"Escola de Magia da Cidade Chakra... aí dentro, onde quase nunca vi acontecer um ''milagre''... O lugar onde muito pouco se revelou – divina – a justiça"!
O CHAKRA
Episódios:
– Busca do recém-nascido
– Conhecendo um amigo, conhecendo um inimigo
– O único Milagre, aquele que habita o Quarto do Silêncio
– O Caminho a escolher: para casa
– Predicações quanto ao incerto deus (que é Futuro)
Kyuubi está assustado, muito assustado, seus olhos bem abertos, bem atentos, "O Ritual de Vaticínio". Algum sonho estranho o senhor teve? – quem lhe pergunta é o segundo grão-vizir do Chakra, de nome Kinome Anoyo.
Cidade município de Chakra. Uma área quadrada e uma população relativamente pequenas, cidade conhecida por os negócios circulantes do turismo religioso, das relíquias sacramentais de indulgências e superstições. A cidade ao redor é pouco menos que um templo, uma praça, dois bairros de casas, a prefeitura e o paço munícipe, enfim, uma gruta na floresta, poucos conhecem disto além, não é permitido acesso – exceto para os monges de Chakra – devido a leis de proteção ambiental.
Templo de Magia Chakra. Não se afirmam como uma religião, não se afirmam ligados a nenhuma religião. Fundado por um senhor conhecido apenas por "Kuraiyoumi", ou Youmi cego, há mais ou menos quatrocentos ou trezentos anos – a idade certa não é sabida, embora essa data seja duvidosa, é quase a idade da Província. Kurayoumi é suposto também participante na fundação da Província, estando ao lado da senhora Kakushi Kishu, famosa feiticeira, e das Três Circes, belas mulheres de longos cabelos, destas pouco se fala na cidade. O atual Mestre do Templo é chamado Kurayoumi Kyuubi, ou as nove caudas de Youmi cego, ele se declara como filho do fundador: embora seja um homem já muito velho, sua idade aparente torna a paternidade improvável... Kyuubi de cabelos cinzentos e vista baixa, traços de idade cobrem o rosto, vestido estranhamente, com capuz branco e uma gola alta saindo da camisa, cobrindo o pescoço. Seus trajes cerimoniais são brancos e longos, se arrastam no chão; atrás dos hábitos, está à mostra uma espada. Kyuubi, apesar de Mestre, quase não se expõe ou aparece, apenas os habitantes da cidade o conhecem de vista, muito o admiram e respeitam. Kinome, o segundo vizir do Templo é quem mais se mostra, ele cuida também dos assuntos financeiros todos da Escola.
Na Escola – é como se afirma, pois recruta estudantes de toda a Província e os inicia em suas artes escusas – em regime de internato, prevalecem estudantes do sexo masculino, embora, outrora, – no período da fundação, há quatro séculos – meninas fossem aceitas e treinadas por a antiga senhora Kakushi, em sua ala exclusiva.
"Sonhei algo tenebroso, receio tomar decisões, Kinome". "Qual foi mesmo seu sonho, senhor?" Kyuubi, em um ritual de vaticínio, às ocultas, pois apenas os mestres podem conhecê-lo, viu uma pérola dentro da ostra, em seu delírio. "Me foi dito que não removesse o pé que sai da ostra, Kinome. Eu sinto que eu tomei uma resolução errada, e eu sei que você faz parte da minha resolução errada!"
Kinome se calou, Kyuubi ainda é o grande Mestre daqui, contestá-lo é quase crime, ele nunca erra, pensa Kinome, embora o segundo vizir não saiba por que possa ser ele uma resolução errada. "Kyuubi-sama, em que constituiu o seu erro?" – "Ele ainda é evitável, ao que sei; ou não devo trazer aqui o Berço da Morte, ou talvez não deva trazer aqui o pequeno que exigimos"...
"O pequeno? Como?" – Eles falam sobre o jovem Namidatou Anju. O menino tem dezesseis anos, nascido e crescido na última cidade da província, antiga cidade capital Joana D'arc.
A Escola recebia, anteriormente, apenas crianças e adultos supostamente portadores do "Dom" – sendo assim, os discípulos de Chakra eram todos escolhidos por o seu destino a estarem aqui. Com o passar do tempo, infelizmente, o Templo já não agüentava sustentar-se; sob o risco de fechar portas, e sob o conselho de Kinome Anoyo, o Templo abriu as portas e passou a ser também uma escola de Magia particular e paga – muito bem remunerada, a propósito. Os estudantes, grande parte adolescentes de doze a vinte anos, provêm agora de famílias ricas e não de destino algum que os escolhe... o último estudante "destinado" fora o próprio Anoyo, passados já trinta anos quase. Anoyo Kinome manipula como ninguém a tesouraria do Templo, sem ele provavelmente a Escola fecharia à falência; é econômico, fala fluentemente o idioma dos números, é, enfim, uma figura importante ao Templo, o melhor administrador numerário possível; certamente Kyuubi não tem motivos para reclamar dele ou dizer sobre ele como uma resolução errônea... Há dois anos passados, exata data, Kyuubi vaticinou a chegada de seis crianças "destinadas", entre elas estava o "Berço da Morte", porque Kyuubi sonhou que o Berço viria ao Templo, este é o único lugar, no mundo, em que o Berço poderá resistir – não foi a primeira vez que Kyuubi teve essa "revelação", na verdade, há vinte anos, sendo o ritual de vaticínio bianual, seu sonho apenas se alterou nesta data agora. Se o destino existe, é muito provável que ele não deseje coisas boas ao Templo de Chakra.
