Capítulo IX
-Esposa?- Shoran perguntou, ainda surpreso diante da palavra.- O que mais aconteceu enquanto eu estava inconsciente?
Sakura sorriu, vendo-o, afinal de contas, são e salvo. O grande alivio que sentia deixava-a mais a vontade agora, pois quando o medico estivera no quarto tentara mostrar-se firme, mais sóbria. E, agora, a idéia de Shoran de que podiam ter se casado enquanto estava inconsciente fazia-a ter vontade de rir. Deixou a caneca que ele lhe entregara sobre a mesinha de cabeceira e sentou-se a seu lado, rindo. Não entendia porque ele fingia tamanha surpresa, ou, ate mesmo, desagradado pela idéia de te-la como esposa.
-Devo lembra-lo de que estamos ainda muito longe de Kioto?- disse, olhando-o com carinho.- Só lá eu poderia arrasta-lo, sem sentidos, diante de um pastor, tendo meu cocheiro a segura-lo para que parecesse estar disposto a se casar comigo.- A cena pareceu-lhe, de repente, tão engraçada que riu ainda mais.
-Bem, mas o medico disse que você era a minha esposa...
-Porque foi essa a explicação que eu lhe dei, nada mais. Afinal, esta hospedaria tinha apenas um quarto desocupado e pareceu-me obvio que você precisaria de alguém que cuidasse do seu estado durante a noite. E, como não queria que houvesse comentários desagradáveis sobre nós, menti.
-Podia ter dito que era minha irmã...
A observação eliminou qualquer resquício de alegria no rosto de Sakura.
-É... suponho que sim- concordou, por fim.- Mas nem pensei nisso.
Como não tinha mais irmãos, a idéia, de fato, nem lhe passara pela cabeça. Alem do mais, não conseguia imaginar-se tendo um relacionamento assim tão casto com Shoran.
-E acho que você não deve ficar questionando minha atitude num momento de crise- acrescentou, sentindo-se irritada com tudo aquilo.- Está vivo, não está?
-Parece-me que sim...
-Está bem alerta, pelo menos, embora eu ache que ainda não recobrou totalmente a razão. Não tem ferimentos que alguns dias de descanso não curem. Meus criados e eu fomos de grande ajuda, sabia? Mas pensa em me agradecer? Não, claro que não... Muito ao contraria. Você está ate querendo sair da cama e arriscar ainda mais seu restabelecimento para ir correndo atrás de sua irmã e do meu sobrinho. E, alem do mais, reclama só por eu ter inventado que sou sua esposa para podermos ter uma estada tranqüila aqui!
-Desculpe-me- disse ele, por fim, vendo que, mais uma vez, era inútil discutir com Sakura.- Não quis parecer ingrato. Fiquei surpreso com essa historia de você ser minha esposa, nada mais. Enquanto a minha irmã, quero apenas encontra-la enquanto a tempo. Não está, também, ansiosa por reencontrar seu sobrinho e faze-lo enxergar o erro que está cometendo?
-É claro que sim, mas...- Ela hesitou. Estava, na verdade, muito mais preocupada com a saúde de Shoran do que com Hideki, o que era uma tolice, analisava, já que teria de cortar todos os laços que a uniam a ele.
-É claro- Shoran repetiu suas palavras estendendo a mão, e, por alguns suaves momentos, Sakura chegou a pensar que ele a estivesse convidando a partilhar sua cama.- Agora, seja uma boa esposa e pegue aquelas roupas para o seu pobre marido ferido.
-Bem, eu gostaria de poder- Sakura respondeu, não sem uma ponta de satisfação-, mas você caiu no rio, lembra-se? Suas roupas ficaram encharcadas e geladas. Nem sei como você não congelou dentro delas. Nem sei como você estaria gora se não o tivéssemos despido assim que chegamos aqui.
