Capítulo II
Sakura tinha as mãos tremulas ao pegar a carta que Shoran lhe
entregava e que estava escrito com a caligrafia de seu sobrinho. Também sua vista parecia-lhe falhar, entao pediu em tom suave:
-Poderia arranjar-me uma vela, sim?- fosse qual fosse o conteúdo daquela carta, ela não tinha muita intenção de querer voltar ao seu quarto para lê-lo. Muito menos na companhia de Shoran Li, porque seu quarto guardava muitas recordações dos momentos preciosos que haviam passado ali juntos. E Sakura não queria, em hipótese alguma, lembrar-se do carinho, da atenção, da suavidade de Shoran quando faziam amor.
Calado, ele se retirou para o corredor, de onde voltou instantes depois trazendo uma vela que retirara de dentro de uma arandela.
A textura do papel que Sakura segurava fazia com que ela se lembrasse da carta concisa que escrevera a Shoran havia poucos dias. Fora com certa relutância que o fizera, e o arrependimento antecipado por ter de romper com seu relacionamento quase a tinha feito desistir, mas ela sabia que aquela seria a melhor atitude a tomar, e, assim pensando, endurecera as palavras que escrevera. Não queria feri-lo, mas também não queria que Shoran tivesse falsas esperanças quanto à possibilidade de ela mudar de idéia e aceitá-lo novamente.
Se o visse pouco depois, sabia que aqueles belos olhos âmbares dele e seu jeito calado, meigo, a teriam feito desistir da decisão. Não, não podia faze-lo, argumentara consigo mesma. Haveria conseqüências desastrosas se agisse da outra forma.
-E entao?- Shoran incentivou-a, o olhar fixo não folha de papel que Sakura segurava sem abrir.- Vai ler ou não?
-É claro...-ela declarou, desperta de suas próprias reflexões. Seus dedos ainda tremiam quando rompeu o selo.- Não me apresse.
Tudo indicava que Shoran estava certo em suas desconfianças até o momento. Mas Sakura ainda alimentava uma tênue esperança de que a carta de Hideki contivesse algo muito diferente do que temia ler. Tudo o que sabia era que seu sobrinho mal conhecia Fuutie Li. E, mesmo se ele conhecesse aquela moça muito bem e até gostasse dela, um homem das ciências como Hideki não teria o temperamento tão retardado a ponto de fugir com ela daquela forma.
O problema, ao que parecia, era que o temperamento de Fuutie Li era assim. E isso poderia valer para ambos, numa situação de desvario provocada pela paixão, pior ainda, ela era linda, o que poderia levar qualquer homem a perder completamente o juízo.
Sakura esforçava-se por concentrar-se e ler o que o sobrinho lhe escrevera. Shoran segurava a vela um tanto alta, procurando espiar por sobre seu ombro. E sua respiração, junto ao seu ouvido, tornava
quase impossível para Sakura conseguir pensar em qualquer coisa, ainda mais porque a caligrafia do jovem cientista não era lá uma das melhores.
-Querida tia Sakura- Shoran leu em voz alta, impaciente, tomando a dianteira.- Quando encontrar esta carta, já estarei a caminho da China, onde pretendo casar-me com a srta. Fuutie Li. Como ela ainda se encontra em idade que depende do consentimento de sua família, e teme que o irmão possa não aprovar nossa união...- Shoran interrompeu a leitura para murmurar, raivoso:- Tem razão, rapaz!-E depois continuou:-... decidimos fugir juntos. E, sabendo quanto a senhora gosta de minha futura esposa, imagino que vá nos desejar muitas felicidades. Esperamos ansiosamente poder residir com a senhora quando retornarmos já casados. Seu sobrinho, que a estima e a respeita por demais,
Hideki Kinomoto.
Shoran abaixou bem devagar a mão que segurava a vela. Sakura agiu da mesma forma com a carta que ainda tinha em mãos. Nenhum dos dois foi capaz de pronunciar uma só palavra por alguns segundos, durante os quais toda a defesa que Sakura articulara a favor do sobrinho ruía por terra.
-Meu Deus!- sussurrou ela por fim.- Isso é uma loucura! Não... Não consigo imaginar um casal mais inadequado do que meu sobrinho e sua irmã! O que pode ter acontecido a essas duas crianças para agirem assim?!
