Notas do autor:

Olá, pessoal! Aqui é o Lexas, autor deste fanfic! Primeiramente quero deixar minhas desculpas pelo atraso, pois já faz um bom tempo desde que o atualizei pela última vez. Andei me atrasando com alguns textos e agora estou providenciando o fechamento deles. Faço isso primeiro por que sempre esteve nos meus planos, segundo por achar que seria uma falta de respeito com as pessoas que o tem acompanhado e esperado um retorno. Para os que lêem outros fics meus, viram que finalizei também "Não Era Pra Ser Assim", fanfic de e Megaman e "Doce Pecado", fanfic de Gundam Wing. Na medida do possível pretendo completar as obras, mas tomando o devido cuidado para não ficar algo corrido demais. Agradeço a todos pelos pedidos, enfim.

Notas 2: Sobre "O Toque de Lucas"

Resolvi fazer essas considerações depois de perceber que, mesmo após um longo tempo, ainda tinha muita gente que aguardava uma continuação, um fechamento do arco, e aqui está. Os 7 primeiros capítulos começam e iniciam um período da história, e agora estamos começando outro.

A primeira coisa que quero falar é: qual diabos é o poder de Lucas? Muita gente me perguntou isso, já que não conseguiram identificar. - uma amiga até mesmo fez algumas suposições - afinal, já vimos o jovem McCoy fazer muita coisa: segurar esferas explosivas, causar uma bagunça enorme no refeitório da escola, paralisar e afastar pessoas, voar, segurar objetos como se dispusesse de uma força enorme... e tocar em Vampira sem desmaiar, claro - o que levou muita gente a se questionar se era esse o motivo do título do fanfic, digamos que sim e não - a qual, em minha opinião pessoal, foi uma das cenas mais fortes de todo o fanfic, já que resolvi enfocar um pouco da personalidade de alguém na situação de Vampira.

"Mas o que diabos esse garoto faz" e "como ele é poderoso", é o que muitos estavam falando. O que posso dizer é que aos poucos vão sendo dadas pistas, como um quebra-cabeça e, quando descobrirem, fará todo o sentido do mundo.

O mundo de "O Toque de Lucas" é o mesmo mostrado em X-men Evolution, isso todos já sabem. Mas esse capítulo que se passa agora dá um salto temporal de 3 meses depois dos eventos mostrados no capítulo 7, o que nos coloca há poucos meses depois dos eventos mostrados nos últimos capítulos da série, no qual um mundo está sendo afetado pelos resultados do confronto com Apocalypse, muitos mutantes não tem mais a vantagem da identidade secreta, assim como as pessoas da cidade ainda estão se acostumando com o fato de seus filhos estudarem em escolas cujos colegas podem ser mutantes.

Este é o mundo atual de "O Toque de Lucas", na qual nem mesmo é preciso demonstrar qualquer manifestação de poder mutante para ser considerado um, embora o mundo esteja se concentrando mais em se reconstruir do que iniciar uma nova caçada.

Mas isso não vai durar muito, lógico. Afinal, a visão do futuro tida por Xavier estava longe de ser a de um futuro distante...

O Toque de Lucas - Capítulo 8: E Eis que haverá um novo amanhã

- Aonde você vai, Spyke?

- Eu vô dá uma volta, tô cansado de fica aqui dentro.

- Não está se esquecendo de nada? - ele joga um pequeno pedaço de metal para o mutante ósseo - Será que você nunca se acostuma com isso? Ou não quer se acostumar?

- Quer saber? - ele joga o que pegou contra o chão, mas o objeto começa a flutuar há poucos centímetros do impacto e retorna para as mãos do jovem que o arremessou primeiramente - Eu já estou cansado de usar esse indutor de imagens, tá ligado?

- Engraçado - ele dá um tapa em sua jaqueta, retirando algumas teias que se acumularam nela depois que adentrou nos esgotos. Sempre ficava assim, carregado de sujeira, toda vez que adentrava no domínio dos Morlocks - está cansado de usar isso, mas não se cansa de sair na rua.