Shoran lançou-lhe um olhar serio, que ela entendeu de imediato e explicou:
-Sim, nós o despimos. Eu e Tsuki, enquanto Himura ia buscar o medico. E, como a maioria dos criados, Tsuki tem muita experiência em ajudar um cavalheiro a despir-se, pois trabalhou com mais de um até hoje.- Sakura apontou para a lareira que, da cama, Shoran não conseguia ver.- Suas roupas estão secando diante do fogo, mas ainda estão muito molhadas. Acho que só estarão boas para serem vestidas pela manha.
-Não me importo que estejam molhadas- Shoran teimou. Fez menção de sair da cama, exigindo:- Traga-as para mim.
-Não!- Sakura deu um passo para trás quando ele afastou a cobertas, expondo-se diante de seus olhos.- Você vai acabar se matando se sair numa noite fria vestido com roupas molhadas!
A expressão de Shoran estava mudada, deixava de ser afável como sempre e adquiria um ar de hostilidade que ela desconhecia.
-Muito bem. Entao, eu mesmo vou pega-las!- decidiu.
Sakura colocou-se entre ele e a lareira.
-Se der um passo em direção a lareira, eu jogo suas roupas no fogo!- ameaçou.
-Mas o que deu em você, Sakura?!- Uma careta de dor apareceu no rosto de Shoran quando se levantou.- Não é minha mãe! Nem mesmo quer mais ser minha amante! Portanto pare de agir assim!
Shoran ameaçou dar um passo, mas a força de suas pernas pareciam não ser compatíveis com a de sua vontade. Praticamente caiu sobre Sakura, que teve grande dificuldade em leva-lo de volta para cama, onde acabou por cair por cima dele.
E toda a indignação que se forçara a mostrar ate entao desapareceu como por encanto. Uma sensação deliciosa apoderou-se de seu corpo quando sentiu seu peito junto ao de Shoran. O desespero que a tomara quando vira seus criados tirando o corpo inerte de Shoran do rio agora desaparecia por completo, porque ele estava ali, junto dela, quente como sempre, vivo! Poderia afastar-se, mas adorava ficar assim, sentindo-o por completo, percebendo que ele a desejava mais ainda, talvez como nunca.
Quem sabe estivesse agindo errado o tempo todo, pensou por uma fração de segundos. Talvez, em vez de querer forçar Shoran a permanecer na cama, fosse melhor e mais fácil seduzi-lo para ele ficar.
Entao acariciou-lhe o rosto e sussurrou:
-Gostaria que eu voltasse a ser sua amante? Pelo menos por uma noite?- Sua voz fraquejava, não por causa do desejo, mas porque um temor absurdo a afligia no momento: e se Shoran agora a recusasse?
Ele ainda não acreditava no que acabara de ouvir. E, mesmo que aquilo fosse verdade, que Sakura o estivesse querendo, poderia arriscar o futuro de sua irmã permanecendo ali, com ela, e deixando que Fuutie e Hideki ficassem a vontade para agir como quisessem?
-É claro que sim- respondeu, também sussurrando.- Parece-me obvio que sim, não? O que não consigo entender é porque, de repente, você não se importa mais se minha irmã e seu sobrinho possam fugir de nós, já que estão tão perto.
-Não quero que eles escapem- Sakura explicou, com certa culpa no coração.- Mas também não quero que você arrisque para impedir que meu sobrinho cometa um erro.
Shoran encarou-a, sentido-se incrivelmente tentado em beija-la. Estaria tão errado em colocar seu desejo antes de sua obrigação para com os outros?, avaliava. Ao menos por uma vez?
Sem sair da posição em que se encontrava, ela propôs:
-E se eu pedisse aos meus criados para verificarem as hospedarias da região? Quando localizarem Hideki e Fuutie, poderão ficar vigiando e, ao amanhecer, eles os trarão aqui.
Aquelas palavras tentavam-no quase tanto quanto as curvas macias do corpo de Sakura junto ao seu. E aqueles intensos olhos verdes, brilhando, ansiosos por sua resposta, excitavam-no.
-Se eu falar com os meus criados e eles fizerem o que eu disse, promete ficar na cama sem tentar sair por aí no meio da noite?- ela insistiu.
-Ficar na cama... com você?
-Sim. Comigo.
