Capítulo 3 – Só por que tudo dá errado, Não quer dizer que não possa piorar ainda mais...
- Ei! Ei!
- Hmm? – ele se vira, dando uma leve risada – Ah, até que enfim você apareceu!
- Onde você estava? Te procurei o tempo todo!
- Ah, eu tô aqui, ora! – e caminhava em sua direção– e você, como está?
- Eu tô boa!!!
- Ai... já não te disse que o certo é "eu estou bem"?
- Chato – e continuava correndo em sua direção, até que ele vê uma mão segurando no braço dela – hã?
- O que foi? – Ele estava sem entender o que era aquilo.
- Eu já disse que não gosto de te ver sozinho ao lado dela, não disse?
- Mas... mas qual é o problema?
- Você é o problema – e puxava a garota – vamos embora.
- Para! Deixa eu ficar com ele! Deixa! Deixa! Deixa!
- Já disse que você tem mais o que fazer, não disse? E ele não pode ficar do seu lado, não é mesmo?
- Mas por que? Por que não posso ficar com ele?
- Mas eu gosto tanto dele, por que não podemos ficar juntos? – a garota estava praticamente sendo arrastada.!
- Alison... – ele abaixava a cabeça, cheio de tristeza. – Alison... – algumas lágrimas corriam pela sua face diante do ocorrido – Alison... – como alguém era capaz de machucar tanto assim outra pessoa – Alison...
- ALISON!!!!!
- Calma! – Vampira se erguia ofegando.
- Eu... eu... – ela olha para o lado, notando a presença de Scott.
Scott?!?!?!?
- O que... o que houve, eu... eu...
- Calma, Vampira! – ele colocava a mão no seu ombro – se acalme, vamos. Tem que se acalmar, não pode se descontrolar!
- Eu duvido muito que isso torne a causar problemas, Scott – Ororo, a qual usava um jaleco branco, se aproximava de ambos – Os podres que Vampira absorvem tem um determinado tempo de uso, não creio que ela possa representar perigo, ainda mais no seu estado.
- O... o...
- Vampira, tem que se acalmar – ele sente uma vontade enorme de abraçar Scott mas se contém – Calma, já passou! Respire fundo, procure organizar seus pensamentos, vamos. O que quer que tenha sonhado, agora não irá te incomodar mais, foi apenas um sonho, ok?
- Eu... – ela se encolhia e tentava seguir o conselho dele. Observando melhor, percebeu que estava na enfermaria da escola, vestindo uma roupa especial – para ela – para que pudesse fazer alguns exames.
- O que aconteceu, Scott? – ela o encarava com um olhar de súplica – o que aconteceu? Eu... eu não me lembro de muita coisa e...
- Você tocou naquele rapaz, Vampira – Ororo se aproximava, examinando-a – foi isso o que aconteceu.
- Tocar? Mas eu... eu não toquei nele, juro!
- Talvez não se lembre, mas foi o que aconteceu – Scott olhava para a porta da enfermaria – fomos todos pegos de surpresa, demoramos um pouco até entender o que estava acontecendo. Parecia que tudo estava contra nós, coisas indo para todas as direções, outras coisas explodindo...
- E-eu fiz isso? – ela ficava ainda mais em pânico – eu... – e, ao virar o rosto, sentia uma dor bem porte na coluna – o que me deteve, eu...
- Blob a deteve, Vampira – Ororo ativava seu comunicador e se afastava para outro canto da sala – ele a nocauteou antes que piorasse a situação.
- Eu não acredito – ela se esforçava para tentar se lembrar, mas tudo havia sumido de sua mente.
Na verdade, era como se nunca tivesse acontecido.
- Alguém se feriu? – ela tinha um enorme sentimento de culpa a corroendo. Sabia que, com seus amigos presentes, os danos seriam minimizados ao máximo, mas ainda assim, estava preocupada.
- Só uma pessoa.
