Capítulo 4 - Compaixão
Certo, uma coisa de cada vez.
Em primeiro lugar, tinha que arranjar alguma forma de renda. Não sabia até quando o "amor" de seu pai iria durar, e o mesmo "amor" não era suficiente para o que ele pretendia fazer.
Em segundo, tinha que achar seu tio. Era incrível como, mediante determinadas situações, as pessoas mudavam de opinião rapidamente. antes queria encontrá-lo de todas as formas, mas agora ficar ali naquela cidade - ao menos por um tempo - era o mais importante.
Estava surpreso. Não imaginou encontrar um local com tanto "material genético" disponível, ainda mais daquela forma, tão próximos dele.
Mas sem viajar muito, tinha que voltar ao problema mais atual. Seu tio pelo visto trabalhava nesse tal instituto, o que já era um alivio e, mesmo que não estivesse por perto, já era um consolo. Agora tinha que pensar em como arrumar dinheiro, pois na possibilidade de seu tio hospedá-lo em sua casa, não queria ficar totalmente em sua dependência e...
- Sabe se tem algum lugar contratando gente? - ele pergunta para o rapaz de cabelo castanho que estava a sua frente.
- ...
- É que eu tô precisando levantar uma grana pra fazer umas reformas em casa, sabe.
- ...
- E acho que a grana do meu pai não vai dar conta, dai...
- Que história é essa de doença?
- Ah, então resolveu quebrar o silêncio, é? - ele dava um sorriso - Costuma ter muitos momentos assim, por acaso?
- Lucas - Jean, ao qual estava do seu lado ouvia cada palavra atentamente - o que você quis dizer com "doença"?
- Doença, oras - e bebia o milk-shake - D-O-E-N-Ç-A, doença.
- Mas a vampira não tem doença alguma!
- Acha mesmo? - ele limpava a boca e começava a reunir seu material - bem, eu estava pensando em alguns pontos, e cheguei a essa conclusão. Se é um poder, ela não deveria Ter algum controle sobre ele, por menor que fosse?
- Teoria interessante - Lance fazia um comentário ao acaso.
- Pois é... entendendo como a doença funciona, talvez seja possível encontrar a cura.
- Por que esse súbito interesse nela? - Jean o fitava.
- Nada em especial, apenas... apenas alguém que me parece Ter tanto problemas quanto eu. Apenas isso.
- E quais seriam os seus problemas?
- Os mais simples, porém, mais incômodos também. Bom, eu tenho que voltar para a aula - e pegava novamente o copo - valeu, Lance. A gente se vê mais tarde. - ele se ergue e segue seu trajeto, até que para e se vira - para a mesma - eí, por acaso tem alguma vaga em algum clube esportivo? Eu adoro esportes.
- O time de futebol está recrutando novos jogadores, o que acha? - Jean usou de todo o seu charme e apoiou a cabeça nem sua mão - você me parece bem forma - ele fica levemente corado diante do comentário daquela ruiva que, ao seu ver, era uma deusa, mas consegue se controlar - o que acha?
- Eu - ele olha para o lado, percebendo que uma moça pálida entrava no refeitório.
Tudo aconteceu bem rápido. Vampira se sentou em uma mesa bem distante, quando se deu conta de que Lucas, o qual havia deixado seus livros junto de Lance, vinha em sua direção.
E, alheio a tudo isso, o refeitório começava a ficar lotado de estudantes.
Jean e Lance se erguem. Apesar de terem pensamentos diferentes, o objetivo de ambos era o mesmo. Já os demais, vendo a situação, se preparavam para evitar o pior.
- Oi, tudo bem contigo? - ele para há poucos metros de onde ela estava sentada.
Não foi uma surpresa a reação de Vampira, mas ele tinha esperanças de que ela pudesse Ter reagido de forma diferente. Seus olhos estavam arregalados de tal forma que pareciam estarem prestes a explodir, seu corpo tremia de uma forma que ela não conseguia controlar.
E, somado a isso, apenas um nome. Aquele nome, o qual fora responsável pelos seus últimos pesadelos.
- Eí, se eu fosse você, ficava bem longe dela! - Todd, com toda a sua sutiliza, se aproximava - vai por mim, vai ficar mais inteiro. - e, como se confirmando as palavras dele, Vampira se levantou e saiu dali correndo.
- Ah, droga! - Lucas aperta o passo, até que sente uma mão bem pesada no seu ombro - eí, espera, eu...