- É? E que diferença essa porcaria que você me deu fez, heim? Nada! É só um disfarce para eu sair na rua, eu continuo sendo o mesmo!

- Ao menos você conseguiu um emprego durante o dia e uma escola para estudar a noite. - Lucas encara Evan de uma forma casual, quase um descaso disfarçado. - Poderia até voltar para a Bayville, mas preferiu uma que chamasse menos atenção. Ah claro, você conseguiu juntar dinheiro de maneira honesta para comprar comida decente e remédios para os outros. - Lucas maneia a cabeça, em sinal de total desaprovação as palavras dele - alguma diferença fez, isso eu garanto.

Haviam se passado 3 meses desde que ele havia retornado a BayVille. Em um primeiro momento poderia considerar que toda sua estadia fora um verdadeiro fracasso para seu planos, mas estava longe de ser.

Um passo significativo foi ter encontrado outros mutantes. Na verdade, a principio achou que era uma cidade infestada de mutantes, mas longe disso, a influência do Instituto Xavier parecia estar dando fama à cidade e, conseqüentemente, atraindo-os.

Em especial o mutante chamado Forge. Passavam horas e horas discutindo teorias e pontos de vista acerca do genótipo mutante e, mesmo assim, o assunto parecia nunca se gastar. Disso para conseguir alguns indutores de imagens - visto que ele tinha livre acesso ao instituto Xavier - não fora nada complicado, ainda mais depois dele ter explicado seu plano e ter topado com mutantes que se mexiam sorrateiramente pelos becos para não serem visto devido a suas mutações.

Mutações pouco convenientes para a época, limitando a questão da aparência, a mesma coisa que ele dissera para Kurt há 3 meses atrás. Mas isso era passado, Não tinha tempo para tanto. Assim como Evan, que já fora o X-men conhecido como Spyke, nem todo mundo tinha uma mansão super-protegida para se esconder e indutores de imagens à vontade. Poderia construir um deles se dedicasse um pouco mais de tempo para tanto, mas não era esse o seu objetivo até o presente momento.

- Eu entendo que você fique indignado por ter que andar com um disfarce desses, afinal, para todos os efeitos, você é apenas um garoto negro acima de qualquer suspeitas, quando na verdade é um garoto cuja mutação sofreu um salto e que te concedeu um exoesqueleto que cobre 70 do seu corpo e não te dá um aspecto muito agradável, mas... use isto, por favor - e aponta a mão em sua direção, fazendo com que o indutor voe até Spyke.

- Me incomoda sim, o fato de não poder andar na rua do jeito que...

- Te incomoda as pessoas não aceitarem a sua aparência, ou - ele olha ao redor, olhando na direção de Calisto, a qual estava encostada em uma das paredes, observando a conversa de ambos - te incomoda o fato de que o preconceito de todos o obrigue a viver aqui debaixo dos esgotos?

- Olha aqui, McCoy...

- "Olha aqui" o que, "Spyke"? Não tem o que discutir. Quando nos conhecemos, te expliquei meu interesse no desenvolvimento das mutações, lembra? Topou me ajudar por que prometi que seria benéfico para todos nós, pois bem, preciso que continue cooperando - e joga para ele um pedaço de osso.

- O que é isso?

- Um osso seu, obviamente. Um pedaço da sua carapaça que eu peguei nas primeiras semanas em que nos conhecemos. Se olhar para ela, verá a diferença que tem feito - ele caminha até uma criança cujas mãos eram desproporcionais ao resto do corpo, lembrando um pedaço de pedra - você é como uma ninhada de ratos divididos por uma estrada, Spyke. Deixe seu organismo se adaptar a isso.

Ele se vira, dando de ombros quando pensava em reclamar. Mas não tinha tempo para outro debate cientifico - já teve o bastante com o tio dele - e ainda tinha que ir trabalhar.

