O TOQUE DE LUCAS

CAPÍTULO 6 : Lembranças de um Tempo Esquecido

"Alison"

"Alison"

"Alison"

"Alison"

"Alison"

- ALISON!!!

- Quem é Alison? - ele toma um susto tão grande ao ver Todd acima dele que rola da cama, tombando violentamente contra o chão.

- Ai!!!! - como era dolorido o choque sofrido pelos seus ossos logo ao acordar - Ai, como dói!!!

- Ih, foi mal, ai! - Todd pulava do parapeito da cama, caindo ao lado dele! - Foi mal, viu!

- Ai! - com um esforço hercúleo ele se erguia, sentando-se no chão - o que... Todd Tolansky? É você? O que você está fazendo aqui no meu quarto? Aliás, o que faz aqui na minha casa? - e balançava a cabeça, tentando recompor as idéias.

- Ué, cê não se lembra não, é? - Todd capturava uma mosca com a língua e a mastigava - tá brincando que não se lembra?

- A única coisa que sinto é meu corpo meio dolorido e... saco, mal tenho forças para me erguer! O que houve? Como entrou aqui em casa?

- Casa? - Todd não era conhecido pela sua inteligência, mas não demorou muito para ele somar um mais um e encontrar três, digo, dois! - Aqui é o dormitório da Fraternidade de Bayville, cara!

- De novo? Estou pegando o péssimo hábito de apagar! Putz, o que foi que aconteceu desta vez?

- Tá brincando, né? A gente ficou até tarde de olho para ver se a bruxa do tempo não ia volta, e você não se lembra de nada?

- Bruxa... do tempo? Mas de quem você está falando?

- Daquela X-men, a Tempestade!

- X-men? - ele forçava suas lembranças, tentando se lembrar - Tempestade? - havia algo importante que não lhe vinha a mente, mas o que seria?

- Caraca, cê tá mau mesmo, heim! - Todd erguia o braço, obrigando Lucas a olhar ao redor e ver, encostado na cama, um sonolento Lance.

- Ele também...?

- Todos nós ficamos! Eu é que não dormi direito por que o Fred ronca que nem um porco! - e capturava outra mosca.

- Todd, eu realmente não me lembro do que aconteceu, você poderia me explicar?

- Cê caiu aqui na Fraternidade e a bruxa do tempo tava na tua cola, dai ela ameaçou atacar todo mundo pra te levar e a gente não deixou, cê tava todo esgotado, mal se agüentando em pé.

- Ainda não entendi quem é essa tal de bruxa do tempo.

- É a tal da Ororo, que mora no instituto Xavier! - falava um impaciente Todd, o qual não estava acostumado à aquele grau de desinformação.

- O Instituto? Está dizendo que uma mulher ficou me perseguindo e... e... espera, agora eu me lembro, fui até o instituto ontem depois que tinha trazido Tabitha e... e...

- Lembrou? Então conta, que eu tô loco pra sabe!

- Eu não me lembro, mas sei que é algo muito, mas muito importante. Lembra de como ela estava?

- A bruxa? Ah, ela também não parecia inteirassa, disso eu tenho certeza!

- Ferida? Tufo... Todd, me diz uma coisa... o instituto possui algum tipo de proteção... armas?

- Na entrada, bloqueando qualquer engraçadinho, por que? - Lucas se ergue bruscamente e, percebendo que estava vestido, caminha lentamente para fora do quarto - eí, aonde cê vai?

- Shhh!!! Quer acordar os outros, por acaso?

- Eu tô poco me lixando, pra onde cê vai? - Todd captura outra mosca.

- Para o Instituto Xavier, é claro. Escuta, já ouviu falar em "refeição saudável"? - e caminhava em direção a porta, mandando um olhar para Lance. Não sabia por que, mas ao vê-lo dormindo, era como se algo muito, mas muito importante voltasse à sua mente, mas... o que seria? Estava deslocado, ainda mais sabendo que perdeu boa parte da festa mais uma vez, mas saber que Lance o protegeu o deixava AINDA mais inquieto, como se algo estivesse prestes a vir à tona, quase explodindo e, mesmo assim, ele não conseguisse se lembrar do que era.

- Que foi? - perguntava Todd, mastigando o que restava da mosca

- Ele... me lembra alguém...

***

Se para alguns a noite foi ruim, para outros foi péssima, ainda mais para o grupo de mutantes reunidos ao redor da mesa, degustando seu café da manhã. E, a respeito da agitação da noite anterior, alguns gostariam que tudo não tivesse passado de um grande pesadelo.

Em sua cadeira, Xavier sentia um leve formigamento no braço, fruto da queda que sofreu. Mas, comparado com o que os demais passaram, era relativamente leve a sua chaga. Praticamente todos ali estavam sentindo dores por todo o corpo e, mesmo tendo dormido na melhor posição possível, sentiam como se tivessem passado a noite com um socador batendo em seus corpos.

Jubileu era uma. Seu ombro direito doía quando ela erguia a xícara de café, enquanto que Amanda tinha um galo na cabeça. Os rapazes não estavam em melhor estado, muito pelo contrário. Sam tinha uma tala no joelho, Berserker estava com a cabeça enfaixada... até mesmo Ororo tinha talas no braço devido as queimaduras que sofreu e não conseguiu se recuperar. Scott sentia uma dor bastante incômoda nas costas, de modo que os únicos inteiros ali eram Kitty, Noturno, Wolverine e Vampira, os quais estavam tomando o café da manhã ao lado dos demais.

Um silêncio tomava conta do local, e não era preciso ser telepata para entender o que era. Já foi jovem como a maioria dos alunos ali, era fácil entender o sentimento que eles experimentavam.

- Gente, o que acham de irmos hoje até a praia? - Vampira tentava animar os amigos - Tá fazendo um sol daqueles, o que acham?

- Prefiro ficar pra ver se a Jean melhora - Scott respondia secamente.

- Praia? Eu tô todo quebrado! - Jamie, o qual pela primeira vez não estava dividido, estava com as pernas e os braços enfaixados. De todos, ele fora o que recebeu a maior parte do "empurrão", e estar dividido não ajudou em nada a diminuir o dano, pelo contrário, apenas piorou, visto que, quando resolveu se juntar, sentiu a dor de todas as suas duplicatas. Definitivamente o McCoy não sabia brincar de montinho...

- Eu ainda não entendo como aquele garoto escapou de você - Logan, teimoso como sempre, voltava ao assunto que muitos ali preferiam esquecer - você não nos muitos detalhes ontem, Ororo.

- Logan, creio que...

- Tudo bem, Charles. Não tinha dito nada antes por que o espirito de todos aqui já estava deveras ferido. Mas da última vez que o vi, ele estava no dormitório da Fraternidade de Bayville - e sorvia um café bem forte, antevindo a reação de todos. Logan estava certo, afinal, ela não foi a única a perder sua noite de sono, todos ali sofreram as conseqüências e não estava sendo muito justa em guardar tais informações para si mesma. E a julgar pelo olhar do amigo, era essa a intenção dele.

- Como é? - Scott, contrariando as dores na coluna, se erguia - Eu sabia que tinha o dedo do Lance nessa história!

- Que droga, deve Ter sido idéia do Pietro!

- Não acredito que a Tabitha tenha tomado partido disso - Amanda balançava a cabeça - não acredito!

- Pois pode acreditar! - Scott voscirava - professor, isso tá me cheirando a problemas! O senhor se lembra do que houve quando a Wanda chegou aqui, não lembra?

- Lembro muito bem, Scott. Mas peço que se acalmem. TODOS vocês - E a maioria se senta, menos Scott - Scott...

- Professor, eu insisto! Veja a Jean, que ainda não se recuperou. Ontem foi um ferimento na cabeça, o que será amanhã? Se ao menos o professor McCoy estivesse aqui, talvez...