- Mesmo? – a preocupação aumenta ainda mais – e quem... ai! – ela olha para o lado, percebendo que acabara de receber uma picada no braço por parte de Ororo, a qual estava de posse de uma seringa – Tempestade, o que foi que você... fez..... – A deusa da tempestade segura a jovem, deitando seu corpo na cama.
- Durma bem, Vampira.
- Como? Por que fez isso, Tempestade?
- Foi preciso.
- Mas ela já estava bem, não precisava tê-la sedado para que...
- Ainda tem muito o que aprender, Jovem Summers. Vampira não absorve apenas os poderes, mas também as memórias das pessoas. Enquanto você tentava acordá-la avisei a Logan para ficar de olho nos corredores e colocar de volta para a cama qualquer um que saísse de seu quarto.
- Acha que é tão grave assim?
- Ela estava tendo um pesadelo, a dose que lhe apliquei a fará dormir profundamente, pedi autorização de Charles para tanto.
- E esse nome, "Alison"?
- Isso eu não sei... – e maneava a cabeça, como se estivesse prevendo algo pior – definitivamente eu não sei – e se perguntava por quanto tempo isso iria durar. Da última vez, Vampira ficou sonhando com o passado de Mística por um bom tempo.
- E quanto ao garoto? Eu vi quando Pietro o tirou de lá, acha prudente deixá-lo aos cuidados da Irmandade de Mutantes?
- Por hora, sim. Ainda mais depois do que aconteceu, talvez seja melhor ele estar em algum lugar que não seja contra a sua vontade.
- Mas eu não entendo, por que não o trouxeram para cá? Ele estaria seguro aqui, não estaria?
- Sim, estaria mas, segundo Charles, ele conhece bem os McCoy para prever as ações do garoto...
***
TRIM!!!!
TRIM!!!!
TRIM!!!!
TRIM!!!!
TRIM!!!
- Hã? Heim? Onde? Como? Quando? – ele se assustava com o barulho e, ao se mover, acaba caindo do sofá, dando de cara no chão – AI!!!!!
TRIM!!!!
TRIM!!!!
- Ai! Já vou! Já vou! – Mal conseguia ficar de pé, justamente por que sentia uma dor enorme na coluna – Ai, droga! – ele olha para o sofá, mas lembra-se de que, por pior que ele fosse, nada deixaria sua coluna naquele estado
Mas que diabos aconteceu? Tudo estava embaçado e...
TRIM!!!!
TRIM!!!
- TUFO!!! Já vou! Já vou! – ele caminha a passos largos, até que se dá conta de algo – Espera um pouco... o telefone funciona??
Aquilo era novidade. A casa estava uma bagunça... e o telefone ainda funcionava?
- Alô? – ele atendia bastante sonolento.
- Alô? Lucas? Lucas?
- Hã... quem fala?
- Quem fala? Quem fala?
- Sim, quem fala?
- ...
- Alô? Tem alguém ai?
- LUCAS BLAIRE McCOY!!! O QUE ANDOU FAZENDO A NOITE TODA? – ele chega a se afastar do telefone devido ao susto.
- Ai, meus tímpanos... Tânia???
- Quem pensou que fosse?
- Eu...
- ACORDA, DORMINHOCO!!!
- AAAAAIIIIII!!!! PARA DE GRITAR NO MEU OUVIDO!!!
- QUE FOLGADO! NÃO É POR QUE ESTÁ LONGE DE CASA QUE VAI RELAXAR, OUVIU?
- Tá bom, mamãe – e sacudia a cabeça, organizando as idéias. – Tudo bem com a senhora?
- Comigo tudo bem, mas e você? Fez uma boa viagem? Por que não ligou ontem?
- Eu tive alguns problemas. Fiquei o resto do dia arrumando a casa.
- Lucas... conheço esse seu tom de voz... o que aconteceu?
- Ora, nada.
- Fale a verdade.
- Mas estou falando a verdade!
- Anda, sei que está mentindo!
- Tá bom, tá bom... eu perdi um tempão procurando o tio Hank, e... bem, digamos que eu ainda não tive muito sucesso e...