- Ele é um bom garoto - ele continua observando a garota, fazendo sombras na parede com o formato de animais para entretê-la - merece coisa boa. - e se aproxima de Lucas, enquanto Evan ativa seu holoprojetor e caminha para a saída dos esgotos.

- Todos vocês merecem - Lucas se ergue, caminhando até Calisto - todos.

- Ninguém merece morar nos esgotos, mas é essa a vida que levamos. Somos a paria, os abandonados pela sociedade. Enquanto a maioria dos mutantes tenta chamar atenção, ser aceitos ou simplesmente mostrar que ninguém pode com eles, nós apenas tentamos sobreviver. Mas Spyke é diferente, ele tem para onde fugir, mas sempre preferiu ficar aqui, conosco, nos protegendo.

- Nobre, mas...?

- Mas eu nunca imaginei passar o resto da minha vida aqui - ela abre seu único olho bom - diga-me, McCoy... o que acha? É possível mesmo nos ajudar?

- Eu não sei - ele responde casualmente - um geneticista que está há anos luz de mim tentou e não conseguiu. Ele até mesmo me ofereceu um laboratório em uma mansão com recursos que tornariam meu trabalho muito mais simples, com um banco de dados de mutantes incrivelmente vasto, mas... eu recusei. Tudo o que eu tenho é meu celebro, esse desejo de pesquisa do Clã McCoy e um pequeno laboratório que montei em minha casa com o dinheiro que eu economizei morando na Fraternidade de BayVille.

- O Instituto Xavier... ouvi falar dele, por que não aceitou a oferta?

- Por que Spyke está aqui, ao invés de estar lá dentro?

- Isso não é resposta.

- Não, então... por que você está aqui, ao invés de estar lá dentro?

- Eu tenho meus motivos. - e olha para os outros ao redor que ainda dormiam devido ao horário, além do fato de que, morando nos esgotos, o conceito de tempo era um pouco diferente do tempo de "lá fora".

- E eu os entendo. Você precisa liderá-los, assim como Spyke os protege... e eu tenho coisas para fazer. Coisas das quais não posso perder o rumo em hipótese alguma. E certas coisas uma escola de mutantes não pode fazer. Não poderia ficar ali dentro e com o tempo acabaria acreditando que o mundo é um lugar melhor e que da noite para o dia humanos e mutantes vão coexistir pacificamente. Isso vai acontecer um dia, não duvido... mas não será hoje, e nem amanhã. E nem na semana que vem. Isso vai demorar muito tempo. Pra falar a verdade, Calisto... isso é algo que supera nós dois, o professor Xavier e outros que ainda estão por vir.

- Se você acredita que o sonho de Xavier irá se concretizar, por que não se une a ele? Se quando mais jovem eu fosse tão talentosa e obstinada quanto você...

- Acreditar no sonho de alguém não significa que esteja interessado em arcar com as conseqüências dele. Sei que Xavier conseguirá o que quer, se não for agora, será através das sementes que ele planta em cada aluno seu, mas... até esse dia chegar, eu não estou planejando arcar com as conseqüências que o tempo há de trazer para cada um de nós por causa dessa busca por paz e igualdade - e lhe dá as costas, caminhando até a saída.

- Você ainda não me respondeu, McCoy.

- Claro que respondi, você que não entendeu. Sou um covarde, Calisto. Sou o pior dentre todos, um covarde que prefere fugir. Nada mudou. O mundo não é um lugar melhor, a vitória contra Apocalypse não fez os mutantes serem mais aceitos... nada mudou. E este covarde que vos fala prefere a alternativa mais fácil do que aquela que deveria realmente ser seguida. Até vocês que se escondem nos esgotos são mais corajosos do que eu, já que não tem vergonha de admitirem o que realmente são.


- A que devo a honra da visita, professor Xavier?

- Bom dia para o senhor, diretor.

