Cap 5- Delírios
As coisas sempre parecem mais complicadas do que são quando você está com pressa.
Draco achava que essa frase nunca fez tanto sentido como agora. Que ele se lembrasse, a poção não demorava tanto para ficar pronta. Ele sabia que levaria algumas horas até ficar completamente pronta, mas as horas pareciam não passar. Tinha medo que demorasse uma eternidade. Tinha medo de que no fim não desse certo ou que talvez já fosse tarde demais...
Mas sabia que não poderia pensar assim. Tinha que ser otimista. Gina dependia dele. Pela primeira vez ele soube como era desesperador alguém depender de você. E se ele falhasse? Nunca se perdoaria, era orgulhoso demais para isso. Não podia errar, não podia falhar. Tinha que curar Gina, custe o que custasse e não descansaria enquanto não soubesse que tinha feito tudo o que poderia.
Era estranho pensar que ele estava realmente empenhado nisso. Era estranho pensar que se preocupava tanto com Gina. Quem diria, um Malfoy preocupado com uma Weasley...
Agora que estava pensando nisso, realmente parecia estranho. Não costumava ligar para as outras pessoas, muito menos inimigos de sua família. Não costumava sentir o desespero que sentiu quando viu Gina desmaiando. Mas não conseguia se imaginar ignorando a febre dela. Não sabia por que. Talvez fosse simplesmente porque ele não é tão frio quanto tentava aparentar. É, talvez fosse só isso...
Imaginou se as pessoas em Hogwarts estavam procurando por eles. Tinha certeza de que havia muita gente preocupada com Gina, provavelmente a grifinória inteira estava atrás dela. Inclusive o Potter-Perfeito. Estranhamente, a imagem de Harry preocupado com Gina fez com que Draco não se sentisse muito bem. Imediatamente imaginou uma cena não muito agradável: depois que tivesse curado Gina e ela estivesse completamente bem, o incrível Harry Potter entraria pela porta daquela cabana e pegaria Gina no colo levando-a a salvo para longe. Depois disso, Gina veria que Harry era o herói dela e os dois viveriam felizes para sempre. A cena era nauseante. Ninguém nunca saberia quem realmente cuidou de Gina o tempo todo. Ninguém saberia que Draco foi o verdadeiro herói. Harry levaria o crédito por tudo e Draco seria esquecido, sendo obrigado a passar o resto de sua curta vida ali mesmo, na cabana.
Draco tentou parar de imaginar, antes que vomitasse. Mas uma coisa era certa: Ninguém em Hogwarts devia estar sentindo sua falta. Ele se surpreenderia se alguém já tivesse reparado sua ausência. Na verdade, podia apostar que os idiotas da Sonserina estavam dando graças a Merlin por não estarem tendo que obedecer às ordens dele o tempo todo.
Draco achou melhor parar de pensar um pouco, pois quanto mais ele pensava no que iria acontecer, mais desanimado ficava.
Tentou se concentrar somente na poção que estava fazendo. A poção já tinha um tom lilás o que queria dizer que estava quase pronta. Não tinha um cheiro muito agradável e Draco podia apostar que o gosto não seria nem um pouco melhor.
Mas era isso que salvaria Gina. E era isso que importava.
Draco observou a poção ir mudando de cor aos poucos, enquanto mexia o liquido no caldeirão. Lentamente, a poção foi ficando mais escura saindo do lilás e indo para um roxo. Agora era só deixá-la fervendo até adquirir o tom de roxo escuro.
Ele jogou as últimas ervas e sementes secas no caldeirão e parou de mexer. Diminuiu o fogo e deixou a poção fervendo.
Ele olhou para Gina, na cama. Ela parecia estar piorando. Draco se aproximou e se sentou na beirada da cama, preocupado. Gina estava suando mais do que nunca e tinha a respiração ofegante. Draco colocou a mão em sua testa. Estava queimando. Ela ainda estava com a roupa molhada, o que com certeza piorava a febre cada vez mais.
