Capitulo 2 – Hermes

Kyra cancelou suas atividades no resto da semana e se hospedou no hotel. Assistiu a uma palestra sobre a cultura greco-romana. Ela imaginava que o historiador fosse bem mais velho, mas se deparou com um homem por volta dos trinta anos, de cabelos num tom azul – cinza. Tinha olhos azuis claros e bem brilhantes. Sua beleza era diferente e exótica. Ele falava com tanto entusiasmo, dava para perceber o enorme conhecimento que ele carregava. Ao fim da palestra ela se aproximou, esperou que todos falassem com ele e então chegou sua vez.

- Excelente palestra.

- Obrigado, você é também do ramo?

- Na verdade não, eu sou apenas uma entusiasta. Eu sou advogada.

- Espero que tenha entendido.

- Sim, sim, eu consegui acompanhar, parecia até que o senhor estava presente nos fatos históricos.

Ele abre um enorme sorriso para ela.

- Bem que eu gostaria.

- Senhor Hermes –ela olha dos lados e abaixa um pouco o tom de voz – haveria possibilidade de jantarmos hoje a noite, gostaria de conversar alguns assuntos.

Novamente ele olha e continua sorrindo.

- Sim porque não, como vou rejeitar o convite de uma bela jovem.

- Então vamos marcar às 20 horas no lobby do hotel.

- Perfeito.

Kyra conversa mais algumas coisas da palestras e despede-se de Hermes. Ela sobe rapidamente até seu quarto, fecha a porta atrás de si e sorri.

- Eu vou conseguir. Agora é procurar uma roupa pra vestir. Acho que não vou agüentar até lá.

Passada algumas horas os dois se encontram no local combinado e se encaminham para o restaurante do hotel. Kyra vestia um vestido azul, com um belo decote nas costas e estava com os cabelos longos presos em forma de um coque, deixando alguns fios soltos. Vestia um sapato de salto prateado combinando com pequena jóia que usava no pescoço.

- Permita-me dizer que a senhorita está muito bonita.

- Obrigada, assim o senhor me deixa sem jeito.

- Não me chame de senhor, me chame de Hermes.

Ela sorri, enquanto o garçon enchia as taças com vinho. Os dois conversam sobre vários assuntos, desde a cidade até arte grega. Ela sentiu que era o momento de tocar no assunto.

- Mas falando em Grécia, Hermes, eu soube da existência de um certo...digamos grupo bastante influente por lá.

Hermes novamente dá um sorriso, toma mais um gole do vinho, e responde:

- Grupos de que exatamente? Tem várias coisas por lá.

- Um grupo – ela se aproxima um pouco mais – que tem forte influência na estória do mundo.

- E porque você acha que eu saberia algo ou diria?

Neste momento ela lembrou de Allan lhe dizendo que ele não haveria de querer dinheiro. Era hora de dizer a verdade para tentar algo. Ela então contou toda sua estória a integra, na esperança de que ele pudesse lhe dizer alguma coisa.

- Que estória fascinante.

Ele agora pega a taça com água e toma.

- Hermes você pode me ajudar? Por favor, você é minha única esperança.

Por um momento ele fica em silencio, mas então lhe responde:

- Sim, acho que posso, mas preciso que vá até meu quarto.

Kyra entrou em choque, imaginando que tipo de pagamento ele cobraria.

- Não pretendo fazer nada minha querida, apenas devemos conversar em um local reservado.

Ela ficou mais aliviada ao escutar isso. Quando acabaram foram até o quarto dele. Havia uma poltrona bastante confortável, onde ela se sentou. Na outra ponta ele se sentou.

- Este grupo Kyra são chamados de cavaleiros.

- Cavaleiros?

- Eles pertencem a deusa Athena. – ele percebeu o olho arregalado dela – Eles existem de verdade. Nos principais fatos dos mundos há sempre uma luta nos bastidores entre dois deuses.

Kyra começa a rir, era absurdo demais tudo aquilo.

- Não ria minha cara. Seu pai foi um cavaleiro.

- Como...assim...foi...você o conhece? – ela engasgava a cada palavra mencionada, agora tinha certeza que ele sabia muito mais do que aparentava.