- Melhor não ir, cara - ele sente a mão segurá-lo de tal forma que sequer consegue se mover - vai por mim, vai ser melhor.
- Fred, eu... - ele para de se mexer - mas que droga! Primeiro o meu pai, e agora ela... grande, o que mais pode dar errado por aqui?!?!?
***
Aquilo já estava ficando mais chato ainda. Passou na casa do seu tio, e nada. Estava até bagunçada, como se não cuidassem dela há meses.
Claro, não significava que não tinha alternativa, bastava apenas ela aceitar o convite de Jean e pronto. Mas, por mais que parecesse infantilidade dele, o mesmo estava um tanto quanto receoso de visitar aquela tal escola de mutantes.
Não foi para isso que ele veio até Bayville, frisava. Tinha assuntos a tratar, problemas a resolver, e nada daquilo o estava ajudando.
No entanto, ainda sentia uma dor na consciência. No fim, acabou despistando Lance e os outros para não ficarem seguindo-o, pois queria voltar em paz para casa.
Bem anti-ético, na verdade. Era só ele dizer que não estava gostando do fato de que todo mundo parecia estar "caçando-o", mas na hora faltou-lhe coragem, não conseguia ser rude daquela forma, se bem que...
Ele estava no porão de sua casa ajeitando as fiações. Definitivamente não tinha dinheiro para o que planejava fazer, logo precisava economizar em alguns pontos.
A começar pela conta de luz. Definitivamente não gostava de viver em um lugar às escuras, mas também não podia exagerar, fora que cortar aquilo seria um ganho enorme. Acabou comprando uma bateria complementar de energia para a própria casa para resolver esse problema. Pelos seus cálculos, com uma carga completa e levando-se em conta a quantidade de energia gasta, cada carga duraria de uma a duas semanas. E levando-se em conta que ele podia recarregar a bateria por conta própria, era um problema a menos.
Mas isso lhe trazia outros problemas: Água, telefone, melhorias... era mais do que ele planejava. A tal reforma que seu pai fizera foi um desastre, e com o dinheiro que era depositado mensalmente em sua conta, não dava para bancar uma obra, nem que fosse aos poucos.
Teria que arrumar um emprego, mas... onde?
Já havia anoitecido quando ele subiu e se jogou no sofá. Até o final da semana a casa estaria toda arrumada, mas não pronta. Claro que com suas vantagens especiais ele podia resolver muitos problemas facilmente, mas ainda não era o bastante. Se ao menos ele pudesse cortar os gastos com comida e água, mas nem isso...
- Tufo - Lucas suspirava enquanto caminhava até a cozinha. A essa altura o molho do macarrão que havia deixado cozinhando já estava começando a emitir um agradável odor, quem sabe isso o ajudasse a pensar melhor? - Hmmm... devia Ter colocado mais tempero - e começa a procurar pelo armário, tendo uma terrível surpresa - ah, droga! E agora, onde vou conseguir isso? - Uma folha de arvore bate no vidro da janela, chamando sua atenção. Independente do vento que a lançou, naquele exato momento ele visualizou um alojamento. Não um qualquer, e sim aquele que ficava no caminho de sua casa sempre que ia para a escola.
O alojamento da fraternidade de Bayville.
O que o lembrava de que havia visto aquela garota loira saindo de lá... geralmente fraternidades não eram unissex?
- Hmmm - Lucas coçava a testa - ai, droga... isso não vai prestar...
***
- Hã... ô de casa!- ele bate na porta, sem retorno. NO entanto, nem de longe era aquilo que lhe chamava mais a atenção, e sim ao estado da porta.
Não, nada de sujeira - apesar da mesma estar suja - e sim ao seu estado degradante. E o que mais o impressionou foi o fato da porta estar aberta, o que ele comprovou após bater novamente na porta.
- Com licença...? - Lucas adentra no recinto. - tem alguém a... TUFO!!!