- Eu conversei com Hank, ele irá chegar hoje. Mas não creio que o incidente de ontem tenha sido proposital.

- Mesmo que não tenha sido, ainda assim colocou em risco a vida de todos. Temos que ficar em alerta, pelo menos.

- Charles, o que o caolho fala tem sentido - Logan defendia o argumento dele pela primeira vez - conosco ou contra nós, esse garoto é tão perigoso quanto aquela filha de Magneto, que só queria matar o próprio pai e destruir o que estivesse em seu caminho, lembra-se?

- Eu entendo, Logan. Entendo perfeitamente o que querem dizer, mas eu receio que isso será resolvido em breve.

- Em breve? Quando?

- Mais breve do que imagina. Só depois de acessar a mente daquele rapaz é que pude compreender um pouco de sua personalidade.

- Eu também estou confusa, Charles - Ororo o encarava, receosa de falar algo que apenas agravasse a situação. Não que temesse que Charles não a compreendesse, mas sabia que uma palavra mal colocada iria piorar ainda mais os ânimos dos jovens presentes - o que era tão importante que... o que foi, Logan?

- Esse cheiro... eu nunca esqueço um cheiro... nunca!

- O que foi? É o Dentes - de - Sabre outra vez? - Kitty se encolhia só de pensar na possibilidade - espero que não, por favor!

- Pior! - Wolverine se erguia, fazendo surgir suas garras - é o garoto! Ele está aqui!

Desnecessário dizer a reação de quase todos os presentes, de modo que nem mesmo os apelos do professor Xavier os fariam ficar sentados.

***

- Cara, cê tem certeza disso?

- Claro. - havia uma certa mágoa em sua voz - tenho que assumir a responsabilidade pelo que eu tenha feito, mesmo que não me lembre de tudo.

- Cê tá doido, os X-men vão te despedaçar assim que cê entrar na mansão deles!

- De novo esse papo de X-men... pensei que aquilo fosse um instituto de pesquisa, não uma base de super-heróis!

- É as duas coisas! O chato do professor Xavier fica falando pra eles que temos que usar nossos poderes para o bem das pessoas, mas se esquece que essas mesmas pessoas nos maltratam!

Lucas preferiu não falar nada, primeiro por que sentiu um certo ódio na voz de Todd, segundo por que já estava afogado demais em seus problemas particulares para tomar partido de outros.

- Estranho, o interfone não funciona - ele observava o aparelho atentamente - hmmm....

- Que foi?

- Não sinto corrente alguma passando por ele, algum circuito deve estar queimado... Tufo! Por que esse jardim tem que ser tão grande e... ei!!! - ele olha para Todd ao vê-lo saltar para cima do muro.

- Ai, se faz tanta questão, a gente pula o muro, falou? Mas cuidado com as armas!

- Armas?!?!?

- É, esse campo é todo protegido contra invasores, mas não agora.

- Eu... - ele observava o portão trancado - espera - o interfone inoperante, Todd parado encima do muro - espera, eu... céus, eu me lembro... eu me lembro!!! Lembrei o que houve!

- Sério?!?!? Pô, então conta, que eu tô curioso como a bruxa do tempo ficou daquele jeito!

- Foi aqui, eu... o interfone não funcionava, estava tarde e resolvi pular o muro e... TUFO! O QUE FOI QUE EU FIZ?!?!?

***

- Eu vô acaba com a raça daquele sujeito! - Berserker batia na mesa - ah, se vou!

- Segura tua onda, topetudo - Logan olhava atravessado para ele, acalmando-o - Charles, o que vamos fazer?

Xavier cruzava os braços. Podia sentir o olhar penetrante de todos os seus pupilos, a espera de alguma palavra de conforto, alguma ordem... qualquer coisa.

Os curtos momentos nos quais ficou em silêncio foram mais do que suficientes para deixá-los com os nervos a flor da pele. Sabia que uma palavra mal colocada seria mais do que suficiente para iniciar uma confusão sem precedentes, no entanto havia algo mais importante em jogo do que a apreensão de todos ali.

Não os culpava. Nem mesmo a Scott. Via um líder natural nele e sentia que, apesar de se sentir um tanto quanto incapaz, o mesmo tentava passar um semblante de confiança para os demais, e estava conseguindo, tendo em vista que aparentemente todos os demais alunos estavam apoiando suas decisões.

Mas suas convicções estavam sendo minadas uma a uma devido aos últimos acontecimentos. Logan não demorar para sentir o estado emocional do caolho, o qual estava bem pior do que o de todos, e não o culpava. Mesmo mais atentos, não estavam em condições de enfrentar um ataque, ainda mais de alguém que, mesmo depois de enfrentar a todos, foi capaz de deixar naquele estado alguém que já fora idolatrada como uma Deusa.

- Não precisam Ter medo - Xavier falava calmamente - ele não adentrará no terreno do instituto enquanto Não for convidado.

- Charles, ainda assim é muito perigoso - Ororo se aproxima - eu mesmo vi o que ele é capaz de fazer. Você mesmo ficou preocupado a respeito de aceitar Wanda aqui dentro, e os olhos dele, eu... era o mesmo olhar que aquela garota carregava para todos os lados.

- Está certa. Não posso pedir que assumam um risco antes de mostrar que ele não existe... - ele é interrompido quando todos ouvem uma batida na porta.

Antes mesmo que eles tivessem tempo de reagir, Charles locomoveu sua cadeira em direção a porta, abrindo-a. Independente de qualquer ordem que ele pudesse vir a dar, Scott segurava os ôculos, Spyker fazia espinhos surgirem em seu corpo, noturno se teleportava para perto do professor, Berserker tinha faíscas saindo das mãos e magma tinha as mãos aquecidas. Seja o que fosse, não iria ser tão fácil dessa vez e...

- Unf! - Logan passava à frente de Xavier - esse cheiro, conheço esse cheiro... É VOCÊ, SEU MOLEQUE!!!

SE Todd borrou as calças ou não, isso ninguém saberia. A grande verdade era que sua expressão - gerada ao ver tantas pessoas apontando para ele - representava o mais puro medo.

- Eí! Eu vim em paz! - e dava um salto para trás - vai com calma ai!

- Pare, Logan - Xavier fazia ele retrair suas garras - bom dia, Todd. Posso ajudá-lo?

- Eu só vim ver se o caminho tava seguro, só isso! - ele estava mais branco do que o normal - Não vim brigar, paz! - e sinalizava, cada vez mais assustado. Não que os X-men o amedrontassem, mas o rosto deles não era dos mais amigáveis naquela hora.

- Vai sonhando que a gente acredita! - Scott já estava na porta com seus ôculos semi-erguidos, pronto para abrir um rombo no peito de Groxo e de tudo mais o que estivesse em seu caminho.

- Calma, Scott. Eu acredito em você, Todd. - e continuava observando-o. Na verdade, parecia olhar através dele, mais exatamente para o portão - Diga-me, ele não vai entrar?

- Quem, professor? - Scott se adiantava.

- Ele - e apontava para Lucas, o qual, bem distante, estava atrás do portão, como se estivesse esperando um convite. A cadeira dele se move para a surpresa de Scott e Logan, os quais começam a segui-lo. - bom dia, Lucas. Creio que não fomos ainda devidamente apresentados. Meu nome é Charles Xavier.

- Não da maneira que eu esperava. Meu nome é Lucas. Lucas Blaire McCoy. - e não lhe escapou o fato de Scott quase estar pulando em seu pescoço, a julgar pelos seus dentes cerrados.

- E, pelo visto, há algo que você gostaria de conversar comigo, não é mesmo?

- Sim, é sobre ontem a noite e... bem, preciso conversar com o senhor.

- E... o que está esperando para entrar?