Ela ergueu os olhos para Shoran, atônita. E, ao perceber quanto ele se encontrava próximo, engoliu em seco e deu um passo para se afastar. Não estava com medo dele, mas do efeito poderoso e intenso que Shoran exercia em seus sentidos. Sentia uma vontade enorme de tocar-lhe o rosto, acariciar-lhe os cabelos, num gesto que acabara ficando entre os dois como um sinal para que se recolhessem à cama.
Um sinal que não existia mais, lembrou-se, entristecida. E fechou as mãos, detendo a vontade que as fazia agirem.
Talvez o brilho intenso de seus olhos tivesse traído seus pensamentos, avaliou, pois Shoran abaixou o tom de voz consideravelmente, falando-lhe com o mesmo carinho de ante:
-Acho que sei o que aconteceu a essas duas crianças, lady Kinomoto.- E seu olhar passou-lhe pelo rosto como uma doce caricia.- Foi a mesma loucura que às vezes aflige corações mais velhos e mais experientes.
Ela tornou a engolir em seco, depois afirmou, tentando parecer firme:
-Não está se referindo a nós, por certo...- E forçou uma risada que, no entanto, nada tinha de alegre, mas de irônica.- Porque eu já estou curada das ilusões da adolescência há muito tempo e nada tenho em mim de romântica. E você é o ultimo homem em Tomoeda, talvez em todo Japão, inclinado a cometer uma loucura ou qualquer outro tipo de excesso por amor.
Shoran Li, sempre tão sensato, correto, respeitável, decente; Sakura sabia, porque tinha pesado todas essas qualidades a favor dele mesmo antes de escolhe-lo para tornar-se seu conveniente amante. Não quisera alguém mais romântico, muito menos passional, que pudesse pensar em estar apaixonado por ela.
Mas Shoran não parecia contente com o que deveria ter sido um elogio a seus atributos de caráter. Franziu as sobrancelhas e encarou-a muito serio, e Sakura chegou a recuar diante da sombra que surgiu naqueles belos olhos.
-Entao, eu a entediava- ele comentou, parecendo ferido.
-Não seja tolo- ela rebateu, mas suas palavras pareceram falsas até mesmo para si própria. Shoran não a entediava, repetia para si mesma, Shoran simplesmente deixara de surpreende-la. Até essa noite...
E agora Sakura não conseguia entender se gostava ou não de tais surpresas.
-Sou incapaz de ser tolo- Shoran respondeu, com franqueza.
-Bem, da forma como fala, parece que o acusei de um crime! Não é bem assim... Há muita gente tola neste mundo, e eles só conseguem causar problemas a pessoas sensatas como nós. Esses dois jovens, por exemplo. O modo como você chegou aqui esta noite leva-me a crer que não está gostando dessa fuga romântica tanto quanto eu.
-É claro que não estou!- Shoran, agora, parecia estar ofendido diante de tal possibilidade.- Minha irmã é jovem de mais para saber o que quer da vida, ainda mais num assunto tão importante quanto o casamento.
Fuutie Li não tinha mais do que dezessete anos, Sakura sabia. A mesma idade com que ela própria embarcara para uma viagem terrível em seu casamento.
Shoran continuava sem perceber que lhe causava recordações amargas:
-E, como você mesma disse, eles formas um par completamente incompatível! Minha irmã... Oh, Deus, jamais poderia imagina-la como esposa de um cientista! Fuutie tem um temperamento adorável, um coração de ouro!
-Mas poderia também ser considerada fútil e impulsiva, não?- Sakura indagou, sabendo do que falava.
Shoran preparou-se para contradize-la, porem preferiu dar de ombros e comentar:
-Talvez você tenha razão. Imagino que Fuutie deve ter achado a idéia de uma fuga muito romântica. Mas viu tão pouco do mundo! Como pode saber se o jovem Kinomoto é o homem indicado para faze-la feliz?! Não deve nem ter certeza se quer passar quinze dias com ele, quanto mais uma vida inteira.
-É verdade- Sakura comentou, num suspiro. Pelo menos nesse aspecto, ela e Shoran pensavam da mesma forma. Tinham os mesmos motivos para querer impedir que seu sobrinho se casasse com a irmã dele. Ou quase.
Ela possuía um motivo a mais do que ele. Um de que Shoran não podia ter conhecimento. O mesmo motivo pelo qual rompera o relacionamento de ambos prematuramente, quando ainda queria muito continuar aquele romance até o fim da temporada; não fosse esse motivo, poderia até querer continuar a ver Shoran e ama-lo no ano seguinte.