- Calma Kyra. Eu pertenço a um outro tipo de grupo, não exatamente a de Athena, mas sim contra ela. – ele faz uma pausa e continua – Jovens como se pai são recrutados para treinamentos duros e cruéis, após anos, alguns conseguem a honra de portar armaduras. Como aquela que fizeram no torneio que houve, patrocinado pela Fundação Graad, há alguns anos atrás.

- Eu me lembro, tinha a dona da Fundação, Saori Kido.

- Exatamente, ou melhor, Athena.

Ela ficou espantada com tanta revelação. Ele continua.

- Como dizia, muitos são recrutados, mas poucos sobrevivem as duras provas, a maioria morre.

- Meu pai pode estar morto?

- Não, ele chegou na elite.

- Mas como você sabe?

- Calma, tudo a seu tempo. – ele explica detalhadamente como os cavaleiros são criados e quem são os deuses – Athena precisa dos cavaleiros para lutar contra outros deuses.

- Mas porque tanta luta?

- Poder minha cara. E nesta busca por poder Athena não poupa a vida de ninguém. Quer saber realmente a estória de seu pai?

Ela fita fixamente, queria a verdade, estava lá por isso.

- Sim.

- Ele foi um dos piores casos. Lutou para proteger Athena e no fim acabou morto por seu próprio discípulo, outro cavaleiro de Athena.

- Ele..está...morto?

- Sim, infelizmente. E tudo por causa dela: Athena. Você não imagina do que são capazes. Fazem as maiores atrocidades para alcançarem seus objetivos.

Kyra então compreende, sua mãe fugiu da França provavelmente perseguida por eles. Ela certamente seria um empecilho para seu pai, aspirante a cavaleiro.

Hermes conta em detalhes toda a hierarquia dos cavaleiros de Athena, conta as batalhas contra Poseidon e Hades, focando sempre que a deusa lutou para conquistar os domínios de ambos os deuses.

- Como meu pai foi capaz de se juntar a isso?

- Eles fazem um discurso bonito sobre lutar pela paz e justiça, mas no fundo há outros objetivos escondidos por trás.

-"A carta, está lá, exatamente isso."

Hermes então conta a fatídica batalha das doze casas. Ao termino, ela fica completamente chocada.

- Como ele pode mata-lo? Como?

- Ele teve o privilegio de ter sido praticamente criado e treinado por seu pai, o cavaleiro de ouro Kamus de Aquário, coisa que nem você teve chance.

Aquilo foi uma facada em seu coração, Kyra recorda que felizmente foi bem criada, mas sempre sentiu um enorme vazio por dentro, não sabia o que. Anos perdidos, e agora os dois mortos, sem chance sequer de ter podido conhece-los, de ter tido uma vida diferente, absolutamente nada, tudo lhe foi tirado. Tudo em nome da ambição.

- Você disse que pertencia a um grupo que era contra Athena.

- Sim, eu sou. A humanidade deve ser livre para decidir seus caminhos, sem interferência de ninguém nem mesmo os deuses. – Hermes se aproxima de Kyra e segura uma de suas mãos. – Você gostaria de ficar conosco? Ter a chance de fazer justiça pelo seus pais?

- Eu? – ela afunda no sofá receosa.

- Não tenha medo, junte-se a mim. Você é muito importante e pode fazer muitas coisas por nós.

O olhar dele a magnetizou, era um chamado irresistível. Não podia recusar nenhum pedido. E tudo o que lhe foi dito mexeu demais em sua alma, que clamava por vingança. Mas ela tinha medo, medo. Ela se levanta e sai correndo para seu quarto.

Kyra chega ao seu quarto uma tanto enjoada.

"Não pode ser". Ela lava o rosto vigorosamente e olha seu reflexo no banheiro, via em seus olhos medo. Imediatamente ela pega sua bolsa e se encaminha para o lobby do hotel, paga a conta e pede para pegarem seu carro. Tudo o que queria agora era poder dormir em sua própria cama. Ela queria esquecer tudo que se relacionava àquela estória absurda.