- Um convite. Minha mãe me ensinou a pedir licença antes de entrar na casa dos outros, se bem que eu ignorei isso ontem - e abaixava a cabeça enquanto a porta se abria.

- Professor! - Logan coloca a mão no ombro de Scott antes que ele piorasse ainda mais a situação.

- E você, como está? - falava, enquanto ambos se moviam em direção a mansão - sente-se bem?

- Não tanto quanto eu gostaria. Desculpe, causei muitos problemas para o senhor, professor.

- Erros acontecem, Lucas. O que nós podemos fazer é...

- As armas serão ativadas?

- Não. Elas são uma medida de segurança, não precisa se preocupar.

- Segurança contra o que? - ele ficava levemente surpreso, mas se tocava do que acabara de pergunta - esqueça. Já causei problemas demais, não tenho o direito de te incomodar.

- Como quiser - Como esperava. Ele estava preocupado. E assustado. Mais do que isso, estava se recriminando, se martirizando de tal forma que podia sentir à distância seu sofrimento. - Mas estou à sua disposição para conversar, se quiser. Só não se recrimine tanto, Lucas. Sei muito bem que você não teve culpa de nada.

- Céus, professor... eu teria matado o senhor se aqueles caras não tivessem me segurado... - e falava bem baixo, tentando não provar Scott ainda mais.

- Você se lembra de tudo?

- Para o meu desespero, sim. Eu não queria fazer isso. Não queria!

- Eu entendo. O que acha de... o que foi? - ele olha para trás, percebendo que o jovem McCoy havia parado de andar. - algum problema?

- Eu - ele não ousava dar nem um passo sequer - acho que as coisas não vão ser tão fáceis assim - e não seriam, mesmo. Do lado de fora da mansão estavam todos os demais X-men e os Novos Mutantes - conheço esse olhar... persona non grata - e a julgar pelas suas expressões e machucados, estavam prontos para pularem no seu pescoço ao menor movimento.

- Eu administro este instituto, Lucas. Não precisa se preocupar.

- Como? Vê as expressões deles? Eu não os culpo. Todos me odeiam, e eu não os culpo por isso.

- Não vá embora, por favor - tanto ele quanto Xavier e todos os outros se espantam ao ver quem era a autora da frase. Imaginavam que Kitty tinha dito, mas qual foi a surpresa...

- Eu... eu acho que não tenho o direito, vampira - e olhava para todos - não depois de todos os problemas que eu causei

- Você não quer ir embora - ela dava um passo em sua direção - entre, por favor. Por Alison.

- Eu - ele ficava levemente incomodado ao ouvir aquilo. Era não absorvia apenas poderes? - Eu - e olhava de soslaio para Ororo e tudo o que aconteceu - a senhorita está bem?

- Sofri algumas queimaduras leves, meu jovem. Você está bem? - ela se aproxima, colocando a mão em sua cabeça - Seus olhos estão horríveis, não gostaria de entrar? Imagino que ainda não tenha comido, não é mesmo? Venha, estamos tomando café, acompanhe-nos - Aquilo realmente surpreendeu a todos, principalmente Spyker. O que houve para aquela atitude materna de sua tia?

- Eu - ele estava cada vez mais confuso. Não esperava que tal coisa viesse a acontecer, logo estava totalmente sem reação - eu... eu... - ele olha para Todd o qual estava do seu lado com uma cara estranha, mais do que suficiente para ajudá-lo a se decidir - certo. O convite vale para ele? - e apontava para Todd, o qual fez uma cara de nojo.

- Bem - Aquilo era inesperado. Depois de ouvir algumas coisas de Xavier no dia anterior, Ororo começou a entender melhor o que ocorria com Lucas, logo tê-lo à mesa era uma boa forma de colocarem tudo em pratos limpos e dele se redimir com os demais - bem...

- Claro - Xavier se adiantava - venham vocês dois, estão convidados a comerem conosco - e entrava na mansão. Todd com um pulo já pulava para um cadeira, enquanto que Lucas, sentindo calafrios, é obrigado a passar pelo olhar penetrante de todos ali.

Por que não chamou o professor para conversar em particular? Era tão simples, por que foi complicar?

E onde estava o seu tio quando ele mais precisava dele?

Céus... e pensar que só estava há alguns dias naquele lugar... como as coisas podiam ficar piores?

***

Havia algo estranho ali. Sentia como se mil lanças estivessem prestes a atingi-lo. Claro que o fato de estar entre Scott e Logan não ajudava muito, mas estar frente a frente com Xavier era um pouco desconfortante.

Nada pessoal contra ele, mas o olhar penetrante do careca estava se tornando deverás incômodo. Claro que ajudaria - e muito - se Todd pedisse as coisas, ao invés de esticar sua língua para pegar.

- Tá bom, da próxima vez eu peço! - respondia ao acaso quando Vampira fez um comentário a respeito dos pães.

Quanto a Lucas, o mesmo não conseguia comer. Não naquela situação. Bem, era melhor resolver aquilo tudo o quanto antes, pensava. Assim poderia ir embora e( tentar) resolver sua vida.

- Eu sinto muito por todos os problemas que causei a vocês. Sei que não é a melhor das explicações, mas não tive a intenção de fazer-lhes mal.

- Não teve? - Spyker era o primeiro a se manifestar - olha só como o Jamie está! - e apontava para o garoto, o mais ferido presente - e você não viu nada, a Jean tá lá embaixo na ala hospitalar, sabia?

- Eu lamento - ele respondia simplesmente.

- Lamenta? - Scott quase se ergueu - Lamenta? - aquilo devia ser piada - Você lamenta?

Quanto a Logan, o mesmo apenas analisava a situação. Podia sentir o estado emocional do rapaz através do seu olfato, e sabia que ele falava a verdade, que realmente lamentava.

- Sim, lamento. Eu sei que o que eu fiz não tem justificativa, e que muita gente nessa mesa tá a fim de me dar um pau, mas antes que o façam - e realmente não duvidava disso, pois já sentiu na pele o que é uma pessoa revoltada e indignada com uma situação - só peço por favor que me ouçam.

- Te ouvir? - Berserker estava prestes a explodir - suas desculpas não vão adiantar, olha só o que você fez com a gente!

- O que eu vou dizer não vai diminuir a dor de vocês, mas depois do que eu fiz, devo um mínimo de satisfações acerca do que aconteceu. Não espero que me perdoem, tampouco vim até aqui com tal intuito. Mas depois de estragar a sua noite, o mínimo que eu podia fazer era dar satisfações.

- Hunf! - ele ainda estava com os olhos fixos em Lucas, olhando de forma desconfiada.

- Bem, acho melhor começar pelo começo. Ontem eu resolvi aceitar o convite de Jean e fazer-lhes uma visita, professor. Já era de noite, eu tinha jantado e resolvi aproveitar que não era tão tarde e ver como eram as coisas aqui. Tive uma surpresa ao constatar que o seu interfone não funcionava de jeito nenhum, apesar dos meus esforços.

- E você resolveu pular o muro, não é mesmo? - Charles falava enquanto sorvia uma xícara de café.

- Sim. Meu erro. Comecei a caminhar despreocupado pelo jardim, observando a paisagem. As estátuas, as arvores... até que as coisas começaram a se mover. O chão, as estátuas, o chafariz... quando me dei conta, estava cercado. Armas e mais armas saindo de todos os cantos, brotando diante de mim, ameaçando-me e...

- Ameaçando-o? - Sam exibia um sorriso de puro sarcasmo - espera um pouco, o que quer dizer com "ameaçando-o"?

- Eu... - ele vira o rosto, tentando não encarar Samuel Gunthrie. Era a pura verdade, tinha medo de tocar naquele assunto, aquilo que o afligia tanto - eu... - novamente ouvia o barulho da língua de Todd, a qual capturava o pote de manteiga - eu...