Mas, agora, esse desejo não poderia mais se concretizar, da mesma forma que o casamento de seu sobrinho com alguém da família Li não poderia jamais se realizar.
-Parece que concordamos, entao- Shoran observou, arrependendo-se agora por ter feito aquela observação quanto a ser entediante para Sakura. Nada poderia ser mais intediante do que um amante que se recusava a partir em silencio, sem contestar o porque de um rompimento.- Eles precisam ser alcançados e verem a loucura que estão cometendo, para depois serem trazidos de volta para casa.
Sakura ergueu as sobrancelhas e endireitou os ombros. Depois disse decidida:
-Muito bem, entao. Vou fazer uma pequena mala e partir esta noite mesmo. Eles não devem estar mais de doze horas adiantados e, provavelmente os alcançaremos antes que cheguem a Kanasawa.
E com um movimento rápido, ele se dirigiu á porta. Vestida como estava a alva camisola e com os cabelos castanhos soltos sobre as costas, parecia pouco mais velha do que Fuutie.
-Não seja ridícula!- Shoran protestou, adiantando-se e segurando-a pelo pulso, que lhe pareceu frágil entre seus dedos.- Não pode sair por aí sozinha, cruzar praticamente todo o país!
Sakura encarou-o e soltou a mão puxando-a sem delicadeza.
-Não vou estar sozinha- rebateu.- Vou em minha carruagem, é claro, com um cocheiro muito experiente e pelo menos um criado.
E, como se tais palavras tivessem definido a situação, voltou-se, saiu do quarto do sobrinho e seguiu pelo corredor, de volta a seus aposentos. Shoran acompanhou-a de pronto.
-Além do mais- ela continuou, voltando-se de repente para encara-lo ainda mais uma vez.- , não vou precisar seguir Hideki e sua irmã por todo o caminho, daqui até Kioto! Não sabemos o que eles estão usando como meio de transporte! Talvez um veiculo de aluguel. É o mais provável. Com um pouco de sorte, vou até adiantar-me a eles amanha. E entao poderei enviar Fuutie em segurança no dia seguinte.
Sakura parou à porta de seu quarto e ergueu uma das mãos. Por um segundo, Shoran imaginou se ela queria que ele se inclinasse e a beijasse numa despedida, mas depois entendeu que lhe pedia a vela.
Teimoso, não a entregou.
-Acha, honestamente, que vai segui-los, encontra-los com facilidade e depois mandar Fuutie de volta a Tomoeda?- perguntou com um certo sarcasmo. – E se pararem em uma taverna ou hospedaria de beira de estrada para trocarem de cavalos, e você passar por eles com muita antecedência?
Sakura não respondeu. Aquela, como muitas outras, era uma possibilidade que não considerara. Shoran tivera muito mais tempo para pensar e considerar, até mesmo planejar, desde que se dera conta do desaparecimento da irmã da casa modesta em que viviam nos subúrbios de Tomoeda.
-Vou perguntar por eles sempre que parar em qualquer lugar para descansar e trocar de cavalos- ela explicou.- Não deve ser assim tão difícil saber por onde passaram, ou rastrear seu paradeiro. E, se eu tiver de ir até Kioto, estou preparada para a jornada. Agora, por favor, me de essa bendita vela para que eu possa me vestir e arrumar minha mala, sim? Se... não for lhe pedir muito, por favor, acorde meu cocheiro e meus criados e informe-os a respeito da viagem e sobre a urgência de sairmos daqui quanto antes.
-Não, Sakura. Não vou permitir que faça uma coisa dessas.- Shoran afastou a vela das mãos delas.- Será uma viagem difícil, talvez até perigosa.
Os olhos de Sakura brilharam, audazes, altivos.
-Não é meu guardião, sr. Li. E, mesmo tendo partilhado minha cama, não é meu marido tampouco. Se eu disse que vou partir nessa viagem, não há como evitar que o faça.
Shoran cerrou os dentes diante daquela teimosia. Sakura parecia querer mostrar a ele que, alem de te-lo dispensado, era-lhe superior também pela posição social. Mas se controlou, seria bem feito para Sakura se ele permitisse que ela se metesse numa empreitada assim.
Para a sua surpresa, porem, ela tomou-lhe a mão livre não suas e suavizou a voz para dizer:
-Pensei que tínhamos concordado que Fuutie e Hideki devem ser detidos. Por que estamos discutindo, entao? Que alternativa temos?