Aquilo já havia ultrapassado qualquer padrão de limpeza! Ultrapassado não... estava abaixo de qualquer padrão de limpeza existente! O alojamento da fraternidade estava... destruído! As paredes sujas e descascadas, a pia da cozinha - a qual ficava logo na entrada - suja, moscas saindo de varias partes, móveis semi-destruidos, pedaços da parede faltando... será que ninguém cuidava daquele lugar? O que diabos o diretor do colégio Bayville estava fazendo que não cuidava disso? Afinal, era sabido que o governo, tantos o federal, estadual e municipal reservam uma parcela de sua verba mensal para a manutenção de alunos com necessidades, o que seria o caso. Claro que nem todo mundo que morava em alojamentos era necessitado ou deficiente de verbas para alugar um apartamento, mas mesmo assim era um direito que podia ser solicitado pelos alunos e... espera, solicitado, hmm...
NO que estava pensando? Foi ali apenas para pedir alguns ingredientes emprestados, não tinha tempo para pensar em... em...
- É falta de educação ir entrando assim na casa dos outros, sabia? - Lucas arregala os olhos ao ver, deitada no sofá da sala, uma garota loira de cabelo curto, sorrindo maliciosamente para ele. Claro que o fato da mesma estar jogando para o alto uma esfera brilhante do tamanho de um punho causava um efeito psicológico ainda pior.
- Hã, eu... desculpe, não foi a minha intenção, eu...
- Ouvi falar de você - Tabitha se ergue - fiquei sabendo o que fez, mas estou curiosa com outra coisa - A esfera dobra de tamanho - conseguiria segurar essa também?
Ele não espera pra saber ser aquilo era um blefe ou não, simplesmente abre a porta da casa e sai correndo dali. Tinha uma boa noção do que aquela esfera fazia, e não estava com a menor vontade de experimentar uma dose extra.
- Ei, volta aqui! - Tabitha joga a esfera e fecha a porta, para a surpresa de Lucas, o qual realmente não acreditou que ela havia feito aquilo.
- Ei, mas que barulho foi esse? - Todd descia as escadas movido pelo barulho da explosão - o que foi que você explodiu dessa vez, sua doida?
- Se liga, Todd! - ela esfregava as mãos uma na outra com seu habitual sorriso de sempre. - Eu só tava dando boas vindas para o nosso novo vizinho, oras!
- Ei, o que foi isso? - Fred chegava da sala, acompanhado de Lance e Pietro.
- Foi essa doida ai que não sabe se controlar! - Todd dá um salto e vai parar encima da geladeira quando Tabitha o ameaça com uma falsa esfera - ei, vai com calma ai!
- Você não tem mesmo o menor senso de humor, Tolansky - Ela se afasta um pouco quando sente uma batida na porta - vamos ver como está nosso vizinho, talvez ele queira pedir alguma coisa e... - Thabita arregala os olhos, surpresa. Longe de ver Lucas ferido, escoriado, gemendo... ele estava inteiro. Inteirinho da silva. Nem mesmo suas roupas, as mesmas estavam totalmente intactas.
- Oi, meu nome é Lucas, sou vizinho de vocês. Poderiam me emprestar um pouco de massa de tomate? - e aproveitava que Tabitha estava de queixo caído e entrava - é que estou cozinhando e faltou tempero... boa noite, Lance.
- Boa noite - Lance estava rindo da cara de taxo de Tabitha. Ninguém escapava ileso de suas explosões, ninguém.
- Nossa! Como cê fez isso, cara? - Pietro dava voltas ao redor dele em alta velocidade. - Como?
- De novo isso - Lucas para e, colocando a mão no queixo, começa a fitar Pietro.
- O que foi?
- Eu não consigo entender como você consegue se mexer assim.
- É simples, essa é a minha mutação, sacou?
- Ok, "saquei", mas... mesmo que você tenha sua velocidade ampliada, eu ainda não consigo entender como você se move tão rapidamente e não é afetado pelo atrito do chão e do ar, compreende? - Pietro torce o pescoço, tentando acompanhar o raciocínio de Lucas - afinal, pela lógica, na velocidade em que você se move, seu corpo deveria Ter sido destruído através do processo da combustão instantânea gerada pelo atrito do ar, não é mesmo? - e olhava para a geladeira, aonde Todd estava parado - olha, esse eletrodoméstico não vai durar muito se ficar fazendo isso, sabe - e apontava, de modo que Todd desce na mesma hora com um salto de fazer inveja em muita gente.
- Estamos com falta de mercadoria, pra variar - Todd abria a porta da geladeira com a língua. Definitivamente aquela era a noite das surpresas.
- Nossa, você tá fazendo alguma massa, não tá? - Tabitha saia de seu "choque psicológico" e caminha até o armário da cozinha, abrindo-o e pegando uma lata de molho de tomate - dá pra sentir o cheiro daqui. Aposto que é macarrão! Eu adoro macarrão!!!