- O que mais adoro no senhor é sua ironia, professor. Não tem coisa melhor para o meu dia começar bem do que um mutante querendo ver se estou administrando bem a minha escola!

- Não quero tomar o seu lugar, diretor. Mas como bem sabe, fui escolhido como representante comunitário para assuntos mutantes na escola.

- Claro, claro, escolheram alguém para deixar os pais mais seguros de que nada sairá errado, isso até algo realmente sair errado como já aconteceu por diversas vezes, se bem me lembro. - ele se ergue de sua cadeira, apoiando suas mãos na mesa - diga-me Xavier, o que veio fazer exatamente aqui? Sei muito bem que manda seus alunos ficarem de olho na escola e não precisa vir até aqui, na verdade, por que veio falar comigo, quando podia só ler a minha mente?

- Apesar dos motivos pelos quais você tem tanto rancor por mim, ética é algo inerente a todos, diretor. Não seria correto ler sua mente, mas creio que discutir isto com o senhor está fora de cogitação. Mas eu estou aqui apenas a passeio, e achei que gostaria de saber que eu estava aqui na escola, antes que começasse a imaginar que fosse algum plano secreto meu - Charles se antecipa as acusações, dobrando as mãos na altura do rosto. Antes que o Diretor de BayVille pudesse dizer qualquer coisa, sua cadeira automática vira e se dirige para a saída da escola - estou apenas em um passeio de rotina, Kelly. Não vim aqui recrutar ninguém para um exército de destruição que você acha que eu tenho.

- Não tem? Como tem coragem de olhar na minha cara e dizer uma coisa dessas? Não me dê as costas, Xavier! O que pensa que eu sou?

- Nada mais além do que você demonstra, Kelly.

- É mesmo? Acha-se superior a mim? Acha que por ser um mutante tem mais capacidade do que eu, é isso?

- São esses tipos de comentários que eu escuto desde que eu era uma criança, e a minha resposta para eles nunca mudou.

- Me irrita essa arrogância de vocês, sabia? Acha que não sei o que faz? Não nasci ontem Xavier, sei muito bem como as coisas funcionam, vocês se infiltram no meio das pessoas, manipulam sua opinião para pensarmos que tudo está bem e, quando menos esperamos, nos atacam covardemente, justamente a quem lhes estendeu a mão!

Charles ouve a tudo, calado. O silêncio era uma boa resposta para quando não queremos nos entregar, tampouco não temos certeza do que dizer. Era verdade o que Kelly dizia. Na verdade, se estivesse no lugar dele, provavelmente faria a mesma coisa, pois diferentes do que seus discípulos pensavam, Kelly não era o homem obcecado que parecia, era um homem bastante racional que tinha um enorme senso de dever com os outros... com a sua gente.

E ele, com a dele.

- Mas nem sempre as coisas hão de ser assim - ele falava calmamente - Kelly, nossa história nos ensinou muito sobre divergências raciais e sociais, e aprendemos a nos adaptar. Os mutantes não surgiram agora, mas é agora que estão começando a ter mais assistência da mídia, e reagindo com relação a isso. e por mais que você os acuse, sabe que a grande maioria não passa de crianças, adolescentes. E como tais, são suscetíveis a deslizes, explosões de temperamentos e falhas, tal qual eu e você quando mais jovens, se me entende.

- A diferença, professor, é que é um aluno NORMAL quando está passando por um péssimo dia, o máximo que fará será se desentender com alguns colegas, talvez brigar ou em casos extremos, alguns atos de vandalismo, diferente de alguns ANORMAIS que podem causar terremotos e destruir o sistema elétrico das redondezas.

- Kelly, eu...