Uma alternativa poderia se obvia, Shoran pensou. E decidiu que, se a mostrasse, Sakura poderia aceita-la:
-Eu irei. Posso ser mais rápido se for a cavalo. Posso cruzar os campos para intercepta-los. Posso pedir informações em qualquer lugar por onde passar, para qualquer pessoa, desde viajantes ate donos de espeluncas e cobradores de pedágio, qualquer um que uma dama talvez tivesse o receio de interceptar.
Sakura pensava, e Shoran percebeu que ela começava a ceder. Por tanto continuou, sentindo o calor das mãos dela, que subiam lentamente por seu braços e o deixava entorpecido.
-Assim que conseguir alcança-los, poderei exigir que minha irmã volte para casa comigo. Afinal, sou seu tutor legal, e ela não poderá se recusar.- Esse era o melhor argumento que ele tinha para convencer Sakura de sua ida.- Você não teria tal influencia sobre ela ou seu sobrinho. Por estas e outras razoes que mencionei, sou eu quem deve persegui-los. Mas...
-Sim?
Shoran hesitou, visivelmente embaraçado. Preferiria cortar a língua a ter de admitir o que pensava, em especial para ela. E, como sabia que sua vergonha estava estampada em suas feições, baixou a mão que segurava a vela para que Sakura nada percebesse. Só entao disse:
-Não tenho recursos à minha disposição para a viagem, como antes tive.
Mesmo digno e cheio de orgulho, ele não conseguia encarar uma das mulheres mais ricas do Japão e cuidava para não gaguejar na revelação humilhante que era obrigado a fazer-lhe.
Nunca tinham falado a respeito da enorme disparidade entre suas posses. Na verdade, jamais tinham conversado sobre assuntos mais profundos. Ainda assim, imaginava que Sakura soubesse que sua família havia perdido boa parte dos bens que um dia possuíra. Pelo menos, a casa modesta em que morava devia ter sido uma evidencia suficiente, numa cidade onde o preço das casas crescia na mesma proporção da vizinhança. Suas roupas, bem trabalhadas, mas antigas, poderiam te-lo acusado como o homem sem meios que era agora. Não tinha sequer uma carruagem...
Ao que parecia, Sakura conhecia sua situação financeira desde muito antes de se aproximar de Shoran com seu convite sedutor, intrigante, e até escandaloso para que se tornassem amantes. Um homem mais rico poderia sentir-se até ofendido... E ele, agora, tinha de confessar sua situação em face do dilema que viviam:
-Meu pai deixou dividas consideráveis quando faleceu, há algum tempo. Tenho conseguido quitar boa parte delas e espero ver a minha família recuperada em alguns anos, prospera, até. No momento, porem, não disponho de dinheiro vivo. E, já que nós dois temos interesse em ver seu sobrinho e minha irmã afastados de um casamento que poderia ser catastrófico, sugiro que juntemos nossas forças. Se você financiar a viagem, eu a pouparei do trabalho de ir pessoalmente, colocando-me à sua disposição para encontra-los.
Sakura já soltara a mão de Shoran e via agora que ele aguardava sua resposta, parecendo tenso. Não a olhava, talvez para não ver algum sinal de piedade, que completaria sua humilhação.
Houve alguns segundos de um intenso e misterioso silencio por parte de Sakura, ate que ela, num movimento rápido, tomou a vela da mão de Shoran e, em seguida, entrou em seu quarto e fechou a porta.
Antes que ele pudesse reagir, um ruído seco indicou que ela girava a chave no ferrolho.
-Sakura!- Shoran bateu contra a madeira trabalhada, indignado.- O que está fazendo?! O que significa essa atitude?!
A voz dela soou distante, fria e clama:
-Imagino que seja obvio. Sinto muito, mas não aceito sua oferta para fazer a viagem em meu lugar.
Shoran percebeu que os criados deviam estar acordados agora, porque ouviu ruídos e sussurros no andar de baixo da casa. Imaginou que um deles poderia aparecer e lança-lo porta afora sem fazer perguntas. Na verdade, todos os criados daquela casa tinham mostrado grande paciência até agora para com ele.
Assim parou de bater na porta e abaixou a voz:
-Não ouviu nem uma palavra do que acabei de dizer?
-Ouvi, sim. E considerei cada uma delas para tomar minha decisão- ela disse lá de dentro.- Aprecio sua oferta, mas decidi ir sozinha, ponto final! Tenho certeza de que exagerou em suas condições financeiras quanto ao que pode me acontecer.
-Não, não exagerei em nada. Eu apenas...