Duas das seis crianças vistas por Kyuubi estão mortas. Um era um menino cego, possuía, dizem alguns, dons imensos, mas também descontroles absurdos a respeito – seu nome era Hidaru... Também seguindo o destino de Hidaru entrou no Templo uma garota chamada de Kari... Kakushi Kari... descendente da família Kakushi, hoje não mais ligada à feitiçaria. Kari não chegou a residir o Templo; e quanto a Hidaru, Kyuubi já planejava torná-lo seu sucessor. Foram assassinados os dois por Tou Seiryoko, embora não haja maneiras de acusá-lo como algoz – Tou é uma figura muito importante na política da Província – ele assassinou pessoalmente os jovens. O Templo não responde processo, o crime aconteceu à margem da cidade, Kyuubi é apenas a "testemunha" da morte de um de seus jovens.
EPISÓDIO UM: "Busca do recém-nascido"
"O senhor vai buscar o Leito da Morte, Kyuubi-sama? Vai mesmo assim?"
"Eu fiz uma promessa! Eu vou!"
Kyuubi saiu; Kinome, logo depois, curiosíssimo. Kinome tem origem na alta burguesia, foi trazido ao Templo aos dezenove anos, perto de completar vinte, ele, de fato, já se preparava para um cargo político, cursava na Cidade Universitária Tsukaiudai a área de Ciências e Estatística. Encantou-se ao visitar o Templo, seu pai era muito rico, um burguês, comerciante proprietário de empresa conhecidíssima. Kinome ainda mantém os distintos modos de sua adolescência, ele apenas subiu ao cargo de segundo grão-vizir após a morte de Hidaru, embora fosse já mais velho e mais experiente que Hidaru. É um homem alto e esbelto, deve ter em média quarenta e seis anos, algo aproximado; é também muito educado, um cavalheiro, o que muito encanta as damas que visitam o Templo. No templo de Chakra é exigida a castidade àqueles que se mantém em regime de internos.
Sim, porque nem todos, graças a Kinome, vivem em regime interno. Foi estabelecido o regime semi-interno, opcional, para alguns dos estudantes particulares do templo. Os discípulos tidos como "destinados" não pagavam mensalidades; alguns discípulos, entre os particulares, recebem também algum desconto no pagamento. Kinome faz com que o aluno que não pagar, devidamente, suas mensalidades, seja afastado do Templo; Kyuubi é contra essa medida surgida desde o último ano agora.
Kyuubi e Kinome partiram, no mesmo dia, a cidade Joana D'arc. Se Kyuubi fizera uma promessa à mãe de Anju, também prometera trazer aqui o Berço da Morte.
Kinome voltou antes, ele vinha conversando com o jovem Anju Namidatou. Pouco podiam conversar, Anju não parecia gostar da idéia de vir ao Templo:
"Você parece estar cansado, pequeno Anju", disse-me o Kinome-sama no percurso para cá. Eu pouco queria responder a suas perguntas, ele me fazia um monte de elogios, elogiou minha mãe, a minha educação, a minha gentileza, disse que eu seria um grande aluno dentro do Chakra, elogiou a minha beleza.
Quando chegamos, todos os alunos estavam usando hábitos gregos, parece; a diferença daqueles meninos para meninos das estátuas gregas, que a gente vê em quadros, é que eles não carregavam folhas de louro ao redor das orelhas, estranhei. Perguntei ao Kinome-sama quantos meninos treinam aqui. Ele respondeu que internos há uns oitenta, e semi-internos, que dormem ocasionalmente no Templo, há aproximadamente cem. Não pareceu um numero muito grande.
Eu só teria aulas no próximo dia.
Duas horas depois da chegada do jovem Anju Namidatou, Kinome abriu as portas do Templo, pediu que todos os alunos e visitantes evacuassem os pátios, embora estes ficassem assistindo, curiosos, a tudo das vidraças internas do Templo e do salão superior. O próprio Kinome entrou apressado, nem mesmo ele permaneceu no pátio. Os portões estavam arreganhados, nada impedia que alguém entrasse por trás de Kyuubi, mas não aconteceu.
Kyuubi entrou carregando em seus braços uma menina, de rosto infantil, toda embrulhada sob cobertores, ela talvez estivesse dormindo, vinha com os olhos fechados e pouco se movia, não estava morta. Kyuubi entrou com a garota numa das salas, logo de frente, estava com as portas fechadas – todos que assistiam estavam mais curiosos por verem que Kyuubi, tão velho, tinha força no braço para trazer ali aquela menina. Entre os curiosos espectadores estava Anju. Kyuubi abriu a porta e por longo tempo se manteve lá, depois saiu e carregou uma bandeja de chá com biscoitos doces para a sala.
"Esta sala agora se chama Leito de Morte. Dentro desta sala vive o Berço da Morte. Ninguém aqui seja tolo o bastante de entrar lá!" – as palavras do Mestre foram rudes, e, não bastasse, Kyuubi trancava a sala a duas fechaduras, um amuleto com o kanji de Morte, também pregado, lembrava antes de qualquer intenção.
Aquela sala é estranha, queria saber quem é aquela menina. Será que ela não tem vontade de sair? Por que seu nome é Berço de Morte, ou será que não é dela que o Kyuubi-sama falou?
Amanhã terei aulas e serei apresentado aos garotos; enquanto escrevo isso, alguns garotos me olham, parecem me estranhar. O quarto que me foi dado divido-o com outros doze garotos, nenhum deles veio, até agora, me dirigir a palavra. Mas ainda acho que o silêncio deles é algo bom; realmente estou com medo de Chakra. Tenho medo daqui.
