Capitulo V

Seis horas depois de ter partido de Tomoeda, a carruagem de lady Kinomoto parava diante de uma hospedaria elegante, de boa aparência. E estacionou bem abaixo da placa, onde um brasão de armas antigas era a imagem que mais sobressaía no metal. Sakura encarou Shoran e tentou parecer casual:

-Com certeza, Hideki e sua irmã ainda não devem ter saído para tomarem a estrada.- Estava envergonhada pela forma como se deixara dominar pelo medo e pela aflição na noite anterior, gritando como uma louca enquanto Shoran e o homem lutavam dentro da carruagem, depois atacando seu defensor com cega histeria. E, como se isso fosse suficiente, acabara por humilhar-se ainda mais ao chorar feito uma criança, agarrando-se a Shoran como se ele fosse seu último recurso.

Ele suportara tudo com classe e compreensão, mas isso não aliviava a maneira como Sakura se sentia agora. Se aprendera alguma coisa em sua vida, era que uma mulher deve saber como viver sozinha, cuidando de si mesma contra todas as adversidades do mundo. Ninguém mais poderia faze-lo por ela, muito menos um homem. E não permitiria que Shoran Li a convencesse do contrario.

No assento diante dela, Shoran esticou as pernas e permitiu-se rir, antes de comentar:

-Bem, se o jovem Kinomoto conseguir tirar minha irmã da cama assim tão cedo, entao ele é um homem bem melhor do que eu.

O significado de tais palavras acabou por atingir o próprio Shoran, fazendo-o franzir a testa logo em seguida e perguntar:

-Seu sobrinho teria a decência de alugar quartos separados para ambos, não?

Por algum motivo que ela mesma desconhecia, tal pergunta a irritou.

-É claro que sim -respondeu, um tanto brusca.- Meu sobrinho é um rapaz honrado. E não é pelo fato de ter sido tolo o suficiente para fugir para Kioto com sua irmã que vai fazer algo para manchar a honra da moça. Afinal, ela não é nenhuma herdeira rica, nem ele é um caça-dotes.

A emenda apresentada por lorde Hashimoto na Casa dos Lordes tornara bem mais difícil para homens inescrupulosos seduzirem moças de grande fortuna. E, agora, poucos se aventuravam a seguir até Kioto, onde mulheres de menor idade ainda podiam casar-se sem o consentimento de suas famílias. E a maior parte dos que o faziam acabavam por desonrar a garota durante a viagem, para que o casamento acabasse sendo inevitável.

Shoran olhou para Sakura, preocupado. Uma idéia surgira-lhe na mente e o deixava irritado.

-Está querendo acusar minha irmã de perseguir seu sobrinho por causa do dinheiro que ele tem?

-Bem, ela não seria a primeira...

Sakura arrependeu-se do que dissera assim que as palavras soaram, mas já era tarde para recupera-las. Fuutie podia ser atirada e imprudente, mas era também carinhosa e franca. Muito diferente das garotas interesseiras que haviam investido contra Hideki nas ultimas temporadas que ele e Sakura haviam passado em Tomoeda.

E, se Sakura e Shoran encontrassem os dois namorados na hospedaria, como ela estava certa de que aconteceria, talvez nunca mais o visse. E, se pudessem brigar antes de se separarem, se sua despedida fosse cheia de magoa e rancor, talvez fosse melhor para ambos, avaliava. Mas temia aquele olhar de dignidade ultrajada que cia em Shoran. Ainda mais porque aqueles olhos castanhos, magoados, a perseguiriam todas as noites de sua vida, por mais distante que ela estivesse.

-Poderia ficar surpresa com a quantidade de homens e mulheres que formam casais felizes, sem preocupações quanto ao dinheiro, senhora- disse Shoran, muito serio. Poderia jogar suas palavras contra ela, numa acusação fria, mas preferia manter a calma, deixando Sakura mais embaraçada com isso.

E a resposta dela veio rápida e cáustica, antes mesmo que pudesse controla-la:

-Quando não há uma fortuna envolvida no caso, talvez.

Shoran não demonstrou seus sentimentos, manteve-se fleumático como sempre. Mas alguma coisa no brilho de seus olhos mostrou a Sakura que ela acabava de perder mais pontos diante dele.