- Elas o assustam - Lucas arregala os olhos quando se dá conta de quem havia dito aquilo: Vampira - você ficou em pânico ao vê-las apontadas em sua direção, correto? - ela perguntava em um tom que denotava mais uma certeza do que uma pergunta.

Como ela sabia daquilo, ele não entendia. Mas o jeito que o encarava, era como se o conhecesse de longa data, mas... como?

- S-sim - respondia vacilando - é, eu... quando me dei conta - seu rosto estava tão abaixado que sua face sequer podia ser vista - estavam lá, me cercando, me ameaçando, eu... aquilo me fez perder o controle, eu...

- Mas se é assim, por que nos atacou? - Kitty começava a entender a situação, mas alguma coisa não fazia sentido.

- Por que eu - ele suspira profundamente, diante do que iria dizer - achei que...

- AIII!!!! - Todd tem sua língua capturada. Mais impressionante é o fato de que a mão de Lucas segurou sua língua em pleno ar com uma velocidade impressionante, até mesmo para as pessoas ali dentro - BINHA LINGUA!!!

- Todd - ele se virava calmamente para o homem-sapo - importasse de parar com isso? Por acaso sua mãe nunca te ensinou a pedir as coisas?!?!?

- AIII!!! Desculpe, eu duro te peto e...

- É falta de educação ficar mostrando a língua para os outros, sabia? - e soltava a língua de Todd de tal forma que ele, quando a retrai, cai para trás, derrubando a cadeira. Demora alguns segundos para ele se erguer, surpreso. Poucas pessoas eram capazes daquilo. Podia não ser o mutante mais forte das redondezas, mas sua língua possuía uma força incrível, capaz de erguer móveis e pessoas! Como um sujeito como Lucas conseguiu segurá-la? Melhor ainda, como conseguiu pegá-la assim, tão facilmente? - vai parar?

- Eu...

- Não é educado, Todd - ele dá um toque de leve na tigela aonde estavam as frutas e a mesma segue deslizando até onde ele estava e para exatamente quando chega nele - peça, do contrário as pessoas vão começar a sentir repulsa em ficar ao seu lado, tudo bem?

- Tudo - e massageava o músculo, surpreso ao ver a tigela vindo em sua direção. A ruiva não estava ali, foi o McCoy quem fez aquilo?

- Professor, o que eu quero que o senhor entenda é que nunca foi minha intenção atacá-los, eu... eu... me senti... acuado. Em perigo.

- Garoto, você paralisou meus músculos. Sentiu-se acuado naquela hora?

- Sim, quando você sacou suas garras. E depois que eu... aham, "empurrei" Jean, e todos me olhavam daquela forma, como se eu fosse um... um...

- Perigo? - Logan falava.

- Não.

- Ameaça? - Falava Kitty.

- Inimigo? - Noturno entrava na conversa.

- Um monstro? - Xavier se fazia presente. Tinha uma boa idéia do que Lucas estava querendo dizer, mas não conseguia entender os motivos.

- O que, um demônio? - Todd, o qual esvaziava a boca para falar, ainda mais com medo de ter sua língua esticada de novo, falava em tom de brincadeira.

Não imaginava que estivesse tão certo. Ainda mais quando Lucas olhou para ele e concordou com a cabeça, mais do que suficiente para ele engasgar.

De seu canto, Vampira apenas observava. Começou a ter alguns sonhos estranhos desde que tocou nele, e sentia uma dor enorme quando Todd havia dito aquilo. E, ao tocar no assunto das armas, podia sentir uma dor enorme.

Dor por Lucas. Dor pelo que ele estava sentindo.

- Me desculpem. Eu estava fora de controle - e olhava para Ororo.

- Você Não tem culpa, Lucas - Xavier só não se ergue devido a sua deficiência - veja, todos aqui já tiveram problemas. Scott destruiu o teto do orfanato aonde vivia, Noturno causou muita confusão certa vez na vila aonde morava, Spike quase perfurou alguns amigos na escola, Vampira...

- Coloquei um rapaz em coma em uma festa - ela se adiantava, interrompendo Charles - sabe, durante muito tempo eu tive medo, não entendendo por que podia fazer essas coisas, mas descobri que ficar desse jeito não adiantava de nada. Muitas pessoas tem medo de nós, mas o professor Xavier tem nos ensinado a conviver com isso, a tentar fazer a diferença. Eu sei que você teve a impressão errada ontem a noite, mas os X-men não existem para guerrear, e sim fazerem a diferença, Lucas. O professor Xavier é um grande homem, graças a ele pessoas como nós temos um lugar para morar, um lugar aonde não somos vistos como pessoas diferentes. Sei que não tivemos um bom começo, mas... não nos tema. Ninguém aqui deseja o seu mal. Muitos estão assustados, é verdade... mas não desejamos nada de mal para você.

- Eu sei - ele se erguia - sei que não desejam meu mal - e caminhava na direção dela - mas isso não muda o que eu fiz.

- Não vá embora, nós...

- Olha, vampira... obrigado muito por ter dito isso. Não sei se você absorveu algo mais além dos meus poderes, mas obrigado. Mas eu não vim para Bayville para lutar pela causa dos mutantes, me desculpe.

- Mas você não precisa - ela se erguia, ao passo que outros arregalavam ainda mais os olhos - escute, você ninguém disse que você precisa fazer, isso. Eu só quero te ajudar - e tapava sua boca, dando-se conta do que acabara de fizer.

- Lucas - Xavier entrava na conversa - entendo o que você passa, mas diga-me o que pensa. A cada dia novas pessoas sofrem sua mutação, assim como você e seu tio. Para falar a verdade, eu preferia infinitamente que esse preconceito não existisse, mas ainda não chegamos a esses dias. Criei os X-men para promover a paz entre humanos e mutantes e, acima de tudo, proteger os humanos de mutantes extremistas, que desejam o fim da raça humana. Me pergunto várias vezes se verei o dia em que esse sonho se tornará realidade, se serão vocês que o verão. Mas não podemos fugir para sempre. A cada ano eu recebo novos mutantes aqui, pessoas que precisam de ajuda. Pessoas cuja família não entende o motivo de seus filhos e filhas serem diferente e, achando que eu posso curá-los, enviam-nos até mim. Mas eu não posso curar os mutantes, a única coisa que eu posso fazer é dar o meu melhor para curar o pensamento humano de sempre odiar o que é diferente.

- O senhor esta certo, tem coisas que não dá para fugir - e se virava para o professor - mas eu não vim aqui para lutar pela causa dos mutantes, lamento - e continuava andando até Vampira - sei que é egoísmo da minha parte, que devem haver milhares de pessoas por ai sofrendo preconceito e discriminação, mas... no momento, não tenho o menor interesse nisso. - e parava ao lado da Vampira - obrigado pelo apoio, Vampira - havia um sorriso muito, mas muito belo em sua face - muito obrigado, mesmo.

- Não cometa o mesmo erro que o seu tio cometeu, Lucas - Vampira não sabia explicar por que sentia uma compaixão enorme pelo mutante à sua frente - o senhor McCoy...

- Sumiu por uns tempos, não é? Bem, é sobre isso o que eu quero falar sobre ele, sobre como funcionam as mutações. Como ele fez para detê-las por tanto tempo.

- Não podem ser detidas - Scott perdera a raiva e tentava forçosamente sentir um pouco de compaixão por ele - veja os meus olhos, eu tenho que usar esses ôculos para não machucar ninguém. Tive que aprender a conviver com isto, e não me odeio.

- Talvez elas não possam ser detidas... ou talvez sim. Pode ser muito legal ser um mutante do tipo "Barbie e Ken", Scott... mas e se você fosse um garoto qualquer cuja mutação o deformasse? Ou o deixasse de uma forma que não pudesse esconder?

