Te Vejo a Noite
Charles acordou sozinho na enorme cama de casal, antes mesmo do relógio tocar. Odiava as noites em que King tinha de ficar no quartel dos aurores.
Como sempre fazia nas noites nas quais dormia sozinho, consultou o relógio mágico verificando que o amante estava bem, e ainda no Ministério.
Os gêmeos podiam rir sempre que desejassem por ele ter feito um relógio igual ao da mãe, mas só ele sabia o quanto era preocupante ser o parceiro de um auror.
Mesmo tanto tempo depois do final da guerra, a profissão de Kingsley ainda era muito arriscada.
O som do despertador o arrancou do devaneio e Charles cumpriu sua rotina matinal antes de seguir pra Hogwarts via Rede Flu. Não fazia sentido preparar o café da manhã apenas para ele.
Ele abrira mão de cuidar de dragões pelo oficio mais difícil de ensinar Trato das Criaturas Mágicas, depois que Hagrid fora para a França e que ele e Kingsley tinham começado a viver juntos.
O Salão Principal já estava lotado quando Charles entrou, cumprimentado os outros professores.
A tradicional revoada de corujas com o correio matinal aconteceu no exato instante em que ele se sentou ao lado de Madame Pomfrey.
Charles raramente recebia correspondência na escola, por isso estranhou ao receber um envelope e reconhecer a letra de King.
Ele abriu o pergaminho e esqueceu do café da manhã enquanto lia a carta do amante, com um sorriso bobo no rosto.
Londres, doze de junho de dois mil e seis.
Charlie,
Você sabe que não sou a pessoa mais falante do mundo. Por isso, e só por isso, não te digo sempre o quanto tenho sido feliz com você e o quanto eu te amo.
Sábado, quando fomos à casa dos seus pais, eu vi você jogando com Harry e seus irmãos e fiquei tentando me lembrar de quando foi à última vez que eu disse o quanto você é importante pra mim.
Você me diz isso com frequência, de tantas maneiras.
Depois eu procurei lembrar quando te vi pela primeira vez. Por um momento, eu não consegui, é como se você fizesse parte da minha vida desde sempre. Mas então eu lembrei.
Foi no hospital, quando Arthur foi mordido, ainda no início da guerra. Engraçado é que eu lembrei também a primeira coisa que eu pensei quando te vi ali, tão sereno no meio do caos. Eu me lembro que eu pensei "Esse garoto Weasley é alguém com quem se pode contar".
Não é a coisa mais romântica pra se dizer, eu sei. Mas eu ainda penso assim.
Mas não só assim.
Você é único, Charlie, e eu sou um homem de muita sorte.
Saber que você tem um relógio com meu nome me faz feliz. Acordar ao seu lado depois de dez anos me faz feliz. Ouvir você entusiasmado com o jogo de quadribol me faz feliz.
Rir com você e às vezes de você, me faz feliz. Até mesmo desmoronar no seu ombro quando as coisas ficam difíceis me faz feliz.
Ter você na cama me deixa louco e me faz feliz também.
Me faz feliz voltar pra casa. Mesmo quando você não está lá, porque eu sei que, em algum momento, você também vai chegar.
Eu gosto de ver você concentrado, preparando suas aulas. Adoro sua inquietação em espaços fechados. Eu fico vendo no seu rosto a necessidade de sair, de ver o mundo, de viver e acho isso a perfeição.
Você é tão intenso, meu domador de dragões.
Eu me pergunto como um homem tão forte como você pode ser tão gentil com as mais assustadoras criaturas.
Às vezes, eu me sinto como uma delas, seguro em seus braços. Sabendo que posso contar com você, com seu amor por mim.
Outras vezes, eu me sinto tão ridiculamente protetor em relação a você, que fico com medo que me chame de Molly.
Eu te amo, garoto.
Eu te amo demais.
E como eu te conheço, sei que você está se perguntando a que vem tudo isso.
Tem um país na América do Sul, chamado Brasil, que comemora o dia dos namorados hoje. Então, é só para você saber que eu te amo e hoje é nosso dia em algum lugar que talvez a gente visite juntos.
Te vejo a noite.
Kingsley
