Cinco dias e cinco noites.

Terceiro lugar no I Challenge de Filmes do Fórum3v e Prêmio de Casal mais fofo.

Capítulo cinco

Último dia.

Era de manhã quando saiu da casa de Gina tomando os mínimos cuidados para não acordá-la e muito menos Flake. Seria doloroso demais despedir-se, era melhor assim. Fez a viagem de volta em silêncio, com o rádio ligado em uma velha música country e melancólica. A manhã cinzenta e chuvosa até chegar ao seu caminho. Não estaria com Gina quando ela precisasse dele, não seria ele a ter filhos com ela, não seria ele a preparar os cafés da manhã ao seu lado, não seria ele a desfrutar uma vida plena e feliz ao lado dele até o fim de suas vidas.

Lágrimas amargas rolaram por sua face e ele nem se deu ao trabalho de impedi-las. Lembrou-se do sorriso dela, do olhar brilhante, das unhas pintadas de rosa choque e do jeito calmo e intelectual de falar. Todas as confidências e pensamentos. Todas as coisas que ela havia feito por ele e tudo o que ele havia aprendido em tão pouco tempo, tudo por causa dela.

Chegou em casa já umas oito horas da noite. Sua vida estava acabando e ele nem sentia como se isso estivesse realmente acontecendo. Olhou uma última vez para tudo o que ele possuía, olhou para o álbum de fotografias da época de colégio. Pansy, Goyle, Crabbe e Zabini, o grupo inseparável. Pansy havia sido sua primeira namorada e sua melhor amiga. Até hoje, mesmo depois de casada mantinham contato. Tantas coisas importantes que ele ficara tanto tempo sem recordar. Será que as pessoas recordariam dele?

Foi para o hospital.

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Mal ouviu o que as pessoas falavam. Algo sobre como sentiria dor e eles lhe dariam uma poção para amenizá-la. Perguntaram se ele queria chamar alguém, deitaram-no em uma maca. Ele morreria sozinho, então. Era triste, mas verdade. Uma morte programada? Apenas não parecia real.

Nove horas. Dez horas. Uma enfermeira ao seu lado cuidando de seus batimentos cardíacos. Foi então que alguém abriu a porta bruscamente. Eram seu pai e Gina.

- Você não podia ter feito isso comigo, Draco. – murmurou ela ao seu ouvido. – Você sabia que eu queria ficar com você até o fim. Seu pai foi me buscar, ele soube, ele ficou esses dias todos tentando te achar...

Meu pai.

- Eu sinto muito, Draco. – murmurou ele, segurando minha mão. – Eu realmente sinto.

Foi então que eu senti uma enorme vontade de chorar. De repente percebi que tudo o que eu queria ouvir aquele tempo todo era um pedido de desculpas, uma demonstração de afeto, aquele tempo todo eu queria uma relação entre pai e filho, mas era muito imaturo para admitir isso. Senti os braços de meu pai me apertar forte e Gina dar-me um beijo na face. Eu não me sentia doente. Eu me sentia perfeitamente bem.

- Eu te amo, filho. – sussurrou meu pai, e vi lágrimas brotarem de seus olhos.

Ele me amava. Gina me amava. Eu estava morrendo e não me sentia como se estivesse morrendo.

O médico entrou na sala e houve um grande atordoamento. Algo sobre engano, algo sobre troca de fichas. Eu ali deitado na maca completamente vivo esperando a morte chegar, meu pai falando com o médico e Gina segurando minha mão. Meu pai proferiu um soco na cara do médico.

Foi então que tudo ficou claro. Eu estava vivo. Alguém estava morrendo e não era eu. O pessoal do hospital havia trocado as fichas. A vida era assim mesmo assim tão engraçada? Levantei-me de um pulo. Havia me ocorrido alguma coisa...

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Corri o máximo que minhas pernas podiam até o estacionamento do hospital e saí em meu carro a mil, mal deu tempo de avisar ao meu pai e Gina aonde eu ia. Cheguei na casa de uma garotinha chamada Amy Carter, ela tinha apenas nove anos e era a pessoa com que haviam trocado minha ficha. Amy Carter naquele exato minuto estava morrendo, não eu.

A mãe dela abriu a porta com uma feição preocupada no rosto. Não sabia o que estava acontecendo. Dali para frente tudo aconteceu muito rápido. Os médicos chegaram logo depois de mim e correram para o quarto para fazer os preparativos necessários para a morte da menina.

Aquela doença não me parecia real, e ao mesmo tempo me parecia a pior de todas. Por mais que eu estivesse vivo eu havia sentido na pele o que era saber quando e como iria morrer.

- Olá, Amy. – sussurrei, aproximando-me da cama onde uma garotinha morena e com olhos incrivelmente azuis me olhavam curiosos. – Eu sou Draco.

- Olá. – sorriu ela alegre, porém incrivelmente fraca.

- Você sabe o que está acontecendo? – perguntei, cauteloso.

- Eu estou morrendo, estou indo para junto de minha avó. – sorriu ela, feliz. – Eu já sabia, eu sonhei com anjos.

Sorriu, compreensivo. Ela era apenas uma criança... Lágrimas brotaram de seus olhos e de repente ele queria estar no lugar dela. Como uma criança de nove anos poderia estar mais preparada que ele para encarar a morte?