- Desculpe, mas não tenho o suficiente para...
- Sem problema, eu como pouco - e atravessava a porta, deixando um confuso Lucas para trás, o qual não entendia direito o que estava acontecendo.
Mas que garota mais... atirada!
- Ai, é melhor cê ir atrás dela, sacou! - Todd recolhia sua língua.
- Liga não, a porta de casa está trancada.
- Esse é que é o problema... - Fred apontava para fora da casa, aonde uma saltitante Tabitha seguia seu caminho com uma esfera na ponta dos dedos.
***
Nossa, aquela passou perto! Por pouco ele não chega a tempo de impedir que Tabitha explodisse a porta de sua casa.
E, a respeito do convite, teve que mudar seus conceitos de quantidade e adicionar um pouco mais de macarrão e água para render para duas pessoas - era só o que faltava, lembrava-se.
- Tá ficando bom, heim!
- Olha, sem querer ser grosseiro, mas... você é sempre assim ou está tirando um sarro com a minha cara?
- Não é todo dia que se tem uma linda moça jantando com você, caladão! Aproveite!
- "Caladão"? Grande - ele murmurava bem baixo - ganhei um apelido, que original...
Certo, agora aprendeu a lição. Não iria nunca mais dizer "nada mais pode dar errado", pois as coisas só pioravam.
Mas também não era tão ruim assim, pensava. Até que a Tabitha era uma gatinha, era até agradável tê-la como companhia - ele olhava para trás, enquanto ela estava deitada no sofá com as pernas para cima - se ao menos ela tivesse modos de moça...
Com o macarrão pronto, ele arruma a mesa, nem se dando conta de quanto ela se sentou na cadeira, com um sorriso estampado no rosto, apenas a serviu e se sentou em seguida.
- Hmmm!!!! Issho tá uma delishia!!! - Tabitha falava enquanto chupava o macarrão - Olha, cê tá de parabéns, Lucas!
- Obrigado - ele tentava ignorar a recente falta de modos dela.
- Hmm... aqueles manés lá não sabem cozinhar nada, um viva para a revolução masculina, não é mesmo?
- Hmm - Lucas parava um pouco de comer - Tabitha, você mora na cidade?
- Ih, sem essa! Aposto que você quer saber o que eu faço em um alojamento cheio de rapazes, não é? Curiosidade mata, sabia?
- Se não quiser, não precisa responder, eu...
- Ih, nem liga! Eu vim aqui pra estudar no centro do professor Xavier, mas acabei saindo de lá, e agora estou aqui.
- Centro do Professor Xavier?
- Ué, não sabia? E você, o que faz aqui?
- Eu? Bem, eu estou procurando meu tio, conhece?
- E quem não conhece? Ele é o professor de Educação Fisica e Química, ou melhor, era...
- Era? - Lucas ergue uma sobrancelha, surpreso - como assim, era?
- Você não sabe mesmo? Ele não dá mais aula no colégio Bayville.
- Mas... - Lucas arregala os olhos ao máximo - mas... - não estava acreditando naquilo, não acreditava - mas o meu tio, ele... ele me enviou uma carta me convidando para estudar aqui e... e...
- Enviou, é? - Tabitha torcia o pescoço - Hmmm - aquele macarrão estava realmente D-I-V-I-N-O!!! - Tem a carta ai?
- Espera um pouco - ele se ergue e, voltando em seguida, pega a carta - aqui está, veja.
- Hmm... a data dessa carta...
- Eu sei, percebi que ela está um pouco atrasada e...
- Engraçado, não me lembro direito, mas tenho quase certeza de que essa carta está bem atrasada e - ela para um pouco e volta a comer o macarrão, deixando Lucas morrendo de ansiedade - nossa, que divino, Lucas! Não quer ser meu cozinheiro não, heim?
- Escuta, que tal me contar o que aconteceu?
- Ora, por que a pressa? Se me lembro bem, pouco depois disso o professor Hank parou de dar aula, foi isso.
- Mas... mas por que ele não dá mais aula? Eu não sabia disso, eu...
- Tô vendo que você não sabia, né? - ela corta o macarrão com o dente e o encara seriamente - seu tio sofreu uma mutação, pelo que eu fiquei sabendo. Não o vi até então, mas ouvi falar que ele estava diferente.