Os meninos não conheciam Anju. Alguns combinavam de puxar assunto, mas apenas olhavam aquele "forasteiro", sentado ali, escrevendo sem parar em um pequeno caderno de capa dura cor de índigo. Eles, talvez, quisessem explicar ao "forasteiro" o que aconteceu na Sala – doravante, conhecida como: Leito da Morte; tampouco eles sabiam que aconteceu lá, não poderiam também explicar. Passou o primeiro dia, ninguém veio falar com Anju; exceto Kinome que, seis vezes, ao longo do dia, vinha lhe perguntar que queria, e se desejava algo; à noite, Anju pôde comer sobre sua cama, Kinome se desculpou por Kyuubi que não veio lhe falar, estava ocupado. Anju não perguntou nada sobre o tal Berço da Morte...
Aparentemente todos dormiam no Chakra, Anju se levantou e foi conhecê-lo. Seguindo por o pátio, aquela porta enorme ali, uma etiqueta mística anunciando Morte. Anju encostou seu ouvido por a porta... dobrou, devagar, a maçaneta, mas empurrando, a porta não cedeu. Estava trancado. Ele olhou pra trás, não, aparentemente, ninguém o notara, então continuou a conhecer o local. Deveras, Kyuubi observava-o do salão superior, mas nada fez.
Um enorme pátio, vasta vegetação, até mesmo um pequeno lago se encontra dentro do Chakra. Anju estava maravilhado, tocou os dedos do pé na água e tirou rapidamente, sempre desconfiado, ainda temia que alguém o estivesse percebendo. O jovem sentia no Templo algo que não lhe era habitual, parecia haver ali, misturada com a paz a própria guerra, o sangue. Ele sentia cheiro de sangue no Templo, sangue como que escondido sob os incensos de Chakra. Assim, seguindo esses seus instintos, subiu para o saguão superior – Kyuubi, à essa altura, fez-se quieto, queria prestar bem atenção aos movimentos do jovem; Kyuubi sabia, de certeza, que o garoto possuía o Dom; o Dom que Kyuubi já desacreditava: esse menino pode ser alguma esperança, talvez.
Sim, ali, uma grande sala. Tudo o que nela havia eram pinturas nos teto e piso, e ali, mais à frente um altar vazio. À frente do altar, uma espada cravando-se ao suporte. Essa espada desperta o cheiro de sangue... saiu da sala correndo, com os pés descalços, desceu por uma escada que nem ele sabia onde daria. Deparou-se com uma torre, letras gregas identificavam o local; não havia portas, ele entrou.
Curioso que o Templo é tão imenso que não se nota atrás dele uma torre. Contudo, a mesma, por dentro, parecia ser o maior local no qual ele, Anju, já adentrara. Imensuráveis suas dimensões, em largura, em altura: era um universo novo e todo, para se perder ali dentro. Uma Rosa dos Ventos, em forma de Estrela, cobrindo e estirando-se ao chão. A torre é octogonal. As paredes são protegidas por visões de imensos homens, como anjos ou talvez fossem mesmo anjos, quatro deles eram já senhores de idade, embora muito fortes e com expressões impetuosas no rosto; quatro deles eram jovens, muito simpáticos, vestiam poucas roupas; também todos habituados ao estilo grego. Seus nomes estavam escritos na frente de cada ponta da Estrela, também a direção, mas todos os caracteres eram dessa língua incompreensível para o jovem Anju.
Esse lugar era magnífico. Anju saiu de lá enlevado, depois seguiu direto para o quarto que agora era seu, para a cama que agora é sua e dormiu.
Dormira tanto; às cinco da manhã – indicava o relógio na parede – Kinome veio acordá-lo, revirando-lhe delicadamente os cabelos. Só então Anju lembrou-se de sua mãe. Abrindo os olhos constatou que não era ela. Kinome, com gentileza e paciência, explicou que o horário dos meninos despertarem, no Templo, é sempre esse. De um salto, Anju se levantou. Estava mais empolgado. Dormira muito bem, mesmo não recordando que sonhara. A visão da torre parecia ser já algo bom, que, quem sabe, manteria-o com certa afeição ao Templo.
Na verdade, a afeição que Anju iria descobrir para manter com o Templo, ele estava preste a conhecer. Todos os meninos se admiraram com a beleza do novo aluno. Olhos como água, mas escuros, turvos. Uma vista profunda. Ele era alto e magro, um belíssimo corpo, a exceção de suas pernas tão finas. O cabelo azulava escorrendo lizíssimo, cortado recentemente à altura do pescoço. Era mais comprido à frente que atrás. Ventava a essa hora da manhã, o que desajeitava seu penteado.
"Meninos, esse é Namidatou Anju" – pronunciou Kyuubi, enquanto Kinome guiava-o de mãos pegadas. Um garoto tocava um oboé enquanto ele se aproximava. Anju sentiu um arrepio de medo ao ver aqueles garotos, mas seu medo maior foi atentando ao garoto do oboé, um belíssimo exemplar de rapaz, trazia a barba por fazer, devia ser – talvez – um pouco mais velho que Anju. Kinome, em um canto, repreendeu-o por não ter a barba bem feita – Anju percebeu isso, não desgrudava os olhos do rapaz. Kyuubi falou mais muitas coisas, que Anju não entendeu metade.
Seguiram as aulas. Não aconteciam ao mesmo tempo, havia poucos mestres e, mesmo os alunos mestravam algumas das matérias.
Eu tive aulas de Filosofia; de Matemática – que achei bastante estranho, não entendi o motivo dessa matéria em uma Escola como esta; aulas de Psicologia e depois, mais tarde, ficamos no pátio do lago. Todas essas matérias foram ministradas por Kyuubi pessoalmente, ele é um senhor muito simpático; antes pensava que ele era bravo. Sabe, o que é mais estranho, aqui dentro nada se falou a respeito de magia ou coisa assim... quero conversar com o Mestre Kyuubi, gostei muito das aulas dele, principalmente a aula de Psicologia; lemos um texto de um homem provando que, realmente, a magia não existe. Eu quis muito perguntar a Kyuubi por que ele passou esse texto, mas me contive. Eu cria que, tendo essas aulas, nos seriam passados textos e discursos longuíssimos de autores que, mesmo que sequer pensassem algo a respeito de metafísica, reencarnação, alienígenas, ou sabe-se lá em que mais esses loucos acreditam – pensava que mesmo se o autor não citasse uma linha a respeito disso, aqui seria traduzido como se o cara tivesse falado apenas isso! – Mas não foi assim; Kyuubi perguntou o que entendemos do texto, ninguém respondeu nada, – eu fiquei com vergonha – então ele dispensou a classe.