- COMO É?!?!? – ele podia jurar que ouviu um rosnado do outro lado da linha – NÃO ENCONTROU?!?!? ESTÁ ME DIZENDO QUE HENRY NÃO FOI TE RECEPCIONAR?!?!?
- Ele é um pouco ocupado, Tânia. E além do mais, ele não estava na escola.
- Não estava? Não estava? COMO ASSIM, NÃO ESTAVA?!?!?
- Eu – ele engole a própria saliva, percebendo que tocou em um assunto delicado – olha, Tânia, eu...
- Me pede para enviá-lo até ai e nem sequer está presente para receber o próprio sobrinho? Ah, mas o McCoy vai ouvir umas poucas e boas, ah se vai!!!
- Calma! Vai acordar o resto do pessoal ai em casa!
- Só eu estou aqui, Lucas.
- O que meu pai disse?
- Você quer mesmo saber?
- Não, até já imagino – ele abaixava a cabeça – é, acho que ele nunca vai se importar comigo, Tânia.
- Calma, não precisa ficar desesperado. Seu tio é geneticista, certo? Ele pode ajudá-lo quanto a isso, não se preocupe.
- Será que tio Hank pode me ajudar a ser normal?
- Claro que pode, ele é um geneticista famoso, lembre-se.
- Tá certo.
- E a casa, como está? Reformada?
- Sim mas precisa de alguns retoques – e olhava ao redor. Podia muito bem "soltar o verbo", mas não queria que Tânia brigasse com seu pai por causa dele – mas isso eu vou ajeitando aos poucos.
- Que seja. Contactei um mercado local e pedi para eles entregarem algumas coisas, encontrou? Temi que chegassem e não tivesse ninguém para recebê-las.
- Ah, recebi sim – e se tocava da comida que encontrou. Só Tânia, mesmo. – e acho que não tiveram dificuldade para entrar, não – coisa que ele constatou ao ver que a fechadura era tão nova quanto o Titanic.
- Bem, como combinado, vamos depositar o dinheiro no dia marcado, ok? Até lá, use o que te demos para se virar, não gaste muito, ou irá ficar sem o que comer, ok?
- Ok.
- Mas você está pouco comunicativo hoje, heim! O que aconteceu?
- Nada não, é que eu dormi de mau jeito, só isso. Tenho um palpite de onde o tio Hank está, acho que encontro ele hoje.
- Eu ainda não entendo como você não o encontrou.
- Talvez ele não tenha recebido a carta, só isso. De qualquer forma, eu tenho que me arrumar, mãe. Um beijo, mais tarde eu te ligo novamente.
- Cuidado, Lucas. Não apronte só por que está longe.
- Tá bom, tá bom.
- E procure fazer amigos! – ele desliga o telefone logo depois de mandar um beijo para ela.
Ele se olha, analisando seu corpo. Estava inteiro, então aquela batida não quebrou nada, o que significava que não tinha desculpa alguma para furar seu cronograma.
***
- Bem, pelo visto tudo está correndo bem – A mulher caminhava em direção a cozinha – nada que um recém-chegado em uma cidade não tenha que enfrentar, só espero que ele saiba se guiar e tome cuidado com as companhias.
Mas isso já era outro assunto. Sentia que Lucas estava escondendo alguma coisa dela, mas confiava no mesmo, sabia que ele não lhes esconderia nada que fosse grave e, se ele omitiu algum fato, então não deveria ser importante.
– Ah, querido – Ela para no meio da sala e se senta na cadeira, enquanto sorvia uma xícara de café - será que é tão difícil assim você se dar bem com o seu filho? – falava para ninguém em especial, com uma expressão de sonhadora – olha só no que ele se tornou. É tão difícil assim você compreender que ele não é o demônio que só você enxerga?
Um demônio, ela lembrava-se bem daquela parte. Nem humano, nem doente, nem autista, nem mutante... um demônio, era assim que seu marido o via, era dessa maneira
***
Definitivamente nada ia bem. Nadinha!
