Fanfic : O Toque de Lucas
Autor : Lexas(joaotjr@hotmail.com)
Baseado em : X-men Evolution
Obs.: Há anos eu sempre lia as histórias dos X-men, sempre fui um fã - as vezes não muito fiel - das aventuras dos mutantes mais queridos - e odiados - do mundo. Gostei muito da série antiga, a qual até hoje é exibida na Fox Kids, e ainda mais da série Evolution, a qual remonta o propósito primordial da escola Xavier. Para quem não compreendeu, em determinado momento dos quadrinhos a Rainha Branca - antiga inimiga de Xavier, diretora do Clube do Inferno, uma escola para alunos superdotados como a do professor Xavier, só que com princípios um pouco diferentes - após saber que todos os seus alunos morreram, daí a o Clube do Inferno passa a se chamar "Escola para Alunos superdotados Charles Xavier" e a antiga escola é renomeada para "Centro de Estudos Avançados Charles Xavier", é nessa época que surge a famosa "Geração X", que remonta os primórdios dos X-men, na época em que eles eram treinados para controlar seus poderes, e não para irem a guerra contra outros mutantes, como foi o caso dos Novos Mutantes. Esse é um ponto que eu admirei muito na saga Evolution, é enfocado a escola, os estudos, e não propriamente como se a guerra entre humanos e mutantes fosse ocorrer a qualquer momento. Deixo esse texto para sua apreciação e, acima de tudo, não tenho como me julgar. Para vocês, fãs de carteirinha e iniciantes no mundo mutante, peço que sejam pacientes em algum provável deslize meu, pois acima de tudo, sou apenas mais um fã que, acima de tudo - e quando digo isso, me refiro a algumas das sagas dos quadrinhos que foram vergonhosas e ao desenrolar de vários personagens que decepcionaram os fãs, mas não foram o suficiente para fazer o prazer na obra morrer - está empolgado em Ter a chance de mostrar para outros o verdadeiro significado de alguém se erguer do meio do nado e gritar "X"!!!!!!
Boa leitura!!!
O TOQUE DE LUCAS
CAPÍTULO 1
- Vai com cuidado, tá?
- Tá bom, mãe. Não se preocupe.
- Querida, dá pra soltá-lo? Ele não é nenhuma criança!
- Se é assim, por que está levando-o até a rodoviária? Você nunca fez muita questão disso!
- É caminho para o meu serviço, anda. E não vá se acostumando, garoto.
- Tá, pai. Até mais tarde, mãe - o rapaz fecha a porta do carro, de modo que o homem no volante dá a partida e segue pela rua.
- Não apronte. - o tom impessoal e totalmente desprovido de emoções do motorista há tempos não surpreendia o rapaz. Quando foi que ele perdeu o medo? Quando parou de se preocupar com tal coisa?
Muito tempo. Pouco para uma vida, muito para um adolescente.
- Irei me comportar, como sempre, pai. - ele respondia casualmente.
- É bom, mesmo. Não estou a fim de ter que ir até BayVille por sua causa. MINHA esposa ficou falando muito no meu ouvido, então espero que não me cause problemas por lá, entendeu?
- Ok. Como tem ido no emprego? O que tem feito?
- A mesma coisa todos os dia - respondia de igual forma, sem ao menos olhar para ele.
- Então, está indo tudo bem.
- Hunf.
- Algum problema por lá.
- Não.
- Que bom! Como seus amigos tem passado?
- Bem.
- Deve ser bom Ter companhia, né pai?
- Sempre é bom Ter GENTE ao seu lado - e respondia de forma tão fria que conseguia cortar o assunto.
- Eí, pai...
- O que foi?
- O ônibus para a rodoviária passa há duas ruas da nossa casa, sabe.
- E daí? - respondia rispidamente, como se não se importasse com a linha de raciocínio do rapaz.
E realmente não se importava.
- Daí que o senhor não precisava me levar até lá.
- E daí?
- Daí que eu sei que, no fundo, o senhor se preocupa, e muito, comigo. Senão não teria me trazido. - o carro dá uma parada brusca e, se ele não estivesse usando seu cinto, teria batido o rosto no painel do carro.
- Escute aqui - ele o encarava - tudo isso é sua culpa, que fique bem claro. Por mim eu te colocava em um táxi e te mandava direto para o seu tio, mas minha esposa insistiu que eu devia te acompanhar, o que eu acho um absurdo e desperdício de tempo. Da última vez tive que trocar de emprego, cidade, perder contato com amigos, mudar os locais que eu estava acostumado a passear e fazer compras... e tudo isso para que? Por sua causa. Você tem sorte dela Ter um coração enorme, por que se dependesse de mim, eu não ergueria um dedo, ficou claro? E caso não se importe de ficar em silêncio, EU me IMPORTO, entendeu? Cale essa boca por que eu não quero estragar o meu dia logo cedo!
- E-e-está bem, papai - e se encostava no banco, enquanto observava a rua passando rapidamente, assim como alguns outros estudantes caminhando.