As classes eram ministradas a, em média, treze garotos, todos quase, na mesma faixa etária, exceto algumas outras classes. Na turma de Anju, ao que parece, os meninos todos devem ter dezesseis anos; oito deles dividem o quarto com Anju.
Na hora do almoço, concentraram-se sobre uma grande mesa cerca de trinta meninos. Mas o tocador de oboé ali não estava.
Anju recebeu, depois do primeiro horário, alguns trajes e lhe foi recomendado cuidar deles, também seria Anju quem os lavaria e passaria. Depois do almoço, os meninos escolhem se querem ficar no pátio, ou em seu quarto. Ao que parece, ninguém pode nadar.
"Como disse que se chama?" – Anju estranhou, estava no pátio, sozinho, olhando para os lados, procurando o flautista, esse menino se aproximou. Anju percebeu que atrás deste, esperava outro garoto, temia que talvez eles lhe quisessem ferir. "É An... An-Anju! Namidatou Anju!" – respondeu assustado. "Um prazer conhecê-lo, senhor Namidatou. Eu me chamo Ibuki. Hanano Ibuki!"
Mais confiante, Anju apontou para o garoto que esperava atrás de Ibuki. "Aquele é meu grande amigo: Hatsukoi Huyu. Vem, Huyu, chega perto, senão, ele se assusta."
Com pouco tempo de conversa, Anju já ia simpatizando com o Hanano; o outro não, Huyu era muito sério, encarava-o de sobrancelhas cerradas, não queria participar da conversa e mais parecia um guarda de Ibuki. Ibuki era interno também; ele falava muitas coisas estúpidas, segundo ele, o pior de viver no internato de Chakra era manter a castidade – tinha dezessete anos, disse que não agüentava mais ficar tanto tempo afastado das garotas. Anju sorriu das coisas que ele falou. Anju perguntou se Ibuki, alguma vez, já viu acontecer algum "milagre" dentro do Chakra; Ibuki respondeu que: na verdade, o Chakra era tenebroso, milagres não acontecem! Passado certo tempo de conversa, Anju perguntou, disfarçando, se Ibuki conhecia o tocador de oboé...
"O nome dele é Luke. Não sei o sobrenome. Hei, Huyu, qual o sobrenome do Luke?" – e Huyu também não soube, mas Huyu encarou Anju de uma maneira, como se lhe descobrisse as intenções além da pergunta. Anju ficou vermelho. "Huyu, sai de cima do menino!". Anju se encolhia, rubro de vergonha. "De qualquer forma, com esse nome ele deve ser estrangeiro, né?" Anju confirmou, enquanto Ibuki fazia gestos, dizendo piadas sem sentido. Kinome veio chamá-los para o segundo horário de aulas. Antes de entrarem, Ibuki perguntou: "O que você tanto escreve naquele caderno?"...
Anju não se sentou perto dos estranhos garotos. Aliás, um seguia ao outro como se tivessem perdido a própria sombra.
Durante a aula, Kinome não desgrudava os olhos de mim, parecia admirado ao me ver. Ele não tem jeito de religioso ou coisa assim. Aqueles dois moleques são estranhos, eles dormem no quarto ao lado; tive muita vergonha do maior deles: Huyu. Ele me olhava de um jeito, como se soubesse tudo o que eu pensava; e me condenava por tudo o que eu pensava...
Os textos que Kinome passou não tinham, também, nada a ver com religião ou metafísica. Ele dá aula de idiomas, Chinês, Sânscrito, Grego e Latim. – os dois últimos parecem ser bem difíceis; mas ele me ajudou na caligrafia, prometeu me ajudar quando puder, talvez amanhã à noite.
Não quero fazer amizade com aqueles dois, embora pareçam ser bastante livres e conhecer bastante daqui. Os piores alunos são sempre os que melhor conhecem a escola e suas regras... é sempre assim, por enquanto, Chakra não pareceu nada excepcional, nada diferente do mundo em que eu vivia lá fora. A janta, à noite, pode ser feita dentro do quarto; até que não é um ambiente tão repressor, aparentemente; aliás, eu sou o único que trouxe meu prato pro quarto, não vi ninguém mais fazendo isso...
Se eu fosse pra cantina, jantar sobre a mesa... talvez eu encontrasse... talvez eu encontrasse muitas pessoas... Oras não quero falar nem me encontrar com ninguém!
Terceiro dia de Anju no Chakra. A primeira aula foi Religiões Comparadas – se o que ele queria era magia, nesta aula, ele pôde ver diversas e diversas escolas de magia, conhecidíssimas por todo o Mundo. Kyuubi perguntou se alguém podia enumerar as semelhanças ou estabelecer a origem de uma religião por outra; Anju ergueu seu braço e respondeu impecavelmente. Os outros alunos se impressionaram. As Religiões Comparadas ocupam todo o primeiro horário; no repouso do almoço, Anju não foi interrompido por ninguém; entre os meninos que almoçaram à mesma mesa, também não estava ali o tocador de oboé, o Luke.
Não tenho paciência para relatar toda a minha vida...
Eu gostaria muito de conversar com o Mestre Kyuubi, mas não sei como me aproximar dele, os outros alunos não parecem estar preocupados em conversar com os Mestres ou algo assim...
