Capítulo X

Para Shoran, era como se, mais uma vez, tivesse voltado do mundo dos afogados para o esplendor da vida. Só que, agora, não havia dor ou pânico, e sim prazer e paixão. Permaneceu no silêncio e na escuridão do quarto por intenso, felizes momentos, que lhe pareceram poder durar para sempre, livre como jamais se lembrava ter estado. Era como se nada pudesse leva-lo de volta a consciência, exceto o doce prospecto de poder fazer amor com Sakura mais uma vez. Só, que agora, mais devagar, saboreando cada segundo, deixando que a paixão fluísse com lentidão e delícia por todas as partes de seu corpo.

Sentia os lábios dela, muito suaves, beijando-lhe o queixo, e abriu os olhos. Queria aproveitar cada instante daquela noite para embebedar-se na beleza instante daquela noite para embebedar-se na beleza inebriante de Sakura.

-Devo dizer que tem excepcionais poderes de recuperação- Sakura murmurou com um sorriso. Livrou-se das meias, que ainda usava, e voltou para os braços dele, continuando: - Quem poderia imaginar que, há menos de uma hora, mal tinha forças para segurar um sanduíche?!

Shoran sorriu e buscou-lhe os lábios, para mais um beijo ardente. Depois murmurou, junto aos lábios dela:

-Qualquer paciente teria melhoras fenomenais sob seus cuidados, minha querida. E, quanto a minha recuperação, devo dizer que você ainda não viu nada...

Sakura olhou-o, carinhosa...

-Sabe, essas palavras, vindas de qualquer outro homem, poderiam parecer presunção, mas você é a pessoas menos presunçosa que já conheci. Porem, pelo que vejo, tem muito do que se orgulhar e até do que se vangloriar, meu querido. Na verdade, todas as pessoas que o conhecem só podem falar bem ao seu respeito. Ate mesmo Eriol Hiiraguizawa, que praticamente não se da bem com ninguém.

Shoran sorriu. Muitos o respeitavam, sim, ele sabia, mas sempre fora considerado um homem sem maiores atrativos, tanto em relação as mulheres quanto em relação a suas possibilidades de ter sucesso na vida e nos negócios. Inúmeras vezes sentira os laços apertados das convenções e do decoro segurando-o, puxando-o para baixo. Conseguia livrar-se deles apenas por um breve tempo, para conceder-se aquele romance maravilhoso com Sakura, porem sabia que seria loucura tentar abandona-los por completo para seguir uma vida mais liberal. Sua natureza não era assim. Alem do mais, sem a reputação de que gozava, que identidade poderia ter na vida?

-Tambem deve sentir-se orgulhoso de suas irmãs- Sakura prosseguiu, acariciando-lhe o rosto e olhando-o, absolutamente apaixonada.- Fuutie, certa vez, me contou que você praticamente criou as duas sozinho.

-Nós nos criamos juntos- ele explicou puxando-a mais para seu peito.- Mas as duas sempre foram garotas muito especiais. E tem razão, tenho muito orgulho de ambas, embora não seja eu o responsável pelo bom caráter que elas tem.- Shoran interrompeu-se, pensou um pouco, depois, rindo, acrescentou:- Vê como sou esquisito? Que tipo de homem ficaria falando de seus irmãs enquanto está na cama com a sua magnifica amante, exatamente após Ter feito amor com ela e com serias intenções de fazer de novo?

Pela última vez. Tais palavras martelavam em sua cabeça, embora evitasse dize-las porque elas estragariam a sensação maravilhosa que estava desfrutando. Aborrecia-se consigo mesmo porque jamais era capaz de viver um momento sem pensar no passado ou preocupar-se com o futuro. E não tinha certeza de que tipo de reação esperar de Sakura. O carinho das mãos dela em seu rosto não significava uma resposta, mas era suficiente para inflamar seu desejo de novo.

-Você não é esquisito. É um homem muito especial, esto sim- murmurou ela.- E muito bondoso e gentil também. Que se preocupa com suas irmãs mais do que consigo mesmo. Eu gostaria de Ter sido criada por pessoas que fizessem o mesmo comigo.