- Não precisa chorar, Draco. – sorriu ela, tocando sua face com as mãozinhas. – Eu estou bem. Eu vou morar com os anjos e vou poder ser o anjo da mamãe e do papai.

- Você sabe o que é o amor, Amy? – perguntou Draco, tentando conter as lágrimas.

- Claro que sei, Draco. – riu-se ela. – É a união de duas almas ou mais que simplesmente não conseguem imaginar a vida uma sem a outra.

- Você já achou um significado para sua vida, Amy? – perguntou novamente.

- Eu vou cuidar dos meus pais. Eu gosto de cuidar das pessoas.

- Você tem amigos?

- Vários. – disse ela, piscando um dos olhos, marotas. – Eu sou muito popular, sabe?

Sorriu, assentindo.

- Diga para mamãe e papai que eu os amo e que por mais que eu tenha ido embora cedo, foi o suficiente.

E essa foi a última vez que vi Amy de olhos abertos. Os pais dela estavam na porta, ouvindo a tudo. Mais lágrimas brotaram dos olhos do loiro. Aquela garotinha havia ensinado-o algo que ele lembraria para vida toda: o medo da vida não estava em morrer e sim de não ter tempo suficiente, por isso era preciso apreciar cada minuto da mesma. Draco em menos de dez minutos havia criado um laço com aquela garotinha que lembraria para o resto de toda a sua vida. Era uma amizade.

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Gina o esperava do lado de fora da casa. Olharam-se e ela entendeu perfeitamente tudo pelo o que ele havia passado. Ele sorriu, triste. Sim, a vida era engraçada. Um simples engano de fichas havia mudado toda a vida dele, toda a perspectiva que um dia ele tivera. A vida era feita para se viver. Essa era a base da existência dele, esse era o significado: apenas aprender a viver intensamente. Abraçou a ruiva com toda a força e beijou-lhe o pescoço. Saudade do toque dela, saudade do cheiro dela.

Ele havia conseguido tudo o que havia pedido. Um amigo, descobrir o que era o amor e achar um significado para sua vida.Ele havia vivido mais naqueles cinco dias do que em toda a sua vida e Merlin havia lhe dado a chance de por em prática tudo o que havia aprendido. Ele havia ganhado uma segunda chance.

- Casa comigo, Gina. – pediu ele, de repente, olhando-a fixamente. – O que eu mais aprendi com essa confusão toda é que a vida é muito curto e a gente precisa vivê-la como se qualquer minuto fosse o último.

Gina olhou-o incrédula e completamente sem ação.

- Casa comigo. – pediu ele, novamente.

E ela casou.

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Quatro anos se passaram desde que Amy morreu e eu visito seus túmulos pelo menos uma vez a cada seis meses, também passo na casa dos pais dela para conversar, eles se tornaram grandes amigos meus e de Gina. Nosso casamento é maravilhoso e ela está esperando nosso primeiro filho. Lucius está muito empolgado em ser avô e embora nós ainda não sejamos tão próximos quanto um pai e um filho seriam, estamos nos empenhando nisso. Zabini e Pansy aparecem muito aqui em casa e os negócios vão bem, comigo com uma carga horária muito menor e tirando férias.

Freqüentemente eu penso naqueles cinco dias que mudaram a minha vida para sempre. Um simples engano de um médico incompetente me fez tomar um rumo completamente diferente, me fez ver um lado da vida ao qual eu nunca tinha prestado muita atenção.

Hoje eu amo a vida mais do que tudo. Eu tenho uma esposa, um pai, amigos, um cachorro e tenho um filho a caminho. Eu não poderia pedir mais nada a Merlin, a não ser que em qualquer lugar que esteja faça com que minha mãe e Amy se conheçam, porque creio que elas se dariam muito bem.

- Draco, o jantar é pronto, amor. – chamou Gina, com a mão em cima do imenso barrigão de sete meses.

- Gina, você não deve ficar andando de um lado para o outro! – exclamou Draco, levantando-se de um pulo esquecendo o diário na mesa e correndo para 'socorrer' a esposa. – Daqui há pouco esse bebê vai nascer antes do tempo, ruiva...

- Bobagem, Draco. – sorriu ela, marota. – Agora venha logo comer, estou começando a ficar com ciúmes desse diário.

Draco abraçou-a pelas costas e beijou-lhe o pescoço com ternura.

- Impossível eu amar algo mais do que você, ruiva. Impossível.

Então, gente. Esse é o último cap dessa fic. Não deu para postar antes porque eu não tive tempo...

Não tive nenhuma review no cap passado, fiquei MUITO triste, mas tudo bem... resolvi postar mesmo assim porque não vou ficar enrolando, né?

Bom, eu disse que o fim dessa história não era triste. Bom, ao menos não triste para Draco e Gina, né? Desde quando eu comecei a escrever esta fic eu já tinha essa idéia na cabeça.

Bom, então tá aí. E obrigada a quem acompanhou todos os caps, mesmo sem ter deixado review e a quem deixou também. Isso significa muito para mim.

Um grande beeeijo! xD

ENJOY! xD