Nesse momento, o jovem criado que acompanhava o cocheiro abriu a porta da carruagem. Tirou o chapéu e colocou-o junto ao peito, em sinal de respeito, enquanto observava Shoran preparar-se para descer.

-Vamos acabar logo com isso.- disse ele, em tom baixo.

-Com certeza- Sakura concordou, não querendo perder a pose. Deixou que ele a ajudasse a apear, sabendo que aquele toque em sua mão poderia ser o último.

Soltou-se, virou-se para a entrada da hospedaria e seguiu para lá, sem esperar para ver a reação de Shoran.

Ele que a seguisse, se quisesse.

Havia alguns hospedes no saguão de entrada e eles pareciam estar se preparando para partir. Sakura prestou atenção para ver algum sinal de Hideki ou de Fuutie entre aquelas pessoas, mas não os encontrou.

Reconheceu a esposa do dono do estabelecimento, que passava por entre os hospedes que iriam embora, levando uma bandeja com o desjejum de outros, que ela serviria no quarto, com certeza, pois se dirigia as escadas.

A bandeja estava coberta por um guardanapo e Sakura imaginou que tipo de comida haveria ali. Seu sobrinho insistia em comer ovos e peixe todas as manhas, dizendo que esse era o tipo de alimentação estimulava seu raciocínio. Mais uma vez indagara-se de que maneira um cientista como Hideki poderia ter se deixado enfeitiçar por uma criaturinha como Fuutie Li. Fosse como fosse, ele precisava recuperar seu bom senso, avaliou, mesmo que tivesse de ameaçar deserda-lo.

O dono da hospedaria apareceu, entao, por trás do balcão, trazendo as contas dos hospedes que partiam. E, assim que percebeu a presença de Sakura no saguão, deixou-os para que averiguassem as contas e seguiu em direção a ela. Curvou-se exageradamente diante de Sakura e exclamou, sorridente:

-Lady Kinomoto! Mas que grande prazer tornar a recebe-la aqui! Imaginamos que ainda ficaria algumas semanas em Tomoeda. Eu lamento, mas o quarto que costuma ocupar estará tomado até depois de amanha. Porem, é claro, poderemos acomoda-la muito bem até, mesmo assim. Na verdade avisei ao sr. Kinomoto ontem a noite, assim que chegou, que também a presença dele, embora surpreendente, era muito bem vinda em nosso estabelecimento.

-Ah, entao ele está aqui!- Sakura exclamou, aliviada. Tinha vontade de abraçar o militar reformado e dar-lhe um beijo ali mesmo, diante de todos, tamanha era sua alegria por saber que sua busca tivera sucesso mais cedo do que esperava.- Se puder, por favor, levar-nos até os aposentos em que ele se encontra... Tenho um assunto urgente a tratar com meu sobrinho.

O sorriso do homem diminuiu um pouco.

-Mas... deve haver algum engano, entao, senhora. O sr. Kinomoto e sua jovem noiva jantaram aqui ontem a noite, porem partiram logo em seguida para Wakani.

Logo atrás de si, Sakura sentia a presença de Shoran, que chegara a murmurar algo quando o hospedeiro dissera a palavra "noiva". Mas, agora, ele se mantinha calado.

-Wakani?- ela repetiu.- Tem certeza?

-Absoluta, senhora. O Sr. Kinomoto foi bem claro quanto a isso. Eu pensei que a hora era muito adiantada para que eles seguissem viagem. Cheguei a dizer-lhes que talvez fosse difícil encontrarem alojamentos em Wakani, pois era muito tarde.- O homem olhou para seus outros hospedes, que pareciam impacientes com a demora.- Por favor, queira me desculpar, senhora, mas preciso atender aquela gente.

-Claro, claro...

Assim que ele se afastou, Sakura voltou-se para Shoran.

-Porque ele estaria com tanta pressa?- indagou, contrariada.- Sempre paramos aqui quando estamos seguindo para Yokohama.

-Parece-me que o motivo é bastante óbvio, não?- Shoran rebateu.- Estão ansiosos para chegarem a Kioto o quanto antes. Alem do mais, seu sobrinho é esperto, deve ter imaginado que, se você viesse atrás dele , este seria o primeiro lugar em que pararia.