Shoran ergueu um pouco o rosto e deu-lhe um longo beijo. Aquele que vinha querendo dar-lhe desde que a reencontrara. Um beijo com toda a força e a saudade de seu amor.
-Está bem, lady Kinomoto. Temos um acordo, entao- sussurrou logo em seguida, ainda muito próximo dos lábios dela.- E depois tornou a beija-la, agora com uma paixão ardente que os fez se esquecer de tudo mais.
Shoran sentia uma certa mudança em seu relacionamento com Sakura. Era como se, desde que se tinham tornado amantes, ele a tivesse fazendo o grande favor de se entregar. Mas, esta noite, sentia que ela estava sendo, de alguma forma, subjugada pela força de seu amor.
-Porque não vai falar com seus criados logo, antes que eles se recolham?- sugeriu, entre beijos.
-Claro...-Sakura parecia estar tão zonza quanto ele quando despertara de sua inconsciência. E, ao levantar-se para ir fazer o que ele dissera, sentiu que suas pernas fraquejavam. Foi ate a lareira e ouviu Shoran estranhar:
-O que está fazendo?
-Vou levar suas roupas comigo, para garantir que você não vai vesti-las e sair enquanto falo com Tsuki e com Himura.
Shoran sorriu, enfiando-se embaixo das cobertas novamente.
-Parece que a minha palavra de cavalheiro já não é suficiente para convence-la, lady Kinomoto.- Observou.
-Pois eu suspeito que, por baixo de todo esse cavalheirismo e de toda essa honra, meu querido, você deva ter uma centelha de canalhice, sabia? E não pretendo arriscar nada. Quero ter certeza de que estará aqui quando eu voltar.
-Entao, juro que não vou me mover mais do que o suficiente para alcançar a bandeja.
-Ótimo. É melhor mesmo comer algo.- E, sorrindo com malicia, acrescentou:- Para manter as forças...
-É? Entao, é melhor ir logo falar com seus criados, ou vou puxa-la para esta cama e faze-la esquecer por completo dos dois malucos que nos fizeram começar essa viagem.
Sakura sorriu e foi ate a porta. Já a abria quando ouviu:
-Não demore mais do que o necessário, Sakura.
-Nem um segundo a mais. Eu prometo!
Depois de avisar os criados sobre o que queria que fizessem, Sakura subiu as escadas dos fundos, ansiosa por voltar ao quarto. A idéia de que Shoran a estava esperando, sob as cobertas, a aquecia de desejo. Algo mais a apressava também, embora não quisesse admiti-lo para si mesma. Eram as duvidas e incertezas sobre o que estava prestes a fazer. Sabia muito bem que reatar aquele romance só traria mais dor para ambos quando tivessem de se separar novamente. E ela sabia que ficaria melhor do que ele, porque, afinal, teria seu filho para consolar a tristeza e a solidão. Shoran nada teria...
-Sra. Li?- chamou uma mulher atras de Sakura, fazendo-a voltar-se de pronto.- A senhora e seu marido precisam de mais alguma coisa?
"Seu marido". A camareira a chamara pelo sobrenome de Shoran... Sakura sentiu o coração se acelerar. Toda a amargura e traição que haviam ficado como lembranças de seu casamento eram um vívido contraste em relação ao que havia agora em seu relacionamento com Shoran.
-Não obrigado. Temos tudo o que precisamos- respondeu com um sorriso.
-Não quer que as roupas do cavalheiro sejam lavadas?
Sakura dava-se conta de que segurava as roupas dele.
-Oh, ... não, não... Obrigada. É que... notei que um botão estava frouxo e... levei a calça de meu marido para que o nosso criado o costurasse de volta no lugar. Sabe, ele foi aprendiz de alfaiate e sabe muito bem lidar com uma agulha...- A explicação parecia-lhe excessiva, mas a mentira era o que a provocava. Se continuasse assim, admirou-se, acabaria contando ainda mais mentiras do que lhe tinham contado a vida toda.
-Muito bem, então, senhora. Se precisarem de alguma coisa, é só tocar a sineta. Espero que passem uma noite agradável aqui.