- Eí! - Kurt se erguia - espera um pouco, eu não tenho problemas com ninguém! Vivia na Alemanha e...

- Você vivia em uma cidade grande, ou em um povoado?

- Em um povoado, oras.

- É compreensível.

- Eí, cuidado com essa língua, engraçadinho! - Spike apontava espinhos para ele! - O Kurt vai todo dia assistir as aulas e não tem problemas nenhum, se quer saber! - Amanda dá um tapa na testa e procura esconder sua face. Não conseguia acreditar no que os hormônios dos rapazes estavam fazendo. Era tão difícil assim eles entenderem aonde Lucas queria chegar?

- Ah, você é o Kurt... é, tem semelhança - pela primeira vez Lucas se dirige pessoalmente ao sujeito azulado, o qual lhe era bastante familiar - me diz uma coisa, usa algum disfarce? É seu poder se disfarçar?

- Não, eu uso um indutor de imagens.

- Indutor? - Lucas pisca rapidamente - Quer dizer, um Holoprojetor de bolso? Está dizendo que carrega um manipulador Luminoso capaz de gerar imagens alternadas em períodos longos?

- Hã... eu acho que é isso, por que? - Ele perguntava, não se prendendo as especificações técnicas, coisas de McCoy.

- Se não possuísse algo assim, como assistiria as aulas?

- Eu... - ele estava levemente incomodado pela pergunta. - Ora, o professor Xavier daria um jeito, ora!

- Quantas pessoas tem um aparelho desses, Kurt? - a pergunta, curta e rápida, acerta como uma flecha alguns dos presentes, na verdade, tirando Kurt, os demais rapazes.

- Sei aonde quer chegar, Lucas - Xavier resolve retomar o rumo da conversa - mas eu faço o que estiver ao meu alcance.

- Não estou culpando o senhor, sua iniciativa é excelente. Só estou dizendo que não tenho tempo para ficar lutando uma guerra pela paz entre as espécies. Algumas pessoas tem mutações interessantes como eu já tive a chance de perceber, mas o que me diz de outros que tem sua vida totalmente alterada por causa disso?

- As mutações simplesmente iriam ocorrer de qualquer jeito, imagino que saiba disso.

- Sim, eu sei. Elas ocorrem ao longo dos séculos, mas de repente elas podem dar um salto astronômico - a mão dele pairava sobre uma cabeleira castanha dividida por uma mecha branca - eu li seus livros, professor Xavier. Só não imaginava que o senhor e autor dos livros que eu tenho acompanhado fossem a mesma pessoa - acariciando docemente os cabelos, ele desce para os lados, tocando gentilmente na orelha e acariciando-as - O senhor é muito famoso nas altas cúpulas do governo nesse assunto.. mas o senhor também me entendeu, não é mesmo? Acho nobre sua atitude, mas muitas pessoas sofrem por causa dos saltos mutagênicos.

- Lucas... - ele estava sem palavras ao ver o que estava acontecendo bem diante de seus olhos, o que o jovem McCoy fazia diante de todos ali. Até mesmo Todd ficou de boca aberta, deixando a língua toda esticada na mesma de pura surpresa, não acreditando na cena.

- O senhor luta por um mundo aonde a raça antiga possa conviver com aqueles do "novo tipo", eu entendi... mas enquanto isso não acontece, acho que não podemos virar os olhos para outros problemas - Ela não entendia, não compreendia, mas continuava muda.

Sentia aquela mão passeando por sua face, aqueles dedos tocando em seu nariz e acariciando-a. Mais do que isso, sua bochecha era tocada de forma tão gentil, que ela estava ficando extasiada. Em determinado momento o polegar dele desce até seus lábios, de modo que Vampira o beija, tocando em seguida naquela mão. Não era uma mão musculosa, mas o prazer de tocá-la era igualmente extasiante.

- Não se acanhe - Lucas encarava Vampira - vá em frente.

Nunca questione um milagre, ela pensava. Retirando suas luvas ela descobre suas mãos e segura com força a mão que passeava em seu rosto, quase esmagando-a. Era algo tão bom, tão caloroso.

Era a primeira vez que ela era tocada em meses. Na verdade, já fazia mais de um ano desde que alguém tocara nela, naquela festa traumatizante...

Ele era um pessoa estranha. Chegou assim, do nada, e realizou de surpresa algo que ela queria há tempos, e sem esperar, sem cobrar.

- Dói, não dói?

- Sim - Não conseguia se conter, tampouco queria. Lágrimas começavam a escorrer pela face de Vampira, algo ao qual ela se negara por muito tempo, por mais tempo do que deveria - sim, a cada dia - ela continuava com os olhos fechados. Imaginava que todos os presentes olhavam para eles como se uma segunda cabeça tivesse nascido em seus pescoços, mas nada mais importava.

Não estava nem ai para o resto do mundo, todo o resto havia perdido a importância. Algumas pessoas só dão valor as pequenas coisas quando as perdem, e para ela, foi um verdadeiro inferno desde que despertou seus poderes mutantes de absorção.

As meninas estavam impressionadas, mas Ororo olhava aquilo de uma forma bem peculiar, pois a expressão de Vampira lhe lembrava algo...

Ela olha para o lado, fitando Logan. Ele também conhecia aquele olhar, aquela expressão de puro prazer. Para alguém que não pode receber o mais básico dos carinhos, o toque, encostar em alguém por tanto tempo deveria estar gerando na menina uma reação no mínimo...

- A gente se vê por ai, professor Xavier.- Lentamente ele foi largando as mãos dela e subindo pela sua face, empurrando-a de volta para a cadeira. Realmente sentiu pena quando se afastou e viu os olhos da garota, um olhar da mais pura piedade, mas teve que fazê-lo.

- Eí, espera por mim! - Todd se prepara para saltar quando vê aquela expressão rígida de Lucas e resolve sair da cadeira com bons modos.

- Eí, espera um - Scott apenas vê a porta bater em sua cara, não tendo chance de falar nada. - droga! - e volta sua atenção para a sala do café da manhã, percebendo que Kitty, Jubileu, Amanda e Ororo haviam se levantado e agora estavam bem próximas de Vampira.

Sua expressão era a mesma, lágrimas continuavam saindo de sua face.

- Vampira, você...

- Ela vai ficar bem, Scott - Kitty o impede de se aproximar.

- Mas... professor, como ele fez aquilo? - e naquele momento ele havia acabado de se tornar mestre em tornar sonoro os pensamentos de todos - quer dizer... como ele foi capaz de tocar em Vampira?

- Receio que eu não saiba a resposta - Charles estava com as mãos cruzadas diante da face, pensativo - mas essa não é a minha maior preocupação no momento. Vampira?

- Calma, minha jovem - Ororo lhe trazia um pouco de água - está tudo bem, não precisa Ter medo.

- Professor - ela ainda tinha lágrimas nos olhos, pensava Scott - como isso é possível? Será que foi algo que eu absorvi dele?

- Acho isso um tanto quanto improvável, Vampira. Me parece que foi ele quem fez isso. Como, eu ainda não sei explicar.

- Mas... mas... eu pensei que nunca poderia tocar em ninguém, eu...

- Escuta Vampira, não precisa ficar triste, olha, se ele te deixou magoada, a gente...

- Sam, deixa de ser burro! - Amanda dava uma cutucada nele - por que ela estaria triste?

- Não, eu... eu não estou triste, eu... eu...

- Venha, minha jovem - Tempestade a ajudava a se erguer - melhor você vir comigo até o seu quarto, é melhor descansar um pouco.

- Mas eu estou bem, eu só...

- Vá com ela, Vampira - Logan percebia o sentido do olhar de Xavier - Vai ser melhor.

Talvez pela autoridade, imposição ou pelo tom de voz, mas Vampira segue para seu quarto, sendo carregada por Ororo e tendo as outras meninas como escolta.