Sakura respirou fundo. Ele estava visivelmente calmo e controlado, enquanto ela sentia que o chão lhe fugia sob os pés. Contava em encontrar Hideki ali e acabar com aquela perseguição o mais rápido possível!

-Se continuarmos a viagem, poderemos chegar a Wakani antes que saiam de lá?- perguntou, ansiosa.

-Bem, são mais de trinta quilômetros... E com a feira de rua para nos atrapalhar... Vamos chegar apenas por volta o meio dia.

Sakura se impacientava. Se pudesse por as mãos em Hideki e Fuutie, poderia estrangula-los por lhe causarem tantos problemas. A ultima coisa de que precisava no momento era continuar perseguindo-os pelo país.

-Alem do mais- Shoran acrescentou, pensativo, apontando para a janela por onde Sakura podia divisar sua carruagem.- não podemos simplesmente entrar na carruagem e seguir viagem. Precisamos de cavalos descansados e alimentados, e seu pobre cocheiro e o coitado do rapaz precisam descansar. E temos o problema do bandido. Precisamos dar queixa do que aconteceu.

O mundo inteiro parecia estar conspirando contra ela, Sakura analisou Sakura, aborrecida. Sentiu as mãos suadas e o estomago revirando. Não tivesse ficado tão nauseada na noite anterior, ficaria agora, ali diante de todas aquelas pessoas. Pior ainda: diante de Shoran Li!

Seria bem-feito para ela se a deixasse ali mesmo, Shoran dizia a si. Com o que ganhara no jogo da noite anterior, poderia continuar perseguindo Hideki Kinomoto e Fuutie sozinho, deixando Sakura para trás. Mas aquelas doces horas, depois que a defendera do bandido ainda estavam em sua memória, mesmo tendo ela deixado bem claro, depois, que não queria seus conselhos, sua ajuda ou sua companhia. Entao, analisava, porque não a deixava e seguia seu caminho? Lady Kinomoto que cuidasse de si mesma! Qualquer homem racional agiria assim.

Até o momento, porem, ele sempre se vangloriara de ser um homem racional. Mas conhecera Sakura, perdera-se na beleza de seus incomparáveis olhos verdes, e sua vida estava perdida...

Prestou mais atenção a esse mesmos olhos verdes e notou-os opacos; na verdade, Sakura estava com uma aparência muito deprimida.

-O que houve, minha cara?- perguntou.- Não me parece bem.

-E você ainda tem que aprender muito sobre ser um cavalheiro, sr. Li!- ela rebateu, subitamente ríspida.- É claro que não pareço bem! como queria que eu estivesse?! Fui acordada no meio da noite com seus gritos, levada a fazer uma viagem no meio da madrugada! Fui atacada por um salteador de estrada! E agora estou diante da possibilidade de perseguir meu sobrinho pela metade do país! Eu, provavelmente quebraria um espelho se olhasse para um no estado em que me encontro.

Os outros hospedes estavam lançando olhares inquisitivos e curiosos para eles agora. Shoran detestava ser objeto de curiosidade. Puxou Sakura para um local mais discreto, pouco abaixo das escadas e explicou:

-Eu não disse que a sua aparência estava ruim, e você sabe muito bem disso. Está linda como sempre. Mas é que...me parece...doente.

Ela se preparava para rebater novamente, porem Shoran ergueu as mãos, num gesto de defesa e rendição:

-Está bem, admito que tem todo o direito de sentir-se doente pelo que vem acontecendo nas ultimas horas. Mas não diga nada agora, apenas ouça o que tenho a dizer: você precisa de descanso e de comida, bem como seus criados e os cavalos. Vou cuidar disso com o hospedeiro. Entao, enquanto estiver se recuperando da viagem desta noite, vou cuidar para que alguém cuide daquele fora-da-lei.

Sakura esperou até que Shoran terminasse, para depois perguntar:

-E o que propõe que façamos depois?

-Bem... vamos ter que conversar. Para decidirmos nosso próximo passo.

-Está bem, então.

Ele estava surpreso por ter conseguido convence-la tão facilmente.

-Tem certeza?

Mais uma vez, os olhos dela lançaram chispas verdes de irritação em sua direção.

-Mas que tipo de pergunta é essa?! Acha que me oponho a você por... diversão?