- Mutação?!?!?!?
- Escuta, já que você vai ficar tendo surpresas o resto da noite... posso ficar com o seu prato também?
***
Grande. Seu tio, o qual ficou sumido durante anos, era um mutante. Se perguntava o que realmente aconteceu para que ele sumisse, mas algo ainda mais preocupante passava pela sua cabeça.
Por que o diretor não lhe contou sobre isso?
Vai ver, não queria ser a pessoa que teria que lhe contar acerca da má noticia. No entanto, isso só piorava as coisas. Não que gostasse de depender financeiramente dos outros, mas contava em poder ficar na casa do tio Henry, o que lhe pouparia muitas contas.
Mas, segundo Tabitha - a qual devorava impiedosamente o macarrão que ainda estava na panela - seu tio estava foragido, sendo caçado como um criminoso. Não era a toa que não tinha noticias, elas simplesmente não existiam. E se contasse isso para Tânia ou seu pai, seria o fim, iriam querer trazê-lo de volta na mesma hora.
Estava realmente surpreso com o fato de seu tio ser um mutante - mas nem tanto, visto o local aonde estava - mas saber que sua situação financeira - não daria para se sustentar naquela cidade com o pouco que receberia pelo banco - estava indo de mau a pior, era a pior coisa que podia lhe acontecer.
- McCoy, eu vou te contar... não quer se casar comigo? Tô precisando de um homem prendado assim na minha vida, sabe. Inteligente, dono de casa, prendado... cê tá solteiro por que quer!
- Se eu não estivesse com a cabeça cheia... ô, droga! - Ele caminha e bate com a cabeça na parede - Droga! Droga! Droga!
- Maneiro isso, é seu poder mutante bater com a cabeça na parede?
- Não - ele sacudia a cabeça devido a uma tonteira que havia surgido sem explicação alguma - satisfeita?
- Ô! - Tabitha fazia sinal com a mão de satisfação - olha, vou te contar heim, faz tempo que eu não como tão bem, cê tá de parabéns, McCoy! Continue assim e eu venho jantar contigo todas as noites!
- Até que não seria má idéia, mas eu estou até aqui de problemas, Tabitha - Lucas puxa uma cadeira e se senta - Meu pai mandou reformarem a casa para eu morar nela, mas como ele gosta muito de mim, fez a pior reforma da pior forma possível, nem energia elétrica tinha, pra você ver. Ele vai depositar algum troco todo mês para os gastos, mas não é suficiente para eu reformar essa casa. E mesmo que eu arrumasse um emprego, ainda assim teria que comprar roupas, material escolar, pagar contas e ainda tentar reformar um local, e isso ainda tendo que cuidar de alimentação, é muito para qualquer um - Lucas abaixa a cabeça, suspirando - Tufo. Estou ferrado. Tufo. Agora eu dancei. - ele ergue a cabeça e, coçando a testa com a mão, começa a rir desenfreadamente - TUFO!!!
- Por que você não tenta o instituto Xavier, caladão?
- Instituto?
- Olha, eu bem que ia adorar alguém como você na Fraternidade, bem melhor do que aqueles babacas, mas alguém como você merece algo bem melhor do que aquilo, sabia.
- Eu... - ele torce o pescoço. Era impressão sua ou sentiu ali uma ponta de preocupação por parte dela? - eu... mas, por que? Se esse tal de instituto é tão bom assim, por que você saiu dele?
- Regras demais, sabe como é. Não faz o meu tipo. Bom, eu tô me mandando, valeu pela jantar, caladão!
- Espera, eu te acompanho.
- Hmm... não são nem cinco minutos até o dormitório, não está com segundas intenções, está?
- Não, claro que não.
- Pena...
***
- Bem, acho que isso é um adeus - Tabitha se encostava na porta - obrigado por me acompanhar, caladão.
- De nada, até amanhã, Tabitha.
- Até - ela dá um beijo na bochecha dele, e o mesmo retribui.
- Aeeeeee!!!! Olha só, a Thabita arrumou um namorado! - Groxo gritava aos quatro ventos quanto Lucas já estava longe o suficiente. A bomba que Tabitha jogou encima dele foi mais do que suficiente para fazê-lo ficar calado pelo resto da noite.
***
- E ai Jean, fazendo muito sucesso com os garotos? - Kitty dava uma risada maldosa ao ver Scott quase engasgar com a comida - eu acho que o Lucas gostou de você - e colocava a mão na boca ao constatar que Scott realmente engasgou.
