cabelos puxados na direção do volume abaixo da cueca de Zechs.

O corredor do oitavo andar estava vazio, os alunos já haviam se retirado por aquele dia, mas a sorte de Duo talvez fosse um estudante atrapalhado que esquecera seu caderno na sala que ficara próxima ao banheiro. Os gemidos e protestos de Duo estavam bem auditivos.

-Esses malditos, fanfarrões trancam o banheiro para fazer sacanagem. Parece que tem gente levando pica feito louco... – o estudante comentou encostando os ouvidos com curiosidade.

-Isso não. Por favor! Não! – Duo gritou entre o choro.

-Cala a boca! – Zechs revidou e se fez ouvir um barulho de soco que silenciou o lugar por um breve momento. –Viu o que eu faço com um cdf vadio como você? Eu vou ser seu chinesinho hoje, Duo. – o loiro falou em voz alta.

O estudante deu um passo atrás segurando contra o peito o caderno. Ele reconhecia aquelas vozes. Sempre soube que Zechs era o aluno-problema do campus, e que ele estava sempre acostumado a transar com qualquer um, mesmo que isso significasse agarrar a força...

-O Wufei ta apaixonado por esse carinha, e pelo visto ele também está gostando do chinês. Eu preciso avisar meu amigo. – o estudante largou o caderno no chão e saiu correndo. Ele era o mesmo amigo que havia provocado aquela discórdia entre Wufei e Duo, tinha que fazer alguma coisa e se redimir, já que o chinês estava gostando do cdf ele nada podia fazer a não ser tentar ajudar a reatar aquele relacionamento.


Chang se levantou do banco, estava cansado de ouvir tanta gente comentando sobre ele e Duo.

-Chang, cara! – o amigo lhe chamou.

-Que você quer? – a recepção de Wufei àquele amigo não foi boa, por causa dele Duo agora devia estar largado em um canto qualquer acreditando que não passava de um brinquedo.

-Cara... É o Duo, seu garotinho. – O amigo tomou fôlego, viera correndo.

-Eu devia arrebentar com sua cara. – o chinês o segurou pela gola com raiva.

-Ei... Eu já saquei tudo. Você se apaixonou pelo pirralho sabe-tudo. Mas... Por isso... Ele está apanhando do Zechs. – informou nervoso.

-O que? – Chang demorou um pouco a processar a nova informação.

-É cara. O Zechs tá comendo ele a força no banheiro do oitavado andar... Ele vai matar o seu garoto cdf. – foi tudo que conseguiu dizer antes de Chang sair correndo.

Wufei não esperou mais nada. Saiu correndo. Ele conhecia a fama de Zechs. O rapaz loiro havia sido expulso de outra faculdade acusado de estuprar um colega do time de basquete, bem como estava acostumado a espancar cfd.

Um misto de desespero e violência guiavam os passos trôpegos do jovem e apaixonado chinês que corria pelos corredores trotando nos degraus das escadas, como um príncipe encantando que ia salvar sua bela donzela.

Chang correu até a porta do banheiro do oitavo andar, estava trancada. De dentro vinham alguns gemidos abafados.

-Duo! – ele gritou.

Agindo com extrema rapidez o chinês arrombou a porta com um pontapé. Dentro do banheiro, no último Box ele viu Zechs e Duo.

Duo estava praticamente desfalecendo. Os olhos negros de Chang varreram aquele cenário bizarro. Maxwell estava praticamente nu, havia sangue nas paredes e no corpo do rapaz. Zechs fora pego em uma situação muito comprometedora. Estava com as calças arriadas até os tornozelos e segurava a cabeça de Duo pelos cabelos o forçando na direção de seu pênis ereto. Era sem dúvidas um nojento ato de estupro.

-Sai fora, Chang. Estou me divertindo também. – Zechs falou mantendo Duo preso pelos cabelos. – Ou achou que esse corpinho era só para você?

-Seu... Filho da puta! – A raiva que o chinês sentiu foi estrema. Ver Duo naquele estado, nas mãos daquele tarado.

-Fei. Por favor. Ajude-me. – Duo finalmente choramingou. Ele estava sangrando na testa, os cabelos soltos da trança, as lágrimas.

-Seu desgraçado. Solta ele! – Chang gritou. O que veio a seguir foram cenas pavorosas.

Zechs e Wufei se atracando com fúria.

O loiro era mais forte, porém a raiva transbordava do corpo do chinês que o empurrou por sobre a enorme lixeira o chutando no processo. Conseguindo se recuperar o loiro segurou o pé do chinês o derrubando contra uns armários.

Duo pedia que parassem, mas nada podia fazer. Ele quase nu. Exposto aos olhos dos dois, estava ferido e assustado. Mas tentaria ajudar o chinês.

-Não se mete. – Zechs o empurrou o fazendo cair batendo a cabeça contra a parede.

-Seu tarado, covarde. – Wufei se recompôs vendo Duo ser empurrado e avançou no outro rapaz para lutarem de forma corporal novamente. Socos enfurecidos eram errados contra o ar.

O confronto dentro do banheiro estava ficando cada vez mais perigoso. Os barulhos chegaram até os corredores chamando a atenção. Alguns alunos assustados chamaram a segurança do campus e em pouco tempo Treize entrava apavorado com alguns guardas. A cena que se seguia era assustadora. Zechs e Wufei estavam a ponto de se matar. Havia uma carga de ódio muito grande naquele confronto.