- Escute você, Xavier - ele sai de trás de sua mesa, parando ao lado de Charles - seu discurso moralista de paz, amor e harmonia é muito bonito, essa sua eterna conversa de que "humanos e mutantes devem coexistir pacificamente", de que nós não os aceitamos e os perseguimos... mas e quando um deles morrer? Não me refiro aos seus, me refiro aos meus! A garota ruiva que usava o poder para ganhar nos jogos de basquete e o esquisitão que dispara raios dos olhos não estão mais aqui, mas temos vários deles por perto. O que acontece se qualquer um deles em um dia muito ruim acabar matando alguém?

- Com todo o respeito Kelly, mas eles tem tanta chance de matar alguém quanto qualquer um dos alunos da escola em um dia ruim.

- Alunos normais podem ser detidos por pessoas normais, Xavier. Se um dos alunos se machuca em alguma briga, os pais vão entender. Explicar por que a perna dele estava queimada depois de uma explosão já não é tão simples.

- Entendi o que você quer dizer, mas eu lhe asseguro que meus alunos tem isso em mente. Agora quanto aos alunos da irmandade, eu só posso...

- ... ficar de braços cruzados? Não me é suficiente, Xavier.

- Aceita almoçar comigo, diretor Kelly?

- O que tem em mente, Xavier?

- Nada, apenas achei que poderia ser uma companhia agradável, só isso.

- Em um refeitório com mutantes? - Kelly, sem se erguer da cadeira, olha ao redor - nem um pouco, ainda mais com um bem diante de mim.

- Está tão disposto a acreditar que somos todos os animais, é isso? O que te faz pensar que não somos tão humanos quanto vocês? Nós...

- Por favor, Xavier... quando o conselho se reuniu para votar se permitiríamos mutantes ou não na escola, eu esqueci de trazer meu colírio para chorar diante do discurso da ruiva. Vocês não passam de pseudo-moralistas que só acreditam nos direitos humanos quando lhes convém. O que quer provar?

- Quero te mostrar que as coisas não são exatamente como sempre pensamos, só isso. Você se preocupa com seus alunos, mas como eles tem tratado aqueles que tem alguma habilidade em especial?

- Vai ter que discursar melhor se quiser me arrancar uma lágrima de compaixão, sabia?

- Então você concorda comigo que toda ação tem uma reação de força igual e sentido contrário?

- Eu vou lhe dizer uma coisa, Xavier - Kelly abaixa os olhos, fitando o prato com sua refeição, enquanto apóia o cotovelo na cabeça - se você se diz tão estudado quanto gosta de aparentar, se prega tanto que devemos conviver pacificamente, então se dê ao trabalho de ser convincente. Pode fazer sua escola, seu "serviço social mutante", mas a opinião pública muda muito facilmente, muito mais do que você pode calcular. E mesmo que seja capaz de alterar a mente das pessoas, não pode alterar as mentes de uma cidade inteira, de toda uma nação. E se essas coisas, esses... mutantes começarem a surgir cada vez mais, então pode ter certeza de que BayVille será apenas o começo.

- Entendo por que se candidatou a prefeito da cidade. Você é um homem de visão e atitude, uma pena termos pontos de vistas conflitantes.

- É o seu melhor argumento?

- Não... olhe para o lado, Kelly.

- Não me convencerá com seus alunos treinados, Xavier. Tenho minha opinião formada acerca deles e nada me fará mudar de opinião.

- Ainda acredita que existe diferença entre os alunos desta escola? Cada aluno daqui é especial, alguns tem apenas algumas capacidades a mais, só isso. Está agindo como...

- Chega, Xavier - ele limpa a boca com um guardanapo - quer provar alguma coisa, não é mesmo? - ele vira seu rosto um pouco para trás - Fred, tenha mais modos, está na presença de pessoas que não estão acostumadas com seus hábitos, lembra-se?

Um súbito silêncio tomou conta do refeitório, não pelo comentário do Diretor, e sim por Fred estar há 5 mesas de distância dele, de forma que o diretor praticamente gritou. Uma risada coletiva se espalhava pelo refeitório, deixando um furioso Fred prestes a destruir tudo ali.