No segundo horário, a primeira aula foi a de Latim, os alunos, acompanhados por Kinome, desceram à entrada da Torre de Andrônico, para a aula de Música. Aulas como Música são ministradas por os próprios alunos.
No caso, parecia que Luke aguardava por Anju, com seu violino no ombro. Os meninos vão ensaiar a Lacrimosa de Mozart. Em latim.
Aquele menino, Luke, ele tocava um instrumento de cordas, não sei o nome, se é violino, viola, ou o quê, ele não tirava os olhos de mim enquanto tocava. Mas eu também cantava para ele, acho. É estranho isso que estou escrevendo, me falta um pouco mais de coragem para poder apagar...
A Lacrimosa
Dia de lágrimas
aquele em que o pecador renascerá
para ser julgado!
Tende, pois, piedade dele, ó meu Deus!
Ó piíssimo Jesus, ó Senhor,
concedei-lhe o repouso eterno. Amem!
Quem também não tirava os olhos de Anju e de Luke era Kinome. Anju estava vermelho de pudor, por a situação de um simples olhar malicioso de um músico, mas ele gostava muito disso. Às vezes, abaixava o rosto, queria sorrir, disfarçava e continuava cantando. Kinome fez com que ele ensaiasse seu latim sozinho, apenas sua voz acompanhada dos acordes de Luke.
"La Lacrimosa
dies illa
Qua resurget ex favilla
Judicandus homo reus..."
"Basta! – perfeito!" – disse Kinome. Depois desta aula, seguiu-se a janta. Sobre a grande mesa, Anju quis deliberadamente compartilhar a refeição com os colegas. Kinome elogiou-o por isso, ajeitou-lhe os cabelos lisos despenteados, disse que depois gostaria de falar-lhe. Luke não se sentou, não encontrou lugar na mesa. Seu olhar era tão marcante, parecia estar devorando Anju.
Ele me olhava de quando em quando. Eu estremecia.
Estranhas sensações que estou sentindo agora.
"Shizuka, eu tenho medo do que vai acontecer sob os tetos deste Templo hoje" – Era o Mestre Kyuubi, ele trazia a janta para a sala denominada Morte. Lá dentro, sentada estava uma menininha, agora vestindo um rosado vestidinho. Ela tinha o cabelo muito longo, se arrastando bastante depois do local onde sentava-se; seus olhos bem atentos, em um tom maravilhoso de azul, pareciam espelhos, vidros ou safiras, mas era uma cor esmaecente, giratória, um redemoinho no olhar. Kyuubi lhe dava as colheradas de comida diretamente na boca, ela não comia com as próprias mãos. Lá, ao fundo da sala, Shizuka possuía uma maleta com óleos de tinta, Kyuubi trazia telas e cavalete, ela gostava de pintar para distrair-se. "No domingo, acho que sua irmã vem ao Templo, Shizuka. Precisamos colocar um vidro bem ali... Está boa a comida?" – ela confirmou com a cabeça. Shizuka não se parecia com algum ser humano, era bastante estranha. Por qual razão Shizuka ou algo nesse quarto era também chamado de Berço da Morte?
"Shizuka, eu tenho medo daquilo que acontecerá... o menino, Namidatou Anju, ele quer falar comigo; eu também, preciso falar com ele, e não sei iniciar uma conversa de maneira alguma"... Talvez, Kyuubi revelasse essas coisas a Shizuka por saber que ela mantém os segredos.
Foi acesa a imensa pira de chama cinzenta, do lado de fora do Templo. Já passava de meia-noite, portanto, era quarta-feira já. "Namidatou, acorde!"; "Kyuubi-sama?"
"Sim. Kinome me pediu autorização para que você o acompanhasse na cerimônia noturna. Sempre depois da meia-noite, na formação de quarta-feira, até a formação do sábado. Apenas, se você desejar"
"Kyuubi-sama, o senhor crê mesmo que eu possuo algum Dom? Em que consiste esse ritual?"
"É um ritual de purgação. Aqueles que se arrependem de algum ato, escrevem em um papel esse ato e plantam no chão ou no buraco de uma árvore. Também aqueles que mantêm um segredo. Aqui no Templo, sempre alguém fica responsável de se lamentar por o segredo das pessoas. Você não deve lê-los, nenhum, é obvio!"
"Kyuubi-sama..."
"Se eu acredito que você possui um Dom?... você acredita? Quem acredita que possui um dom qualquer, seja este quem for, então, certamente deve possuir – algum motivo a pessoa tem para achar isso; não é verdade?"
"Não sei"
Kyuubi ajudou Anju a se levantar.
"Você vai participar? do ritual?"
"Muita gente faz isso?"
"Estarão apenas você e o prior Kinome. Eu não participo, fico de vigília nas outras noites; na quarta-feira, porém, mesmo eu descanso, se nada me impedir."
"Eu vou participar. Mas... Kyuubi-sama, por que em sua aula nada de religião ou magia foi discutido, na segunda-feira; eu gostaria de saber. Sobre aquele texto".
"O mais estranho, Namidatou, é que apenas você notou que o texto provava a ineficácia da metafísica. Apenas você."
"Talvez, eles apenas não falaram nada..."
"Não, eles não notaram. Estar aqui, não estar aqui... não muda muito para eles... Vá, prepare-se para o ritual. Tome um banho gelado, rápido. Se você quiser, pode se banhar no lago, as águas à noite são especiais para purificação".
O que eu pensei foi em me banhar no lago. Eu receava que alguém me visse tomando banho lá, é um lugar bastante aberto; todo o Chakra, quase, tem vista para o laguinho. Mas eu... de alguma maneira, eu queria ser visto...