Aquilo não era uma repreensão, Shoran compreendia, já que ela fizera tudo ao seu alcance para evitar que ele saísse em busca de Hideki e Fuutie, como pretendera. No entanto o que acabara de dizer atingia-o da mesma forma.

De fato, ao despertar de sua inconsciência, ficara alarmado, quisera agir, sair a procura da irmã, mas tal imediatismo passara. Se insistisse, Sakura jamais teria sido capaz de dete-lo ali a seu lado, porem quisera muito passar aquela ultima noite com ela e arriscara sacrificar todo o futuro de Fuutie, bem como sua felicidade, para satisfazer seus próprios desejos. Estava envergonhado por isso agora e tal sensação impedia-o de entender com precisão o que Sakura acabara de lhe dizer. Na época em que haviam estado juntos, nunca tinham se preocupado em falar sobre seus passados ,porque estavam interessados no presente, na paixão que os envolvia. O tempo que teriam seria curto demais e precisavam aproveita-lo totalmente. Agora, seu tempo era ainda menor e um interesso repentino enchia a mente de Shoran, fazendo-o querer saber mais, tudo, se possível, sobre a mulher que ele amava. Não sabia ao certo de onde ela viera, quem havia sido sua família, quais eram seus sonhos, seus maiores temores, que experiências de vida a tinham tornado tão intensa, tão fascinante.

-Que idade você tinha?- perguntou de repente, quase sem sentir, ainda acariciando os cabelos dela e sentido-lhes a maciez e a suavidade de seda.

Ela demorou a responder, o que o fez imaginar que o acordo inicial de seu romance, de absterem-se de saber sobre a vida um do outro, ainda estava em pé.

-Treze- disse Sakura, por fim, e sua voz soou triste.- Quando minha mãe morreu, e mal me lembro de meu pai. Não tive um irmão mais velho, mas ele não queria saber de mim, e meu avô estava sempre muito ocupado aumentando sua fortuna.

-Bem... poderia Ter sido pior- Shoran tentou consolá-la.- Seu avô poderia estar sempre muito ocupado perdendo quantias enormes de dinheiro, como meu pai...

-É verdade. Mas eu sempre quis ter alguém sensato ao meu lado, alguém que pudesse me consolar naquela época em que me sentia tão sozinha... Talvez eu pudesse, então, aceitar meu destino e minha sorte com mais racionalidade, entendendo que, afinal, eu tinha certos privilégios, embora outras coisas preciosas me tivessem sido tiradas.

-Sinto muito, Sakura. Não quis ser duro com você.

-Eu entendi o que quis dizer. Sei muito bem que centenas de garotas dariam qualquer coisa para poderem trocar de lugar comigo. Mas tenho certeza de que nenhuma de suas irmãs o faria.

Sakura afastou-se devagar, para não deixar que ele visse seus olhos marejados de lagrimas. Porem Shoran percebeu-as mesmo assim.

-É muito bom ter dinheiro, sim- ela comentou, sem olha-lo-, mas há muita sabedoria no velho ditado que diz que o dinheiro não compra a felicidade.

-Talvez tenha sido isso, então, que meu pai tentou fazer depois da morte de minha mãe- ele ponderou, pensativo. E, pela primeira vez desde que era ainda uma criança, conseguiu pensar em seu pai sempre ausente, sempre mais e mais desesperado, e não sentir raiva dele, muito menos ressentimento. Era estanho, mas, de alguma forma, libertador poder olhar assim para seu passado agora.

Sakura dera-lhe as costa e mantinha-se virada para o outro lado. Continuou, como se não o tivesse ouvido:

-Meu avô deixava-me aos cuidados de um numero sem conta de governantas estanhas, endurecidas, cuja única intenção era tornar-me uma moça extremamente refinada.

Shoran olhou para ela, para o contorno de seu corpo delineado na penumbra do quarto, e aproximou-se abraçando-a por trás. Apoiou a cabeça em seu ombro e comentou, malicioso:

-Fico feliz por nenhuma delas Ter conseguido.