-Senhor Li, por favor!- Sakura pediu, como se perdesse a paciência.- Tomei minha decisão e não vou deixar que me convença a agir de forma diferente, muito menos se exaltar. Agora, se me der licença, tenho muitas coisas para preparar.
A implicação de que ele deveria se retirar estava implícita, porem, mesmo assim ela continuou:
-Espero que poupe sua dignidade e a minha saindo daqui em silencio. Se não o fizer, terei de chamar meus criados para acompanha-lo ate a porta.
No quarto, Sakura arrumava suas roupas, prestando atenção a Shoran do lado de fora. Os argumentos dele para seguir em seu lugar atrás do casal fugitivo eram bons, quase chegara a aceita-los. Mas acabara por não faze-lo devido a uma ultima consideração do caso.
Shoran Li tinha um coração muito mole e seus motivos para querer evitar aquele casamento tolo eram bem menos urgentes do que os dela. E se, ao alcançar Hideki e Fuutie, acabasse por deixar-se convencer de que eles se amavam e que entendiam todas as conseqüências do que estavam fazendo?, avaliava. Como se eles pudessem entender alguma coisa...
Provavelmente, Shoran acabaria até abençoando a união dos dois... e os três voltariam a Tomoeda para dizer-lhe que tudo estava resolvido. O que ela poderia fazer a respeito, entao?!
Sakura fechou a mala, ainda pensando, Shoran podia ter uma influencia legal sobre a irmã, mas era ela, quem tinha uma influencia financeira sobre Hideki e não teria escrúpulos em exerce-la, se fosse preciso. Aquela fuga do casal a colocara em uma situação muito difícil. Uma situação que seria a única a perder, e muito. Não podia vacilar.
Não ouvia mais nada do outro lado da porta, e sentiu-se aliviada. Chegou mais perto e perguntou, em voz baixa:
-Shoran? Você está aí?
Houve alguns segundos de silencio, depois ele respondeu:
-Sim.
Sakura respirou fundo. Olhou para o vestido que separara sobre a cama, precisava trocar de roupas, mas, de alguma forma, não conseguia faze-lo com Shoran assim tão perto. Nem mesmo com aquela grossa porta de madeira maciça entre ambos.
-Entao...adeus- disse.- Prometo trazer Fuutie para você sã e salva, assim que puder.
-Se... está assim tão decidida a ir, Sakura, poderia, entao, levar-me com você?
Ela cerrou os olhos. Agradecia a Deus por aquela porta estar entre ambos. Se tivesse de olhar nos olhos de Shoran agora, sua resposta seria outra.
-Não, Shoran.
-Sei que pode parecer estranho diante das circunstancias, mas somos dois adultos civilizados. Podemos fazer essa viagem juntos, por um ou dois dias sem...
Sakura pegou a sineta que usava para chamar os criados e sacudiu-a com violência.
-O que propõe está fora de cogitação, sr. Li- disse em voz alta e clara.- Agora, por favor, vá embora!
Ela ouviu os passos apressados que se aproximavam pelo corredor e depois a voz de Shoran, complacente:
-Está bem, está bem, estou saindo!
Se aquelas palavras eram dirigidas aos criados ou a ela, Sakura não saberia afirmar. E, enquanto esperava que o tumulto no corredor se acalmasse, sentou-se diante da penteadeira e começou a se pentear. Pegou a escova e viu que, logo ao lado, encontrava-se, bem dobrado, o lenço que Shoran costumava usar ao pescoço. Sakura tocou-o com os dedos trêmulos. Uma de suas criadas devia te-lo encontrado enquanto arrumava o quarto.
Aquela era a primeira e única peça que ele deixara ali, traindo sua presença. E Sakura agora se lembrava, com saudades, dos momentos em que Shoran estivera ali, com ela, despindo-se antes de se amarem... Tinham sido tantas as vezes e de formas diferentes. Em muitas ocasiões eles se ajudavam mutuamente a retirar as roupas, deliciando-se a cada momento, acariciando-se, vivendo aqueles momentos com um prazer indescritível.
Apertou o lenço de seda entre os dedos e levou-o ao rosto, aspirando-o de leve, deliciando-se com o suave aroma de colônia que ainda restava no tecido. Sentiu que seus olhos se enchiam de lagrimas e, deixando a peça sobre a penteadeira, olhou-se no espelho, resistindo, teimando forte. Não queria sentir-se uma tola sentimental. Aquele não era o momento para choradeira ou para ter devaneios com Shoran Li. Precisava manter-se sensata e fria para agir, para sair da situação em que se encontrava, não por vontade própria, mas pela impulsividade de seu sobrinho e de Fuutie Li.