Até por escrever essas linhas, Anju já avermelhava de pudor. Ele realmente se banhou no lago, aquela noite; talvez, ninguém o houvesse notado. Talvez...
Quando entrei na sala, o prior Kinome parecia estar meditando, mas de olhos abertos. "Boa noite!"; ele me cumprimentou. Eu conversei um pouco com ele, estava interessado, pela primeira vez, quis saber sobre o ritual. Ele contou que, todo o primeiro Sol de Quarta-feira representa um novo alento. Na quarta-feira, que é hoje, o Templo recebe visitantes, que deixam bilhetinhos dentro de uma cuba. Os alunos também, se quiserem, deixarão um bilhetinho dentro da cuba. Sou eu quem vai guardar essa cuba. Na noite de sexta para sábado, o prior Kinome falou, os bilhetes são imersos na água, ou enterrados por nós. Ontem, pensei que passaria a noite meditando ou algo assim; na verdade, o prior ficou me mostrando estrelas, as constelações, ele conhece bem as miríades. Me contou bastante sobre a história da cidade e um pouco sobre a história do Templo – é uma historia de amor, provavelmente, uma lenda até meio boba. Ele disse que, quando for Sábado, eu poderei acompanhar o próprio Kyuubi contando aos visitantes as historias... até que eu gostei, mas ainda não acho que o prior leve jeito para religioso, ele tem um fundo de matemático, algo nele me causa um quase medo... o Kyuubi-sama não, ao contrário, ele, muito sério, pareceria até com alguém poderoso, se acaso esses "poderes" existissem; mas, em sua própria aula, vimos que não existem...
A quarta-feira é agitada no Chakra. Kinome foi muito paciente, durante a aula de idioma Sânscrito Anju dormitava mesmo... o prior, que também mantivera vigília, não demonstrava nenhuma exaustão à falta de sono.
"Você não dormiu ontem à noite, não é mesmo?" – ele disse e acariciou meu rosto; eu não tinha visto quando ele chegou, estava dormindo em pé, muitas pessoas colocando bilhetinhos dentro da cuba, eu ressonava enquanto eles estavam lá. Foi quando senti o Luke bem próximo. Acordei assustado, é lógico. O simples toque dele me transformou tanto; por que será, os meninos aqui, parecem, são bastante carinhosos uns com os outros? Na minha cidade, isso não era muito bem aceito entre meninos, não era muito bem visto; embora entre as meninas fosse normal... "Uma pena, eu queria visitar os seus sonhos" – ele não falou com malícia, falou tão tranqüilamente, depois depositou o seu cartãozinho na cuba, o papel que ele usou era todo negro, vou saber reconhecê-lo... apesar de estranhando, estou feliz...
Tomara que eu possa falar mais também com o Mestre Kyuubi. Ele passou o dia encerrado na sala de Morte, o local, por enquanto, que parece ser o mais esquisito...
Luke acariciara de leve o rosto de Anju, falara com ele algumas palavras, já era motivo de alegria imensa. Às quartas, não há segundo horário de aulas, os alunos podem ficar e receber os visitantes – tarefa obrigatória aos meninos mais velhos – ou podem ir para o quarto. Por bastante tempo, Anju e Luke puderam trocar olhares. Anju sabia que era correspondido em seu gostar.
Anoitecendo, se perderam um do outro. Quando o sol se põe, os visitantes partem, deixando o templo em grande desordem. Anju teve que seguir Kinome, era agora seu acólito; Luke, é provável, ficou limpando e arrumando o templo junto dos meninos mais velhos.
Anju e o prior acenderam sete chamas em sete xícaras de azeite. Seguiram para a entrada do templo e arremessaram na enorme pira. A chama cinza iluminou o Chakra – Anju se impressionava – uma chama cinzenta, dançante! Mágica, mágica! – Anju quase já podia acreditar em milagres, quase.
Recebeu a permissão de Kinome para se retirar em seu quarto, desde que à meia-noite já estivesse banhado e purificado, pronto para a elucubração religiosa.
Assim fez. Chegou à sala, ajoelhou-se bem próximo a Kinome – "boa noite!", este cumprimentou-o, sorrindo. Anju e Kinome permaneceram em posição meditativa, Anju mal sabia pra quê permanecer assim, mas estava feliz demais para contestar... essa noite, pouco conversaram. Às duas horas, Anju caía de sono, ele viu Kinome, talvez estivesse em transe profundo... Levantou-se, aproximou-se da cuba, havia lá dentro apenas um papelzinho, dobrado, negro – era aquele, o de Luke – que diria? que maravilhoso segredo pode conter?
A magia, neste momento, existiu – a magia chamada paixão. Anju furtou, desconfiado, o papel, tornou a sentar-se ao lado de Kinome. Ali mesmo, ainda esguelhando, com desconfiança, a meditação de Kinome, pôde, finalmente, abrir a mensagem mágica – talvez uma evocação, feita por Luke, o jovem músico.
"Você me deixa entrar em seus sonhos?
O Ritual é: FARAON"
Que seria isso? Anju não entendeu, mas meditou recitando o hino FARAON... é um feitiço, sim, agora, e por enquanto, Anju cria na magia.
Quando Anju acordou, o sol já quase se abria, Anju estava sentado sobre a perna de Kinome, que, levemente, lhe conformava os cabelos com seus dedos. "Ainda bem que você acordou antes do nascer do sol... senão o ritual daria errado"
"Ritual?" – Anju se assustou, ele descobriu do ritual?
"Sim, o ritual de purgação"...
Era quinta-feira, a primeira aula, ministrada por um aluno mais velho, era manejo de Armas Brancas. Anju nunca antes imaginara um arsenal desses neste tipo de templo. A aula era na sala, do saguão superior, que possuía uma espada cravada ao centro – a sala que acordava todos os instintos para o perigo, cheirava a sangue... Anju sentia-se incomodado por estar ali, mas, ao menos assim, pôde se manter desperto.
