Cinco dias e cinco noites.
Terceiro lugar no I Challenge de Filmes do Fórum3v e Prêmio de Casal mais fofo.
Capítulo um.
Primeiro dia.
A noite fria e inquietante. O silêncio ensurdecedor do quarto onde se encontrava, somente o vento que batia na janela cortava-o. Ele não sabia o que fazer, nem o que pensar. O que, por Merlin, estava acontecendo?
'Senhor Malfoy, receio que não poderemos liberar o senhor ainda...' havia sido o que o médico dissera.
Havia ido poucas vezes ao St. Mungus, afinal, era uma pessoa extremamente saudável. Odiava hospitais. Todas aquelas pessoas de branco, famílias preocupadas e pessoas em estados lamentáveis, as paredes brancas e o aspecto depressivo.
Não conseguia parar de pensar no porquê ainda estava sentado naquele pequeno quarto ao lado da sala do doutor. Fazia mais de meia hora que se encontrava ali no meio de um entra e sai de enfermeiras.
Amaldiçoou sua secretária por aquilo. Há duas semanas que vinha sentindo algumas tonturas e dores de cabeça, nada preocupante, apenas desgaste físico devido aos montes de trabalho que estava tendo na empresa, mas a Sra. Watson - uma adorável velhinha de cinqüenta anos e extremamente eficiente - havia insistido para que ele fosse fazer um check up, e ele, homem de palavra do jeito que era, havia ido.
- Porque depois do colegial eu me tornei tão bonzinho assim? - bufou para si mesmo, colocando a cabeça entre os joelhos, extremamente agoniado.
Bufou mais uma vez, aquilo estava ficando cada vez mais agonizante. A espera era extremamente agonizante. Ele não tinha absolutamente nada para todos aqueles médicos e enfermeiras ficarem fazendo aquele monte de exames que não eram nem um pouco confortáveis.
Uma dor lacerante na têmpora esquerda. Abafou um grito de dor e deitou-se na maca onde até então, estava apenas sentado. Inspirou profundamente e fechou os olhos. Enfiou a mão dentro do paletó em busca um comprimido que acabasse com aquela agonia enquanto mentalizava repetidas vezes uma única frase: 'Eu prometo que diminuo a carga horária de trabalho... Eu prometo de que diminuo a carga horária de trabalho...'.
Amaldiçoou o hospital. Amaldiçoou os médicos e as enfermeiras. Odiava hospitais com todas as suas forças.
Foi então que o médico entrou, silenciosamente. Olhando intensamente para o chão, sério e com uma expressão triste, desolada. Draco olhou-o a espera de alguma explicação para toda aquela - em sua opinião - loucura.
- E então, doutor? - perguntou, já não agüentando mais o silêncio agonizante instalado no quarto.
- Senhor Malfoy, a notícia que tenho para lhe dar não é muito boa e... - começou o médico, apertando a ficha médica que segurava nervosamente.
- Corte as palavras bonitas e diga de uma vez o que é que eu tenho, sim? - disse Draco, mais alterado do que de costume.
- O senhor tem uma doença chamada Látivus Pincares, é muito rara, mas é possível.
- É lógico que é possível, se eu a tenho... - murmurou, impaciente. - Vamos logo com isso, o que faço para curá-la? - perguntou, aborrecido com toda aquela preparação de terreno. Era um homem de negócios, e como tal, tinha muitas coisas a tratar.
- Acontece, senhor Malfoy, que não há cura. - disse o médico, em uma voz nervosa.
- O que o você quer dizer com isso? - perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Os portadores dessa doença tem apenas cinco dias de vida. O caso é que no senhor a doença começou a se instalar exatamente hoje e...
- Você está querendo dizer que eu tenho apenas cinco dias de vida, é isso? - perguntou o loiro, completamente atordoado.
- Exatamente. - murmurou o médico, baixando os olhos para o chão novamente.
- Certo. - virando-se de costas para o médico, saiu porta a fora de punhos cerrados.
Atravessou os corredores do hospital sem realmente olhar para eles. Logo, as cores e os sons foram se misturando até tornarem-se um grande borrão preto a sua frente. Correu até o carro às cegas e sentou-se em frente ao volante.
- Isso não pode estar acontecendo comigo. - murmurou em alto e bom som, como se assim pudesse espantar aquela triste e assustadora verdade. - Isso NÃO ESTÁ acontecendo comigo.
Deitou a cabeça no volante com as mãos grudadas no mesmo. Apertou até sentir a palma da mão latejar de dor. Ele não podia ter aquela maldita doença. Não podia. Não podia. Não podia. Repetiu essa mesma sentença cem vezes, tentando fazer com quê aquele ditado popular idiota se tornasse verdade.
- Uma mentira contada cem vezes se torna verdade. - murmurou para si mesmo, frustrado.
Ficou ali na penumbra da noite esperando algum milagre acontecer e ser um homem saudável novamente. Ficou ali o que pareceu uma eternidade, mas foram apenas trinta minutos. Eram dez e meia da noite e seu primeiro dia dos últimos momentos de sua vida estava se esvaindo. E aquilo, muito mais do que qualquer guerra que havia enfrentado há três anos atrás, era realmente assustador.
Resolveu dar algumas voltas pela cidade e espairecer. Nem que fosse por um minuto precisava pensar em outra coisa, mas o engraçado é que não queria pensar em outra coisa. O que faria dali para frente? O que seria dele dali para frente? Sentiu uma vontade enorme de dar um tiro na cabeça e acabar com aquela agonizante espera pela sua hora da morte.
Somente no mundo bruxo para haver uma doença que acabava com a pessoa em exatos quinze dias. Definitivamente, não havia nada pior do que saber quando e como iria morrer. Era agonizante demais.
Olhou pela janela do carro e viu pessoas felizes andando pelas ruas. Pessoas felizes enquanto o coração que batia dentro de seu peito dentro de quatro dias e algumas horas pararia de bater. Alguém nasceria no mesmo dia de sua morte, era algo estatisticamente comprovado. Uma morte, um nascimento. A grande antítese da vida que ele tinha certeza absoluta que ainda não estava pronto para viver.
Estacionou o carro na frente da casa de uma pessoa que conhecia muito bem, Lucius Malfoy.
- Está satisfeito agora? - perguntou olhando para a porta de mármore fria e sem vida. - Responda, merda! Está satisfeito em ver seu filhinho vira-casaca morrer de uma maldita doença incurável? ESTÁ? Pois saiba que eu te odeio seu filho de uma... eu te odeio! Eu te odeio pelo que você me fez ser por dezessete anos e eu te odeio por ter feito minha mãe morrer. Eu te odeio por ter sido o que foi. Te odeio.
A luz da casa acendeu e a porta da frente foi aberta.
- Draco? - perguntou Lucius, parecendo levemente atordoado. - Draco, o que houve?
- Nada. - murmurou o loiro, olhando com raiva para o pai. - Eu só vim aqui pra dizer que te odeio. - e dizendo isso entrou novamente no carro e saiu dirigindo pela estrada.
A noite cada vez caindo mais e Draco dirigindo. A janela do carro aberto deixando o vento entrar e tirar o medo de seu cabelo. O asfalto negro sobre suas rodas e as estrelas no céu. A sensação de liberdade e de existência tomando conta de si. O que aconteceria depois? Queria apagar aquele dia de sua memória, queria que o 'hoje' nunca tivesse acontecido.
Pela primeira vez em sua vida Draco Malfoy havia encontrado algo em sua vida que não podia controlar.
Ele iria morrer.