Ele tinha de fazer alguma coisa. A poção só ficaria pronta depois de um tempo. E Gina não podia ficar assim.
"Por que ela não me ouviu? Se tivesse trocado de roupa, estaria melhor! "
Uma idéia no mínimo absurda passou pela cabeça dele. Gina teria que trocar de roupa, mas não conseguiria nesse estado. Era Draco quem teria de fazer isso.
"Mas eu não posso!" Pensou imediatamente.
- Gina, acorde, por favor...
Ele tentou novamente acordá-la, mas era inútil. Mas ele não podia fazer isso. Simplesmente não podia.
Mas era a única opção.
-Ok, isso é para o se bem, Gina...
Ele olhou em volta a procura de algo seco para vesti-la. A única coisa que viu foi sua própria camisa, perto da lareira. Já estava seca. Não tinha outra escolha.
Draco pegou sua camisa e se sentou novamente, mais perto de Gina. Respirou fundo, tentando achar um modo de fazer aquilo. Se perguntou se algum dia Gina o perdoaria por tê-la despido. Tinha medo da resposta.
Ele abriu o primeiro botão da blusa dela, depois o segundo. Viu a pele de seu colo alvo. Não podia continuar. Não podia fazer isso...
Então, Draco fez a coisa mais óbvia que podia e que talvez o ajudaria nisso: fechou os olhos.
Com os olhos fechados, foi desabotoando a blusa de Gina. Teve a impressão de que aquela era a blusa com mais botões que já tinha visto. Ou era isso, ou era porque Draco estava nervoso demais e os botões escapavam de seus dedos. Finalmente conseguiu desabotoar o último botão. Agora só precisava tirar a blusa dela. Passou os braços pelas costas dela e ergueu seu corpo devagar, deixando a blusa escorregar pelos seus braços. A parte mais difícil tinha sido feita. Agora só precisava vesti-la.
Draco tentou não pensar que estava de frente para uma garota sem blusa e, ainda com os olhos fechados, tateou a cama, procurando o cobertor. Puxou-o até o pescoço de Gina e assim, pôde abrir os olhos. Ele viu o rosto dela pálido e desejou sinceramente que tudo isso valesse a pena.
Respirou fundo novamente e pegou sua camisa seca. Tornou a fechar os olhos e levantou o corpo úmido de Gina. Teve uma pequena dificuldade, mas conseguiu acertar os braços dela na camisa. Deitou-a novamente e foi abotoando os botões, um a um até o último estar fechado. Abriu os olhos.
"Até que não foi tão difícil..."
Ele pegou a blusa molhada de Gina e levou até perto da lareira. Depois foi até o caldeirão e deu uma olhada na poção. Ainda demoraria alguns minutos para ficar pronta.
Draco voltou para a cama e se sentou ao lado de Gina. Tinha esperanças que agora ela melhorasse, pelo menos um pouco. E assim que a poção ficasse pronta, ela ficaria bem e voltaria a discutir e brigar com ele. Era estranho, mas ele estava com saudades dela gritando com ele por qualquer motivo.
Ele olhou para ela distraidamente. Como se percebesse que estava sendo observada, Gina se mexeu na cama. Draco estranhou, apesar de saber que ela ainda estava inconsciente. Gina mexeu os lábios, como se quisesse falar alguma coisa.
- Gina? Você está acordada?
Ela não respondeu. Parecia ainda estar inconsciente, apesar de balbuciar palavras inaudíveis. Draco passou a mão pelo rosto dela. Estava mais quente. Ofegante, ela pronunciou mais palavras:
- Draco...Não...Eu...Draco...
- Droga, ela está delirando!
Ele se levantou rapidamente e olhou para o caldeirão. A poção não estava na cor ideal, mas Draco sabia que não podia mais esperar. Se Gina já estava delirando, ela devia estar bem pior que no começo da noite. Ele abriu um armário à procura de um frasco. Gina o chamava, inconsciente:
- Draco...Cadê você...?