As aulas que se seguiram foram de Psicologia – Kyuubi passou um texto do psicólogo Jung, teorizava sobre "Inconsciente Coletivo", algo assim... me pareceu falar de Metafísica sim, abertamente. Ou talvez seja eu quem comece a crer nessas coisas, será? O que sonhei ontem à noite não lembro. Foi tão rápido, acho, que nem devo ter sonhado mesmo nada. em seguida, teve duas matérias novas, Yoga e Praticas Orientais, parece que estou atrasado em relação a ela, devo, infelizmente, pegar com alguém o que me falta; e Cabala e Praticas Ocidentais, também estou atrasado. As duas aulas são com Kyuubi-sama, é quase uma extensão da matéria de Religiões Comparadas, mas aqui, parece, ele vai ensinar algum ritual, quem sabe... na hora do almoço, o Ibuki e sua sombra, Huyu, veio falar comigo, mas ele quase não disse nada, apenas me elogiou, disse que eu era inteligente – acho que porque eu estava podendo acompanhar as matérias, novas para mim; ele só me falou isso também, sorriu e foi embora, com sua sombra sempre séria e mal-encarada. Não sei, Huyu parece que me julga muito mal...
Hoje eu não vi Luke. Vou escrever um segredo meu e depositar na cuba...
Enquanto era pausa para almoço, Anju escreveu um papel, dobrou e depositou na cuba as seguintes palavras: Eu gosto de um garoto...
Não era a primeira vez que Anju "gostava" de um menino. Ele cogitou seriamente a possibilidade de se abrigar em um Templo Budista, ao invés de o Templo Chakra. Infelizmente, ele foi contrariado, de fato, a duas conjecturas: os Budistas crêem em teorias da metempsicose e reencarnação – Anju recusava essas crenças... nisso, ele acabava por concordar e preferir o Chakra de Luke: em Chakra, eles não crêem em nada!
Uma vez, Anju estava próximo a um jornaleiro, isso acontecera nesse mesmo ano, há muito pouco tempo. Se aproximou dele um monge, vinha do Templo Budista da cidade Joana D'arc. Impressa uma matéria horrenda, realmente, exibida no jornal – algo sobre uma pessoa morta nos trilhos do trem; porém, Anju jamais esperaria que o monge começaria, ali, a seu lado, em presença de todos, a chorar. Ele tinha os traços no rosto tão delicados e sinceros, Anju estava impressionado, maravilhado com a sensibilidade desse jovem homem tão perto de deus... Anju abraçou-o, disse que ele não chorasse, pois nem sabia se era verdade a noticia ruim...
Pouco depois, os dois sacerdotes do Chakra se apresentaram na cidade. Eles levariam-o, e ele não queria ir. Anju chegou a tentar entrar para o sacerdócio budista, acontece que não foi aceito nas entrevistas preliminares... ele ficou muito chateado e nunca mais tornou a ver o tão belo monge, o primeiro garoto por quem se apaixonara, que se tornara quase que, por algum tempo, idéia fixa.
O Chakra tinha um ideal bem aberto. Ele beirava, na verdade, o ceticismo. Era uma Escola Oriental, mas qualquer um, de qualquer parte, podia estudar ali. Anju descobriu, muito cedo, que qualquer prática, seja qual for, é permitida sob aqueles portões. Ibuki, afirmavam alguns, era versado em sortilégios malignos; ao que parece, uma vez, ele fez até um ritual cruento, de imolação animal ou algo assim. Anju não sabe da autenticidade dessas coisas, mas os meninos de seu quarto podiam até jurar.
Depois, no segundo horário, tivemos aulas de História e Ciências Sociais, com o Kinome. O chakra é a melhor escola que alguém como eu poderia pagar, agora admito. Eu jamais seria capaz de receber a Educação que recebo aqui, com as condições de minha mãe.
Kyuubi ia entrando na Sala do Silêncio, quando eu o parei, disse que gostaria de conversar com ele... ele marcou comigo de vir aqui às nove e meia (da noite), falta meia hora.
Hoje, não vi o Luke...
"Me perdoe não ter vindo antes, eu conversava com Shizuka. Ela precisa de companhia".
"Shizuka é o nome dela?"
"É sim".
"Ela chegou no mesmo dia que eu..."
"Vocês dois têm muito em comum"
"Algum dia poderei..."
"Falar com ela? é provável que não... Por que ela não sai do Quarto?..." – Kyuubi pensou antes de responder, nesse momento, Anju teve a nítida impressão que Kyuubi lera seus pensamentos, talvez isso fosse apenas vislumbre de sua mente – "Ela não pode sair do quarto... mas, você não entenderia por quê!"
"Ela tem algum Dom? como eu? qual o meu dom, Kyuubi-sama? Eu não sei de nenhum!"
"Você tem mais dons do que imagina. Assim como ela, ela pinta quadros magníficos, sabia?" – Kyuubi sorrira, mas Anju permaneceu sério, Kyuubi sabe que os dons, a que ele se referia, não eram artísticos, antes, eram místicos.
Anju sentiu vontade de questionar o mestre mais e mais coisas, mas ele olhava Anju com uma quase piedade. Anju não sabia por quê, mas imaginava que aquele senhor lhe desvendava o pior futuro possível...
"Às vezes, Deus é cruel, não é Kyuubi-sama?"
"Deus?"
Foi tudo o que Kyuubi disse antes do silêncio. Para voltar a dispor da voz, Kyuubi completou, "por que você fala isso afinal?"