-Mas, claro que não!- Shoran mentiu.- Eu só quis dizer que... bem, não importa.- O que poderia dizer que não o metesse ainda num problema maior?

Os hospedes, tendo pago suas contas, partiram com um certo burburinho, o que chamou a tenção de Sakura, desviando-a da conversa, para alivio de Shoran.

Assim que o saguão ficou vazio, ele se aproximou do hospedeiro e explicou:

-Vamos ter de seguir viagem antes do anoitecer, mas, nesse meio tempo, lady Kinomoto, seu cocheiro e o criado que o acompanha precisarão de acomodações para poderem descansar.

Os olhos do homem brilharam.

-É sempre um prazer abrigar lady Kinomoto, senhor!

-Ah, e os cavalos também precisam de cuidados.

-Providenciarei para que os rapazes do estábulo dêem um tratamento todo especial a eles, fique tranquilo, senhor...

-Li. Shoran Li. – Shoran não gostou muito da forma com que o homem olhava. – Sou um velho amigo da família de lady Kinomoto. A... noiva do sobrinho dela é minha irmã.

-Ah, de fato, senhor? –O rosto do hospedeiro se iluminou, como sempre acontecia quando as pessoas falavam de Fuutie. –Ela é uma criatura adorável! Não, imagino como um rapaz calado e sisudo como o sr. Hideki Kinomoto conseguiu ficar noivo de alguém tão cheia de vida, mas eu sei que o amor é freqüentemente cheio de contrastes, não é mesmo?

-Acredito que sim –Shoran concordou, imaginando se era assim também em relação aos sentimentos intensos e profundos que ele tinha por Sakura.

-A propósito, minha irmã ou o sr. Kinomoto mencionaram algo sobre o local onde se hospedariam assim que chegassem a Wakani?

-Para falar a verdade, senhor, eles me perguntaram se eu poderia aconselhar um local em que fossem vem recebidos tão tarde da noite.

-E o senhor fez? –Shoran esforçava-se para não parecer tão desesperadamente interessado nas informações quanto estava de fato.

-Bem, minha esposa tem um primo que possui uma taverna na parte antiga da cidade, entre as hospedarias das estradas que ligam Tóquio a Kioto. Eu disse ao sr. Kinomoto que seria fácil ele e sua noiva encontrarem acomodações por lá, mesmo que chegassem muito tarde.

-Bem, obrigado por te-los aconselhado.- Shoran retirou uma moeda do bolso e ofereceu ao hospedeiro, que fez uma pequena cena para não aceita-la, até que a enfiou rapidamente no bolso da calça, dizendo:

-Vou cuidar imediatamente das acomodações de lady Kinomoto e seus criados, senhor.

-Ah, mais uma coisa!- Shoran pediu.

-Pois não, senhor.

Tivemos um pequeno problema a caminho daqui... um salteador.

-Oh, não me diga, senhor!- Os olhos do hospedeiro se arregalaram.- Espero que ninguém tenha ficado ferido! Esse bandido tem causado sérios problemas durante toda a primavera! O senhor não é o primeiro hospede que reclama de suas atividades.

-Espero ser o último, entao.- Shoran assentiu em direção a porta.- Trouxemos o infeliz conosco, para apresenta-lo as autoridades locais. Onde posso leva-lo?

-Bem, eu o levaria a Sami, sr. Li.- O hospedeiro apontou para uma direção que, para Shoran, pareceu ser noroeste.- Vão cuidar dele lá e acho que ficarão muito agradecidos ao senhor entrega-lo.

O hospedeiro se afastou para tomar as providencias quanto a acomodação de seus novos hospedes, e Shoran voltou para junto de Sakura, que se acomodara numa cadeira próxima. Novata, mais uma vez, o estado deplorável em que ela se encontrava, parecendo-lhe mais abatida do que deveria estar. Mas cuidou para nada dizer e não acender novamente a irritação dela. Culpado, imaginava que Sakura poderia ter dormido bem melhor se tivesse se deitado no banco oposto, em vez de ter ficado em seus braços. Ajoelhou-se diante dela e tomou-lhe uma das mãos. Senti-a mais quente do que minutos antes, mas não muito.