No entanto, ele não veio. Alguns alunos que estavam perto ouviram um baque ceco gerado por um soco dado na mesa, que incrivelmente não se partiu ao meio.

- Impressionante, Xavier. Esses alunos delinqüentes parecem estar desenvolvendo algum tipo de alto controle.

- Nem todos são poços de explosões, Kelly.

- Mas até quando?

- Provocá-os não irá resolver nada.

- O que me diz, então? Acha mesmo seguro deixá-los assim? Recebi informações de que existem instituições do governo capazes de imobilizarem esse tipo de seres, conhece?

- Sim - e milhares de pensamentos lhe vinham a cabeça, como quando ficou preso em uma delas por causa de Mística.- Mas lembre-se de que são Jovens, eles precisam de orientação, não de prisão.

- Mesmo? Engraçado você falar isso, já que a meu ver, nem você os quis - Kelly se ergue - vem aqui na minha cara esfregar esse papo de convivência e igualdade, mas nem você os quer.

- Não posso obrigá-los a nada, cada um decide o destino de sua vida, senhor diretor.

- É mesmo? Pensei que tinha dito que eram adolescentes e que precisam de orientação. O que sugere que eu faça com eles? Nem todo mundo tem um instituto para educar essas aberrações!

- Kelly, por favor - Xavier faz sua cadeira de rodas dar a volta para perto dele, visto que o mesmo aumentava cada vez mais seu tom de voz - aqui não é a hora e nem o local.

- Diga-me, Xavier... quantas escolas com alunos mutantes existem por ai? Você diz que treina seus "X-men", mas quantos em outros cantos estão a mercê desse tipo de coisa? Acha que eu esqueci de tudo o que eles já fizeram?

- Todos eles são os pioneiros, e você sabe disso. É uma situação nova, da qual...

- Pois vejamos como esses pioneiros se portam - e atravessa metade do salão até a mesa da irmandade - Fred, quero falar com você.

No exato momento em que o diretor parou ali, Kitty, Kurt, Vampira e alguns outros que estavam na mesma mesa erguem suas sobrancelhas, receosos.

"X-men, fiquem onde estão" - a mensagem do professor chega a eles instantaneamente, praticamente prevendo um futuro movimento deles - "aconteça o que acontecer, não interfiram".

Era duro para ele dar tal ordem para seus alunos, pois sabia dos riscos. Era um teste de fogo aquele, de um lado, Mutantes mal-aconselhados, delinqüentes juvenis com poderes, do outro, o maior ativista contra a causa mutante, além de ser o diretor da escola.

Kelly nunca se intimidou com os mutantes, e Xavier saia disso. Seus X-men sempre estariam prontos para agir... mas e quando eles não estivessem por perto? A vida era difícil, e muitas vezes acidentes acabavam acontecendo, independente da ação dos outros. Mas ambos sabiam que estavam dando os primeiros passos para um grande projeto.

Kelly, diferente dele, não queria arriscar os passos para o futuro, preferia uma segregação, e a história já havia lhes ensinado as conseqüências disso.

Seria um jogo com uma possibilidade de resultado: "Com exceção dos alunos de Xavier, o que impede um mutante de usar livremente seu poder como vantagem sobre outra pessoa"?

- Aprenda a se comportar, Fred. Sua mãe não lhe deu modos? Não sabe se comportar em pública? E olha só essa sujeira que vocês fazem - Lance, Pietro e Todd o olham torto - parecem um bando de animais que não sabe se comportar na frente das pessoas.

- Aí - Pietro se estica pela mesa, olhando para Lance enquanto, na outra ponta, o diretor gritava com Fred - por que a gente tem que ficar escutando isso?

- Cê tá doido? - Todd, incapaz de perder velhos hábitos, puxa algumas batatas com a língua - o Xavier e todo o grupo dele tão ai, a gente faz qualquer coisa e eles acabam com a gente!

- É, você tem razão - falava Lance - mas esse diretor...