"Kyuubi-sama, meu pai morreu antes de eu nascer. Minha mãe teve de me criar sozinha... agora, ela já não podia mais... eu devo confessar que a oferta de me trazer para o Chakra era tudo o que ela precisava... ela não era uma má mãe, eu a amo, mas, ela apenas não poderia continuar me educando... estudar aqui... Eu jamais conseguiria uma escola como o Chakra, com as condições de minha mãe".
"Mas você não gosta do Chakra, não é verdade? Você pode ser sincero comigo"
"Bem... não é que eu não goste..."
"Você preferiria um outro destino... você preferiria, que a sua sorte fosse viver de outra maneira..."
Anju confirmou com a cabeça. O mestre Kyuubi era capaz de compreender perfeitamente qualquer coisa, sem muitas palavras; um homem assim, talvez, possa traduzir qualquer código, é muito inteligente. É admirável, ao mesmo tempo, é também assustador. Ele, talvez, conheça todos os segredos de uma pessoa, qualquer pessoa, basta olhá-la.
"Mestre Kyuubi, me sinto bem por conversar com o senhor... Obrigado"
"Você não deve agradecer... se precisar conversar mais, estarei disponível até às onze horas. Não esqueça de tomar suas lições, se as tiver; em seguida, descanse. À meia noite você deve estar pronto".
Eu temia o Mestre Kyuubi. Eu tenho um pouco de medo, apesar de ele me passar muita paz... porque se ele pode prever meus atos todos – não digo que por causa da magia, mas por causa da psicologia analítica, talvez – ele então, deve saber o tipo de perverso que eu sou... droga, é tão esquisito eu estar gostando do Luke. É verdade, eu nunca gostei de nenhuma menina, é verdade. Mas, gostar de um menino e ainda ser correspondido... será que minha mãe se envergonharia de mim?
Eu pouco venho pensando nela, ultimamente, não tem uma semana que eu estou no Chakra, mas parece que me adaptei; demorou pouco, mal me lembro de minha mãe; demorou pouco, eu já estava apaixonado por um menino.
Bem, no Chakra, eu fiz um voto de castidade... pretendo cumpri-lo e parar com essa besteira...
Peguei emprestado, com um menino do quarto, as matérias que eu não tenho, desse ano. Vou repassar tudo, depois, se der tempo, vou dormir, sinto muito sono...
Eu quero, algum dia, poder rasgar essas bobagens que eu escrevo – são apenas tolices...
Era verdade o que Kyuubi falou... minha vida – tão pobre – ao que parece, não pode ser normal. Eu gosto de poder estudar em uma boa escola como o Chakra, mas minha vida de sacerdócio, aqui, não será uma vida normal!
Como eu falei antes, apenas tolice! deixa pra lá! Vou fazer minha lição!
À meia-noite, Anju, que estava muito cansado, já tinha se banhado nas frias águas do lago noturno de Chakra. Seguiu para a Sala de Meditação. Cumprimentou o prior Kinome, conversaram um pouco.
Eu me lembro que Luke estava me abraçando, ele disse seu nome para mim e me colocou um colar de prata, o ambiente era estranho, não sabia que lugar era aquele.
Depois, eu só me lembro de ter acordado, Kinome me olhava fixamente, eu, de novo, dormira sobre sua perna – me senti tão envergonhado – ele estava acariciando meus lábios quando eu acordei. Pedi perdão e me recompus, ele falou que tudo bem, depois, ele se aproximou mais de mim, fechou os olhos e voltou a meditar – mas, de olhos fechados, sentia estranhamente como se ele ainda me visse! – Eu sei que aqui estou muito observado, o tempo todo, mas... tomara que seja apenas má-impressão...
O Sol nasceu. E às cinco e meia fui para a Aula de Química, Ciências Biológicas e da Natureza... Na aula de Religiões Comparadas, Kyuubi-sama falou sobre a instituição religiosa do Batismo, que as religiões impõem para que seus fiéis sejam "iniciados" ali, "nascendo de novo" naquele momento, "ganhando um nome e uma colocação, uma importância ao grupo social"... Lembrei então daquilo que minha mãe dizia, antes de eu vir, "tomara que não façam lavagem cerebral"... O Chakra não fez, comigo, ao menos por enquanto, nenhuma iniciação...
Ah sim! em meu pescoço não havia colar de prata nenhum, consultei!
CONTINUA...
Hanazaki Sono-san
N.A.: Oiê, pessoal, aqui é Sono-san. Agradecimentos enormes, imensuráveis, a quem estiver lendo! obrigado mesmo!
Se você gostar, recomende esta historinha aos amigos, poxa, é tão difícil uma historia original fazer sucesso, sabe como é né v.v? pois é, mas eu também!... já quis logo começar escrevendo coisas originais... tipo, escrevi meu nome no site, e mandei uma fanfic – que também não fez muito sucesso; e agora aqui estou eu já publicando logo informações novas, inéditas... bem, eu acho que também não vai fazer muito sucesso, mas não ligo, não é por isso que eu escrevo...
Bem, peço que aguardem o próximo capítulo, acabei me empolgando com a historia, então, é certo, logo ele virá.
Vocês gostariam de saber o significado dos nomes? É que fiquei meio sem assunto... Bem, Shizuka significa "Silêncio". Já, Huyu Hatsukoi é um nome muito bonito, significa "Primeiro amor de Inverno"; embora Hatsukoi também signifique "amor efêmero"... Kurayoumi Kyuubi, como foi dito, são "As Nove Caudas de Youmi" (Tsuki Youmi é o nome do deus da Lua)... os outros nomes, depois eu divulgo...
Por favor, quem gostou e está me lendo agora (obrigado!), recomende, divulgue! Ah, e não perca o próximo capitulo, os personagens vão aparecer mais e se expressar melhor; também vai ter o primeiro limão... mas talvez não seja nada do que vocês estão pensando...
Arigatou Gozai masu!
Sono-san!