A dificuldade enfrentada pelos soldados para separarem aqueles dois foi terrível.

Finalmente Zechs foi imobilizado num canto do banheiro enquanto Wufei também o era em outro canto. Agora a situação parecia contida. Treize estava assustado, olhando em torno o que fora um banheiro agora era um caos. Ele não sabia como dois alunos podiam chegar numa situação como aquela. As paredes sujas de sangue e o jovem Duo encolhido em um canto chorando e sangrando.

-Que pensam que estão fazendo? – Ele encarou os rapazes com muita raiva.

-Esse chinês de merda. – Zechs gemeu tentando ainda se livrar. – Ele me agrediu por causa desse vadio que ele ta comendo! – Gritou falando de Duo.

-Seu filho da mãe! Você o atacou! – Wufei se defendeu.

-Não teria se ele não se oferecesse pra todo mundo! – Zechs rebateu.

-Já chega! – Treize os interrompeu. – Duo. – Ele olhou o garoto. – Como foi se meter nisso. Você foi o pivô dessa confusão toda? – Lamentou.

Duo tinha sim proporcionado aquela confusão toda, mas de forma alguma tinha sido o culpado, naquela história toda ele era a grande vítima.

-Senhor Treize. Eu imploro. Eu não tive culpa... – ele choramingou.

-Criança. – Treize se aproximou cobrindo a nudez do rapaz com seu paletó. –Sinto muito, Duo, mas a igreja vai ter que saber disso. –Era com pesar que o diretor falava aquilo ao aluno. –Mas não se preocupe com isso agora, criança. Você irá para um hospital cuidar desses ferimentos. – Falou tal qual um pai, e assim acolheu o jovem com cuidado em seus braços fortes. –Enquanto vocês dois, eu lamento que na minha gestão tenha acontecido algo assim, mas a polícia já foi acionada. E alguém vai pagar por essa nojenta tentativa de estupro. – Ele falou firme olhando com ódio para os dois alunos contidos pelos seguranças.

-Esse vadio mereceu! – Zechs gritou furioso.

-Senhor Treize. Wufei tentou apenas me ajudar... Eu juro. O Zechs que tentou me... – Duo não mais conseguiu falar. Odiava o som tedioso que a palavra estupro continha.

-Vai ficar tudo bem, minha criança. – Treize apaziguou fazendo um breve carinho em Duo.

Assim todos foram para a sala da direção. Duo apenas chorava enrolado num canto com o agasalho que Treize havia lhe emprestado. Zechs mantinha-se em outro canto com um sorriso de asco nos lábios. Havia se metido em confusão, mas o jovem trançado estava em situação pior ainda. Wufei estava sentando na frente da mesa de Treize ouvindo o sermão da vez.

Após ouvir Wufei Treize tratou dos procedimentos de praxe, já que Zechs nada quis falar.

-Sinto muito. – Chang falou baixo sentando ao lado do trançado. –Eu amo você. Sei que é um momento terrível para isso, mas eu sei que te amo. Eu nunca ia te usar para nada... Eu jamais... – Chang meio que atropelava as palavras numa tensão para que Duo acreditasse.

-Tudo bem, Fei. Você já me mostrou quem é. – Duo falou baixo sorrindo para o rapaz a seu lado de forma carinhosa. – E o que sente. – ele completou ainda sorrindo.

-Parece que se trata de um relacionamento gay onde um namorado estava apenas tentando defender o outro de um taradinho... – Treize comentou com um de seus assistentes do outro lado da sala.

-Infelizmente uma tentativa de estupro é caso de polícia. – o assistente apoiou.

-Pena que Duo além de ser vitimado dessa forma por esse safado do Zechs ainda vai perder a bolsa da igreja. – Ele comentou triste olhando para Duo que agora conversava intimamente com o chinês.

-Mas, e agora? A sua bolsa. –Wufei acariciou penosamente o rosto de Duo.

-Acho que está tudo acabado. – ele gemeu.

-Meninos. Estou podendo ver o que sentem um pelo outro, mas não convém essa troca de carinhos, assim, arraigadas. Lembre-se que vocês podem se amar, que espero que seja isso mesmo, mas ainda são dois homens dentro de uma instituição educacional. – Treize se meteu entre os dois retirando de forma possessiva a mão de Chang do rosto de Duo.

-Desculpe, senhor. – Duo abaixou os olhos de forma envergonhada.

-Tudo bem, criança. Venha. Eu cuido de você de agora em diante. E o senhor, tente se conter mais se quiser preservar seu namorado. – o diretor aconselhou ao chinês.

Dali adiante iam dar queixa, e Duo passar pelo duro trâmite que uma vítima de abuso sexual tem que passar, porém Treize se prontificara a estar ao lado do rapaz o protegendo de forma voraz.


Eu acho que todo mundo devia ao menos uma vez na vida se apaixonar. Vivenciar uma paixão é uma das mais proveitosas experiências na vida de um ser humano, e acho que descrever o estado de paixão é a maior e mais difícil tarefa de um artista...

Como é bom estar apaixonado.

Beijos,
Hina