- Calma, caolho - Logan dava um tapa em suas costas - nunca te ensinaram a não comer e respirar ao mesmo tempo?
- Gasp! - ele se sentava - sem querer ser chato, mas... por que ele não está aqui?
- Ele disse que tinha coisas mais importantes do que nos visitar, Scott - Jean puxava telecinéticamente o sal - como cuidar da casa, por exemplo.
- Hmm, esse daí parece gostar de trabalhar, ao contrário de alguns - e mandava um olhar de rabo de olhos para Spike e Kurt - bem diferente de uns e outros por ai. Falando nisso, você concertou a campainha do portão, Spike?
- Ih, sem grilo, amanhã eu conserto.
- Sobrinho do McCoy, morando perto daqueles garotos, hmm... isso me cheira a confusão - Logan olhava para Ororo, como se esperasse algum apoio dela.
- Eu realmente concordo com você, Logan. Mas arrastá-lo até aqui não é a melhor solução. Também estou surpresa com esse rapaz, mas vamos nos lembrar que temos outros assuntos para resolver - e ela olhava para todos na mesa. Spike, Kitty, Kurt, Jean, Scott, Logan, Jubileu, Sam... - e imagino que aquele rapaz também. Nem todos os mutantes em Bayville estão aqui para estudar em nossa escola, se for do interesse dele vir até nós, nós o acolheremos, do contrário, vamos respeitar suas decisões.
- Mas eu não entendo - uma das duplicatas de Jaime pegava o sal e jogava para outro que estava sentado - se ele é tão perigoso assim, não deveria estar aqui conosco?
- Ei, quem te contou isso, tampinha? - Jubileu dava um tapa na cabeça dele, e o mesmo se dividia.
- AS paredes tem ouvidos, ora! E as noticias correm como fogo! - ele falava, enquanto Ororo e Logan trocavam um olhar.
- Olha, sem querer desrespeitar a opinião de vocês - Scott parava de comer - mas eu dou o braço a torcer para o que o Jaime falou. Eu estava lá, eu vi o que ele, digo, o que a Vampira fez ao absorver os poderes dele. Se ele for capaz de fazer no mínimo metade do que a Vampira fez, imagine então os problemas que teríamos.
- Que tipo de problema, Scott? - Ororo apenas o observava.
- Do tipo se ele passar a ficar andando na companhia do Lance e da Irmandade dos Mutantes. - Kitty apenas virava o rosto. Queria defender Lance, mas a situação e os argumentos de Scott não lhe davam a menor brecha para isso - Vocês lembram do que aconteceu quando o diretor assumiu o colégio, imagine se eles resolverem atacar o colégio novamente só por diversão? E com aquele garoto com ele, eu acho que...
- Não se apresse em seus julgamentos, Scott. Você está simplesmente dizendo o rumo que a vida dele irá tomar.
- Eu concordo com o que o caolho diz, Ororo - Logan abaixa a cabeça - talvez os poderes desse garoto sejam mais perigosos do que possamos imaginar... - e se vira para Scott - mas também acho que estamos fazendo tempestade em um copo d'água, Caolho.
- Eu não acho que ele tenha tempo para as infantilidades da Irmandade, sabem - Todos se viram para Jean, a qual observava a lua pela janela.
- Mesmo? - Jubileu dava um sorriso - Acho que está passando muito tempo com ele, sabia - até Jean sorriu ao ver Scott engasgar novamente.
- Ele me parece bem maduro - Kitty entrava na brincadeira - muito maduro.
- Já que vocês são amigos, Jean... pode me apresentar ele da próxima vez? - Ororo passava a mão na testa. Ao comtrário do que as garotas deveriam estar imaginando, ficou bem evidente a "brincadeira" que estavam fazendo com Scott.
- É impressão minha ou ele acabou se tornando o novo astro por aqui? - Sam comentava ao acaso, sem se dar conta de que acabou contribuindo com a brincadeira das garotas.
- Não, não. Percebi que ele tem muito a ver com o tio, inclusive eu o ouvi comentar que estava tentando entender como funciona a doença de Vampira.
Todos param o que estavam fazendo. A primeira reação seria pedir maiores detalhes mas, para sua surpresa, algo os impede.
O alarme.
O ALARME?!?!?