-É, mas elas tornaram minha vida um inferno enquanto tentavam. Com todas aquelas repreensões, aqueles sermões infindáveis, aqueles castigos...- Havia amargura em sua voz, e Shoran sentiu pena da criança alegre, cheia de vida, que haviam tentado acabrunhar dentro dela. Sakura continuou, aceitando o abraço:- Embora sua irmã não seja o tipo de esposa de que Hideki necessita, sua vivacidade é encantadora. Imagino que você tenha se sentido tentado a mante-la dentro de certos limites, impondo-lhe restrições as vezes, para torna-la mais respeitável mas jamais coloca-lo em uma situação embaraçosa.

-É... as vezes- Shoran admitiu.- Mas devo dizer que não me esforcei muito. Na verdade, sempre adorei a exuberância no caráter de Fuutie; quase cheguei a inveja-la. Talvez eu tenha, bem no fundo, um pouquinho da sua audácia. Quem sabe? Por exemplo...- Ele apertou Sakura contra si.- Imagino o que os meus respeitáveis conhecidos diriam se me vissem aqui, agora, com você.

-Ah, com certeza haveria assunto para fofocas durante um bom tempo- ela concordou. E, voltando-se, aceitou o beijo que estava pronto para lhe dar.

Shoran sorriu durante o beijo. Reconhecia que nenhuma mulher poderia ser tão sua, estar tão de acordo com suas atitudes quanto Sakura, e isso lhe agradava profundamente. Nenhuma mulher tinha, também, inflamado seu desejo dessa forma, ou feito com que seu coração batesse tão depressa, absolutamente apaixonado.

-Imagino, então, que seja nossa obrigação criar algo mais para que tenham do que falar- sugeriu, ardente, junto aos lábios dela.

-Com certeza, meu amor- Sakura concordou, entreabrindo os lábios para seduzi-lo com mais um beijo alucinante.

Poderia ser apenas força de expressão, afinal estavam vivendo um momento quente, carregado de paixão, mas as palavras "meu amor" reverberavam na mente de Shoran e o faziam pensar.

-Voce tem muito mais imaginação do que eu- sussurrou.- O que sugere que façamos para as fofocas serem ainda mais apimentadas?

-O que você acha disto?- Ela o empurrou de leve para trás, fazendo-o deitar-se. Depois, ousada, sentou-se sobre seu corpo, tomando para sí as rédeas do amor que fariam em seguida. Tinha habilidade, talento e vontade suficiente para mostrar a ele que poderiam, ambos, ir até o ápice da paixão e do prazer juntos, devagar, muito devagar, para fazer durar ainda mais o tempo de que dispunham. Seria, de fato, sua amante, fazendo-o delirar de desejo, querer sempre mais e mais, até poder satisfaze-lo, e a si mesma, por completo.

Shoran sabia que depois seroa ainda mais difícil poder separar-se dela. A manha chagaria e os encontraria abraçados, e seria terrível para ele Ter de deixa-la ir, sair de sua cama, de sua vida... Desde o momento em que se tinham conhecido, e depois, quando ela o desafiara a ser seu amante, passara a admira-la, admirar seu gosto pela vida e seu desprezo pelas normas rígidas da sociedade em que viviam. Assim, ela era quase seu oposto e, embora isso o preocupasse as vezes, estar com Sakura fazia-o sentir-se completo como jamais se sentira.

O fato de saber que a perderia era terrível e fazia-o pensar num dia em que o sol simplesmente desaparecesse da face da Terra. A vida cessaria totalmente, como a sua sem Sakura. Havia tantos obstáculos entre ambos que seria necessário Ter muita força de vontade para lutar e poder ficar juntos. Já encontrara muito e grandes obstáculos em sua vida, criara suas irmãs sozinho e recuperara parte da fortuna de sua família com muito esforço e perseverança. E sabia que tudo que valia a pena merecia o sacrifício da luta. Também Sakura merecia seu sacrifício da luta. Também Sakura merecia seu sacrifício e sua luta.