- E quanto ao... - Kurt desiste de perguntar quando o olhar feroz de Logan o atravessa - ok, ok, deixa eu sair daqui antes que sobre para mim - e se teleporta, sendo que, em seguida, os outros fazem o mesmo, visando pensar melhor longe dali. Era Sábado, teriam tempo de sobra para tanto.

- Obrigado, Logan.

- Charles, eu vi a expressão daquela garota. Ela estava sentindo prazer apenas pelo toque daquele rapaz.

- Percebi.

- Como você acha que ele fez tal coisa?

- Eu tinha minhas suspeitas, no entanto...

- Não precisa se preocupar, nenhum deles está por perto, e Lupina está lá fora, ela não irá nos ouvir. Sei que você estava com medo de falar isso na presença deles.

- Não são os poderes daquele jovem que me preocupam, e sim o que ele planeja fazer.

- Acha que ele conseguirá? Se nem o tio dele que é um geneticista experiente conseguiu, por que ele conseguiria?

- É exatamente por causa disso. Entrei em contato com Hank e ele vai chegar hoje no fim do dia. Mas se tem algo do qual eu sei, é que quando alguém realmente quer fazer algo, nada pode impedi-lo. E o que vimos aqui pode ser um indicio disso.

- Mesmo com o meu fator de cura eu não agüentaria tocar naquela garota por tanto tempo assim. Seu irmão talvez, mas...

- Não. Ela enfraqueceu o meu irmão quanto tocou nele, mas teve que se afastar, já que a resistência dele não o fazia ficar fraco tão rapidamente. O tempo em que Lucas tocou nela seria suficiente para matar até mesmo o meu irmão.

- Isso o preocupa?

- Talvez.

- Talvez?

- Tem mais uma coisa que eu não quis falar na presença deles para não deixá-los alarmados, é que... acho que Lucas é muito mais poderoso do que eu imaginava.

- Isso já é bastante óbvio, considerando o que ele fez ontem.

- Sim, mas... receio que ele seja incrivelmente poderoso como outra mutante que conhecemos.

- Outra mutante? Quer dizer... a filha de Magneto?!?!?

- Exatamente. Se o que ocorreu ontem foi um indicio de seu descontrole, nem quero imaginar o que possa vir a nos acontecer se um dia ele em sã consciência quiser nos atacar...

- Não é apenas isso que te preocupa, não é mesmo? - Charles faz sua cadeira se mover até a janela, de onde vê Todd e Lucas partindo - sobre o que ele disse... você teme que outra pessoa se erga?

- Também. - Xavier observava os demais, pensativo - algumas pessoas tem a capacidade de reunir uma legião de seguidores em volta de si... outros o fazem por necessidade. Você conhece os meus objetivos, assim como eu conheço perfeitamente os de Magnus. Mas quanto a Lucas... a forma como ele fez Todd se comportar...

- Isso não seria algo bom? - Logan olhava para o alto, pensativo - desde que Mística desapareceu, aqueles garotos tem andado sem rumo algum. O que impede que algum deles acorde e passe por algo que os torne um novo Magneto?

- Acho que a pergunta é: o que impede que Lucas se torne um novo Magneto?

***

- Como é que você fez aquilo?

- Você deve ter muita força nas pernas. E suas juntas devem ter uma articulação tal qual que permitam tais saltos.

- Como é?

- Deixa pra lá, apenas te observando. Não tem medo de te pegarem no meio de um salto?

- Eu saio correndo! - Todd, segurando Lucas no meio de um salto, seguia para o alojamento - eu é que não fico parado, falou!

- E balas, você segura?

- Ah, eu fujo delas!

- Tome cuidado. As pessoas tem o péssimo hábito de temer o que é diferente e atacar o que temem.

- Eitá! Por que tivemos que sair dali tão rápido?

- Eu não queria que o professor continuasse falando. Ia ficar chato ele oferecer a mansão para o que eu iria querer fazer. Pronto, eu fico aqui - ambos "pousam" nos fundos da casa de Lucas - obrigado, Todd. Valeu pelo apoio.

- Ah, disponha! Mas eu só tava comendo e...

- Eu sei, mas obrigado por ter me acompanhado. Obrigado por ter me dado força, mesmo não percebendo.

- O que cê vai fazer agora? Acho que o Xavier vai ficar pegando o teu pé direto, que nem fizeram com a Vampira.

- Eu sei, mas já pensei em algo. Olha, aviso para o pessoal que depois eu passo no alojamento, ok? Eu tenho que arrumar algumas coisas aqui em casa.

- Ok. Valeu! - E dava um salto alto, caindo na frente da porta de casa - Burp! Eitá café da manhã bão! Acho que vou ser um X-men!!!

- Engraçadinho - e entrava em sua casa. - É, eu tenho muita coisa para fazer. Muita coisa, mesmo.

- E ai, foi dar uma volta, é? - Lucas vira a face, reconhecendo aquela voz na hora.

- Olá, Lance. Bom dia para você, também. - e puxava uma cadeira, ignorando o fato dele ter adentrado em sua residência, tampouco o tempo que ele deveria ter esperado pelo se retorno.

- Afinal, McCoy... o que você quer?

- Eu? - Lucas dá um sorriso desdenhoso diante de tal pergunta, enquanto Lance puxa uma cadeira e se senta - eu... - estava com a cabeça cheia daquilo. CHEIA! - eu... eu já não sei, digo, sei o que quero, mas começo a ver que não vai ser tão simples assim.

- Seja o que você quer, não vai conseguir sozinho.

- Sei que não, mas eu preciso da ajuda do meu tio, só isso.

- Bem, ele não está aqui. O Que você fará? Veio de longe, não é mesmo? O que fará se ele não aparecer tão cedo? - e começava a ser erguer, caminhando pela sala.

- Seguirei adiante. - e se erguia também - tenho muitas coisas a tratar com o meu tio, mas não posso ficar apenas na dependência dele e... o que está fazendo?

- Empurrando esse sofá. Vamos, vou te dar uma força aqui. Sua casa está horrível, sabia?

- Eu sei, ainda estou arrumando-a.

- Para que você precisa de uma casa tão grande? - e ajeitava um vaso - pronto, agora sim ficou bonito.

- Você entende de arrumação, Lance?

- Tive que aprender, meu velho vive trabalhando e minha mãe também, alguém tinha que cuidar da casa. E você?

- Aprendi muita coisa com Tânia.

- Sua mãe?

- Minha madrasta. Tinha que saber me virar, nunca se sabe quando as coisas poderiam mudar de vez - e seu último comentário fez Lance parar alguns instantes - o que foi?

- Nada, não.

- E você, sempre morou por aqui?

- Sim. Bayville é um lugar legal, se você sabe aproveitar. Apareça lá mais vezes, a gente costuma sair pra se divertir.

- É mesmo? E o que vocês fazem para se divertir?

- Depois eu te mostro. Mas você ainda não respondeu a minha pergunta.

- Hmmm... - ele olha em volta - se vai me ajudar, tome - e lhe joga uma vassoura - cuide da sala, eu vou deixar algo no fogo para comermos enquanto fazemos as coisas aqui.

- Comer? Ainda é cedo!

- Vou deixar algumas coisas fervendo, Lance. Não vou te oferecer qualquer coisa, não é mesmo?

- Todas as pessoas de Nova York são assim?

- Quando se vive na Cozinha do Inferno, você tem que aprender a se cuidar...

Sem mais perguntas, ambos começam a arrumar a casa. Prevendo que aquilo iria demorar, Lucas deixa algo no fogo. Nem ao menos se questionou o motivo dele e Lance estarem tendo aquela conversa, na verdade, não estava se preocupando muito com isso. Sabia que havia algum motivo para Lance estar ali, assim como um igualmente importante para ele responder as coisas com tal naturalidade, mas... não sabia qual era, mas tinha certeza de que, até o final do dia, iria descobrir, de um jeito ou de outro.