- E dai? Desde quando isso foi problema pra gente? A gente acaba com todo mundo como sempre fez, quer apostar?

- Cê tá doido, a gente não tem chance, se esqueceu que o professor Xavier é tão forte quanto o seu pai? A gente nem vai sair do lugar!

- Mas esse cara também já tá me enchendo! Pietro, não pode fazer nada? Algo que ele não perceba, que ninguém perceba?

- Posso fazer várias coisas e voltar para o lugar antes que ele veja, quer ver? - Pietro se levanta da cadeira, empurrando-a para trás. Fred faz o mesmo, seu limitado intelecto processava o suficiente para dizer que não poderia ficar sentado. Na verdade... por que estava escutando tudo aquilo de boca calada, mesmo?

Todo desengonçado ele afasta a mesa - quase a jogando encima de seus colegas - e dá dois passos na frente do diretor, olhando-o de maneira ameaçadora.

- O que foi, Fred? Acha que me assusta, que me mete medo? Pois normal ou não, não vou permitir que essa escola seja tomada por um bando de delinqüentes que se acha no direito de quebrar as regras por aqui só por que...

De sua mesa, Kitty, Kurt e os demais sentem um vendo rápido - parecendo mais uma brisa - passar e fazer alguns talheres serem arrastados para fora da mesa. Alguns alunos no caminho sentiram ao mesmo tempo, como se um vento tivesse passado por eles, fazendo duas roupas se moverem. De onde estava, Xavier sentiu um estalo, alguns alunos viram um rápido vulto enquanto Pietro assistiu a cena por completo.

Tudo isso em exatamente um segundo.

- Rápido - pensa Pietro em voz alta, diante da cena.

Quanto a Kelly... para ele fora tão rápido, que em um momento estava olhando para Fred e, no instante seguinte, ao piscar, um jovem de estatura menor que o grande adolescente estava diante dele.

- McCoy! Mas como você...!

- Olá, diretor Kelly. Bom dia para o senhor também!

- Que pensa que está fazendo, McCoy? - ele encosta o dedo na cara de Lucas - Veio se juntar a esses delinqüentes, também? Ou foi o Xavier que o mandou?

- Ninguém manda em mim - Lucas segura o dedo de Kelly e o afasta de seu rosto - e o senhor, diretor? O que está fazendo?

- O que? Ora, com quem você pensa que está falando?

- Com o diretor... mas eu não sabia que o diretor tinha a função de causar constrangimento público aos alunos... certo?

- É meu dever zelar pelo bem da escola e proteger os alunos de aberrações como vocês!

- O senhor não pode nos culpar por coisas que não fizemos, tenho certeza que tem alguma coisa na constituição que diz que todos são inocentes até que se prove o contrário.

- Isso só se aplica as pessoas normais, não a seres perigoso como vocês!

- Agora chega, eu vou arrebentar a cara desse sujeito e...

- Calma, Fred - Lucas, no meio dos dois, segura seu braço - ele só quer te irritar pra você fazer alguma coisa, só isso. Está querendo arrumar um motivo para expulsar todos vocês, isso já percebi tem bastante tempo. Mas ele não pode - e olha para o diretor - foi vencido pela população e... não tem alternativas. Ele está usando argumentos que eram usados nos tempos dos nossos bisavós, e provavelmente nos colocaria em uma cela de detenção especial, se pudesse. - Lucas sai da frente de Fred, parando no meio do corredor e apoiando a perna em uma cadeira - diga-me, diretor... se fosse aprovada uma lei de extermínio de seres no momento em que desenvolvessem poderes mutantes pela cadeira elétrica, o senhor gostaria de apertar o botão, não é mesmo?

- Não coloque palavras em minha boca, rapazinho! Se dependesse de mim...