Com paciência e resolução, conseguira muitas coisas na vida, podia conseguir Sakura também, assegurava a si mesmo. De alguma forma sabia que a chave para qualquer futuro para si mesmo e Sakura devia estar escondida em algum lugar dentro do passado dela. O problema seria descobrir onde sem afasta-la de sua vida.

Estando ainda com a cabeça deitada sobre o peito dele e ouvindo as batidas ritmadas de seu coração, Sakura jamais se sentira tão segura e libertada. Era como se a força que emanava de Shoran fosse absolutamente confiável e constante, dando-lhe confiança e segurança para qualquer atitude que viesse a tomar.

Nessa noite, por exemplo, ele a levara a agir na cama. Tomara a liderança, deixara-se levar por sua paixão. E dera a ele um prazer incalculável porque fora com esse objetivo que quisera estar com Shoran. E o resultado de seu carinho, de sua preocupação em fazer vibrar de paixão fora seu próprio prazer, nunca antes tão intenso.

E era estranho pensar agora que seu mais profundo encontro com um homem fosse, ao mesmo tempo, o ultimo. Sentia seu coração gelado, entristecido, magoado, pelo que teria de fazer ainda. Porque não podiam ficar juntos.

Alerta como nunca quanto as necessidades silenciosas de sua amada, Shoran estendeu a mão e puxou as cobertas sobre Sakura, imaginando que o arrepio que sentira passar pelo corpo dela fosse devido ao frio. Se soubesse... avaliou ela, com o coração apertado. Uma montanha de cobertores não seria capaz de aquecer seu corpo como os braços dele ou o timbre de sua voz conseguiam.

-Alguma vez tentou comprar a felicidade, Sakura?- ouviu-o perguntar, quase sem voz.

Mesmo percebendo que ele procurava usar um tom suave em sua pergunta, Sakura sentiu suas entranhas se contraírem ao ouvi-la. Poderia, talvez, desviar a conversa com uma brincadeira qualquer, mas não o fez. A intimidade partilhada do momento que estava vivendo e o segredo que escondia de Shoran exigiam todos os seus poderes de descrição, deixando-a não muito bem preparada para ser discreta em outros assuntos.

Sorriu de leve e respondeu, um tanto hesitante:

-E... como achou que eu tenha... aprendido a me alegrar? Assim que meu avô faleceu, comprei o marido mais bonito e melhor nascido que o dinheiro poderia comprar! Imaginei que, assim, estivesse também comprando minha liberdade, mas acabei percebendo que não havia nada de feliz e nem de vantajoso no negocio que havia feito.

Um pesado silencio caiu entre ambos, e ela entendeu que, com ele, vinha também a reflexão de Shoran sobre o assunto e sua profunda compreensão dos fatos. E sentiu-se falando antes mesmo de poder controlar suas palavras:

-Eu tinha uma noção ridícula de que, se estivesse casada, poderia escapar de todas as pessoas que tentavam me controlar: governantas, tutores, parentes... Mas foi enato que conheci minha sogra e entendi o que é, de fato, cair na teia de uma aranha gigante.-Sakura estremeceu só em se lembrar.- Aquela mulher era terrível. Pior do que todas as minhas governantas juntas. Nunca perdia uma só oportunidade de insinuar que a minha fortuna, adquirida no comércio era uma nódoa para a sua família, uma enorme mancha de vergonha da qual procurava ocultar-se o tempo todo. E o tempo todo seu filho estava apenas fazendo o possível para gastar cada centavo do que eu tinha.

-Miserável!- Shoran não pode deixar de opinar entre os dentes.

Sakura sorriu, percebendo a sinceridade em seu tom. Seria tão fácil viver com ele, avaliou. Shoran era tão diferente de seu falecido marido! Mas tinha se enganado, e muito, antes. Não podia pensar com o coração mais uma vez.