-O hospedeiro me disse que poderão cuidar do bandido em Sami. Vai ficar bem até eu voltar de lá?

-É claro que sim.- Ela se endireitou na cadeira. Não preciso de babá. Por mim, poderia levar aquela criatura asquerosa até Tókio, se quisesse. Posso cuidar muito bem de mim mesma.

Shoran assentiu de leve. Ela era, de fato, inquebrantável e teimosa. E desprezava seus cuidados como se ele não tivesse papel mais importante em sua vida do que o cocheiro ou o criado que trouxera. Levantou-se, um tanto irritado com a idéia, e indagou com ironia:

-Tão bem quanto ficou a noite passada, na carruagem?

Sakura fuzilou-o com o olhar.

-Ah, entao agora seria o momento apropriado para a repreensão que esteve guardando desde ontem á noite!- replicou.- Imagino que não deva estar menos amarga, agora, no desjejum...

Shoran jamais vira esse lado desagradável do temperamento de Sakura. Engoliu seco, repreendendo-se interiormente por ter se deixado envolver por ela, pela paixão que lhe despertava. Qualquer homem de com senso devia ter imaginado que uma rosa tão vibrante e linda devia ter grandes espinhos... E, agora, estava sentindo a dor que eles provocavam.

-Ontem a noite, você bem que merecia uma reprimenda- concordou.- Tentei mostrar certa compreensão, imaginando que já tivesse aprendido a lição de forma mais dura do que qualquer das minhas palavras poderia ensinar-lhe.

Sakura levantou-se, indignada com a audácia daquelas palavras.

-Você é bem presunçoso! Como ousa repreender-me como se eu fosse uma de suas irmãs?!

-Minhas irmãs têm muito mais res...- Ele se interrompeu, sabendo que não deveria chamar atenção sobre ambos, ainda mais porque agora outros hospedes desciam para o saguão. Baixou a voz, porem sua irritação ainda era evidente.- Podemos continuar esta discussão em particular quando eu voltar de Sami. Nesse ínterim, sugiro que coma algo e descanse.

-Eu já lhe disse que sou capaz de cuidar de mim mesma.

Se ficasse ali mais alguns segundo, a teimosia dela o forçaria a agarra-la pelos ombros e dar-lhe umas boas sacudidelas. Pior ainda: a animosidade entre ambos poderia leva-lo a toma-la em seus braços e dar-lhe um beijo tão feroz e intenso que causaria espanto aos outros hospedes, para depois virar folclore nas historias que se contassem sobre incidentes acontecidos na hospedaria.

Conforme Shoran se afastava, Sakura tentava controlar as emoções que a tomavam. Como pudera leva-lo para a sua cama tantas noites sem conhecer de fato a real natureza de seu caráter? Imaginara-o quieto, gentil, suave, e não o tipo de homem que ordena e exige mais do que ela poderia dar. Fora por isso que o preferia entre outros candidatos a serem seus amantes. Como poderia imaginar que o temperamento sutil e calado do sr. Li mascarasse um caráter forte que a fazia irritar-se mais e mais a cada minuto?!

Detestava ser manipulada! Talvez algum bem viesse, afinal, da fuga de Hideki com Fuutie, imaginou. A loucura de seu sobrinho a fizera ver aspectos do comportamento de Shoran que ignorava por completo. Agora podia ver-se livre dele sem nenhum constrangimento ou contrição.

Sakura endireitou-se ainda mais na cadeira, olhou pela janela e observou o assaltante que a atacara na noite anterior. Agora que o via a luz do dia, percebia que não passava de um pobre rapaz. Mas ele a assustara um bocado! O bandido encontrava-se com as mãos amarradas e presas a sela do cavalo que montava. E parecia estar implorando a Shoran para que não o entregasse as autoridades.

Mesmo sem querer, Sakura acabou sentindo pena. O rapaz, com certeza, seria enforcado por seus crimes, provavelmente cometido por impulsos da juventude dos quais ele não pensara nas conseqüências. Exatamente o tipo de impulso que a levara ao altar com Percy Kinomoto.

Pelo menos ela sobrevivera a seu erro e aprendera com ele. Sakura forçou-se a desviar o olhar e percebeu que o hospedeiro se aproximava.