ATAQUE!!! ESTAVAM SOB ATAQUE!!!
Era só o que faltava... quem seria? A irmandade? Magneto de volta? - bem que o professor havia sentido-o por perto - ou algum esquilo?
A última opção, a que todos esperavam. Não havia nada pior do que lutar de barriga cheia.
***
- E então, Vampira? Outro pesadelo?
- Sim, professor. Eu não sei o que está acontecendo, eu...
- Isso já aconteceu antes contigo, você sabe.
- Sim, eu sei. Foi quando descobrimos que Kurt é filho de Mística, eu sei, mas...
- Calma, relaxe - Vampira olhava ao redor da sala aonde estava e se aconchegava melhor na cadeira - Acho melhor fazermos uma pausar para o jantar, o que acha?
- Acho que o senhor tem razão, só queria entender o que é isso tudo que está acontecendo? Eu sei que puxei isso dele, mas...
- Olhe Vampira, tente não se preocupar muito com isso.
- O senhor irá convidá-lo para fazer parte dos X-men?
- Não creio que seja o melhor momento para tanto. Ele está um tanto quanto confuso, pelo que pude perceber, e me aproximar agora só pode causar problemas.
- Mas isso não é perigoso? E se a Irm...
- Vampira, você anda todo o dia daqui até o seu colégio e não sofre nenhum problema. Por que deveríamos acreditar que ele passaria pelo mesmo?
- Eu não sei, eu...
- Seus sonhos ainda tem sido muito fortes?
- Sim, só que, bem... dessa vez foi diferente, aconteceu bem no meio da aula de história, sabe. Eu estava cansada e acabei cochilando, daí eu... eu... eu não sei, professor.
- Alguma lembrança ruim, por acaso?
- Eu não sei, mas... a única coisa de que me lembro é de Ter visto uma arma, apenas isso.
- Uma arma? Hmmm... que tipo de arma?
- Não me lembro, só sei que era uma arma. E, quando a vi, me senti totalmente tomada por um sentimento de... o que foi isso?
- O alarme - Charles se deslocava para fora da sala em sua cadeira.
- Eu vou...
- Fique aqui, Vampira. - Ele lhe dirigia um olhara muito, mas muito sério - não sabemos o quanto de Lucas você ainda carrega, nem mesmo se são apenas meras lembranças.
- Mas eu não vou - quando ambos os olhos se encontraram, Vampira sentiu seu sangue gelar - está bem, professor - e se senta, odiando-se por, de certa forma, estar sendo tratada como criança.
Mas... o que foi aquilo? Qual era o sentido daquele sonho?
Uma... arma? Por que? O que ela significava?
E por que ela sentiu um medo irracional ao vê-la?
***
Xavier dirigia rapidamente sua cadeira de rodas pelos corredores da mansão, rapidamente chegando ao primeiro andar. Passara pela sala de jantar no caminho, constatando que os X-men não estavam ali, como previsto. Tanto Logan quanto Ororo não perderiam tempo.
Mas o que o lhe chamou a atenção fora o fato dos novos Mutantes não estarem ali. E, a julgar pela sua ausência, era fácil supor que eles não obedeceram a ordem de Ororo para ficarem ali. Estavam lá fora, querendo se mostrar úteis, ajudar na defesa da mansão.
Ele demora menos de um minuto para chegar na porta da frente e encontrar o céu estrelado diante de seus olhos.
Mas nem de longe aquilo seria a coisa mais impressionante naquela noite.
Wolverine. Tempestade. Ciclpe. Garota Marvel. Noturno. Lince Negra. Vampira. Spyke. Magma. Jubileu. Berserk. Missil. Madrox.
Em toda a sua vida, Charles Xavier já contemplou muitas e muitas coisas, algumas das quais foram verdadeiras surpresas. Encontrou seres interdimensionais, assim como mutantes que fugiam totalmente do padrão da evolução, os quais eram verdadeiros "Alfas" entre os da sua espécie.
Mas, mesmo assim, ele compreendia o motivo de espanto de todos os seus alunos, seus discípulos.
O jardim, as arvores... retorcidas. A estátua e o chafariz, esmigalhados. As armas que protegiam o perímetro da mansão... destruídas.
E, em meio a tudo aquilo, há poucos metros de onde eles estavam, uma pessoa estava agachada, abraçando seu próprio corpo como se sua vida dependesse disso.
Lucas.
Continua...