Ele se voltou para ela e pegou na sua mão.
- Eu tô aqui... Não se preocupa, vai ficar tudo bem...
Ela agarrou a mão dele e ficaram assim por um tempo, até Draco se levantar com o frasco na mão. Gina protestou, ainda segurando sua mão.
- Não vai embora...
- Eu só vou até a cozinha, é rápido... Ok?
Ela não respondeu, mas soltou a mão dele.
Draco foi até o caldeirão e mergulhou o frasco na poção. Com o frasco cheio, voltou para a cama.
- Pronto. Já voltei.
Ele segurou a mão de Gina novamente, fazendo-a se sentir segura.
- Agora beba isso.
Ele ergueu a cabeça dela um pouco e colocou o frasco em sua boca, deixando o líquido derramar para dentro. Mas Gina fechou a boca ao sentir o gosto ruim da poção.
- Vamos, Gina, vai ser bom pra você... Os melhores remédios têm os piores gostos.
Ao ver que ela não cederia, ele entreabriu os lábios da garota com seus dedos e derramou o resto da poção.
- Pronto, você vai melhorar agora.
Draco deixou o frasco de lado e se deitou na cama, observando Gina. Ele afastou uma mecha de cabelos do rosto da ruiva e sentiu sua temperatura novamente. Ainda estava quente, mas iria melhorar. Pelo menos era o que Draco esperava.
- Eu estou com frio... – murmurou Gina.
Draco pegou o cobertor a fim de cobri-la melhor, mas antes que pudesse fazer isso, ela pegou seu braço colocando-o sobre si como um abraço confuso. Draco chegou mais perto dela e a abraçou melhor. Sorriu ao ver que ela parecia melhor.
Foi quando Draco se sentiu cansado pela primeira vez naquela noite e se lembrou que não havia dormido quase nada. Ele queria se entregar ao sono, mas para isso precisaria soltar Gina e se deitar direito. Mas ele não queria fazer isso.
Ele não queria se afastar. Pelo contrário, sentia que podia continuar assim pela eternidade inteira. Draco ouvia o coração de Gina batendo e podia sentir sua respiração pesada em seu pescoço. Não, ele não iria se afastar. Acabara de perceber que sua respiração e seu coração também estavam descompassados. Sua pele estava quente como se sua temperatura estivesse tão alta quanto a de Gina. Não pensava em mais nada, não sabia o que estava fazendo. A única certeza que tinha era que não queira se afastar. Ao contrário, queria chegar mais perto, queira acabar com a pequena distancia que ainda havia entre os dois...
E foi o que fez. Lentamente, quase sem perceber, foi se aproximando do rosto de Gina, até seus lábios se encontrarem, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Os pensamentos subitamente sumiram da cabeça de Draco assim que sentiu os lábios macios de Gina. Sua boca estava tão quente quanto o resto do corpo, mas Draco não tinha mais certeza se era por causa da febre.
O beijo não foi longo pois Gina não estava em condições de retribuir, mas foi o bastante para deixar Draco eufórico e confuso. Ele se deitou ao lado dela e se esforçou para não pensar em nada. Não queria pensar em por que fez aquilo, nem se havia sido certo ou errado. Só queria sentir o que estava sentindo. Mesmo que quisesse, não poderia pensar em mais nada, pois um segundo mais tarde adormeceu ao lado de Gina.
N/A: Pronto, agora vocês podem falar: "Ah-há! Eu sabia que ele ia tirar a blusa dela!" xD
Demorei um pouco mais de tempo para terminar esse capítulo, mas acho que valeu a pena. E viram, ficou mais comprido ! Com certeza esse foi o capítulo que mais gostei de escrever (até agora), mas às vezes acho que ficou meio exagerado... E é por isso que preciso das reviews de vocês, queridos leitores ; ) Falem o que acharam, é muito importante pra mim.
Até o próximo capítulo o/