Iria sentir saudade daquele lugar. Tudo bem que passou por maus momentos, mas era a sua cidade, o seu lar.
Ao olhar pela janela, ele observa vários alunos passando, indo para a escola.
Sua antiga escola. Iria sentir falta dela. Muito.
Mas não era definitivo, sabia que não... esperava um dia voltar e, se dependesse do seu tio, seria mais rápido do que esperava.
Bendito o dia em que o mesmo lhe enviou uma carta, convidando-o para morar com ele, dizendo que havia uma escola para alunos especiais, e que poderia ajudá-lo.
Um pingo de esperança? Talvez. Afinal, esperança é a última coisa que nos resta, a única coisa que, por pior que as coisas estejam, ainda podemos Ter.
***
Ele arregala os olhos. Já haviam se passado três horas desde que entrou no ônibus. Seu pai o acompanhou até a estação - para se certificar de que ele entraria mesmo no ônibus - e foi embora, sem nem ao menos se despedir.
Carinhoso ele, não?
***
- O que está olhando?
- Hã... nada, não.
- É melhor que não esteja aprontando nada, entendeu?
- Não, eu juro.
- Ótimo. E se, veja bem, se, por que eu nem quero cogitar essa hipótese, se por algum acaso você fizer ALGUMA coisa, QUALQUER coisa, eu vou fingir que não te conheço. Nem vou me dar ao trabalho de sair da minha cidade, do recanto do meu lar para ir descobrir o que você aprontou naquela cidade que eu estou fazendo questão de não lembrar o nome, ficou claro?
- Tudo bem.
- O que tanto olha? São apenas pessoas normais, diferentes de você. - ele apontava para fora do carro, aonde alguns alunos caminhavam.
- Hmm... é... diferentes de mim...
E ele que imaginou que não seria tão fácil assim encontrar o que procurava quando sua madrasta recebeu aquela carta...
- Sim, diferente de você essas pessoas não destroem aquilo que tocam.
***
Ele acorda, percebendo que sua blusa estava um tanto quanto encharcada. Na verdade, todo o seu colo estava molhado.
A origem era óbvia: seus olhos. Lágrimas vertiam deles, muitas lágrimas.
Por que seu pai tinha que tratá-lo daquela forma? Ele era seu filho, não um demônio!
Demônio... isso... era isso que ele era para seu pai, e nada mais.
Um demônio... até ser visto como uma aberração era aceitável... tolerável, mas... não, nem isso seu pai o considerava.
Um demônio.
Um maldito e profano demônio.
***
Inferno.
Sim, era um Inferno. A melhor palavra para definir aquela situação. Quando aquilo foi acontecer? Há pouco.
Como aquilo podia ter acontecido? Como?
Aquela casa, aquele lugar... era seu lar. Desde os tempos mais antigos, se é que ele podia usar tal linha de pensamento. Seus bisavôs moraram ali, e todos os que vieram depois.
E agora, aquilo.
Inferno. Um verdadeiro Inferno.
Como aquilo foi acontecer?
Há pouco estavam lá, ele, sua esposa, seu filho... e agora, tudo perdido. Tudo. Seu filho ardia no fogo destruidor que tomara conta de sua residência, sua esposa adentrara nas chamas para salvar a criança.
E ele, o que fez?
Nada. Fora um fraco. O medo, o terror... tudo isso e muito mais tomavam conta dele, invadiam seu corpo e o impediam de agir. Não era para a sua esposa ter entrado ali dentro, ele era o marido, o pai, o chefe da casa. Ele é quem devia ter entrado lá, adentrado nas chamas para salvar seu filho, sua cria, sua prole.
Mas não o fez. Ficou paralisado de medo, totalmente estático diante da situação. Sua esposa não, ela não pensou duas vezes.
Mas... ele podia ter feito algo. Podia ter pego um pano, molhado ele e invadindo o recinto, mas não o fez.
Era um covarde, um medroso que viu a família ser destruída diante de seus olhos.
E ele simplesmente não fez nada. Ajoelhado e tomado por lágrimas, ele ouvia passos. Os vizinhos, provavelmente. As vozes dos mesmos eram de puro terror. Alguns se compadeciam e se aproximavam dele, tentando consolá-lo, outros carregavam baldes - esperança, sempre haviam aqueles que não se deixavam derrotar - e tentavam apagar as chamas, inutilmente.
Ao longe, as sirenes já podiam ser ouvidas. Ao longo da rua, o brilho dos carros dos bombeiros era perceptível.
Mas, para ele, isso não tinha a menor importância. O fogo destruidor acabara de consumir seus sonhos, esperanças... sua vida! Que importava apagá-lo, agora que tudo já se foi, que tudo já se perdeu? Nada. Simplesmente de nada adiantava. Que queimasse por toda a eternidade, lembrando-o sempre do seu fracasso como marido e pai.