-Sabe, ele era até muito gentil no começo- continuou.- Chegou até a tomar partido contra a própria mãe. E eu tentei ser uma boa esposa para ele. Tentei muito, com todas as minhas forças.- A voz de Sakura, em suas lembranças, ia sumindo devagar, até tornar-se um mero sussurro sobre o chiar da madeira que se consumia na lareira.- Mas de nada adiantou, já que falei no principal dever de uma esposa...

Shoran não se moveu, nada disse. O que pensava a respeito do que acabara de ouvir era segredo. No entanto era como se ela pudesse sentir todo o peso de suas próprias palavras. Porque sabia que, se alguém poderia entender a humilhação de falhar em seu dever, esse alguém era ele. Por isso prosseguiu:

-Minha sogra, então, passou a Ter prazer no que falava contra mim, porque percebia que estava, no fundo, com a razão. Até que se deu conta do que isso poderia significar para a sua preciosa família.- E, Sakura sabia, mais do que tudo o mais, fora exatamente isso que contribuíra para o rápido declínio dos Kinomoto.- E Percy não ficou mais a meu lado, então. Se eu soubesse...

-Se soubesse o que?- Shoran indagou, quando ela se interrompeu.

A pergunta sacudiu-a, tirando daquela espécie de enlevo no qual as recordações a tinham colocado. Estremecia, sentindo o coração apertado, o estômago agitando-se. Não precisava mais de prova nenhuma para saber que, ao lado de Shoran, deixava-se levar, abria-se, entregava-se. Precisava Ter mais cuidado!

O compreensivo silencio dele e sua simpatia a seduziam, como seus carinhos eram capazes, sempre, de seduzir-lhe os sentidos.

Parte de seu ser queria deixar o assunto de lado, beija-lo novamente, incendia-lo... Fazer qualquer coisa que a resgatasse das águas perigosas em que se deixara apanhar. Mas precisava encontrar uma forma de afastar-se dele, ou acabaria contando-lhe tudo sobre o bebê. Então, conhecendo o desenvolvido senso de dever que havia dentro de Shoran, jamais poderia afasta-lo de si. Por isso continuou, tentando parecer casual:

-Se eu soubesse que a viuvez é o melhor estado para uma mulher rica! Sim, porque pode-se Ter todos os prazeres de um casamento sem se perder a independência.

Shoran retesou-se, e ela o sentiu. Mordeu o lábio, sem olhar para ele, porque sabia que, se o fizesse, iria vacilar, tornar-se vulnerável. Além do mais, garantia a si mesma, como forma de consolo, Shoran merecia uma leve alfinetada, já que fizera ressurgir a paixão entre ambos e a deixara esquecer toda a dor de sua iminente separação.

Preparou-se para receber uma resposta dura, para poder rebate-la e encontrar um motivo para deixar aquela cama e sair em busca do que seus criados tivessem descoberto. Assim que a manha chegasse e os dois tivessem de se separar para sempre, talvez ainda sentisse algum arrependimento, mas precisava ser assim, assegurou a si mesma.

Contudo, para sua surpresa, Shoran nada disse, apenas abraçou-a ainda mais, carinho. E assim permaneceu por alguns segundos, até que murmurou:

-Minha querida... Não é de admirar que você se rebele contra qualquer coisa que tente deter seus atos.

A inesperada compreensão deixou-a muda. Era bom ser tão bem compreendida, mas era assustador também. E ele prosseguiu, deixando-a ainda mais pasma diante de sua reação:- Não é de admirar também que se recuse a desistir do controle que tem sobre tudo em sua vida. Mesmo que isso signifique Ter de sair no meio da noite atras de seu sobrinho, quando eu mesmo poderia te-lo feito sozinho.

Sakura respirou fundo. Como poderia ir contra tamanho senso de bondade?! Ele conseguia fazer com que ela se abrisse! Conseguia deixa-la vulnerável com sua compreensão! Como ela podia estar certa de que Shoran algum dia não usaria esse poder que possuía sobre ela?!

Mas ele parecia estar absorto em seus próprios pensamentos para perceber que ela mudava de atitude.

-Não é de estranhar que você tenha se contentado apenas com romances.- ele ponderou.- Porque não quer mais se submeter a tirania de um marido!