Ouviu batidas suaves na porta e seu coração se acelerou de imediato.
-Sr. Li!- gritou.- Sera que vou ter de chamar meu mordomo também e fazer com que meus advogados movam uma ação contra o senhor por invasão de propriedade?!
-O cavalheiro já se foi, senhora- Hetty, sua criada pessoal, informou em tom tranquilo.- Na verdade, ele não causou problema algum para sair. E, como vi a luz sobre a sua porta, imaginei que a senhora talvez estivesse precisando de mim...
Sakura acalmou-se, foi ate a porta e a destrancou-a:
-Obrigado, Hetty.- agradeceu à criada quando esta entrou no quarto.- Acho que vou precisar de você, sim. Imagino que a presença do sr. Li já tenha acordado a casa inteira. Por favor, peça a Himura e ao sr.Tsuki que preparem a carruagem e façam suas malas para viajarem comigo para o sul. Pretendo partir dentro de uma hora.
A criada encarou a patroa com olhos assustados, mas, como não lhe competia indagar nada, disse apenas:
-Pretende ficar fora muito tempo, senhora? Quer que eu faça suas malas? Ou que me arrume para ir em sua companhia?
Sakura chegou a considerar a idéia, depois respondeu:
-Não, acho que não.
Caso se tratasse da antiga criada Yusuki, que ficara com ela por mais de oito anos, Sakura teria aceitado a oferta pela companhia. Mas, desde que Yusuki deixara a casa para casar-se com um prospero açougueiro, Sakura acabara ficando com Hetty, que era muito diligente, muito solicita, mas falava demais.
Em breves conversas, Hetty podia ate ser divertida, porem numa carruagem, por tantas horas, sua companhia não parecia ser muito interessante para Sakura. Preferia ficar sozinha em seus pensamentos e seus planos para o futuro.
-Não vou me demorar muito- acrescentou.- Um ou dois dias no maximo. E acho que posso ficar sem uma criada nesse meio-tempo.
Hetty pareceu sentir-se aliviada e abafou um bocejo.
-Se é assim, senhora, acho que vou dar o seu recado a Himura e ao sr. Tsuki.
A moça fez uma pequena mesura e deixou o quarto, mas, antes que Sakura fechasse a porta novamente, voltou para dizer-lhe:
-Quer que eu peça a Wonsuki para preparar-lhe uma xícara de cha antes que parta, senhora? Ou entao que prepare uma cesta com algo que a senhora possa comer durante a viagem?
A simples menção à comida fez o estomago de Sakura revirar.
-Para os homens, sim, mas não para mim- respondeu. Fechou a porta e correu ate a bacia que mantinha sobre a cômoda, para aliviar as náuseas que a tomavam.
Depois molhou a ponta de uma toalha na água morna que era mantida em sua lareira e passou-a pelo rosto. Em seguida, sentou-se mais uma vez diante da penteadeira. Olhou-se no espelho e notou sua palidez.
Depois de quatro anos de casamento e de viuvez, a providencia parecia ter-lhe pregado uma peça. Acordava todas as manhas nauseadas e seu ciclo menstrual fora interrompido. Logo seu ventre começaria a crescer e, no Vera, estaria tão redonda que não caberia em seus vestidos... Shoran Li, sem saber, realizara-lhe o grande sonho de sua vida; um que ela não mais esperava poder transformar em realidade. Um filho. Mas, justamente por isso, ele criara a necessidade de ser expulso da vida de Sakura...
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Aleluia, aleluia, aleluia aleluia....
Finalmente este capitulo esta feito!!!!
Sera que Shoran deixara Sakura partir? Não percam no prox. Cap.
Desculpa a demora desse cap. foi fácil escrever a historia o problema foi passar a limpo, minhas mãos estão acabadas...
Agradecimentos:
Anna Li Kinomoto: Oi Aninha!!!!! Valeu pelo comentário^-^, e é outra fic histórica, são uma de minhas favoritas. Continue apoiando minha fic. Beijos ^-^
Nathy-Chan: Muito obrigada pelo elogio, nada mal para uma novata. Continue lendo minha fic, beijos ^-^
É isso gente!!!!! Continuem lendo minha fic e deixando comentário, mesmo q seje para xingar e humilhar minha fic.
Beijos para todos os leitores
Warina.