***

A despeito do tempo, aquilo demorou muito. Na verdade, bem mais do que esperavam.

Estava com a cabeça cheia de tudo, e limpar a casa o ajudava a se distrair.

No fim, passou a manhã inteira limpando a casa. E, uma vez que havia feito um razoável avanço durante a semana, cuidar do resto não demorou muito, ainda mais com a ajuda de Lance.

Acabaram se conhecendo um pouco mais, mas até onde cada um permitia. Nesse meio período, descobriu que ambos tinham mais em comum do que imaginavam. Na verdade, estava adorando conversar com aquele sujeito, de modo que qualquer pessoa que os visse, poderia jurar que eram velhos amigos se reencontrando e colocando a conversa em dia.

Já em relação a limpeza, A parte mais difícil foi cuidar de alguns cômodos que, com o tempo, acumularam muita poeira.

- Agora ficou bom! - Lance estalava os dedos - isso é que é uma casa arrumada!

- Vem cá, por que você não faz o mesmo na Fraternidade?

- Pra que? Aqueles caras não tem a menor noção de preservação, é perda de tempo!

- Já tentou falar com eles?

- Já, mas de nada adiantou. O que tem de bom? O cheio está agradável.

- Cozido, gosta?

- Qualquer coisa é melhor do que Pizza, já estou cheio disso!

- E a comida? Verba da escola?

- Que verba? Desde que o novo diretor assumiu, deixou aquilo abandonado!

- Ele não fornece alimentos para vocês? - ele o encarava com os olhos arregalados - mas isso é um absurdo! As fraternidades estudantis tem o dever de fornecer o mínimo de recursos para os estudantes, o que inclui refeição, condições de morada e condições higiênicas!

- Vá falar com ele - e dava uma risada - acho que só a diretora Darkholme nos dava o devido respeito, mas ela se foi.

- Vou me lembrar disso - e servia o cozido para ele - cuidado, está quente. - e se sentava em seguida, comendo também.

Na verdade, estava pensando seriamente naquele comentário de Lance. Pelo que sempre soube, Fraternidades eram como casas para alunos que vinham de lugares distantes e tinham poucas condições de se manterem.

- Putz! Fico imaginando como é que aquela louca cozinha!

- Tabitha?

- Ela mesma! Só sabe pegar as coisas sem pedir!

- Talvez seja assim que ela tenha aprendido as coisas, sabe.

- Falta de educação, isso sim! Ela vive roubando meu jipe!

- Sei. - e continuava comendo - mas acho que você tem razão.

- Tenho, é? - e piscava rapidamente - Sobre o que, a propósito?

- Essa casa... ela é grande demais para uma pessoa só. E dá muito trabalho mantê-la.

- Podemos te ajudar de vez em quanto e...

- Não, Lance. Eu queria reformá-la mais por um desejo antigo, eu... - Lucas apoiava o cotovelo na mesa e encostava sua cabeça ali - muita coisa aconteceu por aqui e eu queria dar um jeito nessa casa, mas sabia que era uma vã tentativa minha de tentar fazer o tempo voltar atrás, quando eu, meu pai e minha mãe morávamos aqui e... cuidado! - Lucas dá a volta e dá um abraço forte em Lance por trás, impedindo-o de engasgar de vez. - Cuidado, cara!

- Gasp! - ele tossia, engolindo de vez o cozido - Argh!!!

- Tudo bem? Sente-se melhor?

- Sim, obrigado mas... espera, você já tinha me dito que morava aqui antes, mas... aquele cheiro estranho nos fundos da casa, aquele pó preto, era... - e parava de falar, encarando Lucas, como se um terceiro olho tivesse surgido em sua testa.

- Essa casa ficou abandonada por muitos anos, se quer saber - e retornava ao seu lugar - recentemente meu pai contratou uma firma para cobrir os buracos, alguns consertos simples para que eu tivesse um teto para morar, essas coisas.

- Lucas - ele se ergue, apoiando-se na mesa e encarando Lucas como se tivesse visto um fantasma - era VOCÊ o garoto da casa que pegou fogo!!! - e coloca a mão em seus ombros, sacudindo-o. Havia uma nova expressão em seu rosto, a de alguém que parecia que tinha acabado de ver um fantasma.

- Sim, era... mas eu não gosto de falar muito sobre isso e...

- Seu filho - da - mãe desgraçado!!! - e segurava-o pela gola - Como é que eu não me toquei disso antes?!?!? Era por isso que você me era tão familiar, raios!

- Hã... - uma gota surgia em sua testa - Lance?

- Lucas, seu idiota! Não se lembra de mim?!?!? Sou eu, Lance!

- Eu sei que você se chama Lance, oras.

- Não é isso, seu burro! Como é que você se esqueceu de mim? Esqueceu que fazíamos parte da turma do bairro?!?!?

- Eu... - não se lembrava daquilo - hmmm... - como não se lembrava? Como? - Olha, eu acho que... - tanta coisa aconteceu, como ele... - espera um pouco, eu... - Mas... tudo o que sofreu, o que passou, sua saída apressada dali, as coisas que acabou se esquecendo e... - eu... eu... LANCE?!?!?

- Não acredito que você se esqueceu de mim!

- Lance? Espera um pouco, eu me lembro de você! Tufo, como é que eu fui me esquecer?!?!?

- Como assim, seu infiel? - e o largava - Você era a pessoa mais bagunceira da rua, sua mãe vivia te colocando de castigo!

- Eu? Você era o mais bagunceiro!

- Não fui eu quem quebrei a janela do velho Stick com a bola!

- É, só que não fui eu quem tacou uma pedra no neto dele só por que o velho estourou a bola!

- Quem foi que fez uma bomba e tacou no banheiro da escola, heim?

- Acho que foi a mesma pessoa que pichou a parede da diretora!

- Epa, espera um pouco! Foi você quem pichou a parede! E a bomba foi você!

- Sem essa, era você quem ia naquelas missões suicidas!

- Tá, e quando foi que eu te arrastei pra alguma coisa, heim?

- Sempre! Eu sempre me ferrava por sua causa!

- Tá reclamando do que? Você colocou bombinhas no meu bolo de aniversário!

- Gozado, quem foi que jogou sal no suco de uva do meu pai e sumiu antes de encarar as conseqüências?

- Fui eu mesmo, seu filho da mãe!

- E eu é que não ia perder a chance de assumir a autoria das bombas - e dava um sorriso - toca aqui, Lance!

- Seu infiel! Como ousou se esquecer de mim? - e surgia um estalo quando suas mãos se tocavam - Cara, por onde você andou? Tu sumiu!

- Cara, eu não acredito que esqueci de você! Eu não acredito! - e parava por alguns instantes, dando-se conta da situação - vem cá, cara - e se erguia, abraçando-o.

- Ei, vai com calma! Bleargh, me solta! O que os outros vão pensar?

- Tô pouco me lixando, seu mané! Droga, Lance! Você não imagina o quão bem em me sinto sabendo que você está aqui, pombas!

- Eieiei! Se afasta!

- É mesmo? O que foi, Lance? Para onde foi a sua força? Não consegue nem se livrar de mim?

- Eu tenho outros truques - e, na mesma hora, o corpo de Lucas começou a vibrar como se estivesse no meio de um terremoto, obrigando-o a soltar Lance.

- E-e-e-e-eu n-n-n-não... Tufo, Lance! Tufo!

- Você fala como o seu pai, oras! Para de reclamar, o que andou fazendo? Fiquei sabendo que foi morar perto do velho Stick!

- É mesmo! O Velho Stick se mudou para o mesmo bairro que eu e levou o Matt junto!