Outra explosão, e os vizinhos se afastaram. O que tentavam provar? Por acaso ainda não tinham entendido que nada seria capaz de sobreviver ao que acabara de ocorrer? Fogo de tamanha magnitude não podia ser combatido. Era mais do que isso, era uma verdadeira força da natureza clamando pelo seu lugar, pelo seu espaço, consumindo impiedosamente a tudo e a todos que encontrava pelo caminho.
Inclusive sua família.
Tamanha era sua tristeza que não se dera conta que os gritos haviam parado. Apenas agradecia por, subitamente, um silêncio ter tomado conta do local. Tinha muito o que pensar, se martirizar, se culpar. Seus erros, suas falhas, tudo o que podia ter dito a sua esposa, a promessa que fizera a seu filho de levá-lo para pescar, o vestido que prometeu para sua mulher...
Ele ergue o rosto, contemplando a cena mais uma vez. Uma explosão, lembrava-se. Tudo começou com uma explosão. De onde veio, como veio, disso não se lembrava, sua mente estava nebulosa, só conseguia se concentrar no momento em questão, todo o passado estava esquecido até o presente momento. Uma explosão surgiu, atingiu o segundo andar, o fogo gerado se espalhou pelo resto da casa. Sair dali foi sua reação mais básica, a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.
Mas... por que não voltou para salvar seu filho? Talvez por que o andar de cima da casa explodiu novamente - e de forma assustadora - de modo que, em seu intimo, nada lhe convencia de que algo fosse sobreviver àquilo, ainda mais uma criança. Foi uma explosão tão forte, que o fogo no segundo andar se espalhou ainda mais rápido.
Nada sobreviveria àquilo. Nada.
Então... se era assim, por que seus olhos o castigavam com a imagem daquela mulher carregando algo envolto num cobertor?
O que veio a seguir passou como uma nuvem, de modo que ele mal conseguia se lembrar dos detalhes. Ajudou sua mulher, mas teve uma surpresa ainda maior ao ver que a pessoa envolta no cobertor era seu filho.
Ileso. Não havia um arranhão sequer em seu corpo, era como um milagre ele ter sobrevivido àquele inferno.
E Não deveria. Até mesmo a roupa dos bombeiros viraria uma pasta derretida.
A despeito disso, sua esposa não estava com a mesma sorte. Seu cabelo estava todo sujo de fuligem, e isso nas partes em que havia cabelo, pois o mesmo estava queimado em diversos pontos. Em sua cabeça haviam queimaduras, assim como nos braços e nas roupas.
Ele a ampara, pegando-a nos braços quando a mesma desaba. Respiração, batimento cardíaco... tudo estava fraco, muito fraco. Não era médico, mas sabia muito bem que as pupilas dela estavam dilatadas, seu pulso estava quase nulo...
Ele pede por socorro, implorando por ajuda. Era como um milagre, mas sua esposa conseguiu sair de dentro daquela inferno. Gravemente ferida, mas os bombeiros estavam ministrando cuidados a ela.
Ela iria viver. Tinha certeza disso, acreditava em suas palavras com toda as forças. Ela fora capaz de adentrar nas chamas para salvar seu garoto, não iria morrer depois disso.
Pelo garoto.
Por ele, que não suportaria viver sem o apoio dela. Não conseguiria viver dia após dia com esse fardo, esse peso na consciência.
Nunca.
***
- Chegamos, caros passageiros. Sejam bem vindos ao Terminal Rodoviário de BayVille!
Ainda bastante sonolento, ele se ergue e, pegando sua bagagem, desce do ônibus. Um carregador chega a se oferecer para ajudá-lo, mas ele o dispensa, de modo que algumas pessoas ficam um pouco impressionadas ao ver aquele rapaz - o qual deveria Ter algo em torno de 14, 15 anos - carregando tantas malas, as quais aparentavam ser pesadas.
Aquele último sonho fora bastante incômodo. Não tão triste quanto o primeiro, mas incômodo. Já o tivera antes, mas não entendia por que voltara a tê-lo ali novamente. Fazia tempo desde que sonhara com aquilo, por que ali e agora?
E lá ia ele caminhando para sua "nova" residência. Como seria ali? diferente? Talvez. Faria amigos? Algo lhe dizia que sim.
Sentiria medo? Com certeza, algo comum de todo aluno - e forasteiro - em uma nova cidade.
Ele olha para trás, enquanto via o ônibus sumindo pela estrada. O mesmo balança a cabeça. Quando isso iria terminar?
Pensando bem, quando aquilo começou? Já fazia tanto tempo desde que seu pai começara a tratá-lo assim.
Sabia o que ele pensava. O mesmo já tinha lhe dito antes o que achava acerca daquilo. Com o tempo, acabou se acostumando, mas que doía muito, doía.
Talvez um dia isso mudasse, talvez não, a questão era que aquela indiferença era algo presente em sua vida, e ele acabou tendo que se acostumar com ela.
E lá estava ele, do lado de fora do Terminal Rodoviário de BayVille. Que surpresas o aguardavam?
O mesmo atravessa a rua, imaginando o que iria encontrar enquanto sinalizava para um táxi.
E que a alma de sua querida mãe o velasse enquanto estivesse ali.