Primeiro teve que dar uma geral pela casa para procurar algo que fosse tragável – as compras estavam no mesmo lugar de antes, mas os utensílios para deixar tudo apresentável – e em seguida, ainda fez uma pequena arrumação na cozinha, aproveitando para tirar um pouco da sujeira acumulada no chão.
Depois, ainda tinha que se arrumar, pra variar. Ainda estava preocupado com o fato do seu material escolar Ter sumido, mas estava decidido a resolver um problema de cada vez, a começar por descobrir o que aconteceu no dia anterior. Simplesmente por que, depois de se esforçar, a única coisa que lhe vinha em mente era Ter tocado naquela garota e, no instante seguinte, tudo ficou escuro.
Mas acabou se lembrando de outras coisas, também. Havia acordado em um sofá com um cheiro estranho, na verdade, estava sob um teto estranho.
Caminhando um pouco, ele fita o local aonde estivera poucas horas atrás, o alojamento da Irmandade de BayVille. Não tinha a menor idéia de como foi parar ali, mas no momento em que abriu os olhos, saiu do local e foi para sua casa. Sentia que devia Ter deixado um bilhete no local dando satisfações para os moradores dali – o que o lembrava de que Lance morava lá, junto com aquela garota que jogou aquela bola explosiva nele no dia anterior – mas no momento não pensou em mais nada.
Tinha como piorar ainda mais o dia?
- Ai... – Lucas olha para seu relógio e confirma seus maiores temores: estava atrasado. Não com base nele, já que o mesmo estava parado – "Aquilo" aconteceu novamente – e Ter olhado para um relógio no topo de um prédio serviu para guiá-lo melhor ainda – Ai... – de todas as coisas, aquela era a pior. - AIAIAIAIAIAIAIAIAI!!!! – Ele corria pela rua – EUVOUMEATRASAREUVOUMEATRASAREUVOUMEATRASAREUVOU....
- E ai, cara? Com pressa? – ele para bruscamente quando, do nada, Pietro surge em sua frente.
- Ahhhh!!!! Putz, de onde você surgiu?!?!?
- Ih, olha só a do cara, meu! Não grila, por que a pressa?
- Eu... olha, eu tô atrasado, sem tempo para conversar e...
- Está com pressa? É, acho que nesse ritmo vamos nos atrasar. Quer uma carona?
- Carona? Cadê sua bicicleta?
- Bicicleta pra que?
- Tem moto? Carro?
- Hah! Quem precisa dessas velharias? – ele segura no braço de Lucas – eu tenho coisa bem melhor... - Lucas não se lembrava se havia aceitado ou não a oferta de Pietro, a única coisa da qual se lembrava era de ver tudo passar rapidamente, como se ele estivesse em um carro em alta-velocidade. Aquilo o pegou de surpresa, as pessoas eram vultos que passavam rapidamente diante de seus olhos, a paisagem parecia com uma ventania carregando poeira.- Prontinho, chegamos.
- Mas... ahhhhh!!!!!- ele não conseguia acreditar, estavam nos fundos da escola, perto do campo que Lance havia lhe mostrado no dia anterior – mas que diabos de... de... de... – ele olhava surpreso para Pietro.
- Que foi? Legal isso, não? Posso correr bem rápido, se quer saber. Por isso que não participo das provas de atletismo, aquele molengas não podem comigo!!!
- Céus, Pietro... você é um... um...
- O que? Mutante? Sim, eu sou um Mutante, cara.
- E eu também – Lucas olhava para trás, bem a tempo de ver Lance encostado em uma árvore – assim como você.
- Peraí, quem disse que eu sou um mutante? – ele estava surpreso. Havia tido uma breve demonstração no dia anterior, mas não achava que Pietro também fosse um – Aliás, o que é um mutante?
- A gente viu quando a vampira te lançou longe ontem. – Pietro estava bastante empolgado – cara, aquilo foi demais!
- Me... lançou?
- A vampira é uma mutante que nem a gente. Quando ela toca em alguém, absorve seus poderes.
- Eu tava quase caindo encima do Summers quando você do nada passou voando por cima da mesa e foi contra a parede. A vampira deve Ter te arremessado, nem sempre ela consegue controlar os poderes que absorve.