-Já temos um quarto pronto para a senhora, lady Kinomoto.- ele informou, indicando-lhe a escada.- Não é um primor como eu gostaria que fosse, porque sei quanto gosta daqui, mas é um cômodo tranquilo nos fundos da casa. Se pretende descansar, não será de forma alguma perturbada com ruídos vindos da rua.

-Obrigada, senhor.- Ela abafou um bocejo.- Acho que preciso de fato dormir um pouco.

Mesmo antes de partir de Tomoeda, Sakura não tivera um bom dia e agora mal podia manter os olhos abertos, de tão cansada que se sentia.

-Um cavalheiro muito agradável, esse sr. Li- comentou o hospedeiro, enquanto acompanhava Sakura até o quarto.- Imagino que, com certeza, ficara satisfeita por recebe-lo em sua família.

-Família?!- ela estranhou. Seriam seus sentimentos por Shoran assim tão transparentes?, imaginou, perturbada.

-Sim, com o casamento de seu sobrinho e a irmã do sr. Li...- O homem sorriu, tentando parecer gentil e agradável.- A senhora e o sr. Li engendraram a união dos dois?

Sakura conteve a vontade de rir.

-Não, não. Muito ao contrario, senhor.

O hospedeiro pareceu não entender o que ela dizia.

-Ah, entao eles vão se casar por amor. Olhe, nem posso dizer que esteja surpreso com isso, sabe? Afinal, a moça me pareceu bastante afetuosa para com seu sobrinho, prestando absoluta atenção a cada palavra dele.

Como ela, um dia, prestara atenção a cada respiração de Percy, Sakura pensou, aborrecida. Ainda uma vez avaliou o que poderia ter atraído a vivaz srta. Li para seu calado sobrinho Hideki, a não ser a fortuna que ele possuía.

Chegaram ao quarto, o ultimo do longo corredor, e o hospedeiro abriu a porta e virou-se, sorridente.

-Aqui estamos! Quer que eu mande minha senhora preparar um bom desjejum?

Sakura sentia o estomago revirar só de pensar em comer. Ainda mais porque o cheiro da comida já preparada para outros hospedes parecia estar por toda parte.

-Apenas chá e torradas, por favor- pediu.- Não costumo dormir bem quando como muito.

-Chá e torradas, entao. Muito bem.- O hospedeiro sorriu.- Minha esposa vivia comendo apenas isso quando estava grávida, sabe? Não suportava bem o cheiro nem o gosto de mais nada.

Quando percebeu o que acabara de dizer, o pobre homem ficou mais vermelho do que uma beterraba.

-Chá e torradas- repetiu, sem graça.- Chá e torradas. Vou manda prepara-los de imediato, senhora. Ah, e não deixe de tocar a sineta se precisar de algo.

-Tenho certeza de que estarei bem confortável- Sakura assegurou.- Como sempre, alias.- E entrou no quarto, pensando aflita: Ele não quis dizer nada alem do que falou. Não poderia ter desconfiado...

Era estranho. Sabia que o homem não poderia ter desconfiado de nada. Era ridículo pensar que pudesse, mas a observação que ele fizera, de alguma forma fizera-a sentir seu estado como mais real, mais palpável. Seu filho crescia em seu ventre. A criança pela qual esperava tanto tempo e que desejara tanto. De certa forma, analisava, era bem melhor estar grávida agora do que ter tido um filho de Percy, por esse bebê não traria consigo toda a carga de ambição e mau caráter da família de Percy. E seria seu. Apenas seu. Uma criança que ela criaria com amor e carinho.

Podia esquecer tudo que lhe acontecera nos últimos dias, as emoções fortes que vivera, intensas e contrárias, porque agora imaginava-se brincando com seu filhinho. Poderia, finalmente, sentir toda a alegria de ser mãe. Poderia olhar para a sua carinha lindo e... e ver os belos, intensos, castanhos olhos de Shoran Li ali refletidos.

Oi Gente!!!!!!!!!!!!

Eu sei q vcs já devem estar cansados d ouvir isso, mas, desculpa a demora. 1000000 desculpas, eu estou muito ocupada estes dias..... Bem, espero q tenham gostado desse capitulo. O outro eu estou pensando em fazer um pouco menor, mas ainda não sei. Muito obrigada pelas reviews, gente

Beijos

Warina -