- O que aquele velho tinha na cabeça? O coitado do Murdock já era cego, e o avô dele ainda inventa de levar o moleque pra cidade grande?!?!?

- Se eu me lembro bem, o Matt te deu uma surra uma vez...

- Pura sorte, foi só a bengala dele, e eu dei uma vantagem!

- Ah, tá. Conta outra. Ah é, antes que eu me esqueça, ele tem uma filha, sabe.

- Filha? O Stick tinha filha? Espera, não era a mãe do Matt?

- Não, claro que não! Eu vivia conversando com o Matt, ele me contou que o avô dele se mudou para a cidade por que um amigo do avô que era rico morreu e ele foi pra lá pra cuidar dos assuntos do amigo.

- Quer dizer que o velho tá cheio da grana?

- Pifff! Longe disso, o pão duro não mudou em nada! E nem rico ele ficou, ele assumiu a guarda da filha do amigo dele, até que ela tenha idade para herdar tudo.

- Hmmm... bonita ela?

- Pô, é uma briguenta, isso sim! Me arrancou um dente uma vez, é uma fera aquela garota, ela só respeita o Matt e o velho Stick! É pior do que a gente!

- Tá brincando? Que mina é essa? Agora fiquei com vontade de conhecer Nova York!

- Você vai se arrepender, ela se chama El...

***

Definitivamente aquela tarde foi inesperada. Passaram a tarde toda conversando, colocando a conversa em dia.

E, pela primeira vez desde que chegou naquele lugar, ele não se sentia totalmente perdido. Pelo contrário, começava a reencontrar as partes boas do passado, as que lhe deram tanta alegria. Passou tanto tempo reconstruindo sua vida, que acabou por esquecer por completo de muitas coisas, até mesmo das boas. Para ele, apenas sua mãe era uma lembrança, o resto era passado.

Estava surpreso ao ouvir de Lance como as coisas estavam indo. Como se mudou para a fraternidade, as discussões que tinham com os X-men - sabia que o amigo estava alterando algumas partes para parecer que ele tinha razão, mas não o culpava. Não totalmente - e as coisas que andaram acontecendo por ali.

Não conseguia descrever a felicidade que sentia. Algumas vezes parou para se perguntar como foi se esquecer daquele que fora seu melhor amigo dos tempos de moleque, da famosa dupla de arteiros "L&L", as maiores pestes do bairro, melhor dizendo, do bairro. Vez ou outra encarava o amigo, percebendo a empolgação dele, de contar aquelas coisas. Na verdade, percebia que Lance não era tão solto assim com os colegas da Fraternidade, pelo que viu até então.

- Ai, o que você acha de ir no boliche com a gente? - ele se erguia - cê vai gostar, o pessoal vai ficar surpreso em saber de você!

- Bem, eu... - ele olhava ao redor - eu... - não tinha nenhuma desculpa boa o suficiente - hmmm... - e, sinceramente falando, por que não? - ok, vamos. Mas você paga, obviamente!

- Hunf! Tentando levar vantagem como sempre!

- Eu sou o convidado, lembra? E você ainda me deve pelo sal!

- E o meu bolo, heim? Era um bolo muito legal!

- Ah, tá. Acho que a Tabitha vai gostar de saber que você está chorando por causa de um bolo com palhacinhos e...

- Shhh!!! - ele tapava a boca de Lucas - Fica quieto, eu já entendi!

- Mas espera, agora que eu gostei dessa... ok, ok, não precisa desmoronar minha casa, ok! Só vou lavar a louça e já te encontro lá!

- E você me deve uma porta nova! Destruiu a minha!

- É, eu vi. Desculpe pelos problemas, Lance.

- Sem problemas. Amigos são pra essa coisa, não é mesmo?

- Amigos - ele mandava um olhar para Lance - Amigo... você não tinha me reconhecido antes, por que me ajudou? O Todd disse que você...

- Você precisava de ajuda, só isso.

- Sei. Você não me engana, Lance Alvers. Gosta de bancar o rebelde descontrolado, mas não tolera uma injustiça, fala a verdade.

- Eu... eu... se você contar isso para a Tabitha, eu...

- Eu conheço teus podres e teus pontos fracos, sabe.

- E eu os teus também, engraçadinho.

- Você não presta.

- E nem você - e falava com um sorriso maldoso no rosto, até que é interrompido por um barulho - acho que tem alguém aqui querendo falar contigo, deixa que eu vejo.

- Só espero que não seja o professor Xavier, definitivamente eu não quero conversar com ele agora, não tô a fim de ficar batendo na mesma tecla. Se bem que aquele pessoal deve estar zanzando por ai querendo tomar satisfações comigo e...

- McCoy...

- O que foi? E que papo é esse, "DragonLance"? Desde quando você me chama de McCoy?

- Ok, "Luc"... só que eu me refiro ao outro McCoy aqui na porta.

- Outro - ele se vira rapidamente e arregala os olhos. Não podia ser, não mesmo. Estava ali na sua frente, bem diante de seus olhos. Era o motivo de sua vinda, de todos os problemas que ele passou, de todas as dores de cabeça que ele teve até agora - TIO?!?!? TIO HENRY?!?!?!?

- Olá, Lucas - O homem diante dele apenas ajeita os ôculos. Quando soube que seu sobrinho estava ali, veio o mais rápido que pode, chegou a abandonar as pesquisas que estava fazendo no Egito. Poderia ter chegado bem mais cedo, mas um problema em seu projetor de hologramas lhe causou grandes problemas - não vai me convidar para entrar?

Para Lucas, aquele era simplesmente seu tio Hank. Henry McCoy, exatamente do jeito que ele se lembrava. Lance torcia o pescoço, demorando alguns segundos para entender como o ex-professor de química e educação física voltou ao "normal", ainda mais depois de todos os problemas pelo qual passou.

É, aquele dia estava sendo cheio de surpresas, ele pensava. E sentia que estavam longe de acabar...

***

Deitada em sua cama no canto do quarto, ela olhava vez ou outra para a janela.

Acabou tomando um calmante - contra a sua vontade - e dormiu a tarde inteira, acordando há pouco. Sentia a cabeça zunir um pouco, mas ao menos não estava mais triste, melhor dizendo, não estava tão triste quanto antes.

Mas aquilo ainda estava em sua cabeça. Mais do que isso, tomava conta de todos os seus pensamentos.

Sentiu aquilo, e nada no mundo a convenceria de que havia sido real. A presença, a aproximação...

Ela fica levemente vermelha ao lembrar-se do que fez. Sentiu um prazer extasiante durante os curtos segundos em que aquilo aconteceu e não teve pudor algum em demonstrar tal coisa na frente dos demais.

Perguntas se formavam, dúvidas nasciam.

Mas não duravam muito, eram descartadas tão logo surgiam. Isso por que, pela primeira vez, ela se deu conta de algo muito, mas muito importante.

Pela primeira vez, teve algo que lhe fora negado por meses, os quais ela passou sofrendo.

Um dia de cada vez, com aquela idéia na cabeça, aquele conhecimento de que, pelo resto de sua vida, estaria isolada do resto do mundo.

Até hoje.

O dia em que ela tomou para si algo que era seu por direito: contato físico.

Uma lágrima furtiva se formava em sua face, escapando no momento em que aquele lembrança retornava com força total, enlouquecendo-a.

Algo maravilhoso que foi capaz de tocar sua alma de tal forma que até então era estava surpresa. Algo que lhe deu novas perspectivas, que abriu seus olhos para novos caminhos... e esperanças.

Nunca imaginaria que teria tal chance, que cairia diante dela mas, quando menos esperava, surgiu diante de seus olhos que fez seus olhos retomarem o brilho há tanto apagado, uma sensação, um ato que, embora breve, REALMENTE fez diferença para sua vida.

Algo que estaria marcado em seu corpo, mente e alma.

O Toque de Lucas.

Continua...