-Ora, como ousa, Shoran Li!- Sakura protestou, afastando-se dele de vez dele. Olhou-o, irritada, os lindo olhos verdes flamejantes de indignação.- Como ousa julgar-me e sentir pena de mim?!

-Mas, minha querida, eu não quis...

Ela deixou de olha-lo. Aquela expressão de surpresa no rosto dele a deixava ainda mais vulnerável, com vontade de atirar-se novamente em seus braços e esperar que, de alguma forma milagrosa, Shoran fosse capaz de consertar tudo que dera errado em sua vida. Detestava estar exposta assim diante dele.

-Oh, deixe para lá suas palavras de consolo!- exclamou, querendo escapar daquela situação o quanto antes. Passou a mãos nas roupas e continuou, zangada:- "Apenas com romances"! Pois sim! Pois saiba que esses romances passageiros podem ser tão cansativos quanto um marido quando levam tempo demais para acabar! E um amante pode ser tão tirânico quanto um marido quando se recusa a manter- se a uma distancia segura!

-Calma, Sakura. Eu estava apenas tentando dizer que entendo e que me preocupo com você. Isso é tão ruim assim?

Ela vestia-se, bem afastada da cama.

-Nunca lhe pedi que entendesse nada- rebateu, querendo apenas que ele parasse com aquelas palavras gentis que a tocavam cada vez mais e a faziam fraquejar.- Nunca lhe pedi...- Interrompeu-se devido a um soluço involuntário.- Nunca lhe pedi para que se preocupasse comigo!

Ela foi até a cômoda e despejou um pouco de água numa bacia. Não queria mais ouvi-lo. Queria apenas escapar dali, daquela situação, dos sentimentos que invadiam seu peito e a atormentavam.

Molhou a ponta de uma toalha na água e começou a passa-la pelo corpo, sentindo-o, de repente, frio e arrepiado. Era melhor assim, pensou. Assim esqueceria os momentos de paixão que haviam acabado de viver e poderia pensar melhor. quando terminou, estendeu o braço para pegar seu vestido e viu que Shoran havia se levantado e estava ao lado da cama, ainda nu. E sentiu-se novamente presa de uma violenta paixão por ele. Forçou-se a encara-lo, imaginando que ele poderia estar furioso por sua atitude intempestiva.

Não entendeu, porem, o que viu em sua expressão. Poderia ser calma ou raiva controlada, fria, ou ainda uma angustia muda ou uma decepção amarga. Ou tudo isso misturado, alem de algo mais que a atingia mais do que tudo, mais do que queria admitir.

Shoran não olhava para seu corpo ainda despido. Olhava-a nos olhos e fazia, com os seus, uma pergunta muda, mais imperiosa, que, no entanto, Sakura não conseguiu entender, muito embora a resposta estivesse com ela, sem que a quisesse dar.

-Eu já lhe disse uma vez- ele começou, calmo- que não podemos escolher quem ira se preocupar conosco, gostar de nós,... Não lhe estou pedindo nada, Sakura, e jamais tirarei coisa alguma e você. Mas não pode dar ordens ao meu coração, como eu mesmo não posso.

Ela apertou os lábios, reconhecendo que Shoran devia estar furioso. Tinha todo o direito de faze-lo, sim. Todos, em sua vida, tinham dado-lhe as costas quando ela noa agira a altura do que esperavam. Porque Shoran Li seria diferente?, perguntava-se, amarga. E a resposta, em sua mente, desafiava seus sentidos: porque ele "era" diferente, porque não dava nem mostrava amor facilmente. Mas, quando o dava, sua afeição era constante e dedicada, sempre pronta a fazer-se notar por atitudes muito mais do que por palavras.

E, nesse momento, Sakura nada mais queria alem de poder atirar-se nos braços de Shoran e aceitar o que ele lhe oferecia. No entanto uma náusea intensa formava-se em seu estômago, deixando-a aflita. Nunca se sentira assim tão mal, avaliou. E, sem ousar dizer uma palavra, com medo de vomitar, vestiu-se, apressada, e passou por Shoran e saiu depressa para o corredor. Seguiu-se por ele, sem olhar para trás, e atingiu a porta dos fundos da hospedaria.