- Hã... eu... eu... – ele estava tremendo. Quem mais sabia disso? Com certeza todo mundo – eu... eu...
- Não esquenta – falava Lance – o pessoal achou que era uma briga entre vocês dois.
- Alguém se feriu?
- Como?
- Alguém se feriu?
- Tirando você, ninguém. Por que?
- Ufa! – ele respirava aliviado – só por curiosidade, mesmo.
- Cara, você precisava Ter visto o que aconteceu depois, tinha que Ter visto a cara do Summers!
- O-o-o que aconteceu? – ele estava ainda mais assustado diante das palavras de Pietro. O quanto de destruição ele causou?
- O Blob acabou tendo que nocautear a vampira antes que as coisas piorassem.
- Blob?
- Você sabe, o Fred.
- Como é? Ele bateu nela?
- Tava tudo explodindo no refeitório, cara! E o pior era que ela não tava conseguindo se controlar, tava no chão gritando, enquanto tudo explodia, as mesas saiam do lugar... meu, que poder sinistro você tem! – falava Pietro, excitado – isso é demais, é adrenalina pura!!!!
- Eu... eu... eu... – os olhos dele eram puro medo. O que foi fazer? Ninguém se machucou, mas quantos poderiam Ter se machucado? Quantos? Por que essas coisas tinham que se repetir? Tanto tempo, e tinha que voltar? - eu... – sua mão tremia de medo e consciência do que, indiretamente, acabou fazendo – eu... – Ainda bem que não sabia disso quando conversou com Tânia, do contrário, ela perceberia qualquer mentira por parte dele – eu tenho que ir para a minha sala – e saiu dali, estava com muita coisa na cabeça, tinha que sair dali.
Que idiota fora! Finalmente encontrou gente como ele, diferente dos que ele via na tv, e a primeira coisa que fez foi fugir. Burroburroburro! Eles o acolheram, o enturmaram, e era assim que ele agradecia, fugindo?
Não conseguia olhar para trás. Não conseguia olhar para frente, enxergar o caminho que seguia. Ele passa correndo pelo seu armário – que surpresa, lá estava seu material sumido - e continua correndo.
Um forte impacto o faz voltar à realidade, de modo que ele cai. Havia trombado com alguém, que ótimo! Como se não faltasse mais nada para que seu dia já estivesse sendo ruim o suficiente.
- Desculpe, eu te ajudo – e pegava os seus livros e os dá pessoa na qual esbarrou – eu não estava atento, desculpe.
- Não, eu é quem estou errada, também não estava prestando atenção. "Teoria da Evolução, por Henry McCoy"? Leitura interessantes essa...?
- Lucas – ele ergue o rosto, no mesmo instante que a moça, os olhos nos olhos, a face na face, um surpreso com o outro – Vampira?
- Eu – ela estava assustada. Muito, na verdade – eu...
- Espera, eu quero falar contigo, eu...
- Eu... eu tenho que ir! – e se erguia bruscamente, correndo de perto dele.
- Espera, eu... preciso falar com você – suas últimas palavras antes de sentir uma mão bater no seu ombro. Uma mão bem suave, por sinal.
- Ela está confusa, Lucas.
- Hã... quem é você?
- Sou Jean.
- Ah sim, desculpe, que falta de memória a minha. Estou com a cabeça muito cheia, sabe.
- Eu entendo. Vampira tem passado por muitos problemas ultimamente, peço que a compreenda.
- Ah, sim. E... aham, desculpa por qualquer problema que eu tenha lhes causado ontem, ok?
- Isso acontece com todos nós, Lucas. Todo mundo já passou por esse tipo de problema.
- "Todos nós"? Espera, está dizendo que... caramba... existe gente normal nessa escola?
- A maioria, com exceção de alguns. Eu e meus amigos freqüentamos um instituto especial para pessoas como nós, seu tio também trabalha lá.
- Ele está lá? – uma fagulha de esperança surgiu nos olhos dele.