-Ah, tenho certeza de que passaremos.- Pelo menos isso era verdade, Sakura ponderou. E seguiu pelo corredor com passos calculados, para não levantar suspeitas quanto a sua pressa por regressar.
Ao entrar no quarto, encontrou-o iluminado apenas pela claridade vinda da lareira.
-Quando lhe pedi para que voltasse logo, não quis dizer que deveria correr o tempo todo- Shoran observou, percebendo que ela respirava fundo, cansada.
Sakura sorriu, trancou a porta e avançou para a lareira, onde tornou a pendurar as roupas.
-Não comeu nada- comentou, notando que os sanduíches ainda se encontravam no prato.
-Porque achei que seria muito mais agradável dividi-los com você. Alem do mais, minhas mãos estão um tanto trêmulas. Acharia que sou mimado se lhe pedisse que me alimentasse?- Havia um tom de malícia na voz dele que a fez sorrir outra vez.
-Muito mimado- comentou, escolhendo um lanche.- Mas eu também fui mimada ontem a noite quando me apoiei em você, na carruagem, porque estava assustada. Não vejo porque não possamos nos mimar de vez em quando.
Sakura chutou longe os sapatos e sentou-se na cama, segurando o lanche para Shoran e mordendo um pedaço de outro. Sentiu os lábios dele tocarem sua mão quando Shoran mordia outro pedaço, e isso causou-lhe um arrepio intenso por todo o corpo.
-Eles fazem bons sanduíches aqui, não acha?- comentou, tentando afastar a sensação que a sacudia mais do que poderia esperar.
O presunto era tenro e bem temperado, o pão, macia e saboroso. Mas a perspectiva de passar um noite complemente diferente com Shoran, ali, era o tempero mais delicioso de todos.
-Os melhores que já provei- ele concordou. E, com uma ultima dentada, arrebatou o resto do lanche, mordendo-lhe a mão de leve e fazendo-a rir.
-Deve estar faminto- Sakura observou, pegando mais dois sanduíches do prato. E sentou-se ao lado dele, contra os travesseiros.
Shoran achegou-se ainda mais, mas não mordeu o lanche, e sim seu pescoço, fazendo-a arrepiar-se. E seguiu beijando-a muito de leve, até que chegou a seu ouvido para sussurrar:
-Voraz...
Ela engoliu seco antes de dizer:
-Eu também...- E largou os sanduíches para poder passar os braços pelo pescoço de Shoran e buscar-lhe a boca, num ardente beijo.
E, de repente, estavam envoltos num mar de desejo que os arrastava, como já havia acontecido tantas vezes. As mãos de Shoran, acariciando-a, estavam, como ele dissera, tremulas, mas isso não parecia perturba-lo. Sentia a exigência de uma forma que jamais experimentara, e seus beijos intensos deixavam Sakura totalmente entregue.
Havia nele uma necessidade premente, uma fome que precisava ser logo saciada, mas Sakura pediu-lhe, entre beijos:
-Precisamos ir tão depressa? Temos a noite toda pela frente...
-Não, meu amor. Há uma necessidade muito maior.- Shoran, sussurrou, acariciando-a e livrando-a das ultimas peças de roupa.- Não sente também?
-Sim, mas... se nos apressarmos, tudo vai acabar tão depressa...
ele beijou-lhe os seios e riu, murmurando apenas:
-Então, minha querida, vamos Ter de recomeçar tudo... Que problema, não?
Sakura entreabriu os lábios, mas sem saber o que dizer. Nunca o vira assim tão agitado, tão ardente. Era sempre ela quem conduzia seu amor, seu desejo. Porem, essa noite, Shoran estava diferente. E a faria sentir essa diferença de todas as formas possíveis.
Oi gente!!!!!!
Desculpa a demora, eu fui viajar e fiquei longe de um computador um booooom tempo. Mas, bem, aqui tá o capitulo, espero q tenham gostado, heheh....
Obrigado pelas reviews, vcs não tem idéia o quanto isso me ajuda, então não se esqueçam de postar reviews, please...!
Vou tentar não demorar mt no próximo cap., mas não prometo nada.
Beijos
Warina -