Continuou, na densa escuridão da noite, até os estábulos. Lá, o cheiro dos animais a fez vomitar. Apoiou-se a parede, tentando seguir adiante, mas parando muitas vezes para aliviar seu estômago revolvido.

Sentia-o vazio como sua vida fora antes de Shoran aparecer. Talvez, analisava, enquanto respirava fundo, recobrando-se de um ultimo espasmo, fosse melhor reconsiderar seus planos para o futuro. Planos nos quais não havia espaço para um homem, muito menos para o pai de seu filho.

Mas primeiro precisava colocar uma certa distancia entre ambos, para poder pensar em tudo com clareza e decidir-se sem sofrer influencias de outras pessoas. Afinal, havia tanto em jogo! Seu bem-estar, o bem-estar de seu filho! não podia deixar-se influenciar pelos sentimentos agitados e profundos que Shoran lhe provocava. Muito menos poderia deixar que ele descobrisse sobre sua gravidez, porque, assim, iria insistir em se casar com ela apenas para cumprir seu dever. Ela merecia mais do que isso, e seu filho também. Até mesmo Shoran merecia algo melhor em toda aquela situação.

Assim, por todos, devia pensar com mais cuidado, avaliar as possibilidades, seguir atras de seu sobrinho e, ao encontra-lo, voltar para a sua vida rotineira e pensar bastante sobre o caso. Se, ao final de suas reflexões, decidisse arriscar seu coração e aceitar Shoran, saberia onde encontra-lo.

Ouviu passos apressados se aproximando e afastou-se da parede. Foi entao que viu Shoran entrando no estábulo.

-Sakura?- A voz dele mostrava claramente sua preocupação. Ao vê-la, segurou-a pelos ombros, tentando ampara-la, pois percebi-a fraca.- O que está fazendo aqui?! Porque saiu correndo daquele jeito?!

Ela o puxou consigo para fora, evitando que percebesse que ela vomitara.

-Eu é que pergunto o que está fazendo aqui fora, neste frio, com essas roupas ainda úmidas!

Ele sorriu e explicou:

-Achei que seria bem melhor arriscar um resfriado do que um processo por atentado ao pudor, se eu saísse nu do quarto. Agora, vamos voltar para o quarto e nos aquecermos, está bem? Prometo não aborrece-la de modo algum, certo? Prometo até sair do quarto, se é o que você quer.

-Olhe, Shoran, eu...- Sakura buscava palavras que explicassem seu comportamento estranho, mas outros passos chamaram-lhe a atenção.

Havia vozes no ar frio da noite. Vozes que ela reconhecia.

-Himura, Tsuki, são vocês?- indagou.

Os dois criados apareciam por entre as sombras, e suas expressões eram de surpresa.

-Senhora! Esteve esperando por nós aqui?!- perguntou o cocheiro, abismado.- E o senhor, Sr. Li! Já em pé!

Sakura rebateu as perguntas com a sua:

-Encontraram a Srta. Li e meu sobrinho? Onde estão hospedados? Podemos seguir imediatamente até eles!

Himura pareceu hesitar. Até que falou:

-Estivemos em todas as hospedarias de Wakani, senhora.

-Duas vezes!- Tsuki acrescentou.

-E?- Ela começava a se afligir.

-Nem sinal dos dois, senhora.

Sakura respirou fundo. Agora, o que mais poderiam fazer?, indagou-se, mas ficou sem resposta.

Oi genteeee!!!!!!

Aqui ta mais um capitulo!!!! Eu achei q esse ficou melhor do q o passado.... mas bem quero ouvir suas opinioes!!!!

Quero agradecer pelas reviews de: Kath Klein, Miaka, Miaka Hiiraguizawa, Yuri Sawamura, Julia.

Muito obrigada, pessoal!!!!

Não c esqueçam d comentar!!!!! Heheheh

Beijos

Warina