- Não, mas ele mestra aulas para alguns alunos de lá. É um local aonde podemos andar livremente, pois possui locações adaptadas para nossos dons. O que acha de fazermos uma visita depois das aulas?
- Eu... olha, eu não sei. Agradeço o convite, mas estou com muita coisa na cabeça, mal consigo pensar direito e... talvez outra hora, ok? – e terminava de pegar seus livros – a gente se vê por ai, e obrigado pela dica – e sumia pelo corredor.
Era incrível como o mundo dava voltas. Numa hora, estava adorando a idéia de estar em uma nova escola com a possibilidade de conhecer gente como ele, em outra, estava odiando o fato de estar ali, tanto que entra rapidamente na sala, cumprimentando as pessoas e sentando-se sem dizer mais nada.
- Oi, Lucas. Tudo bem contigo? – a voz de Kitty, sentada atrás de sua carteira, soava bem temerosa, como se temesse algo.
- Sim – ele respondia rapidamente, tentando se concentrar nos seus problemas.
- Ei, quer dar uma volta com a gente depois das aulas? – perguntava Kurt.
De novo? Será que todo mundo agora iria pegar no seu pé? Era tão difícil perceberem que ele queria ficar em paz por alguns instantes? Já era muito ruim o suficiente Ter que dar ao braço a torcer ao seu pai, se todo mundo ficasse perguntando como ele se sentia a cada cinco minutos, só iriam piorar a situação.
E Vampira... ah, vampira... o que foi que ele fez? Agora ela deveria estar se sentindo tão mal por causa dele... em verdade fora ela quem absorveu seus poderes, mas era o seu poder, não os dela. Ela não tinha culpa, não era responsável pelo que aconteceu.
Era um milagre haver outros mutantes por perto para contê-la. Mas isso não mudava o fato de que ela estava se sentindo mal, talvez tanto quanto ele. Tinha que fazer algo para corrigir seu erro.
Ele olha para Kurt, o qual mantinha uma cara descontraída como sempre. Será que... hmmm, como saber sem denunciar?
Kurt presta atenção quando Lucas passa um pedaço de papel por debaixo da mesa para ele, e o mesmo o pega.
"O que você e seus amigos costumam fazer depois das aulas"?
"Geralmente damos uma volta pela cidade, depois vamos até o instituto Xavier"- era a resposta de Kurt em outro papel.
"Kurt, você tem um Dom?" – outro papel, Kurt estranha a pergunta a principio, até que compreende o significado.
"Sim" – Kitty observava os dois trocando mensagens – "Eu, Kitty, Scott, Vampira... assim como você. Somos todos iguais, Lucas. Não precisa Ter medo da gente."
"Não estou com medo, apenas confuso. Ontem eu..."
"Vampira passou pelo mesmo problema que você, e ainda passa. Não se culpe, todo mundo tem seus problemas. O Instituto Xavier serve para nos ajudar a resolver nossos problemas".
"O meu único problema esse Instituto pode não conseguir resolver. Afinal, qual é o problema de Vampira"?
Kurt para de escrever e, inclinando o corpo, se aproxima de Lucas, falando bem baixo.
- Ela não pode tocar em ninguém, do contrário absorve seus poderes e suas memórias.
- Fiquei sabendo, mas não entendi qual é o problema com ela. – Kurt arregalou os olhos, ficando surpreso com o comentário de Lucas.
- Ela não pode tocar nem ser tocada por ninguém, entendeu? Nunca poderá tocar ninguém. Jamais.
***
Havia sumido misteriosamente no ao final da aula por razões que ninguém compreendia.
Estava pensando. Estava ocupado. Estava com muita coisa na cabeça.
Era incrível como o mundo dava voltas. Estava ele no refeitório, com o caderno aberto e fazendo algumas anotações, sem se importar com o ambiente a sua volta. A luminosidade do local era pouca, visto que várias lâmpadas estavam queimadas ou quebradas, algumas mesas estavam tortas, havia manchas nas paredes indicando que coisas foram lançadas contra elas... em suma, o refeitório parecia mais um campo de guerra.