- Ainda bem que não depende... ao menos, por hora. Mas para alguém que está querendo se candidatar a prefeitura da cidade, está se expondo demais. Perseguição as minorias nunca foi bom, ainda mais quando seu adversário político é um defensor ferrenho dos mutantes. Cada mutante pode te conseguir pelo menos 2 votos, sabia? Se contar com os alunos que ninguém conhece a natureza, o senhor tem sérios riscos de perder.

- Lucas, você falou bonito - Lance se levanta, enquanto o diretor lhe dá as costas, saindo dali - mas e dai? Esse cara não vai deixar de pegar no nosso pé!

- Claro que não vai - ele puxa a cadeira para junto deles - alguém tem que ser o carrapato aqui.

- Ele está certo - Xavier se aproxima - e estou surpreso com vocês... com todos vocês.

- Ah, lá vem o grande professor - Pietro sabia ser incisivo e orgulhoso como o pai quando queria - obrigado por ficar parado, viu!

- Lamento muito por toda essa exposição, Pietro. Mas vocês podiam ter feito alguma coisa, quando não fizeram - ele lhe dá as costas - pensem nisso.

- Hunf! Nunca fui com a cara desse sujeito!

- Deixa ele pra lá. Até mais, professor!

- Até mais, Lucas. E gostaria de conversar com você outra hora, se tiver um tempo.

- Verei isso - e torna a encará-los. - que foi, Pietro?

- Como fez aquilo?

- Aquele cara não tem argumentos fortes, e o preconceito racial sempre foi...

- Não estava falando disso, e sim em como você fez aquilo, você... você atravessou todo o refeitório em um piscar de olhos!

- Dei uma corridinha. Fred?

- Eu ainda quero esmagar aquele sujeito!

- Cê tá doido? - Todd pega as batatas com um garfo, desta vez - os X-men...

- Quer parar? - Lance dá um soco na mesa, fazendo tudo o que estava encima dela tremer - já tô cansado, e dai que os X-men estavam ai?

- O Todd está certo, DragonLance.

- Para de me chamar assim!

- Estressado! - ele olha para o resto do salão, percebendo que a atenção dos demais se dispersaram, fitando a mesa aonde Vampira estava.

- Mas é mesmo - Fred demonstrava muita raiva em sua expressão - Ainda estou com raiva, se aqueles X-men não estivessem aqui...

- Se eles viessem para cima de vocês - Lucas pega uma das batatas, mordendo-as - então todos nós teríamos uma bela agitação no começo do dia.

- O que quer dizer com todos, McCoy? - Pietro ergue uma de sua sobrancelhas.

- Eu não abandonaria vocês - e joga a cadeira para trás, levantando-se - com licença, que agora tenho aula.


- Espero que esteja satisfeito, Diretor Kelly.

- Ainda me seguindo, Xavier? O que mais você quer que eu...

- Não desejo nada, apenas fiquei muito surpreso com sua reação, o senhor não é um homem de sair daquele jeito do meio de discussões.

- Hunf! Eles só não fizeram nada por causa daquele McCoy, só por que eles os impediu! Se ele não estivesse lá, eu...

- Quem sabe? Nunca sabemos o futuro e, como falei, são jovens que precisam do devido aconselhamento - e vira a cadeira, começando a se afastar - eles estão além do meu alcance, mas pelo visto a Fraternidade de BayVille encontrou alguém que os possa frear.

- Aquele rapaz? O mesmo que causou a destruição de todo o refeitório meses atrás?

- Todos caem, Kelly. Mas os que fracassam, são os que caíram e não aprenderam nada com isso - e vai embora, deixando um furioso diretor sozinho no corredor, até que ele continua seguindo seu rumo.

Já Xavier não deixava de ficar preocupado. Já tinha percebido a influência do Jovem McCoy na Irmandade, mas não era esse o fator que lhe chamava a atenção, e sim outra coisa.

Ele ergue seu braço, observando seu relógio: estava parado.

Da mesma forma sua cadeira, a qual se mexeu incontrolavelmente quanto aquele vento passou rapidamente por ele.

Continua.