Mas, para ele, aquilo já não importava. Todos choram quando precisam, durante o tempo que é necessário chorar, e aparentemente ele já havia atingido sua quota. Seja qual fosse o resultado, agora estava concentrado em outras coisas. Não sabia por que, mas um sentimento enorme de compaixão bateu em seu peito. Ainda sentia-se culpado pelo que aconteceu, mas de uma hora pra outra, seus problemas pareciam insignificante diante do problema das outras pessoas.
Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se inspirado para fazer o que fazia de melhor: pesquisar e teorizar. Fórmulas quânticas e biológicas surgiam em seu caderno, vez ou outra ele murmurava, amaldiçoando-se por seguir um caminho errado, outra vezes emitia um rápido e furtivo sorriso de alegria, constatando que seguiu o caminho certo.
- Posso me sentar aqui?
- Hã? Ah, oi Jean, fique à vontade.
- Parece animado.
- É, estou pensando numas coisas aqui. Desculpe não te dar muita atenção, mas estou meio que concentrado aqui, ok?
- Tudo bem – e comia seu lanche.
- Tudo jóia, Lucas? – Lance dava um tapinha nas suas costas, sentando-se ao seu lado – E ai, ruiva? Que que cê qué aqui?
- O refeitório é livre, Lance.
- Não pra gente do seu tipo. Escuta cara, tá a fim de dar uma volta depois da aula? A gente vai jogar basquete, te interessa?
- Dá pra adiar essa proposta pra outro dia?
- Por que? Tem coisa melhor pra fazer?
- Com certeza ele deve Ter, Lance.
- Ninguém pediu a sua opinião, ruivinha.
- E então, Lucas? Pensou na minha proposta?
- Na verdade – ele pega a mão de Jean e dá um leve tapa com a dele – eu – ele bate a palma da mão esquerda nas costas da mão direita, depois pega o lápis novamente e começa a rabiscar novas fórmulas no caderno, virando a página novamente por falta de espaço – estou trabalhando nisto aqui, Jean. Desculpe, mas acho que vou ficar até mais tarde trabalhando nisso. E ainda tenho que terminar de arrumar a minha casa.
- O professor te deu esse trabalho?
- Não, é por conta própria, mesmo. Deixa eu ver, se os átomos se aproximam, então ocorre o dispêndio de elemento S, mas ao ser atraído pelo elemento W, então ocorre...
- O que e isso? – Lance observa as anotações no caderno – parece interessante... e confuso!
- Lucas – Jean o fitava – davam esse tipo de matéria avançada na sua antiga escola?
- Não, é que eu sempre fui muito bem em Ciências, sabe. Sempre gostei de Física, Biologia, Química...
- Tá, mas ainda não entendi o que é isso – Lance pegava seu e começa a vibrá-lo, transformando o leite em Milk-Shake – servido?
- Oh – aquilo desviou a atenção de Lucas por alguns instantes – você pode vibra as coisas, incrível! - e aceitava a bebida, a qual estava muito boa – você deve fazer sucesso nas festas na hora de preparar coquetéis, não é?
- As vezes. Mas estou curioso, o que são essas anotações?
- Impressionante... realmente é muito impressionante, você... são ondas sísmicas, certo? Nossa, taí uma coisa que não se vê todo dia e – ele para, percebendo que tanto Lance quanto Jean o encaravam como se uma Segunda cabeça tivesse nascido nele – desculpem, as vezes eu me empolgo. Querem saber o que eu estou fazendo? Bem, eu... eu estava fazendo algumas observações e, bem... isso é bem precário, mas... isso aqui são algumas anotações que eu estou fazendo após uma curta observação e deduzindo alguns fatores.
- Anotações sobre o que? – Lance estava começando a ficar cheio daquele papo de cientista.
- Sobre aquela garota, a Vampira.
- O que tem ela? Jean dava uma risada internamente, lembrando-se de que eles ficaram alguns minutos conversando a sós antes dos problemas do dia anterior.
- Acho que estou começando a entender como funciona a doença dela...
